Entrevista Nota 10: Sofia Osório e a escrita criativa como prática de sensibilidade e expressão artística
seg, 21 julho 2025 17:16
Entrevista Nota 10: Sofia Osório e a escrita criativa como prática de sensibilidade e expressão artística
Jornalista e escritora comenta sua trajetória na literatura, destaca o papel da criatividade na formação pessoal e profissional e apresenta os diferenciais do Ateliê de Escrita Criativa ofertado pela Educação Continuada da Unifor

Num mundo acelerado, mediado por telas e por múltiplas distrações, há quem ainda encontre na palavra escrita um refúgio — e, mais do que isso, uma forma potente de expressão, escuta e transformação.
A escritora cearense Sofia Osório, formada em Jornalismo pela Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, é uma dessas pessoas que faz da escrita um instrumento de existência.
Com uma produção que transita por diversos gêneros e linguagens, ela é autora do livro “Medos Rabiscados” e integra variados coletivos literários, além de ser idealizadora do projeto Criativando Livremente.
Sofia acredita que a criatividade é uma habilidade humana que pode (e deve) ser exercitada, e que a literatura tem muito a dizer sobre escuta sensível e conexão com o outro e com si mesmo.
Entre os dias 19 de agosto e 25 de setembro, ela ministra o Ateliê de Escrita Criativa pela Educação Continuada da Unifor. A proposta é simples, mas profunda: ensinar técnicas de criação literária e, ao mesmo tempo, estimular os participantes a explorarem seus próprios repertórios, vivências e olhares sobre o mundo.
Na Entrevista Nota 10 desta semana, Sofia compartilha sua trajetória literária, comenta sobre os benefícios da escrita como ferramenta de desenvolvimento pessoal e apresenta as propostas e objetivos do ateliê, um espaço de experimentação e desenvolvimento criativo.
Confira na íntegra a seguir.
Entrevista Nota 10 — Você transita entre a escrita de ficção, poesia, crônicas e jornalismo literário. Quando e como percebeu que a escrita faria parte da sua vida de maneira tão profunda?
Sofia Osório — Eu sempre gostei de escrever, desde pequena. Quando eu era criança, gostava de “brincar de escrever”. Era uma brincadeira para mim. Chegando na adolescência, passei a escrever como forma de sobrevivência.
Em meio a tantos dilemas típicos dessa idade, eu escrevia para organizar meus pensamentos e sentimentos, e encarava a escrita como uma salvação. Escrever meus medos para que parem de me perturbar, escrever meus demônios para expurgá-los. Nasceu assim “Medos Rabiscados”, meu primeiro livro publicado. É uma obra composta por crônicas e poemas sobre o medo tornando-se algo além do medo, o medo tornando-se rabisco, arte.
Entrevista Nota 10 — Você acredita que a escrita criativa pode ir além da produção literária e se tornar uma ferramenta de autoconhecimento, bem-estar ou até mesmo transformação pessoal? Como isso se manifesta na sua prática?
Sofia Osório — Com certeza. Isso vai de encontro com o que eu respondi na pergunta anterior. Hoje, eu trabalho profissionalmente com a escrita. Mas ainda assim, mantenho o hábito de escrever só para mim. Seja para organizar meu caos interno, para entender melhor meus sentimentos ou para me divertir.
A escrita é a base de tudo que eu faço. Para planejar um projeto, por exemplo, eu começo escrevendo meus objetivos, o que espero dessa iniciativa, e fazendo uma espécie de “brainstorming” (tempestade de ideias).
Entrevista Nota 10 — Ao longo da sua trajetória, você participou de vários coletivos literários. Como esses espaços colaborativos contribuem para a criatividade e para o amadurecimento de uma autora?
Sofia Osório — Foram e são essenciais. Eu acredito que a literatura é ainda mais legal com amigos. Conheci muitos ao longo dos anos. Tanto com a ajuda da internet, em diversos cantos do país, como em eventos literários locais.
O coletivo é muito poderoso, no sentido de que juntos somos mais fortes. Pode parecer um clichê, mas é verdade. Se tem um conselho que eu dou para quem deseja entrar nesse mundo literário, é: encontre a sua turma. Existem grupos de todos os tipos e tamanhos.
O coletivo Escreviventes é focado em mulheres escritoras.O coletivo Escambau tem o foco em literatura fantástica decolonial. O coletivo Autores Independentes do Ceará é voltado para autores cearenses independentes apoiarem uns aos outros e fazerem eventos juntos. Esses são alguns dos que eu participo e indico para quem procura.
Algumas das atividades que são realizadas em coletivos como esses: troca de leituras dos textos uns dos outros, aulas e oficinas, clubes de leitura, bate-papo, apoio mútuo, conselhos e troca de ideias e experiências. Tudo isso é importantíssimo para o amadurecimento e evolução de um escritor.
Entrevista Nota 10 — No ateliê de Escrita Criativa da Unifor, você propõe uma imersão nas técnicas de construção literária. Quais são os principais aprendizados que os participantes podem esperar ao longo do curso?
Sofia Osório — O Ateliê vai acontecer na modalidade virtual com aulas ao vivo. Vamos aprender alguns conceitos e técnicas de criatividade e escrita literária. Além disso, os participantes podem esperar interação ao vivo, espaço para tirar dúvidas e trocar ideias com outros alunos. Eu acredito que a escrita é algo que se aprende praticando, então teremos muitos exercícios que serão realizados durante as aulas e também tarefas para depois.
Entrevista Nota 10 — Em tempos tão acelerados e digitais, qual é o papel da leitura e da escrita no estímulo à sensibilidade e à escuta do mundo ao redor? A criatividade ainda tem espaço nesse cenário?
Sofia Osório — Criatividade é uma das habilidades mais necessárias hoje em dia. Em tempos de tecnologia avançada, o que fica? O ser humano em sua essência. Nossa capacidade inimitável de empatia, sensibilidade e criatividade. A Inteligência Artificial pode até gerar um texto estruturado, mas nenhuma máquina tem o poder de compreender as pessoas e o mundo de maneira profunda.
E é a partir dessa compreensão que nós criamos literatura ou qualquer outra arte. Vamos aprender no Ateliê a técnica do “Olhar criativo”, que consiste em treinar a sua criatividade de dentro para fora. Em resumo, trata-se de enxergar o mundo com sensibilidade, gerar ideias e criar histórias a partir disso.
Entrevista Nota 10 — Para quem deseja começar a escrever, mas ainda se sente inseguro ou acha que “não tem talento”, que conselho você daria? A criatividade é um dom ou pode ser desenvolvida?
Sofia Osório — Criatividade não é dom. Ela pode e deve ser desenvolvida. Algumas pessoas têm mais facilidade de criar, isso é fato. Inclusive, essas pessoas também devem treinar seus músculos criativos. Se não, essa facilidade estaria sendo desperdiçada. Para quem sente mais dificuldade, saiba que a criatividade é uma habilidade inerente ao ser humano. Mas precisamos treinar constantemente para melhorar.
Se você se sente inseguro, meu conselho é: Se jogue. Faça com medo mesmo. Escreva, pratique e busque se aprimorar cada vez mais. E fica a dica: estão abertas as inscrições para o meu Ateliê de Escrita Criativa, certificado pela Unifor. É uma excelente oportunidade de aprender, superar as inseguranças e conhecer outras pessoas que também desejam escrever.