Orgulho Unifor: egressa de Cinema e Audiovisual é destaque no Festival de Berlim 2025

qua, 5 março 2025 15:09

Orgulho Unifor: egressa de Cinema e Audiovisual é destaque no Festival de Berlim 2025

Dayse Barreto assina a direção de arte do filme “O Último Azul”, vencedor de três prêmios no “Berlinale”, incluindo o Urso de Prata


Dayse com o prêmio Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2025 (Foto: Arquivo Pessoal)
Dayse com o prêmio Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2025 (Foto: Arquivo Pessoal)

O cinema brasileiro vive um momento de grande destaque nas premiações internacionais, e Dayse Barreto, egressa de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza — instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz —, tem um papel fundamental nesse cenário.

Dayse participou da produção do filme “O Último Azul” como diretora de arte. O longa, dirigido por Gabriel Mascaro, conquistou o Grande Prêmio do Júri no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2025, uma das mais importantes honrarias do evento. 

Protagonizado por Denise Weinberg e Rodrigo Santoro, a obra também foi premiada com o Urso de Prata, além de receber reconhecimentos do júri ecumênico, que reconhece filmes com forte impacto humanístico, social ou espiritual e do público, concedido pelos leitores do jornal alemão Berliner Morgenpost.

“O que me levou até esse prêmio foi o meu profundo esforço e respeito pelo ofício que eu tive a sorte de escolher e continuar escolhendo, que é trabalhar como diretora de arte. Nesse filme, contei com o apoio de uma equipe muito especial, brava, brilhante e extremamente competente que estabeleceu uma relação de profundo respeito com a comunidade e seus moradores”, declara Dayse.

Sobre o filme

O Último Azul” é um filme de drama e ficção científica ambientado em um futuro distópico, onde os idosos são forçados a se mudar para colônias remotas de aposentadoria, permitindo que as gerações mais jovens trabalhem sem interrupções. A protagonista, Tereza, uma mulher de 77 anos, desafia essa imposição e decide embarcar em uma jornada transformadora pela Amazônia. 

A diretora destaca que a produção artística do filme se baseou na ideia de que “o real é o maior absurdo”. Juntamente com Gabriel Mascaro, ela partiu do princípio que o absurdo é uma característica intrínseca à condição humana e à relação entre o homem e o mundo.

Segundo ela, a abordagem futurista da narrativa se reflete nos espaços retratados, que carregam múltiplas camadas de significado. Quando Teca (apelido da personagem Tereza) desafia o destino que lhe foi imposto pelo governo, a história se transforma em um jogo de sobrevivência e adaptação, um exercício essencial para enfrentar o futuro.


O longa, dirigido por Gabriel Mascaro, é um filme brasileiro protagonizado por Denise Weinberg e Rodrigo Santoro (Foto: Arquivo pessoal)

Um grande diferencial na produção foi o apoio dos moradores locais, que abriram suas casas e cederam móveis e objetos pessoais, agregando autenticidade ao cenário. “Ao mesmo tempo, ensinamos e aprendemos sobre o valor das coisas quando estamos dispostos a vivenciar o verdadeiro espírito do trabalho coletivo”, afirma Dayse.
Ela também ressalta os desafios logísticos e orçamentários enfrentados na produção, com mais de 35 locações, personagens em deslocamento constante por carro e barco, e uma equipe que precisou se adaptar a condições diversas.

Destaque no cinema

Com uma carreira consolidada na direção de arte, Dayse Barreto se destaca no cenário cinematográfico nacional e internacional. Em 2023, foi selecionada para o prestigiado programa de desenvolvimento de talentos Berlinale Talents, do Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde integrou o Production Design Studio. Além disso, é membro do BRA.DA - Coletivo de Diretoras de Arte do Brasil e do Production Designers Collective, grupo internacional de diretores de arte. 

Ela enfatiza a importância de sua formação acadêmica na construção de sua trajetória profissional. Para a diretora de arte, a experiência universitária foi um espaço de aprendizado, experimentação e descobertas fundamentais.


“Na universidade, tive a oportunidade de experimentar, criar, viver, errar, cair, levantar. Foi onde pude apostar na inevitabilidade daquilo que insurge, desse cinema juvenil inocente e encontrar soluções ao lado de colegas que hoje são parceiros de trabalho. Foi na sala de aula e nas nossas práticas que pude dar oportunidade ao meu cérebro de reconhecer e utilizar o cinema como instrumento de relação com o mundo” Dayse Barreto, diretora de arte formada em Cinema e Audiovisual

“Eu nunca trabalhei com outra coisa dentro do cinema que não fosse direção de arte, então nos cursos que fiz, dentro e fora da universidade, sempre me levaram para esse caminho”, acrescenta. 

Principais trabalhos

Dayse Barreto tem no currículo diversas produções contempladas em festivais internacionais:

  • A Noite Amarela” (Ramon Porto Mota) - Exibido no Festival de Rotterdam (2019)
  • Cabeça de Nêgo” (Déo Cardoso) - Participou do Festival de Curitiba (2020)
  • Com os Punhos Serrado” (Ricardo Pretti, Luiz Pretti e Pedro Diógenes) - Fez parte do Festival de Locarno (2014)
  • A Vida São Dois Dias” (Leonardo Mouramateus) - Exibido no FID Marseille (2022)
  • O Estranho” (Flora Dias e Juruna Mallon) - Estreou no Festival Internacional de Cinema de Berlim (2023)
  • A Flor do Buriti” (Renee Nader e João Salaviza) - Conquistou o Prix D'ensemble na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2023.
  • Chão de Fábrica” (Nina Kopko) - Eleito o melhor curta no Festival de Havana 2022
  • Plano Controle” (Juliana Antunes) - Premiado como melhor curta-metragem no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata (2019)

Colaborações e legado

Dayse Barreto também colaborou no departamento de arte de diversos longas-metragens, trabalhando com cineastas renomados, como Karim Aïnouz, Juliana Rojas, Clarissa Campolina, Gabriela Amaral Almeida, Sérgio Borges, Bruno Safadi, Ricardo Alves Jr., Ivo Lopes Araújo e Marcos Pimentel.

Com uma trajetória marcada por inovação e compromisso com a arte, ela continua a consolidar sua presença no cenário cinematográfico brasileiro e internacional.

"Todo filme exige práticas diferentes para lidar com a construção da imagem. Temos uma base de trabalho, mas cada processo impõe uma dinâmica única. Essa é a salvação e a profunda complexidade em trabalhar com arte, pois lidamos com informações que não são ditas, mas mostradas", destaca a diretora de arte.

Sobre o Festival Internacional de Cinema de Berlim

Fundado em 1951, o Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale) é um dos "três grandes" do circuito cinematográfico mundial, ao lado de Cannes e Veneza. Reconhecido por seu viés artístico, político e social, o evento distribui os cobiçados Urso de Ouro (melhor filme) e Ursos de Prata (prêmios em categorias como direção, atuação, roteiro e contribuição técnica).