sex, 25 junho 2021 10:51
Por trás das câmeras: As expectativas dos alunos de Cinema e Audiovisual para o mercado de trabalho
Com a popularização das plataformas de vídeo, a área está em crescimento e traz uma multiplicidade de olhares e oportunidades.
O curso de Cinema e Audiovisual é relativamente novo no Brasil. Até os anos 2000, o país contava com poucas universidades e faculdades que ofertavam esse caminho, em especial para aqueles que não moravam nas capitais. São Paulo era a cidade que possuía mais oportunidades na área, mas, ainda assim, as opções eram restritas e as vagas limitadas.
Em 2001, a Agência Nacional do Cinema (ANCINE) foi criada, o que impulsionou o crescimento da produção cinematográfica brasileira. Nos últimos anos, o Brasil tem presenciado a criação de novos polos de produção audiovisual fora das grandes cidades, principalmente do eixo Rio-São Paulo, além de uma maior oferta de cursos técnicos e universitários voltados para a área.
Isso ajudou na formação de novos cineastas brasileiros e na propagação da “cultura do cinema” no país. A última década registrou uma pluralidade de olhares por trás das câmeras e uma maior preocupação com a diversidade de gênero e a inclusão racial, social e regional. A face do cinema brasileiro tem, ainda que aos poucos, mudado.
As produções nacionais têm ganhado cada vez mais espaço no coração do público consumidor, e o mercado cinematográfico brasileiro já alcança, com mais participação, o cinema internacional. Para trazer um panorama sobre o mercado de trabalho, o Unifor Notícias conversou com jovens cineastas do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, sobre suas expectativas ao ingressarem na instituição e as oportunidades que ainda esperam conquistar.
Transformando paixões
Egresso da Unifor, Sávio Fernandes iniciou a graduação em Cinema e Audiovisual no ano de 2015, quando o curso ainda era chamado de “Audiovisual e Novas Mídias”, e colou grau cinco anos depois. Ele conta que nunca tinha considerado a possibilidade de transformar sua paixão por cinema em uma profissão, e confessa que, de início, ainda estava tentando entender os conceitos por trás de uma Universidade e da área acadêmica.
Porém, para sua felicidade, a paixão pelas disciplinas do curso foi evidente logo nos primeiros semestres, não restando dúvidas de que ele havia se encontrado na área. “Foi incrível, como se todas as peças estivessem se encaixando”, declara Sávio. Além disso, o bacharel em Cinema e Audiovisual diz que, durante o seu período acadêmico, se interessava por todas as áreas que a profissão tinha a oferecer.
“Me apaixonava por fotografia, me apaixonava por pós-produção, edição, efeitos visuais, som, até. Então, chegou uma hora em que eu pensei ‘epa, vamos entender o que eu estou fazendo aqui’, e acabei me apaixonando por direção, que meio que une tudo isso”, explica. Como forma de colocar todas essas paixões em prática, Sávio estagiou, a partir de seu segundo semestre, na TV Unifor.
O egresso conta que foi “jogado de surpresa” no estágio, mas que a experiência foi essencial para que entendesse a importância de focar nas oportunidades profissionais durante a graduação e como poderiam, futuramente, abrir portas no mercado de trabalho. “[No estágio] me envolvi em pós-produção de vídeo, que é a área em que eu estou atuando agora, inclusive. Entendi o que era um programa de edição de vídeo, entendi o que era fluxo de trabalho e como era a hierarquia dentro desse fluxo”, explica.
Sávio Fernandes revela que, após se formar, passou um bom tempo estudando e se especializando na área de efeitos visuais. (Foto: Acervo pessoal)
Hoje, Sávio é especializado e trabalha com efeitos visuais em São Paulo. Ele explica que não abriu mão do desejo de atuar como diretor: “Não é uma questão de dar um passo atrás ou desistir da direção. Eu acho que é só o momento de me encontrar, realmente. Por enquanto, eu estou apaixonado por essa área [efeitos visuais] e não pretendo largar tão cedo”, reconhece.
Antes de se mudar para a capital paulista, o bacharel trabalhava em filmes de amigos e em projetos menores com pessoas que conheciam seu trabalho. Agora, depois de um ano difícil em decorrência da pandemia da Covid-19, o cineasta está se juntando ao time de uma produtora e alcançando projetos maiores na área de efeitos visuais.
“Hoje em dia eu estou super satisfeito com minha trajetória profissional e acadêmica, [e com] o caminho que estou seguindo. Não vou falar que é o caminho que eu cheguei ainda, mas o que eu estou seguindo. Mas, depois desse ano bem conturbado, eu estou vendo essa luz no fim do túnel”, afirma Sávio.
Uma profissão, diversos caminhos
Para a concludente Clara Gomes, a jornada acadêmica no curso de Cinema e Audiovisual foi animada. “Passei por muitas experiências, boas e ruins, mas que, independente disso, me trouxeram muitos aprendizados. Posso dizer que [a jornada] definitivamente não foi como eu esperava, porque eu não tinha ideia das possibilidades que a Universidade poderia me proporcionar, então fui surpreendida positivamente e aprendi muito”, afirma ela, que apresentou o Trabalho de Conclusão de Curso recentemente e está prestes a se tornar bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade de Fortaleza.
Clara conta que, além das oportunidades de experimentar e produzir projetos cinematográficos, ela também descobriu o lado acadêmico da graduação em cinema. A aluna participou, por dois anos, de grupos de pesquisa em documentário, ministrados pela professora Eliane Diógenes, e chegou a ser bolsista da pesquisa durante um ano. “Essa experiência foi completamente inesperada, pois não me via seguindo o caminho acadêmico, mas me fez ter interesse e curiosidade por esse lado da formação também”, confessa.
Durante o seu período na Universidade, a futura cineasta assegura que foi bem preparada para o mercado de trabalho, e afirma que a área de Cinema e Audiovisual vem crescendo e mudando cada vez mais. Ela compartilha uma frase dita pela professora Raquel Gondim, e diz que esse aprendizado a ajudou a compreender o mercado durante a graduação: “talvez a nossa profissão não tenha sido nem criada ainda”.
Ao longo de sua trajetória acadêmica, Clara Gomes desenvolveu interesse pela área acadêmica do Cinema. (Foto: Acervo pessoal)
“Pode parecer desesperador para alguns, mas o que isso quer dizer é que são tantas as possibilidades criativas e expansivas na área do Cinema e do Audiovisual, que muitos caminhos podem ser trilhados e criados durante nossa inserção no mercado de trabalho”, explica. A aluna ainda afirma que sentiu firmeza e esclarecimento de seus professores em instruir os alunos sobre as possibilidades de carreiras que poderiam seguir.
Clara conta que sua expectativa ao ingressar no curso de Cinema e Audiovisual era conseguir estudar arte e expandir seus conhecimentos na área. Ao longo de sua trajetória acadêmica, a discente entendeu que o campo cinematográfico e audiovisual é diversificado, e as possibilidades, variadas: “seja fazer um curta metragem, um longa de ficção, um documentário, um roteiro de série, uma obra de cinema expandido, produzir uma animação, uma fotomontagem, um videoclipe ou ser pesquisadora e seguir o caminho acadêmico”.
Há mais de um ano, a aluna está envolvida na produção do projeto “Do Tanto de Telha no Mundo”, um curta-metragem de ficção desenvolvido juntamente a outros colegas do curso, no qual exerce funções no campo de Direção de Arte, uma das áreas que deseja seguir após se graduar. Em paralelo ao filme, Clara e seus parceiros de projeto criaram, durante a pandemia, o “Cine Telhinha”, um clube de cinema no qual assistem filmes nacionais e realizam debates com convidados que participaram da produção dos filmes. O Cine Telhinha é um projeto beneficente que tem como objetivo arrecadar fundos para associações que atuam no combate à fome.
O clube acontece todas as sextas-feiras, às 18h, no canal do projeto na TwitchTV, plataforma de streaming de vídeo ao vivo, e as doações podem ser feitas ao longo da live. Para mais informações, o instagram do projeto é @telhinha_.
A união faz a força
Aos alunos que estão ingressando no curso de Cinema e Audiovisual, ou àqueles que têm interesse na área, Sávio Fernandes traz recomendações valiosas que o ajudaram durante sua jornada acadêmica:
“Não existe um ‘guia’ exato, porque cada um meio que traça sua própria trajetória. Então, acho que o que eu poderia falar seria experimentar de tudo, ser aberto às possibilidades, e uma hora você vai se encontrar em alguma. Espero que você se encontre. Ou então, se não se encontrar, tem diversos outros leques de possibilidades, e a Universidade está aí para isso, para te apresentar essas possibilidades e dar esse conhecimento para você seguir num mercado de trabalho e ser feliz” , aconselha.
Clara, ao ser questionada sobre conselhos para ingressantes, faz uma reflexão sobre sobre a resiliência e o ‘querer’: “resiliência porque mesmo com a preparação e as oportunidades que o curso proporciona, o mercado não deixa de ser duro. O ‘querer’, falo no sentido de saber trabalhar pelo que se quer. Sabendo querer, podemos nos preparar melhor e criarmos melhores oportunidades para nós mesmos”, afirma.
A futura bacharel completa o seu conselho com uma ideia de união: “então para os novatos, desejo resiliência e querer, que se apoiem uns nos outros, façam trocas, acreditem em si mesmos, nos seus amigos profissionais e nos professores. É junto que se faz cinema”.