Mês de maio tem alívio nas incertezas e bolsas registram performance positiva

sex, 6 junho 2025 15:35

Mês de maio tem alívio nas incertezas e bolsas registram performance positiva

(Imagem: Getty Images)
(Imagem: Getty Images)

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.

Mercado de Capitais Internacional

Nos Estados Unidos, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou queda anualizada de 0,2% no primeiro trimestre de 2025, segundo a estimativa divulgada pelo Departamento de Comércio. A retração, ligeiramente menos intensa do que a estimativa inicial (-0,3%), refletiu o aumento das importações e a redução dos gastos governamentais, embora tenha sido parcialmente compensada por avanços no consumo, nos investimentos e nas exportações.

A inflação, medida pelo índice de preços de gastos com consumo (PCE), registrou alta de 0,1% em abril, acumulando variação de 2,1% em 12 meses, ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. O núcleo do PCE, que desconsidera os preços de alimentos e energia, também avançou 0,1% no mês e 2,5% na comparação anual. Apesar da desaceleração em relação aos meses anteriores, os dados continuam pressionando o banco central norte-americano, que busca equilibrar o controle inflacionário com a desaceleração da atividade econômica.

No mercado de trabalho, a taxa de desemprego manteve-se estável em 4,2% em abril, conforme as expectativas. Foram criadas 177 mil vagas líquidas no mês, superando a mediana das projeções, ainda que acompanhadas de revisões negativas dos dados anteriores. O salário médio por hora teve aumento de 0,17% no mês e de 3,77% em 12 meses, ambos abaixo das previsões, sugerindo moderação nas pressões salariais.
Diante desse cenário, o Federal Reserve decidiu manter a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano pela terceira reunião consecutiva. Embora o mercado de trabalho siga resiliente e a inflação permaneça acima da meta, o Comitê optou por uma postura mais cautelosa frente ao aumento das incertezas econômicas, influenciado pela política tarifária do governo Trump e pela desaceleração em curso. Com isso, as expectativas de cortes nos juros foram postergadas para o segundo semestre.

Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor manteve-se em 2,2% em abril. Altas nos preços de serviços e alimentos não processados compensaram a queda nos custos de energia. O núcleo da inflação subiu de 2,4% para 2,7%, superando as estimativas e exigindo atenção do Banco Central Europeu (BCE). Ainda assim, diante da desaceleração econômica global e dos efeitos da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, o BCE tende a manter seu ciclo de flexibilização monetária. A expectativa predominante é de um corte de 0,25 ponto percentual na reunião de junho, com probabilidade superior a 80%, segundo analistas de mercado.

O mercado de trabalho europeu segue robusto. A taxa de desemprego na Zona do Euro foi de 6,2% em março, de acordo com os dados mais recentes da Eurostat. Na União Europeia como um todo, o índice ficou em 5,8%. As menores taxas de desemprego foram observadas na República Tcheca, Polônia e Malta, enquanto Espanha, Finlândia e Grécia apresentaram os maiores índices. O desemprego entre jovens segue elevado, embora tenha registrado ligeira melhora.

Na China, o índice de gerentes de compras (PMI) do setor industrial subiu de 49,0 para 49,5 pontos em maio, ainda abaixo da marca de 50 que separa expansão de contração. A leve recuperação não foi suficiente para reverter a tendência negativa do setor, especialmente após o pico de 50,5 registrado em março. A trégua tarifária entre China e Estados Unidos impulsionou os pedidos externos, mas o ambiente industrial permanece fragilizado. As negociações comerciais continuam estagnadas, e a recuperação sustentada da atividade industrial ainda é incerta.
Nos mercados globais, o mês foi positivo para os principais índices acionários. O Nasdaq liderou os ganhos, com alta de 9,6%, seguido pelo S&P 500 (+6,2%) e pelo DAX alemão (+6,7%). Já o índice de volatilidade VIX recuou expressivos 24,8%.

Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Maio/2025)

Índice / Ativo

País / Mercado

Variação (%)

Mês

Ano

12 meses

DJI

EUA

3,94

-0,64

9,26

S&P 500

EUA

6,15

0,51

12,02

Nasdaq 

EUA

9,56

-1,02

14,21

Dólar

Forex

0,84

-7,36

9,12

Bitcoin

Investing.com

11,06

11,80

54,90

Fonte: Valor Data; Investing.com

Mercado de Capitais Nacional

A economia brasileira encerrou o primeiro trimestre de 2025 com sinais mistos. Por um lado, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% em relação ao trimestre anterior, impulsionado pelo desempenho da agropecuária (+12,2%) e dos serviços (+0,3%), enquanto a indústria apresentou leve retração (-0,1%). Embora o resultado tenha ficado levemente abaixo das expectativas do mercado, consolidou uma expansão de 3,5% no acumulado de quatro trimestres, com o PIB totalizando R$ 3 trilhões em valores correntes. Pela ótica da demanda, destacaram-se os investimentos, com alta de 3,1%, as exportações, que subiram 2,9%, e o consumo das famílias, que avançou 1%, sustentado por um mercado de trabalho ainda resiliente.

A taxa de desemprego permaneceu em 6,6% no trimestre encerrado em abril, o menor patamar para o período desde 2012. Apesar da estabilidade no índice, houve avanço na formalização: o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu o recorde de 39,6 milhões, enquanto a taxa de informalidade recuou para 37,9%, a mais baixa desde 2016. Ainda assim, cerca de 15,4% da força de trabalho permanece subutilizada e aproximadamente 40 milhões de pessoas continuam em ocupações informais. O rendimento médio real ficou estável em R$ 3.426, enquanto a massa de rendimentos alcançou um recorde de R$ 349,4 bilhões, refletindo o crescimento da formalização, mas não da geração líquida de novos postos de trabalho.

No campo monetário, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou novamente a taxa Selic, que atingiu 14,75% ao ano — o maior nível desde 2006. Esta foi a sexta alta consecutiva, motivada pela persistência da inflação e pelas incertezas no cenário internacional. A decisão, no entanto, eleva o custo do crédito e amplia a pressão fiscal: os gastos com juros da dívida pública ultrapassaram R$ 935 bilhões nos últimos 12 meses e podem chegar a R$ 1 trilhão em 2025.

A inflação permanece acima da meta. O IPCA de abril subiu 0,43%, desacelerando em relação aos 0,56% registrados em março, mas elevando o acumulado em 12 meses para 5,53%. Os principais fatores de pressão foram os alimentos (+0,82%) e os medicamentos (+1,18%). Já o grupo de transportes apresentou deflação de 0,38%, enquanto os serviços subiram 0,20% no mês e acumulam alta de 6,03% no ano. A desvalorização do real e a resiliência do consumo de serviços seguem sustentando a pressão inflacionária. De acordo com o Boletim Focus, a projeção para o IPCA é de 5,5% em 2025, com recuo gradual para 4,5% em 2026 e 4% em 2027.

No campo fiscal, a elevação do IOF sobre operações de crédito, anunciada sem consulta prévia a órgãos como o Banco Central, gerou críticas por parte do setor produtivo e de analistas. A medida pode aumentar o custo do crédito em até 0,5 ponto percentual, segundo estimativas da XP, e elevar em até 40% o custo efetivo total das operações, segundo a Febraban — especialmente para pequenas e médias empresas. A Firjan alertou para o impacto negativo sobre o capital de giro e a atividade industrial, em um contexto já marcado por uma das taxas reais de juros mais altas do mundo. O desalinhamento institucional observado na formulação da medida reforça percepções de instabilidade e imprevisibilidade no ambiente de negócios.

Nos mercados, o mês de maio registrou leve recuperação. O Ibovespa avançou 1,5%, impulsionado por ganhos em setores específicos e pelo otimismo em relação aos resultados corporativos. O dólar, por sua vez, subiu 2,0% no período, refletindo a cautela dos investidores diante do cenário fiscal e monetário interno. A volatilidade cambial, somada aos juros elevados e às incertezas fiscais, mantém o ambiente de negócios em estado de alerta.

Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Maio/2025)

Índice

Variação (%)

Mês Ano 12 meses

IBOV

1,45

14,00

12,00

IFIX

1,44

11,09

2,35

IEE

4,60

29,78

15,13

SMLL

5,94

25,12

9,73

ISE

3,84

23,28

13,54

Fonte: Valor Data; Investing.com


Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Maio/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Azzas

AZZA3

38,66%

R$ 44,15

Lojas Renner

LREN3

24,30%

R$ 18,16

Hapvida

HAPV3

23,28%

R$ 2,86

Assaí

ASAI3

22,09%

R$ 11,22

PetroRecôncavo

RECV3

18,76%

R$ 14,47

Fonte: Infomoney.com


Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Maio/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Azul

AZUL4

-38,78%

R$ 0,90

Pão de Açúcar

PCAR3

-28,84%

R$ 3,01

Raia Drogasil

RADL3

-25,15%

R$ 14,85

Banco do Brasil

BBAS3

-19,05%

R$ 23,42

Minerva

BEEF3

-14,72%

R$ 5,04

Fonte: Infomoney.com

Ação estudada do mês: M.DIAS BRANCO (MDIA3)

a) Análise fundamentalista

Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas

Indicador

Resultado

Índice P/L

14,09

Índice P/VP

0,99

DY - Dividend Yield

2,49%

Fonte: Status Invest
Posição: 02.06.2025

Uma análise fundamentalista tem como objetivo avaliar o valor intrínseco de uma empresa, considerando seus fundamentos financeiros, operacionais e estratégicos. Essa abordagem busca determinar se uma ação está sub ou supervalorizada, auxiliando os investidores na tomada de decisão.

Dentre os diversos indicadores utilizados na análise fundamentalista, três foram escolhidos para avaliação da empresa:

O Índice Preço/Lucro (P/L) é calculado pela razão entre o preço de mercado da ação e o lucro líquido por ação nos últimos 12 meses. Esse indicador reflete o valor que os investidores estão dispostos a pagar por unidade de lucro da empresa. No caso da MDIA3, o P/L atual é de 14,09, indicando que o mercado está disposto a pagar R$ 14,09 para cada real de lucro da empresa, um valor moderado para o setor de alimentos.

O Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP), obtido pela divisão do preço da ação pelo valor patrimonial por ação, mede a relação entre o preço de mercado e o patrimônio líquido contábil da empresa. Para MDIA3, o P/VP atual é de 0,99, sugerindo que a ação está sendo negociada praticamente ao valor contábil.

O Dividend Yield (DY), por sua vez, mede a relação percentual entre os dividendos pagos pela empresa em determinado período e o preço da ação antes da distribuição. O DY atual é de 2,49%, com um histórico de payout médio de 60,42%, demonstrando uma política de distribuição de dividendos consistente, embora com redução recente.

A M.DIAS BRANCO consolida-se como uma das principais empresas do setor de alimentos processados no Brasil, com um portfólio diversificado que inclui marcas consagradas como Piraquê, Vitarella e Adria. Fundada em 1936, a companhia possui forte presença nas regiões Norte e Nordeste e opera com um modelo verticalizado que inclui moinhos de trigo, garantindo maior controle sobre sua cadeia produtiva. A M.DIAS BRANCO se destaca por sua solidez financeira, com dívida líquida próxima de zero e liquidez corrente de 2,15, demonstrando capacidade de honrar seus compromissos de curto prazo. Recentemente, a empresa vem enfrentando desafios com margens pressionadas e resultados abaixo das expectativas, refletidos na queda de 23,93% no preço da ação nos últimos 12 meses, mas mantém fundamentos robustos que podem sustentar uma recuperação futura.

b) Análise técnica

Gráfico 1 – Gráfico semanal MDIA3


Posição: 02.06.2025

No médio prazo, o comportamento do ativo MDIA3 apresenta um cenário de equilíbrio técnico que merece atenção cautelosa por parte dos investidores. O atual movimento dentro do canal amplo entre R$ 41,34 e R$ 18,76 sugere que o papel ainda não definiu uma tendência clara, mantendo-se em uma fase de lateralização após os movimentos anteriores. O fato do IFR permanecer em zona neutra reforça esta impressão de indefinição momentânea do mercado.

O HMACD, embora ainda positivo, vem mostrando sinais de enfraquecimento em sua trajetória descendente, o que pode indicar uma perda gradual de força compradora. Este comportamento requer monitoramento atento, pois um eventual cruzamento para baixo da linha de sinal poderia confirmar a perda de momentum positivo.

Os principais gatilhos que merecem atenção incluem a reação do preço quando se aproximar dos extremos do canal estabelecido. Um teste da resistência superior nas proximidades de R$ 41,34, acompanhado de volume expressivo, poderia sinalizar uma tentativa de rompimento, enquanto uma aproximação de R$ 18,76 exigiria confirmação da solidez deste suporte histórico. A confirmação ou negação da atual inclinação descendente do MACD também se mostra decisiva, pois pode antecipar mudanças no equilíbrio de forças entre compradores e vendedores.

c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis 

A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.

Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.

Para o ativo MDIA3, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 27 períodos e uma média móvel longa de 29 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 53,25%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 198,20, enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 103,89, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 4.385,99 no período entre 15/06/2019 e 31/05/2025, destacando-se como uma abordagem consistente dentro do horizonte temporal analisado. 

Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia MDIA3

Exemplo de aplicação:

Em 23 de abril de 2025, a média móvel curta de 27 períodos (linha branca) cruzou para cima da média móvel longa de 29 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.

Gráfico 3 – Gráfico diário MDIA3


Posição: 02.06.2025

Disclaimer 

O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A Universidade de Fortaleza – Unifor não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado.

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Equipe de elaboração

Professores

  • Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
    Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
    CNPI-P – n. 8409
     
  • Prof. Allisson David de Oliveira Martins
    Economista - Corecon-Ce n. 3221
    CNPI – n. 9113
     
  • Prof. Ricardo Aquino Coimbra
    Economista - Corecon-Ce n. 2575
    CNPI – n. 9579

Alunos

  • Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
  • Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
  • José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
  • José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
  • Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas 
  • Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas