Mercado em Alerta: Efeitos da Tarifa de 50% dos EUA nas Exportações do Brasil

qui, 7 agosto 2025 15:30

Mercado em Alerta: Efeitos da Tarifa de 50% dos EUA nas Exportações do Brasil

(Imagem: Getty Images)
(Imagem: Getty Images)

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.

Mercado de Capitais Internacional

Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho apresentou os primeiros sinais de deterioração: foram criadas apenas 73 mil vagas, enquanto a taxa de desemprego subiu para 4,2%. Revisões baixistas dos dados dos meses anteriores reforçaram a perda de dinamismo, com destaque negativo para a indústria e o setor público. O enfraquecimento é atribuído aos juros elevados e a medidas do governo, como tarifas comerciais e restrições migratórias.

A inflação, medida pelo PCE, acelerou para 2,6% em junho, acima da meta do Federal Reserve. O núcleo do índice também avançou, atingindo 2,8%, pressionado especialmente pelo segmento de serviços. Nesse contexto, o Fed manteve as taxas de juros entre 4,25% e 4,50% pela quinta vez consecutiva. O mercado projeta o início do ciclo de cortes em setembro, com uma nova redução prevista para dezembro. No entanto, a autoridade monetária adota postura cautelosa diante dos efeitos defasados das tarifas e do estímulo fiscal ainda em vigor.

Na Zona do Euro, o PIB cresceu 0,1% no segundo trimestre, superando a expectativa de estabilidade. Em 12 meses, a alta foi de 1,4%. A França (+0,3%) liderou o crescimento entre as grandes economias, enquanto Alemanha e Itália registraram recuo de 0,1%. A inflação permaneceu em 2% em julho, contrariando as expectativas de queda, enquanto o núcleo segue pressionado pelos serviços. O desemprego manteve-se estável em 6,2%, mínima histórica.

Na China, o PMI industrial da S&P Global recuou para 49,5 em julho, voltando à zona de contração. A queda recente nos pedidos de exportação e no emprego explica o resultado, apesar de leve melhora na confiança empresarial. A desaceleração industrial reflete as incertezas comerciais e o aumento dos custos.

Nos mercados globais, julho foi positivo para as ações: Nasdaq (+3,7%), S&P 500 (+2,2%), Nikkei (+1,4%) e DAX (+0,7%). O índice de volatilidade VIX recuou 0,1%, refletindo estabilidade no apetite por risco.

Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Julho/2025)

Índice/Ativo

País/Mercado

Variação (%)

Mês

Ano

12 meses

DJI

EUA

0,08

3,73

8,05

S&P 500

EUA

2,17

7,78

14,80

Nasdaq 

EUA

3,70

9,38

20,02

Dólar

Forex

3,10

-9,32

-0,85

Bitcoin

Investing.com

8,00

23,70

79,10

Fonte: Valor Data; Investing.com

Mercado de Capitais Nacional

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 5,8% no segundo trimestre, o menor nível desde o início da série histórica da PNAD Contínua, em 2012. Entre os principais destaques do mercado de trabalho, a população ocupada alcançou 102,3 milhões de pessoas, enquanto a formalização avançou para 39 milhões de trabalhadores com carteira assinada. A taxa de informalidade recuou para 37,8%. Também em sentido positivo, o rendimento médio real atingiu R$ 3.477, novo recorde, e o número de desocupados caiu para 6,3 milhões.

A inflação desacelerou em junho, com o IPCA registrando alta de 0,24%. Em 12 meses, o índice atingiu 5,35%, ainda acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central. Nesse contexto, o Copom manteve a taxa Selic em 15% ao ano, encerrando o ciclo de elevação dos juros, mas deu sinais de que a política monetária será restritiva por tempo suficientemente longo. O Brasil segue com a segunda maior taxa real de juros do mundo, atrás apenas da Turquia. Segundo levantamento da MoneYou, a taxa real brasileira é de 9,76%, considerando a inflação projetada de 4,53% para os próximos 12 meses.

No comércio internacional, os Estados Unidos anunciaram a imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, que entra em vigor em agosto, foi justificada pelo governo americano por questões de segurança nacional.

Nos mercados, que ficaram sob alerta máximo, sobretudo impactados pelo tarifaço norte americano, o Ibovespa recuou 4,2% em julho, que também está pressionado pelos juros elevados e pelas incertezas fiscais. O dólar teve alta de 3,1%, refletindo o ambiente de cautela global.

Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Julho/2025)

Índice

Variação (%)

Mês Ano 12 meses

IBOV

-4,20

10,80

5,30

IFIX

-1,36

10,27

2,13

IEE

-4,58

24,79

8,38

SMLL

-6,36

18,38

2,70

ISE

-7,19

16,51

3,21

Fonte: Valor Data; Investing.com


Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Julho/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Pão de Açúcar

PCAR3

14,29%

R$ 3,52

Brava Energia

BRAV3

13,45%

R$ 19,74

Fleury S.A

FLRY3

10,22%

R$ 14,35

CSN

CSNA3

7,80%

R$ 8,02

Usiminas

USIM5

6,31%

R$ 4,38

Fonte: Infomoney.com


Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Julho/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Magazine Luiza

MGLU3

-28,32%

R$ 7,06

Yduqs

YDUQ3

-21,53%

R$ 12,94

Natura

NATU3

-18,28%

R$ 9,03

Azzas

AZZA3

-17,02%

R$ 35,68

Smart Fit

SMFT3

-16,59%

R$ 20,72

Fonte: Infomoney.com

Ação estudada do mês: Aeris (AERI3)

a) Análise fundamentalista

Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas

Indicador

Resultado

Índice P/L

-0,27

Índice P/VP

2,43

DY - Dividend Yield

0,0%

Fonte: Status Invest
Posição: 02/08/2025

A análise fundamentalista tem como objetivo determinar o valor intrínseco de uma empresa, avaliando seus fundamentos financeiros, operacionais e estratégicos. Esse método busca identificar se uma ação está subvalorizada ou supervalorizada, auxiliando investidores em suas decisões.

No caso da Aeris (AERI3), os principais indicadores fundamentalistas e aspectos da empresa são:

O Índice Preço/Lucro (P/L), está atualmente em -0,27. Esse número negativo indica que a companhia registrou prejuízo nos últimos 12 meses, já que a relação entre preço da ação e lucro por ação se torna inválida em períodos de resultado negativo. Portanto, quando o P/L é negativo, ele deixa de ser uma referência útil para comparar a atratividade da ação, pois indica ausência de lucros e inviabiliza o conceito de pagar "X reais por cada 1 real de lucro".

O Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP), da Aeris encontra-se em 2,43, revelando que o mercado está disposto a pagar mais de duas vezes o valor contábil dos ativos líquidos da empresa para adquirir uma ação. Um P/VP acima de 1 normalmente indica que os investidores acreditam em potencial de geração futura de lucros ou crescimento.

O Dividend Yield (DY), da Aeris está em 0,00%, pois a empresa não efetuou pagamentos de dividendos nos últimos 12 meses. O último repasse de proventos aos acionistas foi em 13/04/2022. Isso reflete uma política de baixa remuneração ao investidor nesse período, consequência dos resultados negativos e da necessidade de priorizar o caixa.

A Aeris Energy é uma das principais fabricantes nacionais de pás eólicas, fornecendo para grandes players globais como Siemens e GE e atuando de forma relevante no segmento de energia renovável. Recentemente, a companhia enfrenta desafios consideráveis de rentabilidade, que decorrem tanto de fatores internos quanto externos ao setor.

O principal motivo da crise enfrentada pela Aeris é a queda acentuada da demanda por pás eólicas. Essa retração foi agravada pela estagnação em novos projetos nacionais, perda de contratos relevantes, dificuldades logísticas para escoamento da energia produzida e competição com fontes alternativas, como a solar, cuja atratividade aumentou nos últimos anos. Além disso, entraves estruturais do setor eólico, como a limitação das linhas de transmissão e a alta concorrência internacional, impactaram ainda mais a empresa.

b) Análise técnica

Gráfico 1 – Gráfico semanal AERI3


Posição: 02.08.2025

No gráfico semanal de AERI3, observa-se que, após um forte movimento de desvalorização entre 2022 e meados de 2023, o papel entrou em um claro padrão de lateralização, consolidando preços em uma faixa restrita. Atualmente, a ação oscila por um período prolongado em torno de um suporte relevante próximo a R$3,68 e encontra resistência marcada na faixa de R$17,36, nível este que representa uma antiga região de briga de preços e que agora atua como principal barreira técnica para movimentos de recuperação expressiva.

No cenário mais recente, o preço permanece pressionado na base dessa consolidação, com baixo volume e sem força compradora visível, o que sinaliza cautela para tentativas de repique mais consistente. O ativo segue longe das médias históricas e não demonstra aceleração em direção à resistência, mantendo o mercado em compasso de espera.

O Índice de Força Relativa (IFR) se move em patamar abaixo da região neutra (não ultrapassando 50 pontos), sugerindo que o papel ainda não atingiu regiões de sobrevenda acentuada, porém permanece enfraquecido e sem indicação clara de reversão. Esse equilíbrio no IFR reforça o caráter indefinido do momento.

Já o MACD apresenta barras histograma levemente negativas, mas sem grandes amplitudes, o que reforça a leitura de ausência de momentum predominante -- compradora ou vendedora --, denotando mercado lateral e hesitante quanto ao próximo movimento direcional relevante.

c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis 

A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.

Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.

Para o ativo AERI3, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 26 períodos e uma média móvel longa de 29 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 50,0%, gerando um lucro médio de R$ 305,58 por operação, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 907,43, enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 306,48, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 18.335,00 no período entre 01/04/2021 e 01/05/2025, destacando-se como uma abordagem consistente dentro do horizonte temporal analisado.

Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia AERI3

Exemplo de aplicação:

Em 09 de julho de 2025, a média móvel curta de 26 períodos (linha branca) cruzou para cima da média móvel longa de 29 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.

Gráfico 3 – Gráfico diário AERI3


Posição: 02.08.2025

Disclaimer 

O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A Universidade de Fortaleza - Unifor não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado.

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  • Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros. 
  • As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente. 
  • A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos.

Equipe de elaboração

Professores

  • Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
    Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
    CNPI-P – n. 8409
  • Prof. Allisson David de Oliveira Martins
    Economista - Corecon-Ce n. 3221
    CNPI – n. 9113
  • Prof. Ricardo Aquino Coimbra
    Economista - Corecon-Ce n. 2575
    CNPI – n. 9579

Alunos

  • Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
  • Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
  • José Freitas Alves Neto - Mestrado em Ciência de Dados
  • José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
  • Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas 
  • Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas