Professor do curso de Cinema da Unifor dirige série top 10 Netflix

seg, 16 janeiro 2023 17:09

Professor do curso de Cinema da Unifor dirige série top 10 Netflix

A obra – que conta com a participação de professor, aluna e egresso da Unifor – conquistou lugar entre as dez séries mais assistidas da Netflix Brasil na última semana de dezembro de 2022


Produzida pela Glaz Entretenimento, a série estreou na Netflix no dia 25 de dezembro do ano passado (Foto: Divulgação)
Produzida pela Glaz Entretenimento, a série estreou na Netflix no dia 25 de dezembro do ano passado (Foto: Divulgação)

O “finzinho” do ano passado foi marcado por diversos lançamentos no universo audiovisual. As plataformas de streaming encheram seus catálogos com filmes de Natal e produções nacionais e internacionais. No dia 25 de dezembro de 2022, a série brasileira “O Cangaceiro do Futuro” foi adicionada à lista de produções da Netflix, com sete episódios que mesclam passado e futuro e dão vida ao cangaço nordestino.

Dirigida pelos cineastas Halder Gomes, conhecido pela franquia “Cine Holliúdy”, e Glauber Paiva Filho – professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz –, a série conta a história de Virguley, um nordestino que vive passando sufoco em São Paulo, fazendo bicos enquanto sonha em voltar rico para sua terra de origem. 

O protagonista, em meio a seus muitos trabalhos, aproveita a semelhança com o cangaceiro Lampião, figura famosa do Nordeste, para fazer apresentações em praças públicas da capital. Ao se envolver em mais uma confusão, o personagem leva uma pancada na cabeça e vai parar no ano de 1927, no meio do sertão, onde é confundido pela população local com o verdadeiro Rei do Cangaço. 

Filmada em Juatama, distrito localizado no município de Quixadá-CE, e em São Paulo, a produção nacional é protagonizada por Edmilson Filho, Dudu Azevedo, Chandelly Braz, Fábio Lago e outros atores consolidados no cinema brasileiro, assim como profissionais iniciantes. Durante sua primeira semana de exibição, a obra, produzida pela produtora brasileira Glaz Entretenimento, conquistou lugar no top 10 de séries mais assistidas no Brasil na Netflix.

Da universidade para o cangaço

De sete episódios, três foram dirigidos por Glauber. Convidado por Halder para fazer a codireção da série, o docente da Unifor assumiu os episódios quatro, cinco e seis. Os diretores já haviam trabalhado juntos previamente, tendo se conhecido na década de 1980. Ainda no início de suas carreiras, os cineastas construíram uma relação de amizade, e, ao longo dos anos, a parceria na luta pelo cinema cearense foi a responsável por estreitar esses laços. 


Da esquerda para a direita: Glauber Filho, Halder Gomes e Ana Lígia (continuísta). Em cima: Lucas Vilhena (assistente de fotografia) (Foto: Arquivo pessoal)

“Há muito tempo a gente tem essa essa relação de trabalho e de amizade e, obviamente, isso facilitou muito dentro do processo da [série] “O Cangaceiro do Futuro” porque a gente já se conhece no set. De certa forma, nós temos o mesmo modelo harmônico de se trabalhar um set de filmagem, então foi muito fluido, muito tranquilo e muito divertido”, relata Paiva.

Além da codireção entre os amigos de longa data, alunos e egressos da Unifor também estiveram presentes na produção e elenco da série. Mariana Costa, estudante do curso de Direito da instituição, fez sua estreia em produções de alcance nacional e internacional interpretando “Amélia”, uma menina inocente, dita como “avoada” e filha mais nova de um coronel.

“Eu comecei a fazer teatro pequenininha, ainda criança, e costumo dizer que uma coisa na arte foi me levando a outra, para outros lugares e novos trabalhos. Eu comecei fazendo teatro de escola e alguns cursos na área. Depois de um tempo, fiz musicais também e mais algumas peças. No audiovisual, eu comecei há três anos, mais ou menos, fazendo alguns filmes e curtas aqui em Fortaleza. Mas esse [O Cangaceiro do Futuro] foi o meu primeiro trabalho de grande porte”, diz a aluna.

Para a atriz, atuar ao lado de nomes consolidados no cinema brasileiro foi uma experiência incrível e um aprendizado enorme. Mariana conta que recebeu muitas dicas e apoio da equipe e dos atores, o que tornou a vivência com o elenco um processo colaborativo. “Foi uma oportunidade e tanto estrear no meu primeiro trabalho desse porte com essas pessoas, que são extremamente generosas e souberam dividir e dar dicas de câmera, de texto e de preparação do próprio personagem”, acrescenta Costa.


Mariana Costa é “Amélia”, a filha mais nova de um coronel. A personagem tem dois irmãos, “Amaro” e “Amália”, interpretados por Max Petterson e Monique Hortolani, respectivamente (Foto: Arquivo pessoal)

A direção de Halder e Glauber também foi de grande ajuda para que a estudante pudesse “encontrar a chavinha da Amélia” e construir um pouco da personagem e dos traços e pontos cômicos que a permeiam.

“Como atriz, sempre acho um desafio maior fazer comédia, mas foi bem divertido porque foi um processo bastante colaborativo e a equipe também era muito ‘amorzinho’, formada por, em sua maioria, pessoas nordestinas. Acho que isso fez toda a diferença também”, pontua Mariana.

Na obra, Maurício Macêdo, egresso do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, atuou como diretor de produção na primeira etapa da série. Por ter trabalhado no filme anterior de Gomes, o “Bem-vinda a Quixeramobim”, também como diretor de produção, ele foi convidado pelo produtor executivo para fazer parte do time de “O Cangaceiro do Futuro”. Maurício trabalhou no cargo de setembro a dezembro de 2021, quando saiu para participar em outro projeto de série no Ceará.


(Foto: Arquivo pessoal)

“Foi muito desafiador ser diretor de produção dessa série. Tínhamos uma equipe grande, e ainda estávamos lidando com a Covid-19, então tinha questões logísticas de hospedagem, transporte e muita gente na cidade trabalhando para isso. Era um projeto de época, então havia todos os cuidados para trazer os elementos e retirá-los da contemporaneidade para dar veracidade. Havia muitas frentes de produção e grande parte da equipe era cearense, mas muitas pessoas também vieram de outros estados, então era um bom mix cultural”Maurício Macêdo, egresso do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor

Repercussão da série

“O Cangaceiro do Futuro” esteve entre as séries mais vistas da Netflix na semana de sua estreia. A classificação se torna ainda mais importante por ser uma produção de primeira temporada, agregando um valor ainda maior ao tipo de conteúdo que ela traz. “A gente considera um fenômeno [a obra] estar nessa colocação, porque são lugares de séries de grande produção, de grande investimento de marketing”, pontua Glauber.


Glauber já dirigiu filmes como “Bate Coração” e “Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito” (Foto: Arquivo pessoal)

O diretor explica que a produção chegou a ocupar a segunda posição no ranking, assim como saiu da lista em alguns momentos, retornando novamente dias depois. “São vários fatores que influenciam, mas a gente está recebendo as avaliações da Netflix e a série está muito bem localizada. Os resultados são bem interessantes, e ficamos muito felizes, com certeza. É um fato inusitado e surpreendente”, acrescenta o professor da Unifor.

A felicidade com a repercussão da obra atinge a todos os que participaram de seu nascimento. A intérprete de “Amélia”, Mariana, conta que ficou muito contente e emocionada com o resultado e com a forma pelo qual a série foi abraçada pelo público, repercutindo de forma positiva. 

“Eu costumo acreditar que o público sente quando a produção foi feita com esforço, com amor e com dedicação. Ver esse resultado foi justamente uma resposta para tudo isso que as pessoas têm gostado e tem tido uma repercussão legal aqui no Nordeste e no Brasil como um todo. Eu fiquei muito feliz e muito grata com esse resultado”, declara a atriz.

Maurício compartilha o sentimento da colega de equipe: “Eu acho maravilhoso que uma série de origem cearense, com diretores cearenses e uma história que traz um pouco da nossa cultura e da nossa gente esteja entre as mais vistas no Brasil, e esteja com acesso liberado para os assinantes da Netflix de outros países. Isso é incrível. É de se comemorar e torcer para que produtos com o DNA artístico aqui do Ceará possam também ter visibilidade no país e no mundo”. 

Representação nordestina


A série conta com a participação de diversas figuras conhecidas do Nordeste, como o cantor Falcão, o advogado Haroldo Guimarães e a humorista Valéria Vitoriano, mais conhecida como Rossicléa (Foto: Divulgação)

A série “O Cangaceiro do Futuro” é uma adição às produções que retratam o ser e fazer nordestino, a cultura do cangaço e os jeitos e trejeitos das pessoas da região. Cada vez mais séries e filmes com enredos parecidos e times majoritariamente compostos por nordestinos ocupam espaços nacionais e internacionais no cenário cinematográfico, consolidando o Ceará como polo de produção e rompendo com a lógica comercial do eixo Rio-São Paulo.

Assim, Glauber pontua que o cinema fica muito mais diverso quando existem tais produções de várias regiões do Brasil, criando novas estéticas e histórias. Ele defende que isso gera uma maior possibilidade de diversidade, sendo “muito rico” um País que decide produzir e não somente ser consumidor de conteúdos audiovisuais.

O cinema é um meio de muito impacto na economia nacional, na geração de riquezas, de contribuição no PIB [Produto Interno Bruto] e na geração de empregos, e temos também o valor cultural, no sentido de uma soberania cultural diante dos conteúdos estrangeiros”, explica o docente.

Para Mariana Costa, produções como “O Cangaceiro do Futuro”, gravadas no Ceará, com elencos compostos por atores da região e que exploram o sertão nordestino, geram uma identificação no espectador. Retratar o sotaque, o jeito de falar, além da parte histórica da cultura, trazendo à tona o cangaço e o universo de Lampião e Maria Bonita, faz toda a diferença na produção e na forma como ela é vista pelo público. 


A atriz Monique Hortolani (Amália), o humorista Max Peterson (Amaro) e a estudante Mariana Costa (Amélia) caracterizados para a série (Foto: Divulgação)

A atriz vê a iniciativa como uma produção “super original e representativa”, principalmente por ocupar o lugar no qual as pessoas não estavam acostumadas a se verem durante um longo período, que é nas telas de cinema e TV. Mas que agora tem surgido com uma força maior e mais recorrente mudando esse cenário.

“Acredito que esse é realmente o caminho que a gente deve seguir e considero muito importante estar tendo essa demonstração, essa representação muito maior para toda a cadeia nacional, e agora internacional também. Eu acho que mostra muito desses outros ‘tipos de Brasis’ que foram escondidos durante muito tempo”, pondera a estudante de Direito.

O diretor de produção da primeira fase da série, Maurício Macêdo, diz que é sempre bom se ver na tela, ver sua gente e as paisagens do estado em que nasceu. Para ele, mais importante que isso é ter as narrativas e projetos nordestinos “contados pela nossa gente”, além de serem produzidos pelas produtoras locais com a força de trabalho cearense.

“É importante que nossos talentos, nossas vozes, nossos roteiristas, produtores e diretores consigam executar os seus projetos aqui no Ceará. Eu acho que o mais importante para desenvolver uma nova cinematografia de um lugar é que seus talentos possam brilhar e contar suas histórias”, enfatiza o egresso.

Cinema e Audiovisual na Unifor


O curso de Cinema e Audiovisual da Unifor possui nota máxima (5) em Conceito de Curso (CC), qualidade dada pelo Ministério da Educação (MEC) (Foto: Robério Castro)

O curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza é responsável por formar e exportar diversos profissionais capazes de trabalhar em produções nacionais e internacionais. Atuando como um laboratório para os alunos e fomentando a produção audiovisual cearense e nordestina, a graduação possui uma grade curricular única no Brasil e um time de professores com reconhecimento nacional. 

De acordo com o professor Glauber Paiva Filho, a grade de formação desenvolve um pensamento crítico em relação a arte, especificamente sobre cinema, ao mesmo tempo em que aprimora uma intelectualidade crítica sobre o fazer artístico do ponto de vista das relações sociais e históricas. Além disso, o curso também desenvolve nos alunos a competência técnica, permitindo que eles realizem, produzam e construam portfólios ao longo da graduação. 

“São três eixos que se cruzam e possibilitam relações transdisciplinares com outros cursos da Unifor, e isso é um somatório de grande valor para a própria graduação. O resultado: a gente consegue ver esses estudantes despontando com vários trabalhos e participando de produções de grande porte após sua formação dentro da Universidade. Isso é muito importante”, finaliza o docente.