Entrevista Nota 10: Emílio Arruda e o fortalecimento da pesquisa em Administração

seg, 23 dezembro 2024 19:33

Entrevista Nota 10: Emílio Arruda e o fortalecimento da pesquisa em Administração

Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad) discute os desafios da área no Brasil e destaca a importância da integração acadêmica


Com pós-doutorado na área de Marketing pela FGV-EAESP, Emílio participou do I SEPEMCE na Unifor (Foto: Ares Soares)
Com pós-doutorado na área de Marketing pela FGV-EAESP, Emílio participou do I SEPEMCE na Unifor (Foto: Ares Soares)

A pesquisa em administração no Brasil enfrenta grandes desafios, como limitações de financiamento, necessidade de integração entre as regiões e internacionalização. No entanto, instituições e associações têm trabalhado para superar esses obstáculos, promovendo eventos e parcerias que elevam o nível da produção científica brasileira  

Emílio Arruda, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad), se consolida como uma das lideranças à frente desse movimento. Ele é pós-doutor na área de Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP) e professor da Universidade da Amazônia (UNAMA).

Recentemente, Arruda esteve na Universidade de Fortaleza como palestrante no I Seminário de Pesquisadores em Marketing do Ceará (SEPEMCE), evento que reuniu pesquisadores, especialistas e estudantes nos dias 9, 10 e 11 de dezembro para debater as tendências e inovações no campo do marketing e da administração.  

Na Entrevista Nota 10 desta semana, o presidente da Anpad reflete sobre os caminhos para consolidar uma agenda de pesquisa relevante, ampliar a colaboração acadêmica e fomentar o reconhecimento internacional das instituições brasileiras.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Como a Anpad tem trabalhado para fortalecer a pesquisa em Administração e ampliar a integração entre programas de pós-graduação e graduação em diferentes regiões do Brasil?

Emílio Arruda — A Anpad é uma associação de programas de pós-graduação que atua como um elo entre diferentes instituições de ensino no Brasil e também no exterior. Trabalhamos intensamente para conectar programas e pesquisadores por meio de nossos eventos e redes sociais, promovendo uma maior visibilidade das pesquisas realizadas no país. Um exemplo disso é nossa atuação no Academy of Management, onde levamos dados institucionais brasileiros e criamos um espaço dedicado à nossa produção acadêmica.

Outro aspecto é a integração entre as pós-graduações e os cursos de graduação. Uma pós-graduação forte resulta em uma graduação de qualidade, pois os professores envolvidos em pesquisa trazem esse conhecimento diretamente para a sala de aula. Isso motiva os alunos da graduação a seguirem na carreira acadêmica ou a aplicarem conhecimentos mais aprofundados no mercado. A integração entre essas duas esferas é essencial e é algo que sempre incentivamos dentro da Anpad.

Entrevista Nota 10 — Quais são os principais desafios para consolidar uma agenda de pesquisa em gestão que seja relevante em contexto nacional?

Emílio Arruda — O principal desafio é o financiamento. Pesquisa requer recursos para aquisição de equipamentos, viagens acadêmicas e organização de eventos. Nas regiões Norte e Nordeste, essa realidade é ainda mais desafiadora, pois o acesso a órgãos de fomento é limitado. É crucial que haja mais apoio de instituições governamentais e privadas para impulsionar a pesquisa nessas áreas.

Outro ponto é a necessidade de pensar globalmente. Precisamos compreender o que está sendo feito no exterior, adaptar essas ideias à nossa realidade e promover soluções criativas e locais. A pesquisa em gestão deve buscar relevância ao identificar problemas regionais e apresentar soluções que contribuam tanto para a sociedade quanto para o desenvolvimento acadêmico.

Entrevista Nota 10 — De que forma a integração entre ensino, pesquisa e extensão, como o modelo praticado por universidades como a Unifor, pode inspirar outras instituições e fortalecer o impacto social da pesquisa em gestão?

Emílio Arruda — O impacto social é um tema central nas discussões atuais. A CAPES, por exemplo, tem exigido que os pesquisadores expliquem claramente as implicações gerenciais e sociais de suas pesquisas. Modelos como o da Unifor, que integram ensino, pesquisa e extensão, são fundamentais para criar esse impacto. Eles garantem que o conhecimento produzido na universidade seja aplicado de forma a melhorar a sociedade e resolver problemas concretos.

Essa integração também promove solidariedade entre as instituições. Universidades maiores, como a Unifor, podem compartilhar expertise com instituições menores, enquanto também aprendem com outras universidades mais consolidadas no exterior. Essa troca de experiências enriquece tanto a formação acadêmica quanto o impacto das pesquisas realizadas.

Entrevista Nota 10 — Qual é a importância de incentivar a produção acadêmica no Nordeste brasileiro? E que estratégias podem aumentar a visibilidade nacional dessas pesquisas?

Emílio Arruda — Incentivar a pesquisa no Nordeste é essencial para valorizar as particularidades culturais, econômicas e sociais da região. Há muito potencial em temas como turismo, industrialização e desenvolvimento local. No entanto, para ampliar a visibilidade dessas pesquisas, é fundamental estabelecer parcerias com outras regiões e países, além de promover eventos que atraiam pesquisadores de fora.

Um exemplo relevante é o foco em produtos e serviços de origem regional, como forma de destacar a identidade local. Trabalhar nesse tipo de pesquisa pode colocar o Nordeste em evidência nacional e internacional, além de contribuir para o desenvolvimento econômico e social da região.

Entrevista Nota 10 — Como a incorporação de tecnologia e inovação pode transformar a condução e disseminação da pesquisa em Administração no Brasil nos próximos anos?

Emílio Arruda — A tecnologia tem um papel crucial na modernização das pesquisas. Vivemos em um mundo digital, com inteligência artificial, meta-humanos e metaversos, transformando a forma como acessamos e processamos informações. Isso exige uma nova abordagem metodológica, que utiliza essas ferramentas para acelerar e direcionar os estudos.

Mais do que um desafio, isso representa uma oportunidade. Em vez de temer o uso de tecnologias, precisamos adotá-las como aliadas. Elas podem ajudar a identificar lacunas no conhecimento, sugerir soluções inovadoras e aumentar o alcance das publicações acadêmicas. O foco deve ser no impacto e na relevância das pesquisas, algo que a tecnologia pode facilitar significativamente.

Entrevista Nota 10 — O curso de Administração da Unifor está na reta final do processo de acreditação internacional pela AACSB. Sob a perspectiva da Anpad, qual é a importância de processos como este para a internacionalização da pesquisa em Administração?

Emílio Arruda — A acreditação AACSB é um marco para qualquer instituição. Ela valida os padrões de qualidade de ensino e pesquisa, posicionando a universidade entre as melhores escolas de negócios do mundo. No Brasil, poucas instituições possuem essa certificação, o que torna a conquista ainda mais significativa.

Além disso, a AACSB promove a internacionalização ao conectar as instituições certificadas com uma rede global de universidades e empresas. Isso cria oportunidades de colaboração, estimula a troca de conhecimentos e eleva o padrão das pesquisas desenvolvidas. Espero celebrar em breve a conquista da Unifor, que será um passo histórico para a região Nordeste e para a educação em Administração no Brasil.