ter, 9 setembro 2025 09:32
Agosto em alta: Ibovespa se recupera em meio a expectativas de corte de juros nos EUA

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.
Mercado de Capitais Internacional
Nos Estados Unidos, os indicadores recentes reforçaram o quadro de desaceleração da economia. Os novos pedidos de seguro-desemprego somaram 237 mil na semana encerrada em 30 de agosto, acima das expectativas de alguns analistas. A taxa de desemprego manteve-se em 4,2%, com 1,97 milhão de beneficiários contínuos, refletindo maior cautela das empresas.
A inflação medida pelo PCE avançou 0,2% em julho, mantendo a taxa anual em 2,6%, enquanto o núcleo acelerou para 2,9% em 12 meses. Os gastos do consumidor cresceram 0,5%, abaixo do esperado, mas ainda sustentaram parte do PIB, revisado para alta de 3,3% no segundo trimestre. O crescimento foi puxado pelo consumo das famílias, com avanço de 1,6%, e pelo investimento empresarial, que subiu 5,7%. Com esse quadro, os mercados elevaram para cerca de 90% a probabilidade de que o Federal Reserve inicie cortes de juros em setembro, em meio à combinação de inflação moderada e arrefecimento do mercado de trabalho.
Na Zona do Euro, o desemprego caiu para 6,2% em julho, repetindo a mínima histórica do bloco. A inflação anual permaneceu em 2%, enquanto o núcleo avançou 2,3%. Apesar da estabilidade nos preços, a produção industrial recuou 1,3% em junho, pressionada sobretudo pela Alemanha, e o PIB do segundo trimestre cresceu apenas 0,1%, sinalizando recuperação lenta.
Na China, o setor de serviços mostrou aceleração em julho, com o PMI subindo para 52,6, maior nível em 14 meses, impulsionado por aumento da demanda e do emprego. O PMI composto, porém, recuou para 50,8, indicando que a retomada segue desigual entre os setores.
Nos mercados globais, agosto foi positivo para ativos de risco: Nasdaq (+1,6%), S&P 500 (+1,9%), Nikkei 225 (+4,0%) e DAX (-0,7%). O índice de volatilidade VIX recuou 8,1%, refletindo menor aversão ao risco entre investidores.
Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Agosto/2025)
Índice/Ativo |
País/Mercado |
Variação (%) | ||
Mês |
Ano |
12 meses |
||
DJI |
EUA |
3,20 |
7,05 |
9,58 |
S&P 500 |
EUA |
1,91 |
9,84 |
14,37 |
Nasdaq |
EUA |
1,58 |
11,11 |
21,12 |
Dólar |
Forex |
3,20 |
-12,09 |
-3,20 |
Bitcoin |
Investing.com |
-6,51 |
15,70 |
83,50 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Mercado de Capitais Nacional
No Brasil, a inflação medida pelo IPCA avançou 0,26% em julho, puxada principalmente pela energia elétrica residencial, em razão da manutenção da bandeira tarifária vermelha. Em 12 meses, o índice acumulou alta de 5,23%, abaixo dos 5,35% registrados no período anterior. O grupo Alimentação e bebidas recuou 0,27%, com destaque para a queda de itens como batata-inglesa, cebola e arroz, enquanto a alimentação fora do domicílio subiu 0,87%. Já o INPC teve alta de 0,21% no mês, acumulando 3,30% no ano e 5,13% em 12 meses.
No campo fiscal, a dívida pública bruta avançou para 77,6% do PIB em julho, acima das expectativas do mercado de 77%, enquanto a dívida líquida atingiu 63,7%. O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 66,6 bilhões, resultado de rombo de R$ 56,4 bilhões do governo central, R$ 8,1 bilhões de Estados e municípios e R$ 2,1 bilhões das estatais. Os números reforçam o quadro de pressão sobre as contas públicas, com aumento do endividamento e resultados piores que o projetado.
Nos mercados, o dólar subiu 3,2% no mês de agosto, acompanhando o movimento global de valorização da moeda americana recente, muito em decorrência da expectativa de redução dos juros americanos, enquanto o Ibovespa avançou 6,3% no mês, recuperando-se da queda de 4,2% no mês de julho.
Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Agosto/2025)
Índice |
Variação (%) |
||
Mês | Ano | 12 meses | |
IBOV |
6,28 |
18,00 |
4,00 |
IFIX |
1,16 |
11,55 |
2,44 |
IEE |
7,60 |
34,28 |
11,96 |
SMLL |
5,86 |
25,33 |
4,03 |
ISE |
7,41 |
25,14 |
4,59 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Agosto/2025)
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
Raia Drogasil |
RADL3 |
30,29% |
R$ 17,55 |
MRV |
MRVE3 |
27,56% |
R$ 7,59 |
Hapvida |
HAPV3 |
26,13% |
R$ 41,71 |
Eletrobras |
ELET3 |
24,00% |
R$ 45,02 |
Minerva |
BEEF3 |
22,06% |
R$ 6,03 |
Fonte: Infomoney.com
Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Agosto/2025)
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
Raízen S.A. |
RAIZ4 |
-17,61% |
R$ 1,17 |
Rumo S.A. |
RAIL3 |
-12,03% |
R$ 14,55 |
PetroRio |
PRIO3 |
-10,24% |
R$ 37,87 |
CVC Brasil |
CVCB3 |
-9,75% |
R$ 2,13 |
Embraer |
EMBR3 |
-5,53% |
R$ 76,20 |
Fonte: Infomoney.com
Ação estudada do mês: Banco do Nordeste (BNBR3)
a) Análise fundamentalista
Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas
Indicador |
Resultado |
Índice P/L |
3,52 |
Índice P/VP |
0,64 |
DY - Dividend Yield |
6,19% |
Fonte: Status Invest
Posição: 02/09/2025
A análise fundamentalista tem como finalidade estimar o valor real de uma empresa, a partir da avaliação de seus indicadores financeiros, operacionais e estratégicos. Essa abordagem ajuda a identificar se uma ação está negociada a preços inferiores ou superiores ao que de fato vale, servindo de guia para decisões de investimento.
O P/L (Preço/Lucro) de 3,52 revela que o mercado está disposto a pagar cerca de 3,5 vezes o lucro por ação. Para o setor bancário, trata-se de um múltiplo reduzido, o que pode sinalizar desconto relevante e margem de valorização caso os lucros se mantenham consistentes nos próximos períodos.
Já o P/VP (Preço/Valor Patrimonial) de 0,64 indica que o ativo é negociado abaixo do valor contábil por ação. Embora esse nível sugira certa cautela do mercado e percepção de risco, também representa espaço para uma reprecificação positiva à medida que o banco continue a apresentar resultados sólidos.
O Dividend Yield de 6,19% em 12 meses reforça o atrativo da ação em termos de remuneração ao investidor, sustentado pelo pagamento regular de dividendos. É importante frisar, entretanto, que esse retorno pode variar conforme a performance financeira e a política de distribuição adotada pela instituição.
O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) é uma instituição financeira pública federal criada em 1952, com sede em Fortaleza (CE) e atuação em toda a região Nordeste, além do norte de Minas Gerais e do Espírito Santo. Seu papel é estratégico na implementação de políticas públicas de desenvolvimento regional, especialmente por meio da administração do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), voltado para o apoio a atividades produtivas de micro, pequenas, médias e grandes empresas.
O banco tem forte presença em microfinanças e crédito de longo prazo, destacando-se como um dos principais agentes de inclusão financeira do país. Sua atuação vai além do crédito, pois busca fomentar a inovação, a infraestrutura, a agricultura sustentável, a transição energética e a redução das desigualdades socioeconômicas, em alinhamento com políticas governamentais e compromissos internacionais de desenvolvimento sustentável.
b) Análise técnica
Gráfico 1 – Gráfico mensal Banco do Nordeste (BNBR3)
Posição: 02.09.2025
No gráfico mensal de BNBR3, observa-se que, após um período expressivo de valorização até o topo em torno de R$120,49, a ação passou a trabalhar em uma zona de correção mais ampla, respeitando uma linha de tendência de alta (LTA) que vem desde 2019. Esse suporte dinâmico tem atuado como guia de preços, preservando a estrutura de longo prazo positiva, mesmo diante de correções recentes.
Atualmente, o papel encontra-se próximo da região de R$96,50, mostrando certa estabilidade após testar a LTA. A resistência mais relevante segue posicionada no topo histórico em R$120,49, faixa que funcionará como principal barreira técnica para a retomada de um movimento de expansão mais expressivo.
O Índice de Força Relativa (IFR) se mantém abaixo da região neutra (50 pontos), refletindo enfraquecimento da pressão compradora, ainda que sem sinal claro de sobrevendido. Esse comportamento sugere um mercado em compasso de espera, onde a retomada de força dependerá da capacidade de manutenção da LTA e de maior entrada de volume comprador.
O MACD apresenta histograma levemente negativo e sem grande amplitude, indicando ausência de momentum predominante e reforçando a leitura de um movimento lateralizado no curto prazo.
Em resumo, BNBR3 preserva tendência de alta de longo prazo enquanto sustentar a LTA, mas carece de volume e força compradora para buscar novamente a região de resistência histórica. A perda da LTA, por outro lado, poderia abrir espaço para correções mais profundas em direção a suportes intermediários.
c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis
A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.
Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.
Para o ativo BNBR3, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 66 períodos e uma média móvel longa de 67 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 63,16%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 415,00, enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 104,55, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 8.809,99. Em média as operações tiveram um tempo de 11 dias no período entre 01/02/2021 e 01/07/2025, destacando-se como uma abordagem consistente dentro do horizonte temporal analisado.
Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia BNBR3
Exemplo de aplicação:
Em 27 de agosto de 2025, a média móvel curta de 66 períodos (linha branca) cruzou para cima da média móvel longa de 67 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.
Gráfico 3 – Gráfico diário BNBR3
Posição: 02.09.2025
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Equipe de elaboração
Professores
- Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
CNPI-P – n. 8409 - Prof. Allisson David de Oliveira Martins
Economista - Corecon-Ce n. 3221
CNPI – n. 9113 - Prof. Ricardo Aquino Coimbra
Economista - Corecon-Ce n. 2575
CNPI – n. 9579
Alunos
- Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
- José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
- José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
- Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas
- Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas