Mamografia: nova proposta da Agência Nacional de Saúde gera polêmica entre especialistas; entenda os motivos

seg, 17 fevereiro 2025 09:34

Mamografia: nova proposta da Agência Nacional de Saúde gera polêmica entre especialistas; entenda os motivos

A iniciativa propõe limitar as mamografias de rastreio a mulheres a partir dos 50 anos, enquanto a recomendação atual é que o exame seja feito a partir dos 40 anos


O rastreamento adequado e acessível pode ser a chave para salvar vidas, e o envolvimento da comunidade médica e da população é fundamental nesse processo (Foto: Getty Images)
O rastreamento adequado e acessível pode ser a chave para salvar vidas, e o envolvimento da comunidade médica e da população é fundamental nesse processo (Foto: Getty Images)

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) abriu uma consulta pública para criar o selo de Certificação de Boas Práticas em Atenção Oncológica, incluindo a proposta de limitar mamografias de rastreio na rede privada a mulheres a partir dos 50 anos. A medida gerou críticas de importantes sociedades médicas, que defendem a realização do exame a partir dos 40 anos.

Segundo o médico Marcelo Gondim, docente do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, o rastreio do câncer de mama deve ser iniciado antes dos 50 anos. Ele destaca que cerca de 40% dos casos são diagnosticados entre 40 e 50 anos. Adiar o início do rastreio para os 50 anos pode resultar em diagnósticos tardios, o que agrava a morbidade e aumenta a mortalidade da doença.

Impactos potenciais da mudança no diagnóstico precoce

A proposta da ANS foi publicada em janeiro de 2025 e visa revisar uma resolução de 2022 sobre a certificação das operadoras de planos de saúde em práticas de atenção oncológica. O selo proposto pretende melhorar a qualidade do atendimento a pacientes, sugerindo que as operadoras realizem mamografias a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos. 

Segundo a ANS, essa faixa etária foi escolhida com base em evidências que apontam para a redução da mortalidade por câncer de mama nessa população.

O rastreamento deverá ser feito por meio de contato proativo das operadoras com suas beneficiárias. No entanto, profissionais da área alertaram que essa medida representa um retrocesso, já que 22% das mortes por câncer de mama no grupo de pessoas entre 40 e 50 anos poderiam ser evitadas com diagnósticos mais precoces.

Diversas entidades médicas reforçaram a importância do rastreio do câncer de mama em mulheres antes dos 50 anos (Foto: Getty Images)

A proposta da ANS suscitou a insatisfação de várias sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e a Federação Brasileira de Associações de Ginecologistas e Obstetras (Febrasgo).

Essas entidades têm enfatizado a necessidade de rastreamento a partir dos 40 anos, argumentando que essa mudança poderia levar a diagnósticos tardios e, consequentemente, a um aumento na mortalidade.

“Temos visto pacientes com idade cada vez mais precoce que desenvolveram câncer de mama. Então, precisamos ter uma atenção muito grande. Ou seja, ao invés de adiar o início da mamografia, temos que conscientizar a população e iniciar a mamografia a partir dos 40 anos”, ressalta o docente, que é mestre e doutor em Ginecologia e Obstetrícia.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2023, 33,4% dos casos de câncer de mama registrados no Brasil foram em mulheres abaixo de 50 anos. Entre 2018 e 2023, o número de diagnósticos entre mulheres de 40 a 49 anos cresceu 63,2%. As sociedades médicas também alertam que 40% dos diagnósticos ocorrem antes dos 50 anos, o que reforça a necessidade de um rastreamento mais abrangente.

Quando tratamos de câncer de mama, quanto mais precoce é feito o diagnóstico, melhores são as chances de cura e maiores são as sobrevidas - tempo durante o qual uma pessoa vive após ser diagnosticada com uma doença - do paciente. A principal estratégia para o rastreio deste câncer é a mamografia e os outros exames de imagem, como ultrassom de mamas, ultrassom de axilas e a própria ressonância nuclear magnética” — Marcelo Gondim, docente do curso de Medicina da Unifor e especialista em Reprodução

A proposta da ANS, se implementada, poderá criar barreiras no acesso a mamografias para mulheres entre 40 e 49 anos, dificultando diagnósticos precoces. Críticos apontam que a situação não apenas representa um retrocesso nas políticas de saúde, mas também poderia resultar em um aumento no número de casos diagnosticados em estágios mais avançados, onde as chances de tratamento eficaz diminuem significativamente.

Além disso, o câncer de mama é o tipo que mais mata mulheres no Brasil. Por essa razão, a mamografia é uma ferramenta essencial para a detecção precoce da doença, permitindo que nódulos sejam identificados antes que se tornem palpáveis. O exame, que utiliza raios-x, é amplamente recomendado por entidades de saúde e sua realização periódica está associada a uma redução significativa nas taxas de mortalidade.

Marcelo Gondim destaca que o diagnóstico precoce da doença aumenta as chances de cura, uma vez que, quando identificado em estágios iniciais, o tratamento tende a ser menos invasivo e mais eficaz. O médico alerta que, quanto mais cedo a doença for detectada, menores são as complicações e a necessidade de realizar tratamentos mais agressivos, como quimioterapia e cirurgias radicais.

A ANS assegura que sua proposta não altera a cobertura atual dos exames de mamografia, que continua a ser obrigatória para mulheres entre 40 e 69 anos, conforme indicação médica. No entanto, a inclusão de uma faixa etária específica para a certificação poderia, na prática, levar a um desestímulo ao rastreio para mulheres mais jovens.

Importância do diagnóstico precoce 

A familiarização com as mamas e a realização do autoexame mensal são práticas essenciais para a detecção precoce do câncer de mama. Especialistas destacam a importância do autoexame como uma ferramenta simples e eficaz, que deve ser complementada por consultas médicas regulares e mamografias a partir dos 40 anos, conforme recomendado pelas principais entidades médicas.

O autoexame de mama pode ser realizado de maneira prática e rápida. Confira um breve passo a passo a seguir.

  • Observe atentamente as mamas diante de um espelho;
  • Levante os braços e procure por qualquer alteração visível, como nódulos, mudanças no tamanho, forma ou cor das mamas, ou secreção nos mamilos;
  • Em seguida, deitada, utilize a ponta dos dedos para fazer uma palpação cuidadosa em toda a mama, com movimentos circulares, indo do exterior para o interior;
  • É fundamental também verificar a região das axilas, onde nódulos podem se desenvolver;
  • Caso identifique algo incomum, procure um médico para realizar exames mais aprofundados.

Além do autoexame, adotar hábitos de vida saudáveis é crucial na prevenção do câncer de mama. Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes e fibras, aliada à prática regular de atividades físicas, contribui significativamente para a redução do risco da doença. Evitar o consumo excessivo de álcool e o tabagismo também são atitudes que fazem a diferença na prevenção.

A combinação de conscientização, autoexame e acompanhamento médico regular é essencial para promover a saúde das mulheres e aumentar as chances de diagnóstico precoce, garantindo um tratamento eficaz e melhor qualidade de vida.