O que é o botulismo? Conheça sintomas, formas de transmissão e tratamento da doença
Envenenamento raro causado por toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum costuma ter relação com a ingestão de alimentos contaminados
O botulismo é uma doença grave e rara que afeta
o sistema nervoso, levando à fraqueza muscular, paralisia e, em
casos extremos, pode ser fatal. Causada por uma toxina produzida
pela bactéria Clostridium botulinum, a contaminação ocorre
por ingestão da toxina presente em alimentos contaminados e/ou
conservados de maneira inadequada.
Em setembro deste ano,
a Vigilância Epidemiológica da Bahia confirmou seis casos de
botulismo com duas mortes no estado. De acordo com a
Agência
Brasil , em 2023, foram registrados dois casos de
botulismo na Bahia, ambos no município de Feira de Santana.
A engenheira de alimentos Gleucia Moura, doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos e professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, conta que as contaminações mais recentes se deram pelo consumo de uma mortadela de frango, alimento ultraprocessado que é embutido em tripa natural ou artificial. “Isso torna este ambiente ideal para multiplicação da bactéria [anaeróbia]. Mas a investigação epidemiológica ainda está em curso”, informa.
No país, os casos suspeitos de botulismo são de notificação obrigatória e imediata para que medidas de prevenção e controle sejam implementadas, reduzindo o impacto na saúde pública. Surtos da doença não são comuns, mas exigem rápido manejo principalmente pela alta taxa de mortalidade e velocidade de evolução.
Como evitar contaminação por botulismo?
Gleucia explica que existem três tipos de botulismo: alimentar, que ocorre após a ingestão de alimentos contaminados, frequentemente conservas caseiras mal preparadas e enlatadas; infantil, afetando bebês que ingerem esporos da bactéria, geralmente encontrados no mel ou em alimentos mal preparados; e de feridas, resultado da infecção pela bactéria em algum ferimento.
Os alimentos que carregam a Clostridium botulinum geralmente não apresentam sinais visíveis de contaminação, pois a toxina produzida não altera o sabor, cheiro ou aparência dos alimentos. No entanto, o consumidor, deve ficar atento a alguns indícios que podem sugerir a presença da bactéria:
- Latas ou frascos inchados: um dos sinais mais comuns é o inchaço da embalagem, que pode indicar produção de gás pela bactéria.
- Vazamentos: se houver vazamentos na embalagem, pode ser um sinal de contaminação.
- Mudanças na textura: em conservas, a textura dos alimentos pode parecer alterada ou viscosa.
- Cheiro estranho: embora não seja sempre perceptível, um odor desagradável pode ser um indicativo de deterioração.
É importante lembrar, alerta a professora, que a ausência de sinais não garante a segurança do alimento. O consumidor deve sempre seguir as orientações de conservação adequadas nos rótulos dos produtos para evitar o risco de botulismo.
“Alimentos mal processados ou conservados, especialmente conservas caseiras, podem permitir a sobrevivência e multiplicação da bactéria. O Clostridium botulinum se multiplica em ambientes sem oxigênio, como latas, alimentos embalados à vácuo ou frascos mal esterilizados”, pontua a engenheira de alimentos.
“Na indústria alimentícia, para
prevenir a contaminação, é importante seguir boas práticas de
conservação de alimentos, como a pasteurização e o uso de
métodos adequados de enlatamento. Infelizmente, o consumidor não
consegue perceber a contaminação” — Gleucia
Moura, doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos e
professora do curso de Nutrição da Unifor
A médica Dionne Bezerra Rolim, professora do curso de Medicina e pesquisadora da Unifor, reforça que o mais importante é o cuidado com o preparo, consumo, distribuição e comercialização de alimentos, além da correta higienização dos alimentos e das mãos.
Segundo ela, o Ministério da Saúde recomenda não consumir alimentos em conserva que estiverem em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas, vencidas ou com alterações no cheiro e no aspecto. O aquecimento da comida pode eliminar as toxinas do botulismo no cozimento por 10 minutos com temperatura acima de 80ºC.
Já o mel é um dos alimentos mais perigosos, especialmente para crianças menores de 2 anos, pois há risco de conter esporos da bactéria, conforme esclarece o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras. É que essa faixa etária ainda está adaptando sua microbiota intestinal aos novos alimentos, podendo desenvolver quadros graves de botulismo.
Sintomas
Com base nas recomendações e condutas indicadas pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde do Brasil, é possível suspeitar de infecção por botulismo se a pessoa estiver com os seguintes sintomas:
- náuseas,
- vômitos,
- diarreia,
- dor abdominal,
- dor de cabeça,
- visão turva,
- boca seca.
Médica infectologista da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará e doutora em Ciências Médicas, Dionne alerta que a fraqueza muscular provocada pela contaminação por Clostridium botulinum pode ocasionar falta de ar, insuficiência respiratória e tetraplegia flácida.
“A toxina produzida pela bactéria age principalmente pelo
bloqueio neuromuscular, com o comprometimento do controle motor
ocasionando paralisia muscular, que pode levar à insuficiência
respiratória e [tem] risco elevado de óbito” —
Dionne Rolim, médica infectologista e docente do curso de
Medicina da Unifor
Botulismo tem cura?
Apesar dos riscos da doença, a cura é possível. Dionne alerta que, em caso de contaminação, é preciso buscar ajuda o quanto antes. “O tratamento deve ser imediato e realizado prioritariamente em unidade hospitalar que disponha de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para reduzir a letalidade”, destaca.
O botulismo é uma emergência médica. A rápida identificação e tratamento são fundamentais para evitar que a doença evolua. A docente Glauce dá dicas para tratamentos:
- Procurar um atendimento médico,
- Não consumir mais alimentos suspeitos,
- Informar aos profissionais de saúde sobre os sintomas, a alimentação recente e qualquer conserva ou alimento que possa estar envolvido.
Ela salienta que o médico indicará o melhor tratamento, mas em casos graves, a hospitalização pode ser necessária para monitoramento e cuidados intensivos. “Pode também haver suporte respiratório, se houver dificuldades respiratórias”, disse.
Medidas a serem tomadas
Segundo a professora Dionne Rolim, os estados devem reforçar as ações de vigilância em saúde, que compreende tanto a epidemiológica quanto a sanitária. “É importante a divulgação de informações de prevenção e controle para a população e o reforço da atenção de profissionais da saúde para detecção e tratamento precoces do botulismo”, expõe.
Ela acredita ser interessante uma detecção precoce dos casos, visando promover a assistência adequada e redução de morbidade e letalidade da doença. A atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é fundamental para esse monitoramento, coordenando o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e prestando cooperação técnica e financeira aos estados e municípios.
“[A Vigilância Sanitária] é responsável pelo controle sanitário alimentar que abrange o conjunto de medidas regulatórias impostas pela administração pública, com o objetivo de eliminar ou evitar riscos associados ao consumo de alimentos. Outras ações incluem: responsabilidade sob o licenciamento e fiscalização da produção e industrialização de todas as categorias de alimentos”, elucida Dionne.
Gleucia Moura alerta que apesar da gravidade da doença, surtos de botulismo não são tão comuns. Mesmo com a baixa incidência, ela pode ser fatal. Portanto, a educação sobre práticas seguras de manipulação e conservação de alimentos é fundamental para reduzir o risco de novos casos.