seg, 7 abril 2025 11:05
Edson Queiroz: o centenário do homem visionário que criou a Unifor
No centenário de Edson Queiroz, fundador da Universidade de Fortaleza, o Unifor Notícias mergulha na personalidade multifacetada do empresário que incentivou grupos culturais e investiu na educação enquanto desenvolvia um império

Do alto de uma torre de transmissão do Canal 10, o empresário cearense Edson Queiroz observa parafusos frouxos e vigas pouco aprumadas depois de recorrentes problemas apontados pela equipe de sua emissora televisiva. Ele está a 80 metros de altura, sob o sol escaldante de Fortaleza, inconformado com o que encontrou. Na descida da escada metálica, com a roupa trepidando pelo vento contra seu corpo, contrata novos profissionais para resolver de vez o problema.
A cena inusitada para qualquer grande empresário tradicional aponta traços marcantes da personalidade inquieta e proativa de um empreendedor autodidata, que construiu um significativo império industrial em duas décadas. Homem de ação, Edson fazia questão de acompanhar pessoalmente cada um de seus negócios.
Estudava minuciosamente cada ramo de atuação, conversava frequentemente com funcionários e tinha obsessão em fazer o melhor. Por isso, costumava ser exigente e estava sempre buscando soluções para driblar problemas. Com senso de urgência e alma curiosa, tinha o desejo de realizar grandes feitos em tempo recorde. Conseguiu.
Edson Queiroz foi pioneiro na distribuição de gás de cozinha no Ceará. Investiu em metalúrgica, companhia de navegação, meios de comunicação, pecuária, água e castanha. Com olhos de vanguarda e paixão pela inovação, sonhou com uma “fábrica de doutores” e superou muitos contratempos até conseguir inaugurar a Universidade de Fortaleza, primeira universidade particular do Ceará, que nasceu vinculada à Fundação Edson Queiroz (FEQ).
É que Edson tinha ciência da importância da educação e da cultura para formar mão de obra e consumidores qualificados, algo crucial não só para a longevidade de seu império, mas principalmente para o desenvolvimento do Estado. Vem daí uma faceta que talvez seja menos conhecida do empresário que entrou no imaginário cearense como exemplo de inspiração empreendedora: a de uma espécie de agitador cultural e educacional.
No centenário de Edson Queiroz, celebrado no dia 12 de abril de 2025, o Unifor Notícias Mobile convida o leitor a mergulhar na personalidade multifacetada do empresário e conhecer como sua atuação dialogava com a educação e a cultura, explorando o ser humano por trás do homem de negócios.
Da universidade aos grupos literários e à imprensa, Edson lançou sementes que contribuíram para o desenvolvimento do Ceará também pelo estímulo ao conhecimento, à produção e à difusão da cultura e da arte local. Era um homem cuja exigência profissional convivia com o bom humor e o amor pela cearensidade.
A seguir, contamos como ele incentivava o grupo literário “Sábados” e os encontros entre escritores, políticos, médicos, artistas e personalidades em uma Fortaleza ainda provinciana e carente de equipamentos culturais. Confira os relatos sobre a personalidade lendária de Edson Queiroz.
Mágico, amante de fotografia e multiempreendedor
“Ele era uma pessoa muito peculiar. Era empolgado com tudo o que fazia”, relembra a filha Lenise Queiroz, que hoje está à frente da Fundação Edson Queiroz. A memória a leva para sua infância, quando a ausência do pai, causada pelas longas viagens de negócios, era quebrada com truques de mágica que ele aprendia nos destinos, todos os apetrechos guardados em um enorme baú.
Fotógrafo amador, Edson também costumava convidar os filhos mais novos para “ver a fotografia aparecer” em um pequeno laboratório que improvisou em um dos banheiros da casa. Gostava de fazer retratos e chegou a ter 20 câmeras, com as quais congelava seu olhar sobre o mundo. “Ele era multifacetado”, define Lenise.
Edson gostava de fotografar, o que o levou a criar um laboratório de revelação em um banheiro de sua própria de casa (Foto: Acervo FEQ)
Filho de um comerciante e uma dona de casa, Edson Queiroz nasceu na cidade de Cascavel, no Ceará. Herdou do pai, Genésio, o tino para os negócios, e da mãe, Cordélia, a paixão pela descoberta e pela música. Desde jovem, preferia conversar com pessoas experientes a se enquadrar no currículo escolar.
No início de sua trajetória comercial, ganhou a concorrência pública e teve êxito na exploração do centro comercial “Abrigo Central”, na Praça do Ferreira. “Digo que ele foi o primeiro shopping center do Estado, porque era um espaço que tinha todos os tipos de lojas”, afirma Lenise.
Numa época em que empresários davam passos comedidos, Edson abraçava a ousadia. Apostava em negócios inovadores e se movia estrategicamente para convencer seu público sobre o potencial dos novos produtos e serviços que oferecia.
Foi assim quando começou a vender gás de cozinha e fogões à revelia da desconfiança do público sobre a segurança. Instalava pessoalmente na casa das pessoas e lhes dava uma semana para decidir se estavam satisfeitos com o novo equipamento. Nos caminhões que transportavam os produtos, fixou o slogan “Pergunte a quem tem um” e fomentou uma rede de troca de experiências no boca a boca. Deu certo, e ele findou com certo protagonismo na mudança da forma do cearense cozinhar.
O modus operandi seguia a cada novo negócio. Edson dizia que estava sempre disposto, 24 horas pronto para agir. “Era um self-made man”, resume Lenise. Se precisava ir aos Estados Unidos para viabilizar negócios, o empresário comprava dicionários e se esforçava em aprender as palavras ainda que a pronúncia estivesse incorreta. Foi assim que aprendeu inglês.
O sonho da primeira universidade particular do Ceará
Quando queria qualquer coisa, Edson Queiroz era determinado. Talvez se frustrasse de vez em quando pelo imediatismo e pela pressa que tinha em realizar, mas não desistia fácil. Insistia em buscar alternativas e encontrar saídas para viabilizar suas ideias, que abraçava com intuição e muito senso de oportunidade. A esposa, Yolanda Queiroz, era conselheira e parceira em casa e também nos negócios.
Edson faleceu precocemente em um acidente aéreo. Deixou 24 empresas aos 57 anos. Yolanda foi determinante não apenas na manutenção deste império, mas no potente sonho que compartilharam para fomentar a educação.
Com empresas atuando em distintas áreas, Edson estava sempre viajando ao Sudeste do país em busca de profissionais especializados. “Ele dizia assim: eu já fiz fábrica disso, daquilo, agora o Ceará precisa ter uma ‘fábrica de doutores’. E vai ser a melhor universidade”, conta Lenise.
O sonho de Edson de criar uma “fábrica de doutores” foi realizado na fundação da Universidade de Fortaleza (Foto: Acervo FEQ)
Foram muitas viagens a Brasília até o empresário conseguir lançar a pedra fundamental da Unifor. Além das burocracias e exigências para reunir o tripé de ensino, pesquisa e extensão, ele enfrentava críticas. Muitas vezes, ouviu que o local distante não teria como comportar a nova mão de obra ou que o ambiente era inóspito e a empreitada fracassaria.
Mas confiava na intuição e ouvia de Yolanda: “Se você já chegou até aqui, insista em deixar sua marca, seu legado. Você ama tanto seu Estado que vale a pena batalhar”. No dia da inauguração, Edson não conseguiu conter a emoção. O então ministro Jarbas Passarinho, no discurso, disse ter visto “uma universidade nascer e um homem chorar” por isso.
Nas cinco décadas seguintes, a história mostrou um caminho promissor para a Universidade, que hoje conta com 26 mil alunos e funciona como uma verdadeira cidade universitária. “Ele era um visionário mesmo”, pontua Lenise. “Ele achava que para o Nordeste era muito importante ter mais cursos universitários. (...) Era vontade dele ver o crescimento da gente dele, do Estado”, completa.
No ano em que partiu, foi inaugurada a Escola Yolanda Queiroz, um projeto planejado por ele e que hoje oferta bolsas de estudo para centenas de crianças. Sua preocupação com a arte cearense e as poucas oportunidades aos artistas foram o embrião para a criação da Unifor Plástica, que se tornou depois um dos principais salões de artes plásticas do Brasil.
“Ele pensava grande. Tudo que ele fazia, ele queria que fosse o melhor, o maior. Creio que hoje estaria muito feliz, porque ele não viveu para ver todo o crescimento da Unifor, não viveu para ver a cidade crescer para o lado que ele apostou” — Lenise Queiroz, presidente da Fundação Edson Queiroz e filha de Edson
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Criar, sem perder um minuto de vida
O escritor, historiador e bibliófilo José Augusto Bezerra conheceu Edson Queiroz quando a Universidade de Fortaleza estava sendo implementada, nos anos 1970. Ouviu do empresário sobre as dificuldades de mão de obra qualificada e logo percebeu que Edson acreditava que o problema estava relacionado à falta de acesso à cultura, uma questão que precisaria ser solucionada para o Estado crescer.
“Quase só ouvi. Observei seu entusiasmo sobre como tratar o tema do acesso da sociedade a novos conhecimentos e concordei inteiramente com suas palavras”, recorda José Augusto. A conversa não foi longa, mas lhe deu a dimensão de que estava diante de um homem diferente.
“Já o admirava de longe, mas, a partir daquele momento, fiquei certo de que seus planos eram os melhores para o futuro cultural do nosso povo. Com certeza, não pensava só em si, mas imaginava uma obra cultural importante, que seria o grande legado da sua história”, afirma o escritor.
José Augusto viu, desde os primeiros contatos, um Edson calmo e carismático. Era um líder nato, que não se intimidava com as coisas difíceis e dava o exemplo. “É fato conhecido que numa oportunidade em que dona Yolanda fez uma cirurgia nos EUA, ele, que a acompanhava, para não ficar parado, arranjou um emprego de vendedor de malas em uma loja até que um cliente o reconheceu”, conta. “Sua personalidade, portanto, era de criar e criar sempre, sem perder um minuto da vida, conquistando tudo com argumentos e com o seu próprio exemplo”, conclui.
Edson no lançamento da pedra fundamental da Unifor, em 1971 (Foto: Acervo FEQ)
Edson Queiroz é conhecido pelos feitos no campo empresarial, mas dizia acreditar que o desenvolvimento de um lugar deveria vir também da educação, da cultura e da arte. Talvez por isso o próprio Edson gostasse tanto de circular pelas rodas de artistas e escritores.
“O Eduardo Campos (que presidiu o Instituto do Ceará) contava que o Edson era um homem que gostava de literatura, muito influenciado por dona Yolanda. Dizia, com aquela voz entusiasta e trovejante, que o Edson só sabia pensar grande, e acreditava que o seu entusiasmo pela literatura, pelas artes e pela Unifor, se não tivesse partido tão cedo, o levaria a criar outras universidades”, conta José Augusto.
Mas as sementes plantadas em casa pelo casal seguem dando frutos até hoje nesta área, a partir do legado que foi sendo ampliado pelos filhos. É o caso, por exemplo, do convite feito pelo então chanceler Airton Queiroz, o primogênito, para que José Augusto fizesse a curadoria da Biblioteca Acervos Especiais da Unifor.
“Talvez a maior contribuição do Edson e de dona Yolanda foi criar uma família de amantes da cultura e das artes. O seu filho, chanceler Airton Queiroz, por exemplo, foi criado andando pelos museus da Europa e da fantástica Fundação Calouste Gulbenkian, conforme ele mesmo me disse. O Airton era realmente um empresário extraordinário e um excelente conhecedor de arte, e um dos grandes mecenas dessa área no Brasil”, pontua.
“A criação da Biblioteca Acervos Especiais interage fortemente com o sonho de Edson por uma Unifor grande, que atende ciência e arte e projeta sua imagem em nível nacional e internacional. Uma universidade, ao pé da letra, é feita, mais do que qualquer outra instituição, por homens e livros” — José Augusto Bezerra, escritor, historiador e bibliófilo
Das rodas culturais à responsabilidade social
O ex-governador Lúcio Alcântara se aproximou de Edson Queiroz graças aos encontros de pensadores e escritores cearenses estimulados pelo empresário. Todos os sábados, médicos, políticos e outras personalidades se reuniam em um quiosque nos arredores da Rádio Verdes Mares para um momento de descontração.
Era uma oportunidade para compartilhar produções e conversar sobre os últimos acontecimentos na cidade, cuja vida social acontecia majoritariamente nos clubes. Lúcio era um jovem médico, que trabalhava no Hospital Geral de Fortaleza e tinha paixão por literatura.
Naqueles encontros, descobriu um Edson descontraído, que sustentava suas opiniões e evitava envolvimentos político-partidários. Trazia no DNA a cearensidade e o bom humor, interessado em conversar sobre os mais variados assuntos e ouvir pensamentos de um grupo eclético e diverso. Aos sábados, encontrava de médicos a jornalistas, de governador a artistas.
Não era raro convidar alguns para almoçar em sua casa depois do encontro matinal de sábado, ocasiões em que gostava de cantar samba e tomar algumas doses de conhaque ou whisky. “Ele revelava, de maneira mais espontânea, as características dele. Era uma pessoa muito bem-humorada e extrovertida, então cantava, brincava, gostava de fazer mágicas. Era um tipo bem expansivo”, recorda.
Nos anos 1970, Lúcio Alcântara vira secretário de saúde e passa a ter maior protagonismo político. Ele lembra de estar no lançamento da pedra fundamental da Unifor e conta que, junto com Edson Queiroz, planejou o que hoje é o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Unifor.
“Fiz uma proposta do campus ter uma unidade de saúde do Estado que servisse de campo de treinamento para os cursos da ciência da saúde”, conta. Edson topou. O projeto demorou um pouco para sair do papel, mas o empresário cuidou pessoalmente para que a ideia não se perdesse. “Foi uma parceria muito boa e depois, claro, as coisas mudaram e o NAMI cresceu muito”, diz Lúcio.
Atualmente, o NAMI é uma referência nas regiões Norte e Nordeste, realizando atendimentos multidisciplinares de excelência pelo Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particular. O núcleo oferece diversos serviços, como exames, vacinas, análises clínicas, centro de imagens, entre outros, sempre com responsabilidade social e compromisso de oferecer a melhor assistência à população.
“Tudo que o Edson fez tinha qualidade. Ele queria sempre o melhor que tivesse no Brasil e no mundo, seja na obra, seja nos equipamentos, seja no recurso humano. Era quase que uma obsessão dele, e essa visão que ele tinha como empresário, ele trouxe para a Unifor. Ele tinha uma intuição visionária da modernidade, da qualidade, do progresso, da inovação e do avanço” — Lúcio Alcântara, médico, escritor e ex-governador do Ceará
Lúcio diz que a pressa e a obsessão pela excelência levou Edson a abrir novos campos de negócio, sempre estudando muito antes de cada novo empreendimento. “Ele tinha ideias, propostas e o desejo de progredir”, sinaliza.
Nos encontros culturais realizados aos sábados, ficava evidente a grande capacidade de comunicação do empresário. “Ele era um sedutor, uma pessoa que sabia, que tinha empatia, que não discriminava categoria social. Era uma pessoa aberta e generosa”, diz.
O comandante Edson
O escritor Juarez Leitão não conheceu pessoalmente Edson Queiroz, mas acompanhou a importância que ele teve para a reunião de artistas, políticos e escritores aos sábados, numa agitação cultural que atravessou décadas. Ele próprio chegou ao grupo depois do trágico acidente que tirou a vida do empresário. Mas lá, ouviu muitas histórias do “comandante”, como Edson era chamado por amigos e colaboradores da Rádio Verdes Mares.
“A memória dele estava viva, no relato dos participantes”, recorda o escritor. No livro “Sábado, estação de viver”, Juarez dedica um capítulo a Edson Queiroz e sua presença exuberante na história contemporânea do Ceará. Ele conta sobre um homem que se tornou referência de sucesso empresarial no Estado antes dos 30 anos.
“Edson Queiroz mirou-se no exemplo dos grandes empresários norte-americanos, na preocupação com a educação e a cultura. O que viu lá o inspirou a criar uma fundação educacional. Criou a Unifor com o mesmo critério de disseminar a educação, mas a queria com qualidade de referência. E foi o que fez, com muito amor, dedicação e esmero” — Juarez Leitão, escritor
Juarez afirma que o grupo dos “Amigos do Sábado” surgiu em 1967. Edson queria reunir alguns amigos, de diversas atividades — jornalistas, empresários, médicos, gente já estabelecida na vida e com reconhecimento social —, para jogar conversa fora, contar anedotas, tomar um uísque. “Nesses encontros ele se descontraia, ficava espontâneo e até cantava uns boleros e sambas-canções”, afirma.
O livro “Sábado, Estação de Viver” nasceu por incentivo daquela roda boêmia e traz o alto grau de admiração e afeto que os companheiros nutriam por Edson Queiroz. Também remonta que foi daquela roda de amigos que nasceu o troféu Sereia de Ouro, na intenção de reconhecer grandes personalidades cearenses.
“Edson Queiroz foi arrebatado no esplendor da vida, aos 57 anos, quando estava em pleno vicejar de sua capacidade e de seus sonhos de empreendedor lúcido e ousado, tendo ainda muito a fazer pela economia e pela educação de nosso estado e do país”, lamenta Juarez.
Inspiração para várias gerações
O nome de Edson Queiroz tem sido presente na vida de todos que nascem e crescem em Fortaleza. Isso fez o jornalista e escritor Lira Neto aceitar o convite da família para escrever a biografia do empresário.
“Ao longo do processo, o personagem me interessou e me fascinou ainda mais ao constatar que é impossível contar a história de Fortaleza sem contar a história de Edson Queiroz”, afirma Lira. No livro, o biógrafo conta a história de um homem que viveu todas as transformações políticas, econômicas e sociais pelas quais a capital cearense passou ao longo do século XX.
Ele destaca que Edson Queiroz não só foi testemunha disso, mas participou da indução dessas próprias transformações imprimindo a elas uma velocidade muito maior a partir da sua atuação pessoal e empresarial.
O jornalista salienta que Edson tinha uma consciência muito evidente de que os próprios negócios dele e da família teriam melhor desenvoltura a partir do instante em que o meio em que essas empresas estavam sendo implantadas também se desenvolvesse.
“É muito interessante perceber que um homem que tinha essa vocação evidente pelo empreendedorismo tinha também a noção da questão social e da questão cultural como um ecossistema necessário para o desenvolvimento dessas atividades” — Lira Neto, jornalista e biógrafo
Para Lira Neto, vem daí a sua atenção pela questão social e também pela questão da educação. “A ideia de uma universidade surge dentro do contexto de que ele sabia que precisava não só de mão de obra qualificada, mas de consumidores também qualificados”, afirma. Daí a atenção que ele tinha para essas áreas como pensamento estratégico.
Edson Queiroz construiu um império em uma Fortaleza que ainda tinha todos os vícios de uma cultura provinciana. “Atento a isso, ele resolveu também investir até mesmo fazendo cinema, um negócio absolutamente inusitado para a época, patrocinar cinema. Não foi, inclusive, o empreendimento que deu mais retorno financeiro para ele, muito pelo contrário”, comenta Lira.
A construção do Sistema Verdes Mares – com rádio, televisão e jornal – também se soma nesta linha. Edson tinha noção de que a comunicação era um elemento estratégico para os próprios negócios.
“Essas empresas de comunicação seriam importantes para a própria consolidação dos demais negócios e também no sentido de aprofundar aquilo que falei há pouco, de criar um ambiente informativo, cultural, suficientemente capaz de compreender as suas ideias que eram tão avançadas para a época”, pontua.
Edson na redação do Diário do Nordeste, lançado em 1981. Hoje o jornal se consolida como o maior do Nordeste em audiência, segundo dados da consultoria ComScore (Foto: Acervo FEQ)
Como legado, o sonho de promover a arte e a cultura
Edson Queiroz faleceu aos 57 anos, deixando esposa, seis filhos e duas dezenas de empresas. A família tomou para si a responsabilidade de seguir com o legado, tanto do ponto de vista empresarial quanto no seu desejo de agir como um agitador cultural. “Ele queria promover a arte do Estado do Ceará. Ele dizia: olha, o nosso povo é muito criativo”, afirma a filha Lenise.
Por meio da Unifor e da Fundação Edson Queiroz, novas gerações da família seguem no estímulo à arte e à cultura cearense. O empresário, junto à esposa, dá nome a um novo equipamento cultural, em construção.
O Complexo Cultural Yolanda e Edson Queiroz é um megaprojeto de três torres com museus, teatro, salas destinadas à orquestra, restaurante, ambientes para ensino e auditórios. “O próprio complexo é um passo a mais para que esse legado se perpetue ainda mais”, salienta Lenise Queiroz, presidente da Fundação Edson Queiroz.
Complexo Cultural Yolanda e Edson Queiroz é um megaprojeto de 90 mil m², projetado pelo arquiteto cearense Luiz Deusdará (Imagem: Divulgação)
A inauguração da primeira etapa do Complexo está marcada para o dia 8 de setembro de 2025, em homenagem ao centenário de Edson e no dia de seu casamento com Yolanda. Nesta fase inicial, será entregue o museu, que promoverá exposições de obras da Coleção Fundação Edson Queiroz e mostras itinerantes.
O edifício foi idealizado para sensibilizar a população a apreciar as variadas manifestações artísticas, além de fomentar a capacitação para a gestão, conservação, higienização e restauro de obras de arte e livros raros.
100 anos de Edson Queiroz
No ano do centenário de Edson Queiroz, a Universidade de Fortaleza traz uma programação especial para homenagear o empresário visionário que transformou a educação, a cultura e a realidade social e econômica do Ceará.
Ao longo de 2025, o público poderá participar de exposições, palestras e concursos, além da inauguração do museu do Complexo Cultural Yolanda e Edson Queiroz. A abertura oficial das comemorações ocorre em abril, mês de aniversário, com diversos eventos que destacam a vida e obra de Edson Queiroz.
E a abertura da mostra fotográfica “Memórias e Afetos: 100 anos de Edson Queiroz”, no dia 8 de abril, dá início às celebrações do centenário. A exposição traz 32 fotografias que capturam diferentes facetas da vida de Edson, uma oportunidade única de conhecer mais sobre um dos maiores empreendedores do Ceará e sua contribuição inestimável para a educação e o desenvolvimento cultural e econômico do estado.