CSE Informa: A importância do bem-estar psíquico de pesquisadores na pós-graduação

seg, 9 dezembro 2024 17:22

CSE Informa: A importância do bem-estar psíquico de pesquisadores na pós-graduação

A manutenção da saúde mental na carreira acadêmica é assunto vital para enfrentar os desafios de mestrado e doutorado


Uma pesquisa de sucesso vai além de dados e tabelas: cuidar da saúde mental dos pesquisadores é essencial para alcançar resultados positivos (Foto: Getty Images)
Uma pesquisa de sucesso vai além de dados e tabelas: cuidar da saúde mental dos pesquisadores é essencial para alcançar resultados positivos (Foto: Getty Images)

Por: Aliria Aiara Duarte
Conselho Superior de Editoração (CSE)


Muito se fala da importância na produção de documentos, diagnósticos, resultados, tabelas e demais métricas na pesquisa acadêmica. No entanto, é importante lembrar sempre da pressão que uma pesquisa de dois a cinco anos — às vezes mais — pode acarretar na vida de pesquisadores.

É necessário que haja um olhar acolhedor também para quem faz a pesquisa, ou seja, o ser humano por trás do “produto”. A elaboração de um texto de 200 a 500 laudas, a nível de mestrado e doutorado, é uma árdua tarefa e exige muito do pesquisador. São anos de leituras, escritas e projetos que, por vezes, precisam ser remodelados e repensados. Assim, é fundamental que a saúde mental de quem faz pesquisa também seja um fator a ser levado em consideração.

No Brasil, por exemplo, a ideia de que a pesquisa seja um tipo de trabalho e a bolsa de estudos, consequentemente, seja o pagamento para isso ainda é um pensamento muito embrionário. Pensa-se, comumente, que a bolsa de estudos é um bônus para aqueles que fazem pesquisa, não um pagamento pelo seu tempo de trabalho e de produção, o que desvaloriza a importância de quem produz pesquisa e do que se pesquisa.

É importante lembrar que as pesquisas desenvolvem formas novas de tratamento, tecnologias, formas de pensar e avanços que servirão no desenvolvimento de toda a sociedade. Por isso, é primordial que seja tratada enquanto um trabalho, assim como tantos outros.

Desse modo, há o questionamento de quais medidas as entidades de pesquisa e o Estado podem desenvolver para o suporte de quem faz pesquisa, como:

  • Oferecimento de bolsas de estudo para todas as vagas oferecidas no mestrado e doutorado;
  • Oferecimento de mais oportunidades de vivências internacionais, com fomento de bolsas de estudo;
  • Um movimento educacional no país para que esses pesquisadores sejam vistos como trabalhadores, assim como um olhar para a pesquisa com a seriedade que ela demanda;
  • Políticas pensadas especialmente para mães, gestantes e mães solos, como tempo maior de conclusão da pesquisa, prioridade em bolsas de estudo, auxílio-maternidade etc;
  • Incentivo de pesquisas que abordam debates sobre minoria, pois a academia deve ser um espaço capaz de promover a equidade entre todos e todas.


Se um pesquisador lida com problemas de saúde mental, o desenvolvimento de seu estudo também pode ser negativamente afetado (Foto: Getty Images)

De acordo com um estudo em psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), acredita-se que a graduação tenha ficado mais estressante e competitiva, além das pessoas terem dificuldades para financiá-la. Por essa razão, muitos alunos são obrigados a conjugar o trabalho com o estudo.

A pesquisa ainda aponta que tanto o estresse quanto a depressão influenciam na produção e desempenho acadêmico desses estudantes, pois debilitam a capacidade de raciocínio, memorização, motivação e interesse do jovem com relação ao processo ensino-aprendizagem.

Esse cenário da saúde mental não se restringe apenas à graduação, estendendo-se ainda aos pesquisadores acadêmicos, especialmente de mestrado e doutorado. Mas, então, quais fatores podem auxiliar na manutenção da saúde mental de quem faz pesquisa?

  • Tentar desenvolver uma relação saudável com o(a) orientador(a), com respeito do tempo pessoal de ambos e um bom tratamento interpessoal. É sempre bom impor limites sobre quando você estará disponível, bem como qual o tempo disponível do(a) orientador(a).
  • Tentar manter uma frequência de atividades físicas, pois um corpo saudável é fundamental também para a saúde mental;
  • Em dias ou períodos de muita tensão, deixe um pouco a pesquisa de lado. O distanciamento por um curto período de tempo auxilia uma análise mais leve sobre o que se está produzindo;
  • Tente lembrar que a pesquisa não é o que compõe essencialmente sua identidade, mas uma parte dela. Para além do pesquisador, há também espaço para suas vivências, relações, gostos pessoais etc; 
  • Tente descansar sempre que possível;
  • Lembre-se: você é maior que sua pesquisa!

Por fim, vale lembrar que a pesquisa acadêmica é um importante recurso de evolução da sociedade, além de ser uma importante ferramenta na autorrealização pessoal de pesquisadores.

Pesquisar nos permite avanços em diversas áreas da sociedade e da vida humana como um todo. Sabermos como organizar esse processo é fundamental, e pensarmos o descanso como parte da pesquisa é um meio revolucionário de fazer pesquisa. 

 

A coluna CSE Informa é um espaço quinzenal de divulgação do Conselho Superior de Editoração (CSE) da Universidade de Fortaleza no jornal Unifor Notícias Mobile.