Implanon no SUS: conheça novo método contraceptivo gratuito distribuído na saúde pública
Especialistas em saúde comentam a importância da adesão ao implante anticoncepcional subdérmico para o bem-estar feminino e o planejamento familiar
O Sistema Único de Saúde (SUS) ampliou recentemente sua lista de métodos contraceptivos disponíveis para a população com a inclusão do Implanon, um dos recursos mais modernos e eficazes no planejamento familiar. O implante subdérmico, até então restrito em grande parte ao setor privado devido ao seu alto custo, passa a ser oferecido gratuitamente , representando um marco na democratização do acesso à saúde reprodutiva no Brasil.
Segundo o médico ginecologista e professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, Marcelo Cavalcante, o Implanon é um bastonete pequeno e flexível que contém etonogestrel, um hormônio semelhante à progesterona.
“Ele é inserido sob a pele do braço e libera continuamente o hormônio por até três anos. Esse processo inibe a ovulação, espessa o muco cervical e altera o endométrio, tornando-o menos receptivo à implantação [do espermatozoide]”, explica o especialista em Reprodução Assistida.
Eficácia e diferenciais do Implanon
Em comparação com outros métodos já conhecidos, o Implanon apresenta vantagens importantes. “O método tem eficácia superior a 99%, não depende do uso diário, como no caso da pílula, é reversível e pode ser utilizado por mulheres que não toleram o estrogênio. Além disso, sua eficácia é semelhante à do DIU, que, por sua vez, é superior à pílula convencional”, detalha Marcelo.
Para além da prevenção da gravidez, o implante também apresenta benefícios clínicos, como:
- redução do fluxo menstrual,
- melhora das cólicas,
- auxílio em casos de anemia ferropriva e endometriose,
- diminuição de complicações decorrentes de gestações não planejadas.
Planejamento familiar acessível
A inclusão do Implanon no SUS tem sido considerada um passo fundamental para o fortalecimento do planejamento familiar. Essa preparação consiste em um conjunto de ações criadas para orientar homens e mulheres sobre os métodos contraceptivos, prevenção de gravidez não desejada e a escolha de ter filhos ou não. Para quem deseja formar família, o planejamento familiar orienta sobre a organização antes da chegada das crianças.
“Oferecer esse recurso de forma
gratuita é uma política de equidade em saúde, pois garante
acesso a um método altamente eficaz, mesmo para mulheres de
baixa renda. É a democratização do planejamento
reprodutivo.” — Marcelo Cavalcante, médico
ginecologista, especialista em Reprodução Assistida e professor do
curso de Medicina da Unifor
Marcelo também destaca a importância da autonomia que esses métodos proporcionam às mulheres. “O planejamento familiar permite que a mulher escolha quando e quantos filhos deseja ter, preservando sua saúde e favorecendo sua inserção educacional e profissional. É fundamental para o empoderamento feminino e para a redução das desigualdades de gênero”, afirma.
No entanto, o professor alerta para a necessidade de equilíbrio: “A mulher deve ter consciência de que adiar a maternidade por muito tempo pode dificultar engravidar quando desejar. A informação é peça-chave nesse processo de decisão”.
Impactos na saúde pública
Para Marcelo, a ampliação da oferta de métodos contraceptivos pelo SUS vai além da escolha individual: traz reflexos positivos para toda a sociedade. “Com mais opções, as pacientes podem adotar o método que melhor se adapta a elas, garantindo maior adesão. Isso reduz o número de gestações não planejadas, diminui abortos inseguros, contribui para a queda da mortalidade materna e neonatal e fortalece a autonomia reprodutiva da mulher”, ressalta o docente.
O ginecologista ainda aponta que essas políticas evitam gestações não planejadas em situações de risco, especialmente na adolescência, reduzem complicações obstétricas e favorecem intervalos adequados entre gestações, impactando positivamente nos indicadores sociais e de saúde.
Apesar dos avanços, ainda há desafios para que o Implanon chegue de fato à população. Marcelo enfatiza a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde e de protocolos bem definidos para inserção, retirada e acompanhamento das pacientes. “É fundamental que o SUS organize a logística de distribuição regional e prepare a atenção primária para garantir acesso universal”, afirma.
Conheça alguns dos métodos contraceptivos disponibilizados gratuitamente pelo SUS:
- Camisinha masculina e feminina
- Método de barreira que impede o contato entre espermatozóides e óvulo.
- Protege também contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
-
Pílulas anticoncepcionais
- Uso diário.
- Contêm hormônios que inibem a ovulação e modificam o ambiente uterino.
- Anticoncepcionais injetáveis
- Disponíveis em versões mensais e trimestrais.
- Liberação de hormônios que bloqueiam a ovulação e dificultam a fecundação.
- Dispositivos
Intrauterinos (DIUs)
- DIU de cobre: não contém hormônio; impede a fecundação ao alterar o ambiente uterino.
- DIU hormonal (em expansão no SUS): libera pequenas doses de hormônio, reduzindo o fluxo menstrual e cólicas.
- Métodos cirúrgicos
permanentes
- Laqueadura (esterilização feminina): bloqueio das tubas uterinas, impedindo o encontro do óvulo com o espermatozóide.
- Vasectomia (esterilização masculina): bloqueio dos canais deferentes, impedindo a liberação de espermatozoides no sêmen.
Taxa de falha do Implanon é menor que do DIU
Quem também destaca a relevância da disponibilização do Implanon pelo SUS é a ginecologista e professora de Medicina da Unifor, Fabíola de Castro Rocha, especialista em Ginecologia-Obstetrícia, Medicina Preventiva e Social. Para ela, a chegada do implante subdérmico representa “um grande benefício para todas as mulheres e para a sociedade como um todo”.
De acordo com a mestre em Saúde Pública, o Implanon é um contraceptivo reversível de longa duração (LARC), inserido sob a pele do braço, que contém 68 mg de etonogestrel. Na comparação com pílulas e DIU, ela ressalta que os métodos de longa duração, como o implante e o dispositivo intrauterino, têm maior eficácia justamente por não dependerem do uso diário.
“Enquanto a pílula pode apresentar até nove gestações a cada 100 mulheres por ano no uso típico, os LARCs reduzem esse risco a menos de 1%. No caso do Implanon, a taxa de falha fica abaixo de 0,5% ao ano”, explica a docente.
O Implanon é aplicado logo abaixo da pele, na camada
subcutânea do braço da mulher (Ilustração: Getty Images)
Ela também aponta diferenças em relação ao DIU. Enquanto o dispositivo intrauterino pode estar associado a riscos como doença inflamatória pélvica ou complicações na inserção, o implante subdérmico não apresenta esses fatores, limitando-se a reações locais leves no ponto de aplicação.
Benefícios clínicos e retorno da fertilidade
Assim como Marcelo Cavalcante, a professora Fabíola de Castro reforça que o Implanon traz vantagens adicionais para além da contracepção. Entre elas estão:
- redução da cólica menstrual,
- diminuição do fluxo menstrual, importante em casos de anemia,
- melhora dos sintomas de tensão pré-menstrual.
Outro ponto relevante é a segurança para mulheres que não podem utilizar estrogênio, como as que têm hipertensão, enxaqueca com aura ou são fumantes acima de 35 anos. “O retorno da fertilidade também é rápido após a retirada do implante, o que favorece as mulheres que desejam engravidar futuramente”, completa a ginecologista.
Impacto social e quebra de tabus
Para a professora Fabíola de Castro, a disponibilização gratuita do Implanon pelo SUS tem efeito direto sobre a saúde da mulher e sobre os índices de saúde pública.
“A oferta de um método altamente
eficaz reduz as gestações não planejadas, diminui a mortalidade
materna e infantil, e diminui custos associados ao pré-natal, ao
parto e à assistência neonatal” — Fabíola de
Castro, médica especialista em ginecologia-obstetrícia e
docente do curso de Medicina na Unifor
Ela acrescenta que a política amplia a equidade em saúde, já que mulheres em situação de vulnerabilidade, que não teriam condições de arcar com métodos de custo elevado, passam a ter acesso a opções seguras e eficazes.
Na visão da ginecologista, o acesso a métodos como o Implanon fortalece o empoderamento feminino ao garantir à mulher o direito de decidir sobre seu corpo e sua vida. Segundo a professora, ao possibilitar o planejamento da maternidade, o acesso a esse método contraceptivo contribui para ampliar a autonomia das mulheres em suas escolhas pessoais, educacionais e profissionais, além de ajudar a reduzir desigualdades de gênero e fortalecer sua participação social e econômica.
Apesar dos avanços, Fabíola lembra que ainda existem barreiras, como a desinformação e os tabus em torno da contracepção. “Muitas mulheres ainda acreditam em mitos, como o de que o DIU causa infertilidade ou aumenta o risco de câncer, ou que o implante é um ‘chip de localização’. Esses medos, muitas vezes, afastam o acesso a métodos seguros e eficazes”, observa.
O docente Marcelo Cavalcante corrobora: “Mitos sobre infertilidade, riscos exagerados e efeitos irreversíveis ainda circulam, muitas vezes sustentados por fatores culturais e religiosos. Por isso, o papel dos profissionais de saúde é crucial: oferecer aconselhamento baseado em evidências, respeitar crenças individuais e atuar como fonte confiável de informação para combater esses mitos”.
Para superar esses obstáculos, os professores defendem a atuação próxima dos profissionais de saúde, com acolhimento e orientação clara.
“Nós devemos oferecer informações completas e baseadas em evidências, enfrentar mitos e preconceitos e garantir que a escolha seja informada e autônoma. Também é papel da equipe acompanhar o uso do método escolhido e dar suporte para eventual troca ou retirada. Assim, fortalecemos a confiança na política pública e a autonomia das mulheres”, conclui Fabíola.