Pesquisa Unifor: estudos contribuem para desenvolvimento de jogos digitais educativos

seg, 17 novembro 2025 18:12

Pesquisa Unifor: estudos contribuem para desenvolvimento de jogos digitais educativos

Desenvolvidas em laboratório focado em games, interação e realidade virtual, pesquisas ampliam possibilidades de interação, imersão e impacto social nas plataformas digitais


A área da computação em jogos engloba uma diversidade de saberes que visam desempenho e otimização de soluções gráficas interativas (Ilustração: Getty Images)
A área da computação em jogos engloba uma diversidade de saberes que visam desempenho e otimização de soluções gráficas interativas (Ilustração: Getty Images)

A ciência, por trás dos jogos digitais, combina computação gráfica, realidade virtual, realidade aumentada, inteligência artificial, interação humano-computador, psicologia, educação e saúde, entre outras áreas do conhecimento. Isso permite criar jogos mais imersivos, acessíveis, com melhor usabilidade, e também voltados a treinamento, reabilitação e apoio à tomada de decisão.

Nesse contexto, as novas formas de desenvolver experiências mais educativas e divertidas, por meio da ciência, se intensificaram. Pensando nesse cenário e em diversas oportunidades, a Universidade de Fortaleza, vinculada a Fundação Edson Queiroz, acumula quase 20 anos de incentivo a pesquisas que contribuem para a criação e o uso de ferramentas lúdicas capazes de auxiliar, aprimorar e transformar o dia a dia dos usuários dessas plataformas

Andréia Formico, professora titular do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA) da Unifor e uma das personalidades presentes nessa linha de pesquisa, conta que o objetivo de realizar pesquisas científicas por meio de jogos digitais é aproveitar o jogo como um sistema de complexo de software que, além de design, código e arquitetura, traz dois componentes adicionais, desafiadores e fundamentais: 

Análise de requisitos da audiência - todo jogo é projetado considerando perfil, necessidades, motivações e limitações dos jogadores. Ao pesquisar via jogos, o cientista consegue modelar e testar comportamentos reais de uma audiência específica (crianças, idosos, estudantes, profissionais etc.)

Interatividade com entretenimento - jogos combinam interação em tempo real com elementos de diversão, desafio e recompensa. Isso permite observar o usuário em ação, de forma engajada, enquanto se coletam dados sobre tomada de decisão, desempenho, atenção, colaboração, erro, aprendizado etc. 

Andréia diz que a equipe pesquisa com inovação em soluções computacionais para jogos digitais porque eles são plataformas de software extremamente ricas, que já embutem entendimento da audiência e interatividade lúdica, permitindo estudar comportamento e desempenho da aplicação em cenários realistas, controlados e engajadores. 

Assim, a professora reforça que a área da computação em jogos engloba uma diversidade de saberes que visam desempenho e otimização de soluções gráficas interativas, envolvendo desde geometria computacional, até inteligência artificial.


“Os projetos são interdisciplinares, envolvem computação, saúde, educação, design, psicologia, odontologia, entre outras áreas. A partir dos jogos, surgem novos protocolos educativos, novas formas de ensinar e treinar profissionais e novos modelos de colaboração universidade–sociedade”
 – Andréia Formico, professora do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA) da Unifor

Ciência e jogos em desenvolvimento 

Também coordenadora do GIRA Lab da Unifor, um laboratório de games, interação e realidade virtual, Andréia compartilha que a equipe do espaço tem desenvolvido soluções lúdicas e aplicações sérias, com ou sem o uso de inteligência artificial, voltadas para áreas como: 

  • Saúde: hábitos bucais em crianças, educação em doenças crônicas, saúde mental, oncologia, reabilitação, procedimentos médicos, ergonometria; 
  • Educação básica: computação, ciências, proteção ambiental e sustentabilidade;
  • Simulação de processos industriais: corte de chapa de aço e operação de máquinas pesadas, gêmeos digitais;
  • Simulação de processos físicos: tornados, colisões, efeitos especiais;
  • Humanos virtuais: simulação de emoções faciais e interação entre NPCs; 
  • Patrimônio cultural: lendas brasileiras, história do Brasil, literatura e arte visual.

Segundo Thiago Narak, professor do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) da Unifor, além de pesquisas que envolvem tanto o desenvolvimento de jogos quanto o estudo do uso de games em diferentes contextos, também estão desenvolvendo pesquisas com simulações clínicas, gamificação e experiências imersivas em VR e AR. 

Entre os trabalhos mais recentes, ele relata a sua participação no desenvolvimento de um simulador sobre câncer de mama, voltado para o ensino e treinamento relacionados ao processo clínico e às etapas de diagnóstico e tratamento. Também participou de um projeto sobre câncer de tireoide, focado em demonstrar ao jogador o percurso de um possível caso, incluindo cirurgia, uso de medicamentos e as implicações gerais do tratamento. 


Thiago Narak, professor do Centro de Ciências e Tecnologias (CCT) da Unifor (Foto: Arquivo Pessoal)

Quais os benefícios e a importância para a sociedade?

Para a sociedade, Andréia conta que os benefícios incluem ferramentas de educação mais atrativas, apoio à prevenção em saúde, incentivo à mudança de hábitos e inclusão digital. Dentro da área dos games, a coordenadora explica que há um avanço científico com novas técnicas, novas soluções computacionais, métricas, métodos de avaliação e, além disso, formação de profissionais mais preparados para atuar com jogos de impacto científico, econômico e social.

Segundo ela, os estudos ajudam a transformar jogos em ferramentas de impacto social: apoio à aprendizagem em escolas, promoção de hábitos saudáveis, treinamento de equipes de saúde, simulações para segurança e cidadania digital. Ou seja, para ela, o jogo digital deixa de ser só entretenimento e passa também a ser um instrumento que permeia desde a educação, até a saúde pública.

O impacto, para Narak, está quando a sociedade aparece na melhoria do acesso à informação e na conscientização sobre temas de saúde. E que, para o universo gamer, os estudos ampliam as aplicações da área, fortalecem a pesquisa acadêmica e impulsionam a inovação.

“A importância desse conjunto de pesquisas está em mostrar como os jogos podem ir além do entretenimento, servindo como ferramentas de ensino, apoio clínico e comunicação científica. Eles tornam processos complexos mais compreensíveis e contribuem tanto para o avanço tecnológico quanto para benefícios sociais concretos” afirma o professor.

Jonas de Araújo, mestre em Informática Aplicada e agora doutorando na mesma área, tem participado ativamente de pesquisas na área de desenvolvimento de jogos digitais, com foco em experiências interativas voltadas à empatia, à educação e à saúde. 

Como colaborador do Gira Lab, ele atua em projetos que integram inteligência artificial, narrativa interativa e animação facial, buscando aproximar tecnologia e emoção. “Desenvolvemos ferramentas e experiências interativas para aumentar o engajamento do jogador em relação a alguma temática de impacto social”, afirma.

Segundo ele, a pesquisa em desenvolvimento é essencial porque os jogos digitais são muito mais do que produtos tecnológicos, mas sim expressões culturais que refletem e influenciam valores, crenças e modos de ver o mundo. Para Jonas, os games dialogam diretamente com as pessoas em um nível emocional, simbólico e social, tornando-se uma das mídias mais poderosas da atualidade para formação de opinião, difusão do conhecimento e promoção da ciência e da cultura.

Jonas diz que os estudos em produção trazem benefícios que ultrapassam o aspecto do entretenimento. Essas pesquisas revelam o potencial dos jogos como ferramentas culturais, educacionais e sociais, capazes de promover aprendizado, reflexão e transformação

Ele explica que, por meio da linguagem interativa, os games se tornam veículos de valores, ciência e cultura, estimulando o pensamento crítico, a empatia e a valorização da diversidade de forma acessível e envolvente. Na educação, permitem novas abordagens pedagógicas, mais participativas e significativas; na saúde e em áreas humanas, possibilitam simulações e experiências imersivas que contribuem para o engajamento socioemocional e promoção da empatia.


“Essas pesquisas fortalecem a economia criativa e o ecossistema de inovação, unindo tecnologia, arte e design em torno da criação de produtos e experiências que geram impacto social e oportunidades econômicas. Assim, o investimento contínuo nessa área não apenas amplia o acesso à cultura digital, mas também impulsiona a produção científica e o protagonismo tecnológico do país” –  Jonas de Araújo, mestre em Informática Aplicada pela Unifor

Resultados e estrutura

De acordo com o professor Thiago Narak, as pesquisas têm gerado resultados importantes, como simuladores funcionais aplicados a iniciativas educativas, maior compreensão de processos complexos pelos usuários, produção científica e formação prática de estudantes no mundo gamer.

Para Jonas, a Unifor tem sido fundamental na sua trajetória acadêmica e profissional. A Universidade oferece um ambiente de pesquisa interdisciplinar e colaborativo, que incentiva a experimentação e a inovação. O suporte técnico e humano recebido, especialmente no Gira Lab e no PPGIA, proporcionou condições ideais para transformar ideias em protótipos e pesquisas em resultados concretos. 

A convivência com outros pesquisadores, professores e colegas altamente qualificados ampliou minha visão sobre o papel da tecnologia na sociedade, consolidando meu compromisso com o desenvolvimento científico e com a formação de novas gerações de profissionais criativos e éticos”, relata.

No campo profissional, embora não trabalhe diretamente com games, Jonas diz que a experiência de pesquisa na área permitiu desenvolver visão sistêmica e abrangente dos desafios que encontro no dia a dia profissional, além de permitir aplicar técnicas e metodologias comprovadas na resolução de questões e tomada de decisão. De maneira geral, tornou-se um profissional mais consciente e qualificado, agregando as habilidades práticas, habilidades avançadas de pesquisa e aplicação metodológica.

A professora Andréia, por sua vez, destaca que os estudos têm mostrado melhora de conhecimento e engajamento dos pesquisadores envolvidos. As pesquisas também impactam empresas parceiras da Unifor,  ampliando oportunidades de inovação conjunta. Para os alunos e egressos, ela explica que há um grande crescimento pessoal e profissional, com desenvolvimento de competências técnicas e de colaboração em equipes multidisciplinares

“Tudo isso se soma à produção de teses, dissertações, TCCs e artigos científicos que consolidam a área e têm gerado prêmios de grande destaque no cenário nacional, que hoje contabiliza 18 prêmios, destacando a Unifor como a casa desses talentos”, comenta.

Portanto, a professora conta que um número bastante amplo tem sido publicado, de forma contínua e crescente e que, assim, persiste a luta para compreender melhor a ciência. Atualmente, Andréia coleciona 181 trabalhos científicos publicados em veículos qualificados e em torno de 82 programas de computador sem registro (a maioria, jogos por computador). 

A professora Andréia Formico atribui os avanços nos estudos à Unifor, que oferece infraestrutura de ponta, profissionais competentes, bolsas de iniciação científica, apoio institucional para projetos com agências de fomento, empresas e parcerias com outras áreas da universidade e com instituições externas.


Esta notícia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), contribuindo para o alcance do ODSs 3 – Saúde e Bem-Estar, 4 – Educação de Qualidade, 8 – Trabalho Decente e Crescimento 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura.

A Universidade de Fortaleza reafirma, assim, seu compromisso com educação, inovação, saúde e sustentabilidade.