Estudantes da Unifor conquistam prêmios no Global Legal Hackaton 2022

ter, 12 abril 2022 10:56

Estudantes da Unifor conquistam prêmios no Global Legal Hackaton 2022

Maratona tecnológica tem como objetivo estimular o desenvolvimento de projetos inovadores


Etapa local do evento aconteceu no final de março (Foto: Ares Soares)
Etapa local do evento aconteceu no final de março (Foto: Ares Soares)

E se fosse possível reunir alunos de diferentes faixas etárias, etnias, gênero, nacionalidades, cursos de graduação, pós-graduação e egressos da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, em um só time? No final do último mês de março, a primeira fase do Global Legal Hackathon 2022 (GLH), uma das principais competições do mundo na área de inovação em tecnologia jurídica, realizou esse feito: pelo menos 11 participantes, divididos em duas equipes, representaram a Unifor e, após intensas 54 horas de evento, saíram premiados em 2º e 3º lugar.

O intuito principal do “Hackathon” – modelo de competição tecnológica em formato de maratona, em que equipes precisam desenvolver detalhadamente um projeto e apresentá-lo dentro de algumas horas – do qual participaram os estudantes era desenvolver soluções inovadoras que permitissem o acesso simplificado ao poder judiciário e o aprimoramento da aplicação do Direito. O evento é dividido em três fases: estadual, nacional e internacional, sendo esta última em Londres. Participaram profissionais da área jurídica, designers, empreendedores e desenvolvedores. No Brasil, além de Fortaleza, três cidades sediaram o GLH de forma presencial: Cuiabá (MT), Porto Alegre (RS) e Recife (PE).

“Basicamente é uma competição de inovação tecnológica e empreendedorismo. A primeira fase é disputada nos estados, então no mesmo final de semana o evento aconteceu simultaneamente em vários lugares. Nós recebemos três desafios, que são problemas reais de órgãos e empresas verdadeiros. Tínhamos a Solar, a APSV Advogados e a Procuradoria Geral do Município (PGM). Todos os três trouxeram alguma dificuldade que estava sendo enfrentada, de algum processo ou atividade. Tínhamos que criar uma startup que agisse como solução”, explica Isabelle Mendes, discente do curso de Pós-Graduação em Proteção de Dados Pessoais e Governança Digital da Unifor e uma das participantes.

Como se deu a união multidisciplinar de talentos? Cada equipe da maratona precisava ser composta por, pelo menos, uma pessoa da área jurídica; uma pessoa do design; uma pessoa da área de tecnologia (desenvolvimento) e uma pessoa do setor de business. Cada participante precisava indicar sua posição de preferência no ato da inscrição, e os grupos seriam formados de maneira aleatória durante o evento. 

A logística não surpreendeu Mariana Tomaz, estudante do 11º semestre de Direito na Unifor, cujo GLH foi o 10º Hackaton em que participara. A presencialidade, no entanto, trouxe desafios: “Esse foi presencial e é bem diferente do online, ainda que ambos tenham suas vantagens. O presencial traz uma energia diferente, além do ritmo acelerado, e favorece o contrato entre equipes. É uma competição, mas não de vencedor solo. Participei de uma equipe grande, éramos oito. Essa convivência com todos dá um sabor diferente. No online, não temos isso”, conta ela, que está em sua terceira graduação.


A docente Gabriela Lima acredita na responsabilidade acadêmica de se contribuir para o desenvolvimento da sociedade (Foto: Ares Soares)

Para Gabriela Lima, coordenadora da Escola de Direito da Pós-Unifor, essa participação ativa da Universidade no Global Legal Hackathon revela o compromisso dos estudantes com ações que tragam impacto direto na sociedade. “Queremos fomentar a inovação na Universidade, porque entendemos que é um grande privilégio integrarmos uma Instituição de Ensino Superior. Precisamos devolver esse privilégio para a sociedade, trazendo projetos e produtos que respondam a demandas sociais e de que alguma forma melhorem a vida das pessoas. Quando vemos uma sala com vários alunos da Unifor que estão implementando esse propósito, e no caso específico desse evento, para aprimorar o acesso à justiça, para trazer o judiciário para mais perto das pessoas, para prestar serviços jurídicos de melhor qualidade, a gente fica muito orgulhoso, muito feliz”, ressalta a docente. 

“Simplificar” é a palavra

Majoritariamente formadas por alunos ou egressos da Unifor, as equipes que conquistaram o 2º e o 3º lugar na competição precisaram agir rápido e pensar criativamente para enfrentar desafios bem diferentes e encontrar soluções que pudessem ser aplicadas na realidade. Isso porquê os prêmios de R$3.000 e R$2.000, respectivamente, serão utilizados como investimento nos projetos apresentados durante a maratona.

Com foco na empresa Solar, a equipe que atingiu a segunda posição precisou solucionar um problema de verificação de cumprimentos contratuais: “Desenvolvemos uma plataforma web, na qual, por meio de uma dupla verificação, com as demais partes do contrato do prestador de serviço e beneficiário, é possível verificar o cumprimento contratual e armazenar esses dados. À medida que cada cláusula contratual é convertida em itens de checklist, o fornecedor vai comprovando seu cumprimento”, explica Thamires Stoppelli, graduanda em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e egressa do curso de Direito da Unifor que compôs a equipe.


A equipe que propôs solução à Solar foi contemplada com a segunda colocação no Hackaton (Foto: Ares Soares)

Ela continua: “A plataforma, por sua vez, a partir de inteligência artificial, vai enviar chatbot no Whatsapp contatando o beneficiário a verificar se, de fato, o fornecedor realmente prestou o que estava acordado. Os contratos que tiverem algum problema emitirão um alerta”. Ao lado do time que desenvolveu o projeto, Thamires, que é também estagiária do Laboratório de Formação e Inovação Tecnológica (VORTEX) da Universidade de Fortaleza, destaca que ele visa simplificar a operação de empresas de grande porte, que geram milhares de contratos, de forma que elas consigam ter esse acompanhamento com cada colaborador. 

“Um detalhe importante para acrescentar é que a Solar, ou qualquer outra empresa que contrate a startup, não precisa alimentar dados na plataforma, pois ela é gerida pelas demais partes do contrato de forma automatizada, em que as informações fiquem dispostas via checklist e são atualizadas em um mesmo sistema. A nossa designer fez isso de forma muito intuitiva. Além a plataforma web, também pensamos em uma plataforma mobile, que seria um aplicativo, o qual o fornecedor poderia alimentar com mais facilidade”, detalha a  Procuradora do Estado Lorena Damasceno, egressa do curso de Direito da Unifor em 2006.1 e também integrante da equipe laureada.


A equipe Addere, que analisou situação-problema da ASPV Advogados, também foi uma das vencedoras da etapa local do Global Legal Hackaton 2022 (Foto: Ares Soares) 

O desafio enfrentado pela equipe que premiada com a terceira colocação, por sua vez, atendeu às necessidades da empresa cearense ASPV Advogados. “O desafio deles era facilitar o acesso à advocacia pro bono, que é gratuita e feita para pessoas ou instituições sem recursos para ações judiciais. Eles queriam uma plataforma que fizesse isso. O escritório já realiza ações do tipo, mas a intenção era ampliar a quantidade, com menor burocracia e de forma organizada, alcançando mais pessoas”, comenta Larissa Nunes, graduanda em Direito da Unifor e discente do curso de Pós-Graduação em Direito Digital e das Startups.

De acordo com ela, o time de participantes focou em desenvolver uma solução que pudesser ser aplicada não somente à ASPV Advogados, mas também por qualquer profissional jurídico no Brasil que queira exercer a advocacia pro bono. “Fizemos formulário com 50 advogados de todo o país, visando mapear suas necessidades. Apesar de ter fontes de pesquisa para o pro bono, vimos que os escritórios que trabalham com isso não possuem nenhuma plataforma para medir essa relação e organizar as informações”, informa Larissa.

A proposta apresentada foi, então, a de criar uma rede de profissionais que estabelecesse ligação direta com o cidadão, permitindo o início de contato via Whatsapp. O solicitante poderia explicar sua situação de maneira remota, por mensagem, e ela seria analisada por um advogado, que validaria o atendimento pro bono e requisitaria o envio de todos os dados necessários. “Foi uma demanda dos profissionais que conversamos, pois seria necessário ter tudo detalhado para otimizar o tempo, de forma acessível ao cidadão e rápido para o advogado. No futuro, além de conectar pessoas a advogados, queremos conectar advogados recém-formados e empresas juniores à Defensoria Pública”, finaliza a discente.

Pesquisa + prática

Por instigar o aperfeiçamento de habilidades em diferentes áreas, tanto as de cunho específico (hard skills) como as emocionais (soft skills), o Global Legal Hackathon se revelou uma “tarefa de casa” mais do que eficiente para estudantes da área jurídica fascinados pelo poder social da tecnologia. É o caso de Isabelle Mendes, Ikaro Fontenele, Larissa Nunes e Ana Luisa Schiavo, quatro discentes que fazem parte do Grupo de Estudo em Tecnologia, Informação e Sociedade (GETIS) da Unifor, coordenado pelo professor João Araújo, do curso de Direito. 


Ikaro Fontenele, estudante do curso de Direito da Unifor (Foto: Ares Soares)

“Dentro das atividades de pesquisa do grupo, temos a possibilidade de participar de eventos como o Global Legal Hackaton, trazendo uma experiência um pouco mais prática da realidade no âmbito social. O GETIS tem essa pegada de desenvolver essas habilidades multifuncionais em seus membros”, pontua Ikaro Fontenele, graduando em Direito da Unifor. Ana Luisa Schiavo, que compartilha da mesma graduação, acrescenta: “Temos 5 áreas temáticas principais dentro do grupo, que são inteligência artificial, proteção de dados, crimes cibernéticos, visual law e propriedade intelectual digital. Somos pessoas de áreas diferentes. Usamos todos esses conhecimentos e colocamos em prática dentro de nosso desafio”. 


Ana Luisa Schiavo, aluna do curso de Direito da Unifor (Foto: Ares Soares) 

Para Ikaro, um dos objetivos do GETIS era pôr em prática um projeto ligado à advocacia pro bono, ação que foi possível a partir do Hackaton, unindo pesquisa à prática de maneira natural. “No grupo de pesquisa, temos vivência com pessoas de outros cursos, o que nos traz um pensamento jurídico voltado também para fora do universo das leis. A partir disso, dentro do GLH, participamos do desenvolvimento de um projeto que visa atender às necessidades jurídicas do público referentes ao exercício de pro bono. Conseguimos fazer com que nossa abordagem saísse do plano teórico e aplicá-la no desenvolvimento de uma de uma startup”, comemora ele. 

Como foi participar do evento?


(Foto: Ares Soares)

Isabelle Mendes, aluna da Pós Graduação em Proteção de Dados e Governança Digital

“Estar no evento em si é bem diferente do que eu imaginava, tivemos que colocar em prática tudo aquilo que aprendemos. Eu acho que o conhecimento que levamos pra lá não veio só do que temos adquirido na Pós, mas também do que adquirimos na Graduação. A gente consegue realmente perceber que a Universidade prepara para coisas que nem imaginamos. É diferente pois temos 54 horas de muito estresse, pois todos precisam se entender,apresentar o trabalho e nem sempre todo mundo se entende. Então temos que usar a mediação e a conciliação. O nosso ainda foi um pouco mais desafiador porque tínhamos que incluir o Paul, discutindo em português e inglês ao mesmo tempo, mas que também deu a opinião dele. Foi muito bom e intenso ao mesmo tempo.


(Foto: Ares Soares)

Thamires Stoppelli, graduanda em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e egressa do curso de Direito da Unifor

“Sempre tive muito contato com Ciências da Computação, tenho muitos amigos que são da área. Logo depois de ter me formado em Direito, resolvi participar da última edição do Global Legal Hackathon (GLH) 2022. Quando soube que seria em Fortaleza fiquei muito interessada, pois isso juntaria minhas áreas de interesse. Observo muitos problemas na área jurídica, tanto é que abandonei e migrei para outro ramo. Na tecnologia, observo muitas possibilidades de soluções. Na minha posição como estudante de Análise de Desenvolvimento de Sistemas, atualmente trabalhando como UX designer, e formada em Direito, eu sinto que foi o momento ideal de juntar todas as minhas habilidades para solucionar problemas de tecnologia no âmbito jurídico.


(Foto: Ares Soares)

Bruna Medeiros, graduanda Direito Unifor, 10º semestre

“Como aluna de graduação, foi incrível participar. Primeiro por ter sido inspirada por muitas mulheres, muitos profissionais do Direito e de outras áreas; depois por ter visto como o Direito realmente funciona ali na prática, como ele pode ser utilizado também para resolver questões que não são só da bolha jurídica. Foi também muito interessante conseguir ampliar as minhas habilidades como profissional, com a oportunidade de mediar situações em que nem todo mundo concordava e ver a questão da inteligência emocional também.” 


(Foto: Ares Soares)

João Lucas Leite, egresso do curso de Direito da Unifor e discente do curso de  Especialização em Direito Digital e Startups

“[Tive a oportunidade de aplicar] principalmente os conhecimentos práticos que foram apresentados na pós-graduação, de estar por dentro das inovações tecnológicas, um novo mundo em que o direito está aos poucos ganhando espaço. O direito precisa se reinventar todos os dias e a pós-graduação está vindo justamente para isso:a gente ‘quebrar’ um pouco o conhecimento tradicional e trazer ideias e inovações jurídicas para o novo mercado que está surgindo.” 


(Foto: Ares Soares)

Paul Elser, graduando em Administração da Unifor (aluno intercambista)

“Fiquei muito feliz em poder empregar algumas das minhas habilidades neste projeto e ajudar o grupo durante esse evento. A Unifor me possibilitou formar um networking com as pessoas que estavam participando da competição e, por conta disso, eu pude saber mais sobre o que ela era e decidi participar.” 

Saiba quem são os estudantes que representaram a Unifor

2º lugar - Equipe Solar
> Mariana Tomaz, graduanda em Direito da Unifor;
> Thamires Stoppelli, graduanda em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e egressa do curso de Direito da Unifor;
> Nayara Duarte, egressa do curso de Direito da Unifor e discente do curso de Especialização em Direito Digital e Startups
> Bruna Medeiros, graduanda em Direito da Unifor;
> Lorena Damasceno, egresso do curso de Direito da Unifor.

3º lugar - Equipe Addere [APSV Advogados]

> João Lucas Leite, egresso do curso de Direito da Unifor e discente do curso de Especialização em Direito Digital e Startups;
> Larissa Nunes, graduanda em Direito da Unifor e discente do curso de Especialização em Direito Digital e Startups;
> Isabelle Mendes, egressa do curso de Direito da Unifor e discente do curso de pós-graduação em Proteção de Dados e Governança Digital;
> Ikaro Fontenele, graduando em Direito da Unifor;
> Ana Luisa Schiavo, graduanda em Direito da Unifor;
> Paul Elser, graduando em Administração da Unifor (aluno intercambista).