seg, 15 setembro 2025 18:27
Pix: a inovação financeira do Brasil que revolucionou o futuro do dinheiro
Ferramenta criada pelo Banco Central facilitou e transformou a movimentação monetária nacional, projetando o Brasil como referência mundial em inovação financeira

O sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central, mais conhecido como Pix, tornou-se um marco na história recente do Brasil. Lançada em 2020, em apenas alguns anos a ferramenta não apenas modificou a forma como os brasileiros movimentam dinheiro, mas também passou a ser vista internacionalmente como um exemplo de inovação financeira.
“O Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro com o Pix”, destacou o economista estadunidense Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia de 2008, ao reconhecer o pioneirismo do país na modernização dos meios de pagamento.
No cotidiano, a presença do Pix é quase onipresente. Seja no comércio de bairro ou em grandes empresas, a ferramenta se consolidou como alternativa às tradicionais operações de Transferência Eletrônica Disponível (TED), Documento de Ordem de Crédito (DOC, que foi extinto em 2024 em razão do Pix) e ao uso de cartões.
Para o contador Levy Guedes, professor do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, o sistema veio como uma forma de facilitar a circulação de dinheiro e isso ajudou muito no período da pandemia de Covid-19 no Brasil.
Ele ressalta que a praticidade também trouxe novos desafios, principalmente no campo da fiscalização. “Além de ser um grande aliado, o Pix é uma ferramenta poderosíssima de malhas fiscais e operações fiscalizatórias”, observa o coordenador do Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal (NAF).
A adesão massiva ao sistema também transformou hábitos de consumo. A facilidade para transferir valores estimula a compra rápida, mas pode, em alguns casos, comprometer o orçamento familiar. “É possível que algumas pessoas tenham encontrado dificuldades em gerenciar questões financeiras, adquirindo produtos ou serviços não essenciais por impulso. Sem um rígido planejamento, isso pode afetar o orçamento das famílias”, alerta Guedes.
No setor empresarial, os impactos são igualmente relevantes. O professor destaca que muitos empreendedores passaram a incentivar o uso do Pix como forma de reduzir custos com taxas de cartões de crédito e débito. “Estamos em um mercado em que os preços sobem e as matérias-primas encarecem. Estimular o uso do Pix visando economia das tarifas é uma saída comum para muitos negócios”, enfatiza o contador.
Ele ainda ressalta que, embora o sistema beneficie todos os perfis de empreendedores, os pequenos comerciantes saem ganhando mais: “O Pix veio como um grande aliado para as micro e pequenas empresas”.
“Na minha visão de contador, enxergo que o Pix veio também como uma ferramenta poderosa para aumentar as fiscalizações por parte do fisco” — Levy Guedes, coordenador do Núcleo de Apoio Contábil e docente do curso de Ciências Contábeis da Unifor
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Tecnologias, simplicidade e segurança
Do ponto de vista tecnológico, a revolução é ainda mais evidente. Raimir Holanda Filho, pós-doutor em Computação e professor do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA) da Unifor, explica que o grande diferencial do Pix está na arquitetura que permite transações em segundos, sem restrições de horário ou dia da semana.
“Enquanto um boleto leva dias para ser compensado e transferências tradicionais têm horários restritos, o Pix opera 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano”, ressalta. O docente informa ainda que o sistema foi construído com base em um modelo distribuído e escalável, capaz de suportar picos de até 160 milhões de transações em um único dia.
Outro ponto que impulsionou a aceitação popular foi a simplicidade de uso. O modelo das chaves Pix e a integração de QR Codes transformaram processos burocráticos em operações rápidas e intuitivas.
“A criação da chave Pix foi uma revolução. Ela transformou um processo complexo em uma simples troca de um endereço de fácil memorização” — Raimir Holanda Filho, pós-doutor em Computação e professor do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada da Unifor
A segurança, por sua vez, foi tratada como pilar do sistema. Além da criptografia de ponta e da comunicação protegida com o Banco Central, há mecanismos de monitoramento constante e autenticação por biometria. Ainda assim, os especialistas reconhecem que os desafios permanecem, sobretudo diante do aumento de fraudes e golpes digitais.
“O principal desafio técnico do Pix é a segurança. Golpes de engenharia social exploram a vulnerabilidade das pessoas, não do sistema”, explica Raimir, apontando a necessidade de ferramentas de inteligência artificial que possam bloquear transações suspeitas em tempo real.
A popularização do Pix também contribuiu para a redução da circulação de dinheiro físico, o que aumenta a transparência das transações e fortalece a formalização da economia. Para o contador Levy Guedes, esse aspecto faz com que o maior beneficiado pelo Pix seja o próprio governo federal, “pois ele já é utilizado em diversas operações fiscalizatórias”.
Além do presente, o Pix abre caminho para inovações futuras, como o Drex, moeda digital do Banco Central. Segundo Raimir Holanda, o sistema não é apenas uma ferramenta de pagamento, mas uma base tecnológica para transformações ainda mais profundas. “O Pix acostumou a população a lidar com dinheiro de forma 100% digital, preparando o terreno para a moeda digital brasileira”, avalia.
Apesar das críticas internacionais, sobretudo de empresas de cartão que alegam concorrência desleal, especialistas consideram o Pix um modelo exportável. Sua combinação de inclusão financeira, baixo custo, simplicidade e segurança desperta interesse de países que buscam ampliar a digitalização de seus sistemas financeiros.
Com bilhões de transações realizadas e uma adesão quase universal no Brasil, o Pix já não é apenas um meio de pagamento: tornou-se um fenômeno social e cultural. Como resume Levy Guedes, “o Pix veio para ficar, de forma definitiva. É uma ferramenta que caiu nas graças do empreendedor e do consumidor brasileiros”.
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