seg, 3 novembro 2025 19:02

Pesquisa Unifor: aplicativo facilita coleta de resíduos recicláveis e incentiva a sustentabilidade urbana

Coordenado por Raimir Holanda, projeto visa desenvolver um modelo eficiente de coleta de resíduos recicláveis para grandes centros urbanos, utilizando a tecnologia de Internet das Coisas (IoT)

Conhecida como coleta seletiva, a coleta de resíduos recicláveis é a primeira etapa da reciclagem. O processo exige a separação prévia dos resíduos na origem, seja em residências ou empresas, para facilitar seu tratamento e destinação correta. No Brasil, a quantidade de lixo coletada chega a 80,7%, enquanto os outros 10,2% são queimados ou enterrados por quem produziu o descarte.

Pensando nesse cenário, a Universidade de Fortaleza (Unifor), vinculada a Fundação Edson Queiroz, estimula estudos que buscam ajudar na coleta de materiais recicláveis e trazem mais qualidade para o meio ambiente. Desenvolvida no grupo de pesquisa Synapse Lab, o trabalho “GRSU - Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos em Ambiente Urbano baseado em loT” é um desses exemplos.

Segundo Raimir Holanda, professor do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA) da Unifor e que está à frente da pesquisa, o projeto visa desenvolver um modelo eficiente de coleta de resíduos recicláveis para grandes centros urbanos, utilizando a tecnologia de Internet das Coisas (IoT). 

O professor explica que IoT é a rede de objetos físicos que se conectam e trocam dados pela internet usando sensores, software e outras tecnologias. Isso permite que esses objetos, como eletrodomésticos, veículos ou equipamentos industriais, se tornem “inteligentes”, tornando os processos mais autônomos e eficientes. 

A partir desse ponto, Raimir conta que o trabalho propõe criar uma infraestrutura tecnológica com sensores e dispositivos instalados em contêineres de condomínios residenciais, propiciando que resíduos recicláveis sejam coletados por instituições dedicadas à geração de renda a partir deste material, o que promoveria a sustentabilidade socioambiental e financeira.

Além de Raimir, o trabalho contou com o auxílio de Wellington Brito, professor do Centro de Ciências Tecnológicas (CCT) da Unifor e doutorando do PPGIA.

Qual o impacto da pesquisa na sociedade?

Raimir pontua que o desenvolvimento do sistema de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (GRSU) baseado em Internet das Coisas (IoT) possui uma importância crucial para a sociedade, pois aborda diretamente questões de saúde pública, sustentabilidade, geração de renda e qualidade de vida nos grandes centros urbanos.

O sistema não foca apenas na tecnologia, mas também na mudança cultural e na interação com o cidadão. De acordo com o professor do PPGIA, o uso da tecnologia IoT visa otimizar processos, gerando benefícios financeiros e sociais como:

• Viabilidade Financeira e Emprego
  O sistema busca possibilitar um processo de manejo que seja viável do ponto de vista financeiro, além de ser social e ambientalmente sustentável, contribuindo para a geração de emprego e renda.
• Redução de Custos Logísticos
  A solução proposta muda a logística de coleta, que hoje é ineficiente e dispendiosa (porta a porta), para um sistema sob demanda (acionado quando o recipiente estiver cheio), resultando em um tempo de coleta com custos reduzidos.
• Benefícios para a População Vulnerável
  O controle de toda a cadeia do processo de GRSU possibilita a criação de modelos de negócios que trazem benefícios para a população mais vulnerável, como os catadores, e a estruturação de fábricas que utilizam estes resíduos como matéria-prima.
• Promoção da Cidadania
  O projeto visa a promoção da cidadania ao colocar o cidadão como um dos agentes responsáveis pela destinação correta dos seus resíduos. Isso é alcançado através de um processo de educação e mudança de cultura.

Para o professor, a destinação irregular de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) contribui para a disseminação de doenças. “O projeto busca solucionar problemas de saneamento básico que são a causa de doenças como dengue, leishmaniose, leptospirose e esquistossomose, além de cólera. Os ganhos do sistema refletem na melhoria da qualidade de vida, contribuindo para a criação de um ambiente urbano limpo e saudável”, afirma.

Ele ainda cita que o sistema visa mitigar o impacto socioambiental do lixo, combatendo a contaminação de solos, cursos d’água e lençóis freáticos causada pela disposição irregular de RSU ao longo dos anos. 

“O processo de manejo se tornará não somente social e ambientalmente sustentável, mas também viável do ponto de vista financeiro. O sistema proposto muda a logística de coleta, que hoje é ‘ineficiente e dispendiosa’ (porta a porta, em alguns dias da semana). Com o GRSU, o transporte de resíduos se dará sob demanda (acionado quando o recipiente estiver cheio), resultando em um tempo de coleta com custos reduzidos”, declara.

Como a pesquisa foi desenvolvida? 

Inicialmente, o projeto realizou uma prospecção das soluções de sistemas de gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) focada em mecanismos que permitam a identificação do tipo de resíduo. Foi necessário um estudo da literatura e a compreensão das características e especificidades da sistemática de produção, coleta e destinação do RSU. A partir disso, foram especificados o processador e os sensores mais adequados para possibilitar a identificação, quantificação e qualificação dos resíduos.

O professor Raimir Holanda esclarece que o projeto desenvolveu um sistema de sensores onde as informações dos resíduos sólidos pudessem ser coletadas dos contêineres em tempo real.

Os seguintes mecanismos e componentes foram empregados nos contêineres domésticos:

• Identificação e Quantificação
  Uso de sensores e dispositivos eletrônicos, e possivelmente imagens, para identificar o tipo de resíduo. A quantificação seria feita através da medição de volume e peso nos recipientes, utilizando sensor ultrassônico.
• Monitoramento Adicional
  Sensores de temperatura, umidade, abertura e fechamento também foram necessários.
• Equipamento Coletor
  Os recipientes foram dotados de equipamento eletrônico microprocessado (placa de desenvolvimento com processador ARM) que coletará as informações geradas pelos diversos sensores e dispositivos.
• Localização e Identificação
  O equipamento incluirá um Módulo GPS para rotular os dados coletados com a localização do dispositivo de origem.

Dessa forma, os dados coletados pelo equipamento microprocessado nos contêineres serão enviados por meio de módulos de comunicação para um sistema central de coleta e armazenamento destas informações.

Resultados 

A pesquisa, que teve o apoio da Universidade de Fortaleza por meio do Edital 50/2021 de apoio a equipes de pesquisa, desenvolveu um protótipo que é aplicado em baldes de lixo, além de já ter publicado os seguintes artigos:

• A Sustainable Recycling Ecosystem Scheme based on IoT to Promote Social Benefits
• Increasing Data Availability for Solid Waste Collection Using an IoT Platform based on LoRaWAN and Blockchain
• A Fault-Tolerant IoT Solution for Solid Waste Collection

Esta notícia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), contribuindo para o alcance do ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis.

A Universidade de Fortaleza, assim, assegura a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.