Entrevista Nota 10: João Marcelo Carneiro e os avanços da Indústria 4.0

ter, 3 novembro 2020 15:08

Entrevista Nota 10: João Marcelo Carneiro e os avanços da Indústria 4.0

Professor do curso de Engenharia de Produção da Universidade de Fortaleza ressalta as potencialidades da inovação e da tecnologia para a indústria


Professor do curso de Engenharia de Produção da Unifor, João Marcelo Carneiro é também especialista em Regulação de Transportes Terrestres (UFRJ) (Foto: Arquivo pessoal)
Professor do curso de Engenharia de Produção da Unifor, João Marcelo Carneiro é também especialista em Regulação de Transportes Terrestres (UFRJ) (Foto: Arquivo pessoal)

Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Big Data e muito mais. Quando se trata da produção de bens de consumo pela indústria com o que há de mais moderno e sustentável, esses são alguns dos termos que vêm à mente. 

De acordo com João Marcelo Carneiro, professor do curso de Engenharia de Produção da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, e especialista em Regulação na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), essa “relação afinada” entre o homem e a máquina caracteriza o advento da Indústria 4.0. 

Engenheiro de produção mecânica de formação e Mestre em Transportes (UnB), ele fala com exclusividade ao Entrevista Nota 10 sobre as potencialidades dessa nova realidade e destaca o papel do profissional de engenharia de produção para a efetividade dos processos produtivos. Confira a seguir:

Entrevista Nota 10 - O que vem a ser a Indústria 4.0?

João Marcelo Carneiro - A Indústria 4.0 é considerada como a 4ª Revolução Industrial, onde nota-se um avanço significativo na relação entre homem e máquina. Em razão de sua forte relação com atributos como conectividade, inteligência artificial, data science, big data, IoT, machine learning e tantos outros, a Indústria 4.0 efetiva um fenômeno amplo dentro das organizações, transformando a maneira como máquinas se comunicam e utilizam as informações para otimizar o processo de produção, tornando-o mais econômico, ágil e autônomo.

Entrevista Nota 10 - Quais setores estão mais avançados? Quais ainda precisam evoluir?

João Marcelo Carneiro - Segundo dados de 2018, apresentados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), menos de 2% das organizações do país estão verdadeiramente inseridas nesse conceito. Diante desses números, fica claro que, no Brasil, ainda há muito a se amadurecer nas empresas quando o assunto é a aderência ao conceito da Indústria 4.0. Para o futuro, no entanto, espera-se que essa tendência ganhe força, alinhando-se ao cenário de países em que a indústria está mais associada à tecnologia e à inovação.

Entrevista Nota 10 - Como o profissional de engenharia de produção se enquadra nesse contexto? Ele vai atuar especificamente em que?

João Marcelo Carneiro - Considerando que o engenheiro de produção é o profissional responsável por todos os processos produtivos de uma organização, desde a negociação para a compra de matérias-primas até a distribuição física dos produtos acabados, portanto, este profissional precisará estar atento às transformações tecnológicas e às tendências e inovações no mercado, sempre com o objetivo de reduzir custos e dar mais efetividade aos processos produtivos, considerando os aspectos sociais, econômicos e ambientais.

Entrevista Nota 10 - O currículo do curso de Engenharia de Produção da Unifor capacita e habilita para o mercado na era da indústria 4.0?

João Marcelo Carneiro - Sim. O nosso currículo contempla disciplinas como Administração, Empreendedorismo e Inovação, Otimização de Processos e diversas disciplinas na área de gestão, que tornam nosso egresso capaz atuar no mercado de trabalho das indústrias 4.0 com excelência.

Entrevista Nota 10 - Além de inovação e melhoria contínua, em que mais áreas o engenheiro de produção pode atuar?

João Marcelo Carneiro -  Conforme Associação Brasileira de Engenharia de Produção – ABEPRO, um engenheiro de produção está apto para atuar nas seguintes áreas:

1. Engenharia de Operações e Processos da Produção: projetos, operações e melhorias dos sistemas que criam e entregam os produtos (bens ou serviços) primários da empresa.

2. Logística: técnicas para o tratamento das principais questões envolvendo o transporte, a movimentação, o estoque e o armazenamento de insumos e produtos, visando a redução de custos, a garantia da disponibilidade do produto, bem como o atendimento dos níveis de exigências dos clientes.

3. Pesquisa Operacional: resolução de problemas reais envolvendo situações de tomada de decisão, através de modelos matemáticos habitualmente processados computacionalmente. Aplica conceitos e métodos de outras disciplinas científicas na concepção, no planejamento ou na operação de sistemas para atingir seus objetivos. Procura, assim, introduzir elementos de objetividade e racionalidade nos processos de tomada de decisão, sem descuidar dos elementos subjetivos e de enquadramento organizacional que caracterizam os problemas.

4. Engenharia da Qualidade: planejamento, projeto e controle de sistemas de gestão da qualidade que considerem o gerenciamento por processos, a abordagem factual para a tomada de decisão e a utilização de ferramentas da qualidade.

5. Engenharia do Produto: conjunto de ferramentas e processos de projeto, planejamento, organização, decisão e execução envolvidas nas atividades estratégicas e operacionais de desenvolvimento de novos produtos, compreendendo desde a concepção até o lançamento do produto e sua retirada do mercado com a participação das diversas áreas funcionais da empresa.

6. Engenharia Organizacional: conjunto de conhecimentos relacionados à gestão das organizações, englobando em seus tópicos o planejamento estratégico e operacional, as estratégias de produção, a gestão empreendedora, a propriedade intelectual, a avaliação de desempenho organizacional, os sistemas de informação e sua gestão e os arranjos produtivos.

7. Engenharia Econômica: formulação, estimação e avaliação de resultados econômicos para avaliar alternativas para a tomada de decisão, consistindo em um conjunto de técnicas matemáticas que simplificam a comparação econômica.

8. Engenharia do Trabalho: projeto, aperfeiçoamento, implantação e avaliação de tarefas, sistemas de trabalho, produtos, ambientes e sistemas para fazê-los compatíveis com as necessidades, habilidades e capacidades das pessoas visando a melhor qualidade e produtividade, preservando a saúde e integridade física. Seus conhecimentos são usados na compreensão das interações entre os humanos e outros elementos de um sistema. Pode-se também afirmar que esta área trata da tecnologia da interface máquina - ambiente - homem - organização.

9. Engenharia da Sustentabilidade: planejamento da utilização eficiente dos recursos naturais nos sistemas produtivos diversos, da destinação e tratamento dos resíduos e efluentes destes sistemas, bem como da implantação de sistema de gestão ambiental e responsabilidade social.

10. Educação em Engenharia de Produção: universo de inserção da educação superior em engenharia (graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão) e suas áreas afins, a partir de uma abordagem sistêmica englobando a gestão dos sistemas educacionais em todos os seus aspectos: a formação de pessoas (corpo docente e técnico administrativo); a organização didático-pedagógica, especialmente o projeto pedagógico de curso; as metodologias e os meios de ensino/aprendizagem. Pode-se considerar, pelas características encerradas nesta especialidade como uma "Engenharia Pedagógica", que busca consolidar estas questões, assim como, visa apresentar como resultados concretos das atividades desenvolvidas, alternativas viáveis de organização de cursos para o aprimoramento da atividade docente, campo em que o professor já se envolve intensamente sem encontrar estrutura adequada para o aprofundamento de suas reflexões e investigações.

Entrevista Nota 10 - Como os alunos, ao saírem para o mercado, podem explorar gaps ou potencialidades das indústrias localizadas no Ceará e demais estados do Nordeste?

João Marcelo Carneiro - Considerando que ainda é um mercado pouco explorado em nossa região, os egressos terão grande possibilidade de inclusão neste mercado, uma vez que eles já possuem a capacitação técnica adquirida na própria formação do engenheiro de produção.