seg, 12 maio 2025 15:54
O amor de mãe que transborda por todo o campus
Uma musicista vê duas gerações de sua família seguir seus passos no Coral; uma médica ajudou a construir o curso que está formando seus filhos em Medicina; mãe e filho dividem a graduação em Psicologia e o sonho da escuta

A maternidade é potência e inspiração. A experiência transforma corpos, promove conexões, revira as percepções sobre o cotidiano. Algo que talvez seja socialmente lido como comum, como ver uma criança aprender as primeiras palavras, vira extraordinário. A maternidade também é um espaço fértil para trocas singulares. Mas o que acontece quando ela rompe as paredes de casa e se entrelaça com educação e cultura em uma universidade?
Uma mãe apaixonada pelo canto vê a filha e as duas netas seguirem seus passos em um coral: três gerações ligadas pela arte. Uma médica literalmente construiu as bases pedagógicas que estão formando seus dois filhos em Medicina. Mãe e filho compartilham o amor pela psicologia e o mesmo curso, aprendendo juntos a delimitar seus próprios espaços, circular entre diferentes gerações e dividir o sonho profissional da escuta para melhorar a vida das pessoas.
Todas essas histórias estão acontecendo agora. A Universidade de Fortaleza, vinculada à Fundação Edson Queiroz, é também uma ponte entre os saberes da maternidade e o conhecimento das ciências. As histórias a seguir mostram como o ambiente acadêmico, artístico e educacional pode fortalecer os laços de inspiração e afeto entre mães e filhos.
Três gerações entrelaçadas pela arte
Desde criança, Lílian Alves observava a mãe, Lúcia Maria Alves, se apresentar no Coral da Unifor. Naqueles tempos, não pensava em ser musicista, apenas deixava-se levar durante os ensaios daquela mulher forte, uma das primeiras a integrar o naipe dos sopranos do Coral, nos anos 1980.
Lúcia se dividia entre a maternidade, o curso de Ciências Contábeis e a arte. “Eu me apresentei à professora regente Dalva Stella em setembro de 1981, quando o Coral foi criado por ela”, conta orgulhosa. Desde então, já passou por vários regentes e hoje tem orgulho de ser regida pela própria filha.
Formada em música, Lílian passou a integrar o grupo musical durante um momento difícil da família. “Ela entrou para o Coral da Unifor para me acompanhar numa época que fui acometida por câncer e, com seis meses de tratamento, já queria voltar a cantar”, lembra Lúcia. Lílian gostou do projeto e seguiu cantando com a mãe. Foi a experiência lá que a fez optar pelo curso de música no vestibular.
“Comecei a ter vontade e a me sentir parte da Unifor depois que entrei no Coral”, lembra. “Eu me encantei somente com o Coral da Unifor, achava bem feito, harmônico, interessante. Minha mãe resolveu me apresentar ao Wilson e eu pedi para entrar no coro. Fiz uma audição com ele e entrei para o naipe dos sopranos”, recorda.
Lúcia ao lado da filha, Lílian, e das netas, Letícia e Lara, em ensaio do Coral da Unifor (Foto: Ares Soares)
Hoje, é a vez das filhas de Lílian acompanharem a mãe e a avó nos ensaios, com três gerações interligadas pela arte. A caçula, Lara, de apenas 8 meses, já tenta imitar, com as mãos, os movimentos da mãe regente. Ao lado da irmã Letícia, de 7 anos, a pequena chorava durante a sessão de fotos para essa reportagem. “Ela só para quando a gente começa a cantar”, comentou Lílian. Quando o Coral iniciou o ensaio no palco do Teatro Celina Queiroz, Lara, de fato, se acalmou.
Lílian conta que o Coral trouxe mais experiências para essas três gerações da família, ampliando também a convivência, as trocas e o aprendizado na maternidade dela e da mãe.
“O Coral ajudou minha mãe a superar muita coisa na vida, o estresse, [trouxe] amigos e a leveza para lutar contra o câncer. Não tem como não sentir uma gratidão por tudo que o Coral da Unifor proporcionou, direta e indiretamente, à minha vida e à da minha mãe”, afirma.
Lúcia não perdia os ensaios nem quando estava grávida. Levava sempre a filha para assistir as apresentações. De tanto frequentar o Coral da Unifor, Lílian conheceu o marido por lá. Casou, engravidou duas vezes e hoje é regente do projeto.
“Minha mãe é coralista do naipe do soprano, meu marido é coralista do naipe do tenor, minha filha mais velha sempre acompanha e vive cantando nossos arranjos e minha filha mais nova vai para todos os ensaios nos braços”, diz a maestrina.
“Maternidade significa dedicação, amor sem medida e doação. Saber que tudo é para elas [filhas], meus bens mais preciosos. É entender tudo que minha mãe fez e faz por mim. Sinto que a Unifor é a extensão da minha casa, meus gestores sempre foram preocupados comigo e com minha família. A Universidade é acolhedora, valoriza a cultura” — Lílian Alves, musicista e maestrina do Coral da Unifor
Lúcia diz que o relacionamento com a filha sempre foi respeitoso, cordial e muito significativo. No Coral, os papéis se invertem um pouco: “Devo-lhe obediência e aprendo demais com ela”, diz.
É no Coral, entre notas e canções, que elas encontram um escape quando o mundo parece muito difícil ou a rotina dura. “O Coral da Unifor sempre foi meu escape. Se estava triste, se tinha problemas, me valia da música. Sempre fui acolhida pelos regentes. Depois de formada, não saí do grupo, só nas doenças. Mas tinha notícias através da coralista Lílian, uma filha abençoada e cuidadosa comigo”, celebra Lúcia.
“No ambiente educacional, minha filha é minha chefe e professora. Culturalmente, ela é muito competente e me inspira. Quanto ao vínculo de mãe e filha — e agora com as netas —, existe um laço afetivo que transcende todas as barreiras e empecilhos já que está no sangue das netas o amor pelo canto. Sou feliz demais com a filha regente do Coral da Unifor, nesta universidade que sempre me acolheu” — Lúcia Maria Alves, integrante do Coral e mãe de Lílian Alves
Um dos momentos mais marcantes que elas vivenciaram juntas no Coral da Unifor foi durante a gravação de um CD. Lílian tem uma memória viva do nervosismo da mãe, que não sabia que a gravação seria feita num estúdio. “Fui ajudando a mamãe, e ela foi se acalmando, aprendendo as músicas que a gente tinha que cantar. Foi incrível ver a evolução dela, ver que eu pude participar disso, estar do lado dela, apoiar, para ela se sentir segura”, recorda.
A educação que toca as histórias de vida de uma família
Era 2004 quando a pediatra Olívia Bessa recebeu um convite para colaborar com a revisão do projeto pedagógico e planejar a implantação da graduação em Medicina da Unifor. “Sem dúvidas, uma das experiências profissionais mais significativas da minha trajetória”, lembra a docente do curso e da Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM).
Olívia integrou a equipe responsável pela concepção, estruturação e implementação da graduação e, em meio a uma jornada com muita aprendizagem pessoal e profissional da coordenação do curso à docência, viu os dois filhos seguirem seus passos dentro da Universidade de Fortaleza.
Matheus Bessa é egresso e professor do curso de Medicina. Já Victor Bessa está cursando o 3º semestre da mesma graduação. A história deles mostra como a educação e o ambiente universitário também se entrelaçam com o fortalecimento das relações entre mãe e filhos.
“Eu conheço a Unifor desde sempre. A minha mãe foi uma das fundadoras da graduação em Medicina, então, desde as minhas memórias de poucos anos de vida, eu lembro do curso porque eu fiz parte da construção dele”, conta Matheus.
Olívia estava grávida do filho mais novo, Victor, quando ingressou na Unifor. “Ele praticamente nasceu junto com o curso de Medicina. Os meninos conviveram de perto com o curso, com os projetos que desenvolvemos por lá e com o envolvimento que tenho com a Universidade. Ainda que cada um tenha feito suas escolhas de forma muito pessoal, acho muito valoroso ver como a Unifor, de alguma maneira, também faz parte da história deles”, comenta ela.
“Compartilhar o mesmo espaço acadêmico com meus filhos criou uma conexão muito bacana entre nós. É um privilégio poder compartilhar as experiências, interesses e valores não só na vida em família, mas também nesse ambiente rico de aprendizado que é a Universidade” — Olivia Bessa, médica pediatra e professora do curso de Medicina e do PPGCM da Unifor
Olívia diz que o fato de estarem os três na mesma instituição os aproximou ainda mais. Para ela, a maternidade é uma das experiências mais transformadoras da vida. Ser mãe a ensinou a olhar o outro com mais empatia, a escutar com mais presença, a compreender que educar é um ato diário de paciência, compromisso e amor. “A maternidade é um exercício constante de aprendizagem, a gente aprende a ser mãe junto com os filhos”, reflete.
Neste processo, ela diz que ver a maternidade se entrelaçar com o ambiente educacional da Universidade é algo muito simbólico. É como se diferentes dimensões da formação — pessoal, familiar e profissional — se encontrassem num mesmo espaço.
“A presença dos meus filhos na Unifor, como alunos e agora também como professor, reforça esse elo. Acredito que isso traz uma mensagem de continuidade, pertencimento e inspiração. Mostra que a educação tem raízes que ultrapassam os muros da sala de aula e tocam as histórias de vida das famílias”, diz.
Na família Bessa, a Unifor é mais do que um lugar de ensino. É um espaço que fortalece vínculos e acolhe sonhos e projetos de vida. “Estar aqui com meus filhos, cada um trilhando seu próprio caminho, é uma alegria para mim, um presente que a vida me deu — e que a Universidade ajuda a fortalecer a cada dia”, afirma Olívia.
Victor, Olívia e Matheus compartilham da mesma dedicação à área médica na Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)
No terceiro semestre do curso de Medicina, Victor concorda. Ele diz que sempre foi muito envolvido com o trabalho da mãe e, por isso, eram constantes as visitas à Unifor. “Quando ingressei na graduação, foi como se eu estivesse em um ambiente muito familiar”, diz. “Acho ótimo ter minha mãe e meu irmão na mesma universidade que eu estou cursando. É como se eu não precisasse desbravar uma mata desconhecida; tenho eles como bússola para tudo que preciso”, comenta.
Quando Victor tem alguma dúvida ou até mesmo quando precisa de uma confirmação, eles estão sempre por perto. É um privilégio ter a mãe com uma história tão forte e inspiradora dentro do curso. “É como se eu tivesse uma segurança a mais por estar fazendo esse curso nessa instituição”, afirma.
Victor conta que estar na mesma universidade que a mãe e o irmão, e até no mesmo curso, os uniu no sentido de que agora parecem estar na mesma plataforma. Em casa, costumam conversar sobre os mesmos assuntos, mas com perspectivas diferentes, de discente a docente. “Realmente nos aproximou bastante. A Unifor é um tema constante nas nossas conversas em casa”, diz.
Virou ato comum que os três compartilhem suas experiências. “Por exemplo, algo que eu esteja passando, meu irmão e minha mãe conseguem entender perfeitamente porque estão no mesmo contexto, no mesmo ambiente. A Unifor ajuda nisso, como se unisse ainda mais a gente no cotidiano”, acredita.
“A Unifor representa uma parte muito importante da minha relação com a minha mãe. Antes de ingressar na Universidade, ela já era uma grande referência para mim como pessoa, como ser humano, mas, ao entrar na graduação, tive a oportunidade de enxergá-la também como professora, e ela se tornou uma referência nesse aspecto também. Foi como se eu tivesse redescoberto minha mãe, ganhado algo a mais” — Victor Costa Bessa, estudante do curso de Medicina
Para Victor, essa proximidade lapida também seu olhar sobre sua mãe. “Ela é uma referência tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Como pessoa, devo a ela vários traços da minha personalidade, muitos dos meus princípios e valores vieram da criação dela. E minha escolha de carreira também teve influência direta dela. Então, tê-la como mãe e como inspiração profissional é uma grande honra”, afirma.
Todos veem a Unifor como uma segunda casa. “Tenho uma relação de família com a Unifor”, resume Matheus. “Desde sempre, eu tenho essa noção de que a Unifor era a segunda casa da minha mãe e virou a minha segunda casa também. Então, eu tenho essa relação de afeto e carinho desde sempre, tanto é que me formei como médico na Unifor, era o meu emprego dos sonhos e estou lá desde 2023”, celebra.
O docente diz que é super interessante poder compartilhar esse lugar com a família. “Divido um ambiente que, para mim, tem uma significância super grande com os membros queridos da minha família”, diz. Foi lá, aliás, que Matheus conheceu a esposa. “Posso dizer também que, na Unifor, ganhei duas filhas, minhas noras: a Bia, formada no curso de Medicina, hoje residente em pediatria, e a Lela, que faz Medicina Veterinária”, brinca Olívia.
“A minha mãe realmente é uma fonte de inspiração na minha escolha de carreira e na minha escolha de estar na Unifor, porque eu sabia que lá seria o ambiente para desenvolver as habilidades, para ser um bom docente, para ser um bom médico. [...] A minha mãe é uma das pessoas mais importantes para mim. Olho sempre pra ela como espelho do tipo de profissional que eu quero ser” — Matheus Bessa, médico, docente do curso de Medicina e egresso da Unifor
Graduação compartilhada por mãe e filho
Danyelle Matos Torres Bandeira e o filho Allan César Bandeira estão cursando a mesma graduação na Unifor: Psicologia. Ele até queria fazer Medicina, mas de tanto ouvir as aulas online da mãe durante a pandemia, recalculou a rota e mudou o caminho.
“Sempre conversamos muito em família. Ele sempre foi muito curioso e gosta muito de escutar, então eu falava sobre o curso, os autores e os textos de psicologia. O colégio também ofereceu alguns debates e orientações sobre a profissão. Ele também visitou a Feira de Profissões Unifor. Todos esses fatores o levaram a mudar de ideia e se interessar pelo curso de Psicologia”, conta a mãe.
Danyelle e Allan, mãe e filho, dividem a paixão pela escuta sensível e humanizada no cuidado psicoterapêutico (Foto: Ares Soares)
Apaixonada pela graduação, Danyelle acredita que acabou influenciando o filho. “Mas também ele me inspira e me incentiva todos os dias. Inspira pela dedicação e entusiasmo e incentiva com suas palavras de força”, diz.
Os dois sempre foram muito próximos, mas o fato de estarem no mesmo curso — Danyelle no 10º semestre e Allan no 5º — faz com que conversem muito sobre os temas em comum, como psicologia e psicanálise. “Acho que o curso também nos trouxe um olhar diferenciado um do outro. A vida sempre está em movimento e isso traz uma nova perspectiva sobre o outro e com o outro”, afirma Danyelle.
Os dois nunca fizeram uma disciplina juntos. Há um cuidado para manter o espaço do outro, para que o filho construa suas amizades na Universidade e seu próprio caminho. Mesmo assim, a troca sobre a profissão e a área que escolheram é constante. “Ter a minha mãe no mesmo curso é uma experiência muito interessante. (...) Apesar da diferença entre nós no curso ser bem grande — eu estou na metade do curso, e ela já está no último semestre —, trocamos muitas ideias”, conta Alan.
“Minha mãe é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço. Ela tem uma capacidade de empatizar com as pessoas de uma forma que eu não vejo em todo mundo. Uma pessoa que se doa naquela escuta, no que está fazendo. Ela me inspira” — Allan César Bandeira, aluno do curso de Psicologia
Danyelle diz que o ambiente da Universidade tem se tornado muito diverso, com distintas gerações, e isso é muito importante para abrir perspectivas diferentes de mundo. “Eu por exemplo, tenho colegas de várias gerações e meu filho também, essa troca nos faz crescer e amadurecer. Está sendo uma experiência incrível passar por esse momento junto com ele, principalmente porque temos vivências diferentes em um mesmo curso e isso nos enriquece até como futuros profissionais da área de psicologia”, diz.
Allan acrescenta que o interesse profissional em comum tem tornado mãe e filho cada vez mais parceiros, dentro da Universidade e fora dela. “Em breve, seremos colegas de profissão, mas também mãe e filho. É muito bacana como conseguimos transitar entre esses papéis. Acho que é fundamental para se ter uma relação cada vez mais forte. Compartilhamos o mesmo sonho, que é de estar verdadeiramente escutando as pessoas e fazendo com que isso tenha um impacto positivo na saúde delas”, declara.
“A maternidade significa amor, carinho, dedicação, orientação e cuidado. A maternidade é muito significativa na minha trajetória de vida, é a função mais importante que eu exerço e amo realizar. É o mais importante legado que deixamos para o mundo. Tenho dois filhos na universidade que curso, um na Psicologia e a outra no Direito. Para nós, a Unifor também é um momento de partilha” — Danyelle Bandeira, aluna do curso de de Psicologia