seg, 27 maio 2024 14:04
Como funcionam carros elétricos? Entenda diferenças e vantagens
Saiba como esses carros se diferem de veículos convencionais, além de entender como o mercado brasileiro está se preparando para suprir essa nova demanda
O debate cada vez mais urgente em torno da sustentabilidade gera interesse em soluções que reduzam os danos ao meio ambiente. Nesse contexto, os carros elétricos ganham espaço nas conversas sobre o futuro da mobilidade urbana.
Segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVL), as vendas desse tipo de carro tiveram um crescimento de 267% no período de um ano (entre abril de 2023 e abril de 2024). Já são cerca de 51.276 novos veículos elétricos emplacados no país só nos primeiros quatro meses deste ano.
Principais diferenças
Conforme explica o engenheiro eletricista Sydney Ipiranga — diretor técnico da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), CEO da Solar Plus Brasil e professor de Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza —, a principal característica de um veículo elétrico é o fato de seu motor não ser movido a combustão, funcionando por meio de uma bateria que pode ser recarregada.
A seguir, confira alguns aspectos que diferenciam o funcionamento dos carros elétricos dos veículos convencionais a combustão:
- Fonte de energia
Enquanto carros elétricos utilizam baterias (geralmente de íons de lítio) para armazenar energia que alimenta o motor, veículos convencionais fazem uso de combustíveis fósseis (gasolina, diesel, etanol). - Emissões
Não há emissão de gases poluentes durante o uso de carros elétricos, contribuindo para a redução da poluição do ar e do impacto ambiental. Já os veículos convencionais emitem dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes durante a queima de combustíveis, o que colabora para o aquecimento global. - Manutenção
Devido à menor quantidade de componentes móveis, como correias, filtros de óleo e sistemas de exaustão, a manutenção dos elétricos é mais simples. Por outro lado, os convencionais precisam de manutenção regular de elementos como motor, transmissão etc. - Autonomia
Nos elétricos, a autonomia é variável conforme a capacidade da bateria. Modelos mais avançados oferecem até 500 km ou mais com uma única carga. No entanto, a infraestrutura de recarga pode ser um desafio em algumas áreas. Carros convencionais costumam oferecer maior autonomia por tanque de combustível, além de terem postos de abastecimento amplamente disponíveis.
Tipos de carros elétricos
Mestre em Energias Renováveis, Sydney ressalta que existem três tipos básicos de veículos elétricos: os híbridos, os híbridos plug-in e os totalmente elétricos. Saiba como funcionam:
- Híbridos (HEV)
Possuem um motor a combustão e um motor elétrico não plug-in (que funciona a partir de uma bateria de pequena autonomia que fornece energia para esse motor elétrico). O motor de combustão faz a tração do carro e o motor elétrico dá uma autonomia geralmente entre 50 e 100 km, no máximo. A bateria é recarregada de forma regenerativa, ou seja, quando o carro está parado, o motor à combustão funciona como um motor alternador, que gera toda a energia para a bateria que vai acionar o motor elétrico quando necessário. - Híbridos plug-in (PHEV)
Também possuem motor à combustão e motor elétrico, porém a bateria é de maior porte e recarregada por meio de um cabo que se conecta à rede elétrica. É possível fazer a recarga com o veículo desligado. - Totalmente elétricos (BEV e FCEV)
Os modelos BEV (Battery Electric Vehicle) não têm motor a combustão, diferente dos dois primeiros. São totalmente recarregáveis na rede elétrica e, a depender do fabricante, podem ter até quatro motores elétricos. Os modelos FCEV (Hydrogen Fuel Cell Electric Vehicle) também são totalmente elétricos e movidos a célula de combustível, ou seja, utilizam o gás hidrogênio como fonte de energia. Por meio de um eletrolisador, o hidrogênio produz energia que carrega uma bateria que, por sua vez, move o motor elétrico.
Economia e sustentabilidade
Entre os fatores que fazem dos carros elétricos atrativos para o consumidor está o baixo custo de manutenção. “O custo por quilômetro rodado do veículo elétrico chega a ser cinco vezes menor do que o veículo a combustão. Isso em relação apenas ao combustível. Quando falamos da manutenção, esse custo chega a ser dez vezes menor”, enfatiza Sydney.
O docente explica que esse valor mais baixo acontece devido à menor quantidade de componentes dos elétricos em comparação aos convencionais. Ele aponta 70% menos itens nos veículos movidos a bateria, o que reduz significativamente a necessidade de manutenções.
Outro aspecto relevante é a redução de emissões. Por não emitirem dióxido de carbono (CO2) durante o uso, os carros elétricos não contribuem com a poluição atmosférica nem com o aquecimento global, temas sensíveis na atualidade.
Segurança
Um dos temas mais debatidos com relação aos veículos elétricos é a segurança das baterias de lítio, material inflamável que poderia causar incêndios. Para o professor Sydney, a tecnologia utilizada na fabricação desses materiais e nos sistemas de segurança visam evitar situações como essa.
“Essas baterias são envoltas com materiais de alta resistência para evitar o vazamento de eletrólitos”, diz o especialista. Ipiranga acrescenta ainda que as baterias são controladas por BMS (Battery Management System), um sistema eletrônico que gerencia as células da bateria, realizando monitoramento em tempo real para que o condutor seja informado de um possível mau funcionamento.
Para o futuro, a perspectiva é de que as baterias de lítio sejam substituídas por baterias de sódio, não inflamáveis. “Além do aspecto de segurança, existe também a questão de custo. O carbonato de sódio, que é feito a partir do mineral, é muito mais abundante do que o lítio e muito mais barato”, observa Sydney.
Incentivo à fabricação nacional
Visando fomentar a fabricação de carros elétricos no Brasil, em 2024, o governo nacional estabeleceu um imposto de importação de 30% para esses veículos. Isso fez com que montadoras nacionais anunciassem investimentos conjuntos de mais de 70 bilhões de reais em novos modelos elétricos.
“Foi uma espécie de reserva de mercado que o governo brasileiro fez para incentivar a produção de veículos elétricos. Se não houvesse essa política de incentivo, o Brasil – que já esteve entre as seis maiores indústrias automobilísticas do mundo e hoje não está nem entre as dez – poderia virar um país importador de veículos elétricos” — Sydney Ipiranga, diretor técnico da Associação Brasileira de Geração Distribuída, CEO da Solar Plus Brasil e professor da Pós-Unifor
Entre os fabricantes que estão anunciando novas fábricas no país, o professor destaca a BYD, em Camaçari (BA), e a GWM, em Iracemápolis (SP), além de Chery e Hyundai. Seguindo a linha dos fabricantes chineses, FIAT, General Motors e Volkswagen também informaram lançamentos de veículos seletos produzidos no Brasil nos próximos anos.
Segundo Sydney, esse movimento no setor exige a construção de uma cadeia de fornecedores, como de baterias e motores elétricos. “Em Camaçari, por exemplo, está previsto um hub de fornecedores. Quase 40 empresas estão sendo atraídas para fornecer todos os componentes para montagem dos veículos elétricos”, comemora o professor. Ele assegura: “O mercado está bem e vai ser bem atendido com veículos fabricados no Brasil”.
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