seg, 10 novembro 2025 17:23
Brasil em cena: desemprego baixo, inflação arrefece e bolsa de valores avança

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.
Mercado de Capitais Internacional
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) anunciou em sua reunião de 29 de outubro o segundo corte consecutivo na taxa de juros, reduzindo-a em 0,25 p.p. para a faixa de 3,75% a 4,00% ao ano. A decisão foi motivada pelo enfraquecimento do mercado de trabalho e pela inflação ao consumidor (CPI) ter vindo ligeiramente abaixo do esperado em setembro, embora o indicador em 12 meses tenha retornado a 3,0%. A paralisação parcial do governo (shutdown) impediu a divulgação do PIB do terceiro trimestre, mas as estimativas apontavam para uma desaceleração no crescimento. O Fed também sinalizou o fim do aperto quantitativo (QT) em dezembro, aliviando as condições de liquidez, apesar de o presidente Jerome Powell ter ressaltado que um novo corte em dezembro está "longe de ser uma certeza".
Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu (BCE) optou por manter suas principais taxas de juros inalteradas em 2,0% pela terceira reunião consecutiva, refletindo a avaliação de que a inflação está se mantendo próxima de sua meta de 2%. A taxa de desemprego permaneceu estável em 6,3% em setembro na Zona do Euro, enquanto a inflação preliminar de outubro apresentou uma ligeira desaceleração para 2,1% na comparação anual, embora as pressões subjacentes (serviços) ainda persistam. A presidente Christine Lagarde manteve a postura de cautela devido às incertezas geopolíticas e comerciais globais.
Na China, o PMI industrial oficial surpreendeu negativamente em outubro, caindo para 49,0, marcando o sétimo mês de contração e sinalizando fraqueza generalizada no setor, puxada pelo recuo nos novos pedidos de exportação. Em contraste, o PMI de serviços avançou marginalmente para 50,1, mantendo-se em território de expansão, mas o PMI composto (que une indústria e serviços) recuou para a marca de 50,0, indicando desaceleração da atividade econômica geral.
Nos mercados globais, outubro foi de forte desempenho positivo para as bolsas, impulsionado sobretudo pela mudança de sentimento do Fed, que se mostrou mais dovish. O Nasdaq (+4,7%) e o S&P 500 (+2,3%) registraram ganhos robustos, enquanto o índice japonês Nikkei 225 (+14,2%) teve um crescimento expressivo e o alemão DAX (+1,0%) também avançou. O índice de volatilidade VIX (+3,9%) subiu, refletindo ainda as incertezas em meio à alta dos mercados.
Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Outubro/2025)
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Índice/Ativo |
País/Mercado |
Variação (%) | ||
|
Mês |
Ano |
12 meses |
||
|
DJI |
EUA |
2,51 |
11,80 |
13,89 |
|
S&P 500 |
EUA |
2,27 |
16,30 |
19,89 |
|
Nasdaq |
EUA |
4,70 |
22,86 |
31,11 |
|
Dólar |
Forex |
0,96 |
-13,00 |
-7,12 |
|
Bitcoin |
Investing.com |
-3,90 |
17,20 |
55,90 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Mercado de Capitais Nacional
A resiliência do mercado de trabalho brasileiro continuou a ser o principal suporte para a economia nacional. A taxa de desemprego, medida pela PNAD Contínua do IBGE, manteve-se estável em 5,6% no trimestre encerrado em setembro de 2025, repetindo a mínima histórica da série iniciada em 2012. O resultado confirmou a sustentação da renda e do consumo das famílias, com o contingente de pessoas desocupadas no patamar mais baixo já registrado, apesar do cenário de juros ainda elevados.
No campo da política monetária, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15,00% ao ano em sua última decisão, reforçando a necessidade de sustentar uma política monetária estritamente contracionista. O Banco Central segue focado em garantir a convergência da inflação à meta, em um contexto de incerteza externa e de pressões inflacionárias que, apesar da desaceleração mensal, persistem em patamar elevado. As projeções de mercado (Relatório Focus) indicam a manutenção da Selic neste nível até o final de 2025.
Já a inflação apresentou sinais de descompressão. A prévia da inflação brasileira, medida pelo IPCA-15, registrou uma forte desaceleração em outubro, com alta de apenas 0,18%, ficando 0,30 p.p. abaixo do resultado de setembro (0,48%). No acumulado de 12 meses, o índice recuou para 4,94%. A queda nos preços do grupo Alimentação e Bebidas (quinto mês consecutivo de recuo) foi o principal fator atenuante, embora o grupo Transportes tenha apresentado pressão de alta, puxada por combustíveis e passagens aéreas.
Nos mercados, outubro registrou a continuidade do movimento de valorização. O Ibovespa (+2,3%) avançou, alinhado com o sentimento otimista nas bolsas globais, e o Dólar (+0,9%) registrou leve alta frente ao Real.
Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Outubro/2025)
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Índice |
Variação (%) |
||
| Mês | Ano | 12 meses | |
|
IBOV |
2,26 |
24,32 |
15,00 |
|
IFIX |
0,12 |
15,32 |
12,13 |
|
IEE |
3,15 |
44,69 |
29,60 |
|
SMLL |
0,43 |
27,85 |
12,56 |
|
ISE |
0,87 |
28,87 |
13,42 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Outubro/2025)
|
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
|
Usiminas |
USIM5 |
29,16% |
R$ 5,67 |
|
Wege S.A. |
WEGE3 |
17,63% |
R$ 42,10 |
|
CSN |
CSNA3 |
14,98% |
R$ 9,44 |
|
Gerdau S.A. |
GOAU4 |
13,74% |
R$ 11,09 |
|
Cogna Educação |
COGN3 |
12,99% |
R$ 3,74 |
Fonte: Infomoney.com
Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Outubro/2025)
|
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
|
Brava Energia |
BRAV3 |
-18,32% |
R$ 14,76 |
|
Hapvida |
HAPV3 |
-11,84% |
R$ 31,28 |
|
Magazine Luiza |
MGLU3 |
-11,77% |
R$ 8,47 |
|
Pão de Açúcar |
PCAR3 |
-10,26% |
R$ 3,76 |
|
Fleury S.A. |
FLRY3 |
-8,83% |
R$ 14,55 |
Fonte: Infomoney.com
Ação estudada do mês: COELCE (COCE5)
a) Análise fundamentalista
Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas
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Indicador |
Resultado |
|
Índice P/L |
6,45 |
|
Índice P/VP |
0,48 |
|
EV/EBITIDA |
6,80 |
|
Dividend Yield D.Y |
- |
Fonte: Status Invest
Posição: 31.10.2025
A análise fundamentalista da COELCE (COCE5) mostra uma empresa que está consolidada no setor de distribuição de energia elétrica e que apresenta indicadores que podem chamar atenção para investidores com perfil de valor.
O P/L de 6,45 indica que a companhia gerou lucro no segundo trimestre, o que é positivo especialmente em um setor regulado e de ativos intensivos.
O P/VP de 0,48 revela que as ações estão sendo negociadas a aproximadamente 48% do valor patrimonial contábil, o que pode sinalizar que o mercado está atribuindo alguma margem de segurança ou refletindo risco, mas também pode configurar uma oportunidade para aqueles que acreditam na continuidade da geração de valor da empresa.
O EV/EBITDA de 4,44 reforça a percepção de que a empresa está sendo negociada com desconto em relação à sua geração operacional, mesmo considerando os desafios regulatórios e de investimento característicos do setor de distribuição de energia.
O Dividend Yield de 0%, a empresa não pagou dividendos no ano de 2025.
A COELCE atua de forma consolidada no estado do Ceará, com presença abrangente no segmento de distribuição de energia elétrica. Esse perfil confere à empresa escala regional, previsibilidade de demanda e exposição relativamente controlada ao risco de competitividade de novos entrantes.
b) Análise técnica
Gráfico 1 – Gráfico semanal COELCE (COCE5)
Posição: 31.10.2025Após um longo período de queda iniciado em meados de 2022, o ativo COCE5 encontrou um suporte relevante na região dos R$ 23,40 (linha vermelha), onde o fluxo vendedor perdeu intensidade. Esse ponto marcou o fim de um canal de baixa bem definido, evidenciado pelas linhas amarelas descendentes, que dominaram o comportamento do preço até o início de 2025.
A partir desse suporte, a ação iniciou um movimento de recuperação e lateralização, oscilando entre o suporte em R$ 23,40 e uma resistência importante em torno de R$ 29,00 (linha pontilhada amarela). Essa faixa tem funcionado como zona de congestão, com o preço consolidando ganhos após o rompimento do canal de baixa.
Atualmente, o papel é negociado próximo de R$ 29,00, mostrando estabilidade e leve perda de momentum comprador, após uma expressiva recuperação desde o fundo de 2024. A manutenção acima do suporte em R$ 23,40 é essencial para preservar a estrutura de reversão e evitar um retorno à tendência anterior de baixa. Por outro lado, um rompimento confirmado acima dos R$ 29,00-30,00 abriria espaço para uma nova perna de alta, com possível alvo na região de R$ 33,00 a R$ 35,00, onde há resistências anteriores de relevância técnica.
No campo dos indicadores, o IFR (Índice de Força Relativa) mostra leve enfraquecimento após atingir a faixa dos 60 pontos, sugerindo perda momentânea de força compradora, mas ainda sem sinal de sobrecompra. Já o histograma do MACD, embora tenha se reduzido, segue positivo, apontando que o viés comprador ainda se mantém, mesmo que com menor intensidade.
c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis
A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.
Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.
Para o ativo COCE5, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 54 períodos e uma média móvel longa de 58 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 56,67%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 252,32 enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 139,23, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 4.958,99 no período entre 01/10/2020 e 30/09/2025.
Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia COELCE (COCE5)
Exemplo de aplicação:
Em 31 de outubro de 2025, a média móvel curta de 54 períodos (linha branca) cruzou para baixo da média móvel longa de 58 períodos (linha azul), gerando um sinal de venda (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição venda deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.
Gráfico 3 – Gráfico diário COELCE (COCE5)
Posição: 31.10.2025Disclaimer
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Equipe de elaboração
Professores
- Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
CNPI-P – n. 8409 - Prof. Allisson David de Oliveira Martins
Economista - Corecon-Ce n. 3221
CNPI – n. 9113 - Prof. Ricardo Aquino Coimbra
Economista - Corecon-Ce n. 2575
CNPI-P – n. 9579
Alunos
- Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
- Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
- José Freitas Alves Neto – Mestrado em Ciência de Dados
- José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
- Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas
- Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas