Entrevista Nota 10: Rodrigo Porto e o diálogo entre arte, arquitetura e design

seg, 5 maio 2025 10:37

Entrevista Nota 10: Rodrigo Porto e o diálogo entre arte, arquitetura e design

Mestre em Conforto Ambiental fala sobre a conexão entre arte, design e arquitetura, sua experiência no Salone del Mobile Milano 2025 e o ensino em arquitetura promovido pela Unifor


Especialista em Iluminação, Rodrigo é professor dos cursos de Design de Interiores e de Arquitetura e Urbanismo da Unifor (Foto: Roni Vasconcelos)
Especialista em Iluminação, Rodrigo é professor dos cursos de Design de Interiores e de Arquitetura e Urbanismo da Unifor (Foto: Roni Vasconcelos)

Para o arquiteto e urbanista Rodrigo Porto, a arte e a arquitetura sempre andaram de mãos dadas, mas é o design quem faz essa “conversa” fluir. O design, diz ele, traduz o gesto artístico em algo que se encaixa no cotidiano e no uso dos espaços.

“E aí entra o conforto ambiental, que é algo que carrego como base: não adianta ser lindo se a luz incomoda ou se o som ecoa demais ou se está quente! Quando tudo está em equilíbrio – estética, função e bem-estar –, o espaço ganha alma. A arquitetura deixa de ser só cenário e passa a ser experiência”, explica o mestre em Conforto Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Sua visão profissional é tomada por uma intensa sensibilidade artística. Por 10 anos, foi responsável pelos projetos expográficos do Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, tendo assinado exposições de artistas como Beatriz Milhazes, Adriana Varejão e Francisco de Almeida.

Também foi autor do projeto de arquitetura da Biblioteca Acervos Especiais, inaugurada em 2013. Na época, Rodrigo viajou à São Paulo junto ao então Chanceler Airton Queiroz para conhecer as obras que ficariam hospedadas no espaço que planejou. “A biblioteca é um orgulho para mim”, declara o arquiteto, que também projetou o Café das Artes.

Em abril deste ano, ele esteve em Milão, na Itália, para participar do Salone del Mobile, o maior e mais importante evento internacional de design de móveis e decoração. Realizada anualmente, a feira é palco global para lançamento de tendências, experimentação de novas linguagens estéticas e reconhecimento de grandes nomes do design contemporâneo.

Especialista em Iluminação pela Penn State University e doutorando em Arquitetura de Museus pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo é docente dos cursos de Design de Interiores e de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Idealizou e coordenou, por 12 anos, a Especialização em Arquitetura de Interiores, além de ter criado a Especialização em Arquitetura e Projeto Sustentável na mesma instituição.

Hoje dirige seu próprio escritório, unindo arquitetura, interiores e inteligência imobiliária em uma atuação completa, do conceito ao investimento. Atualmente, expande sua presença internacional com a Projecta, escritório fundado em parceria com uma sócia nos Estados Unidos.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele fala sobre a conexão entre arte, design e arquitetura, sua experiência no Salone del Mobile Milano 2025 e o ensino em arquitetura promovido pela Unifor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — A arte e a arquitetura possuem uma longa e confluente história ao longo das eras. De que forma o design surge como ponte entre essas duas áreas para criar espaços que sejam tanto funcionais quanto estéticos? O conforto ambiental também beneficia esses elementos?

Rodrigo Porto — Arte e arquitetura sempre andaram de mãos dadas, né? Mas o design é quem faz a conversa fluir. Ele traduz o gesto artístico em algo que se encaixa na vida real, no uso do espaço, no movimento, na rotina. E aí entra o conforto ambiental, que é algo que carrego como base: não adianta ser lindo se a luz incomoda ou se o som ecoa demais ou se está quente! Quando tudo está em equilíbrio – estética, função e bem-estar –, o espaço ganha alma. A arquitetura deixa de ser só cenário e passa a ser experiência.

Entrevista Nota 10 — De 2013 a 2023, você foi responsável pelos projetos expográficos do Espaço Cultural Unifor. O que é essencial ao se trabalhar com projetos focados em arte? Quais são os desafios de alinhar a sensibilidade artística proposta pela curadoria das mostras às exigências arquitetônicas e possibilidades da luminotécnica?

Rodrigo Porto — Esse foi um dos capítulos mais intensos e bonitos da minha trajetória. Trabalhar com arte é quase como coreografar o silêncio: você precisa saber sair de cena na hora certa. Cada obra tem um tempo, um peso, uma intenção. E o meu papel era criar um espaço que respeitasse isso. O maior desafio? Fazer com que a arquitetura não engula a arte, mas também não desapareça por completo. A luz, então, é fundamental. Estudei iluminação justamente para conseguir esse equilíbrio: uma luminária mal posicionada pode trair a obra; uma luz certa pode revelar camadas que nem o visitante esperava sentir.

Costumo dizer que foram anos valiosos para mim e para a Fundação Edson Queiroz (FEQ), pois ambos tivemos a chance de oferecer o melhor de si: eu, com meu conhecimento e experiência desde pequeno; e a FEQ, como possibilitadora de tudo isso — realizadora que viabilizava todo o meu pensamento. Inclusive, estou assinando para a FEQ a exposição de Túlio Pinto, que abrirá o novo Complexo Cultural Yolanda e Edson Queiroz. Uma honra ter sido lembrado por essa família tão querida!

Entrevista Nota 10 — No início de abril, você esteve no Salone del Mobile Milano 2025, um palco global para lançamento de tendências e experimentação de novas linguagens estéticas no design, especialmente para o setor moveleiro. Como foi sua experiência por lá? Que novidades te inspiraram e agregaram conhecimento para sua atuação profissional?

Rodrigo Porto — Milão é um sopro de vida para quem trabalha com criação. Não é só uma feira, é uma cidade inteira pulsando design em cada esquina. Esse ano, me encantei com a volta das texturas orgânicas, dos tons mais densos, da mistura entre o artesanal e o digital. Vi muita coisa nova, mas também reencontrei aquela elegância atemporal que me inspira há anos. O melhor? Conversar com os próprios designers, muitos jovens, com ideias fresquíssimas. É como ouvir o futuro sussurrando no seu ouvido. Foi minha sexta vez no evento. Com a pandemia de Covid-19, os anos de 2020 a 2022 foram um pouco conturbados para o evento, e em 2024, assinei um ambiente enorme na CASACOR Ceará. Então, preferi ir novamente agora em 2025 [para o Salone del Mobile].

Entrevista Nota 10 — Qual a importância de eventos como esse na promoção de novos nomes e de inovações na arquitetura e no design, principalmente para desenvolver um olhar sensível e disruptivo? E para o intercâmbio cultural e a rede de conexões profissionais?

Rodrigo Porto — É um banho de mundo. A gente volta desses eventos com os olhos mais atentos, o coração mais aberto e a cabeça cheia de novas possibilidades. Ver como outras culturas resolvem questões parecidas com as nossas, mas de formas completamente diferentes, é o que mais me move. Fora as trocas: de cartão, de ideias, de caminhos. Você nunca volta igual. E isso reflete direto nos projetos: eles ganham novas camadas, novos olhares, novos sentidos. Reflete também em sala de aula, onde sempre trago para meus alunos de Arquitetura e Design da Unifor essas novidades.

Entrevista Nota 10 — Sendo professor dos cursos de Design de Interiores e de Arquitetura e Urbanismo da Unifor, como você enxerga a importância dessa experiência no Salone del Mobile Milano para a internacionalização do ensino e da formação profissional de novos(as) arquitetos(as)? O que essas oportunidades agregam à sua prática docente, tanto na graduação quanto na pós?

Rodrigo Porto — Dar aula é, para mim, tão essencial quanto projetar. E quando volto de Milão, volto com muito mais do que referências visuais, volto com conteúdo vivo. Mostro para os meus alunos que o design não é algo distante ou inacessível: ele está ali, sendo discutido por gente como a gente, com propósito e paixão. Levo essas experiências para dentro da sala e vejo o brilho no olhar deles. É isso que transforma o ensino: quando o professor vive o que ensina. E eu vivo em muitas participações em feiras, eventos. Fui convidado para um evento super fechado de um estúdio que admiro muito, chamado Boca do Lobo. Será uma festa Black Tie no Porto, em Portugal. Somente dez arquitetos brasileiros foram convidados. Ansioso para ir.

Entrevista Nota 10 — Na Pós-Unifor, você foi responsável por idealizar e coordenar a Especialização em Arquitetura de Interiores, além de ter criado a especialização em Arquitetura e Projeto Sustentável. Qual o papel das especializações na construção de uma atuação profissional diferenciada e de excelência para o(a) arquiteto(a), principalmente ligadas a vivências internacionais na área?

Rodrigo Porto — As especializações são, muitas vezes, o ponto em que o aluno começa a descobrir sua assinatura. Eu idealizei esses cursos pensando nisso: formar profissionais com identidade, repertório e um senso de responsabilidade estética e social. E quanto mais vivência internacional a gente traz para sala, mais esses alunos entendem que arquitetura boa não tem fórmula; ela tem intenção, contexto, pesquisa e muita escuta. É nesse ponto que o profissional deixa de apenas “executar” e passa a realmente criar. Esse sou eu emissor de informação, seja como arquiteto em meus projetos, seja como idealizador de cursos ou como professor em sala de aula.