Entrevista Nota 10 | Marcelo Kimura e a inteligência artificial em sinergia com a formação em design

seg, 17 novembro 2025 18:55

Entrevista Nota 10 | Marcelo Kimura e a inteligência artificial em sinergia com a formação em design

Especialista em identidade visual aborda como a IA potencializa a criatividade humana e redefine a área do design, além de compartilhar suas impressões sobre o campus da Unifor


Além de designer gráfico especialista em identidade visual, Marcelo Kimura é educador, criador de conteúdo e fundador do Estúdio Kimura (Foto: Acervo Pessoal)
Além de designer gráfico especialista em identidade visual, Marcelo Kimura é educador, criador de conteúdo e fundador do Estúdio Kimura (Foto: Acervo Pessoal)

A inteligência artificial (IA) ganha força a cada dia e está ainda mais presente na vida dos brasileiros. Segundo a pesquisa "Consumo e uso de inteligência artificial no Brasil", publicada em agosto e realizada por Observatório Fundação Itaú e Datafolha, 93% dos entrevistados utilizam alguma ferramenta que aplica a tecnologia, porém 46% não compreendem o seu significado. Diante de um uso massivo, o recurso impacta diretamente diversas áreas, como por exemplo, o design. E o ponto de partida é: entender como a IA funciona.

O designer gráfico Marcelo Kimura é referência no Brasil quando o assunto combina IA e design. Ele reforça a necessidade de primeiro entender como o recurso é criado e treinado e, depois, conhecer a estrutura de um prompt. A última etapa do processo consiste em desenvolver habilidade de escrita e descrição.

No início deste mês, o profissional esteve na Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, para ministrar o masterclass de abertura da Semana do Des[AI]ne, sobre o tema "IA e criatividade em design". Na ocasião, falou sobre a capacidade da IA de potencializar o olhar humano e expandir as fronteiras da criação.

Além de designer gráfico especialista em identidade visual, Marcelo Kimura é educador, criador de conteúdo e fundador Estúdio Kimura — voltado para a identidade visual estratégica. Desde 2016, compartilha conhecimento com mais de 400 mil seguidores nas redes sociais. No segmento educacional, criou os cursos ID Class, Forma e Nexus e já formou mais de 17 mil alunos. Sua trajetória de sucesso conta ainda com os prêmios A’Design Awards (2018) e Brasil Design Award (2019).

Na Entrevista Nota 10 desta semana, Marcelo Kimura detalha a IA aplicada ao design e como a ferramenta transforma a prática profissional e a formação acadêmica, além de compartilhar suas impressões sobre o curso de Design e o campus da Unifor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — O que é necessário para dominar o uso da IA e desenvolver prompts realmente eficientes, capazes de orientar a ferramenta com precisão e gerar resultados de qualidade?

Marcelo Kimura — O primeiro passo é entender como as IAs são criadas e treinadas. Depois, conhecer a estrutura de um prompt, porque existem formas mais eficientes de fazer a máquina entender.

Por último, é importante desenvolver habilidades de escrita e descrição. Se a pessoa quer criar uma imagem, um logo ou qualquer peça com IA, ela precisa ter a ideia clara na cabeça e saber descrever aquilo. Parece simples, mas muita gente tem dificuldade em escrever sobre o que pensa ou sente. Essa é uma das habilidades mais importantes hoje.

Entrevista Nota 10 — Você começou sua carreira como designer nos anos 2000. Desde então, o mundo passa por diversas transformações e, a partir de 2022, a IA se popularizou. Como a ferramenta tem influenciado o seu trabalho e o campo do design?

Marcelo Kimura —A IA tem facilitado muito alguns processos mais burocráticos. Revisar um contrato, gravar uma reunião — coisas que antes demoravam bastante — hoje são muito mais rápidas. Com a ferramenta assumindo essa parte mais operacional, eu passo a ter mais tempo para me dedicar à parte criativa ou até mesmo para ter um tempo livre.

Além disso, posso ser mais produtivo e fazer mais coisas. Acho que esse é o grande impacto da IA: ela não é mágica, mas aumenta muito nossa produtividade e se torna mais uma ferramenta para aguçar a imaginação. Ela materializa ideias que antes eram difíceis, demoradas e caras para produzir. Hoje temos um poder que antes não tínhamos, porque a ferramenta é mais democrática do que outras que existiam.

Entrevista Nota 10 — De que perspectiva você analisa o impacto da IA na formação acadêmica e no mercado do design?

Marcelo Kimura — Hoje não dá para o designer desconsiderar o aprendizado sobre a IA. Na verdade, qualquer profissão. Mas para o designer, isso pesa ainda mais.

Existe um impacto negativo: a percepção de valor, que já não era tão alta, tende a cair. Antes, muitos já achavam que era o software que fazia o trabalho; agora, com IA, essa impressão aumenta. O designer muitas vezes não tinha o crédito que merecia, e isso se intensifica.

Por outro lado, há um ponto positivo: muitos clientes rejeitam a ideia de usar tecnologia para criar tudo. O designer ainda domina as técnicas necessárias, com ou sem IA. No fundo, o designer continua sendo designer — só ganhou uma ferramenta a mais, que tem seus lados ruins, mas traz muito mais benefícios.

Entrevista Nota 10 —  Na sua visão, quais são os três pilares fundamentais do design?

Marcelo Kimura — Eu diria que o primeiro é a funcionalidade. É melhor ter um projeto não tão bonito, mas funcional, que as pessoas gostam de usar. Depois vem a estética, o visual. E o terceiro pilar, para mim, é o acesso. O design precisa ser acessível. Quanto mais pessoas conseguem usar e se incluir naquele projeto, melhor.

Entrevista Nota 10 — Você reúne mais de 400 mil seguidores nas redes sociais. Como lida com a responsabilidade de influenciar tantas pessoas?

Marcelo Kimura —  É uma missão e um desafio diário. Nem tudo o que a gente pensa pode ser postado. Às vezes, uma opinião superficial vira regra para alguém, então precisamos dosar muito o que falamos.

É um aprendizado constante lidar com tantas pessoas ao mesmo tempo. Existe um equilíbrio entre reconhecer o nosso papel e o nosso valor, e ao mesmo tempo saber lidar com críticas, que podem ser duras, mas muitas vezes ajudam a gente a crescer. É um caminho de equilíbrio para manter o trabalho no ar.

Entrevista Nota 10 — Você esteve na Unifor pela primeira vez. Quais foram suas impressões sobre o campus e o curso de Design, que recentemente venceu o prêmio Don Norman Award?

Marcelo Kimura —  Fiquei impressionado com tudo. Primeiro, com Fortaleza, que é muito maior do que eu imaginava. Já tinha pesquisado e sabia que é uma das principais capitais do Brasil, mas ver ao vivo é impressionante.

Sobre o campus, achei sensacional, principalmente pelo lado artístico muito presente aqui. Para o desenvolvimento de um curso de Design, é o lugar certo. O evento que aconteceu (Semana do Des[AI]ne), por exemplo, mostra a preocupação dos coordenadores com o futuro dos alunos. Fiquei realmente vislumbrado, de forma muito positiva.


Esta notícia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, contribuindo para o alcance do ODS 4 – Educação de Qualidade.

Assim, a Universidade de Fortaleza reafirma seu compromisso de assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos.