Usar fones de ouvido pode prejudicar a saúde auditiva? Saiba como prevenir danos

Volume moderado e exames regulares ajudam a manter a capacidade auditiva

Ouvir música, concentrar-se em uma tarefa ou até mesmo isolar-se do que acontece ao redor. São vários os motivos que justificam o uso de fones de ouvido, tornando esse dispositivo um aliado na rotina de muitas pessoas. No entanto, situações abusivas, como tempo de uso excessivo e em alto volume, podem ocasionar danos irreversíveis à audição.

Especialista na área de Audiologia, Joyce Coelho afirma que “quando o som é intenso (acima de 85 decibéis) e a exposição a ele é contínua por mais de oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais nas células”. Isso é o que determina a ocorrência da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR), explica ela.

A docente de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza — da Fundação Edson Queiroz — ressalta que a cada aumento de cinco decibéis (dB), a partir do limite de 85dB, o tempo máximo de exposição recomendado diminui pela metade. Ou seja, em uma exposição a 90dB, o limite seria de quatro horas contínuas diárias.

Portanto, quanto maior a intensidade sonora (volume), menor o tempo de exposição necessário para o início da perda auditiva.

Sinais de perda auditiva

Comportamento crescente na atualidade, o uso de fones de ouvido predomina entre a população mais nova, fato que torna essa faixa etária mais propensa à Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um bilhão de jovens estão sob risco de desenvolver PAIR devido à exposição prolongada e excessiva à música alta.




“Percebe-se a necessidade de mais orientações sobre a temática, como também a adoção de medidas de caráter preventivo para minimizar os prejuízos causados pelo mau uso de fones de ouvido na saúde auditiva”Joyce Coelho, professora do curso de Fonoaudiologia da Unifor e especialista em Audiologia

 


Entre os sintomas que sinalizam alterações auditivas, é possível destacar:

  • Dificuldade de compreensão da fala;
  • Sensação de pressão no ouvido;
  • Intolerância a sons intensos;
  • Zumbido no ouvido;
  • Dificuldades para escutar sons muito agudos;
  • Tonturas;
  • Irritabilidade, principalmente em locais com muito barulho;
  • Perda da audição temporária ou permanente.

Modelos de fones

Existem diferentes modelos de fones de ouvido, que se dividem em quatro categorias:

  • Auriculares
    Modelo mais simples dos quatro, eles são pequenos e leves. Geralmente acompanham celulares e equipamentos de áudio. Podem apresentar maior fragilidade.
     
  • Intra-auriculares
    Também são leves e pequenos. Acompanham borrachinhas que, por serem inseridas diretamente no canal auditivo, isolam melhor o som. Um ponto negativo é que podem causar irritação local e propiciar o aparecimento de infecções. Por isso é fundamental mantê-los limpos e higienizados, além de evitar o compartilhamento com outras pessoas.
     
  • Supra-aurais
    São maiores que os anteriores, possuem arco que fica sobre a cabeça e cobrem parcialmente a orelha.
     
  • Circumaurais
    Maiores dentre os modelos, eles cobrem toda orelha, isolando o som de forma mais eficiente que os demais. Possuem um arco para apoio na cabeça e costumam ser mais caros.

Para Joyce Coelho, os fones circumaurais são o tipo ideal em razão das conchas maiores cobrirem completamente a orelha e isolarem bem o ruído externo, o que evita o aumento do volume em locais barulhentos.

A professora, entretanto, faz um alerta: “Independentemente do tipo de fone utilizado, o que pode causar a perda auditiva é o volume do som ouvido por meio do fone, somado ao tempo excessivo de exposição”.

Uso adequado 

Em sua maioria, os fones de ouvido disponíveis no mercado atingem volumes superiores a 110dB, intensidade acima do limite mais seguro de 85dB, a partir do qual a audição começa a estar em risco.


“Para que a audição não seja prejudicada, o recomendado é limitar o volume dos fones, mantendo o som a um nível que chegue, no máximo, à metade da intensidade total de volume produzida pelo equipamento”Joyce Coelho, professora do curso de Fonoaudiologia da Unifor e especialista em Audiologia 


Joyce desencoraja o uso de fones por muitas horas seguidas. Também aponta a necessidade de fazer pausas regulares, permitindo que as células do ouvido descansem e se recuperem de possíveis efeitos negativos.

Ela observa ainda que locais barulhentos fazem com que as pessoas aumentem o volume de forma excessiva, a fim de compensar o burburinho. Assim, para quem não abre mão de ouvir músicas, podcasts e notícias mesmo em ambientes ruidosos, a especialista recomenda o uso de fones com tecnologia de redução de ruídos externos, recurso útil para amenizar a interferência.


Em lugares barulhentos, especialistas aconselham o uso de fones com tecnologia de redução de barulhos externos (Foto: Henry Be/Unsplah)

Precauções

Durante o uso dos fones é importante fazer algumas observações. “Você consegue ouvir conversas a sua volta? Caso não consiga, diminua o volume. Uma pessoa que está a um metro de você está ouvindo o seu som? Caso sim, é sinal de que ele está alto demais”, pontua a docente Joyce Coelho.

Para quem tem costume de usar o equipamento durante boa parte do dia, a especialista indica a realização de consultas regulares com profissionais da saúde (otorrinolaringologista e fonoaudiólogo). O ideal, segundo ela, é fazer uma audiometria — exame que detecta sinais de perda auditiva — pelo menos uma vez por ano. 


O exame de audiometria identifica a capacidade do paciente para ouvir e interpretar sons (Foto: Ares Soares)

Após identificar a capacidade do paciente para ouvir e interpretar sons por meio do exame, o profissional recomenda medidas preventivas ou tratamentos, conforme o caso específico. Tal cuidado contribui para que a pessoa descubra possíveis alterações precocemente e mantenha a capacidade auditiva por mais tempo.