12 por 8 agora é pré-hipertensão: entenda a nova diretriz que redefine os parâmetros da pressão arterial

seg, 10 novembro 2025 17:41

12 por 8 agora é pré-hipertensão: entenda a nova diretriz que redefine os parâmetros da pressão arterial

Mudança proposta pela Sociedade Brasileira de Cardiologia busca intensificar o rastreamento precoce de riscos cardiovasculares, mas também levanta debates sobre o impacto na saúde coletiva e na prática clínica


O propósito é fortalecer as ações de prevenção e adequar o Brasil às diretrizes internacionais (Foto: Getty Images)
O propósito é fortalecer as ações de prevenção e adequar o Brasil às diretrizes internacionais (Foto: Getty Images)

A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, publicada este ano, trouxe uma mudança significativa na forma como a pressão arterial é classificada no país. Segundo o documento, valores iguais ou acima de 12 por 8 (120x80 mmHg) passam a ser considerados indicativos de pré-hipertensão, uma alteração que vem despertando discussões entre profissionais de saúde e a população em geral.

De acordo com a médica cardiologista Isabela Takakura, doutora em Ciências da Saúde e docente do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, o objetivo da reclassificação é claro: intensificar o rastreio precoce de indivíduos sob risco e antecipar intervenções preventivas, com o intuito de diminuir a prevalência de doenças cardiovasculares.

Antes da atualização, apenas pressões acima de 13 por 8,5 (130x85 mmHg) acendiam o sinal de alerta. Agora, o novo intervalo considera o valor de 120-139 mmHg para a pressão sistólica e 80-90 mmHg para a diastólica como faixa de atenção.

Mas, afinal, o que significam esses termos? A pressão sistólica é o valor mais alto da medição e representa a força que o sangue exerce nas artérias quando o coração se contrai para bombeá-lo. Já a pressão diastólica é o valor mais baixo e indica a pressão nas artérias quando o coração está em repouso entre as batidas.

A nova classificação passa a ser apresentada da seguinte forma:

Classificação Pressão Sistólica / Diastólica (mmHg)


Observação

Normal Abaixo de 12 por 8 Considerada ideal e dentro dos limites saudáveis.
Pré-hipertensão

De 12 por 8 a 13,9 por 8,9

Indica tendência à elevação da pressão, exigindo atenção e adoção de hábitos saudáveis.
Hipertensão A partir de 14 por 9 (em duas medições) Configura pressão alta, necessitando avaliação médica e acompanhamento regular.
 

A mudança reflete uma preocupação crescente com as doenças crônicas não transmissíveis, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC), que seguem entre as principais causas de morte no Brasil. A nova diretriz, portanto, busca agir antes que o problema se instale, promovendo uma cultura de prevenção mais rigorosa e constante.

Consenso clínico e importância da individualização

Toda mudança de parâmetro clínico costuma gerar debates e, no caso da hipertensão, não é diferente. A professora Isabela Takakura destaca que, embora as diretrizes orientem as práticas médicas, é essencial olhar para cada paciente de maneira individualizada: “As diretrizes norteiam nossas atuações, mas é importante olharmos para cada paciente especificamente, com suas particularidades”.

Ela explica que estudos recentes comprovam a importância de um controle mais rigoroso da pressão arterial, mas reforça que a análise isolada dos números pode ser um erro: “Não é apenas olhar o número na aferição, e sim o paciente como um todo, seu histórico, hábitos e condições de vida. É assim que definimos o melhor tratamento e a melhor abordagem clínica”, alerta a cardiologista. 

Com a mudança, muitas pessoas que antes eram consideradas dentro da faixa normal passam a ser classificadas como pré-hipertensas. Para a médica, essa redefinição não deve gerar pânico, mas servir como alerta. “A classificação de pré-hipertensão traz consigo a importância da mudança no estilo de vida. Funciona como um aviso: ‘se você não se cuidar, logo estará com hipertensão arterial’”, pondera.

Entre os principais fatores que contribuem para o aumento dos casos de hipertensão estão a má alimentação e o sedentarismo. “A dieta rica em sódio e pobre em fibras e vegetais, junto à falta de exercício físico, são os fatores de risco modificáveis mais importantes”, pontua Isabela.

A cardiologista observa que o crescimento do estresse, do consumo de ultraprocessados e das rotinas cada vez mais sedentárias têm impacto direto nos índices de pressão alta. Apesar do cenário preocupante, ela acredita que as novas diretrizes representam um avanço na promoção da saúde

Esses pacientes, segundo ela, devem aferir a pressão arterial com mais frequência e investir em hábitos saudáveis, uma alimentação mais equilibrada, prática de atividades físicas regulares, controle do consumo de álcool e abandono do cigarro.

Impactos e desafios na saúde pública 

No Brasil, o acesso à saúde e à informação ainda é desigual, o que torna a prevenção à pressão alta um desafio. Diante disso, Isabela Takakura avalia que a nova diretriz precisa vir acompanhada de políticas públicas consistentes.


“O fortalecimento da Atenção Primária à Saúde é a principal estratégia para o controle da hipertensão arterial. Os profissionais da saúde precisam estar alinhados com as metas propostas na diretriz e trabalharem forte, fazendo a prevenção”Isabela Takakura, médica cardiologista e professora do curso de Medicina da Unifor

A cardiologista ressalta a importância de que governo, indústria e sociedade atuem de forma integrada na promoção da saúde. Entre as medidas consideradas essenciais, ela aponta:

  • Fortalecimento das políticas de acesso gratuito a medicamentos;
  • Redução do teor de sódio nos alimentos industrializados;
  • Incentivo a campanhas públicas de educação em saúde;
  • Ampliação de espaços adequados para lazer e prática de atividades físicas.

Além disso, ela defende que o uso de inteligência artificial no monitoramento de dados pode tornar o acompanhamento populacional mais eficaz. A tecnologia, segundo Isabela, pode ajudar a mapear riscos, orientar estratégias preventivas e garantir maior precisão nas ações de saúde pública.

Sobre a possibilidade de que a nova classificação cause ansiedade ou leve a diagnósticos precipitados, a cardiologista é enfática: “Creio que não. Penso que o fato mais importante nesse contexto seja a orientação. A ideia é orientar e prevenir, e não causar ansiedade nas pessoas”. 

A ciência por trás da mudança

As novas referências de pressão arterial foram definidas com base em evidências internacionais, mas também encontram respaldo em estudos nacionais. A cardiologista cita dois exemplos relevantes para o contexto brasileiro.

O primeiro é o Estudo PREVER, coordenado pelo Ministério da Saúde entre 2003 e 2016, que analisou estratégias de prevenção de doenças cardiovasculares e renais com o uso de anti-hipertensivos. Os resultados mostraram que níveis de pressão abaixo de 130x80 mmHg reduzem a progressão de disfunções renais e eventos cardiovasculares.

Outro trabalho importante é o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), iniciado em 2006, que acompanhou mais de 15 mil adultos em seis capitais. O estudo evidenciou que valores entre 120-129/80-84 mmHg já se associavam a um risco cardiovascular progressivamente maior.

Essas evidências reforçam que valores pressóricos menores são benéficos para a saúde. “Na população brasileira, como em outros países, há indícios de que valores pressóricos menores são melhores quando se fala em risco de doença cardiovascular”, afirma Isabela.


A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial já está em vigor em todo o país (Foto: Getty Images)

Após estudos e mais pessoas sendo classificadas como pré-hipertensas, a prevenção assume o papel central. Para a especialista em Cardiologia, é preciso investir na conscientização e no cuidado diário: “Fazer mudanças no estilo de vida, com alimentação saudável, prática regular de atividade física, não fumar, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, controlar o peso, o colesterol total e a glicemia”. 

Ela também reforça que aferir a pressão arterial ao menos uma vez por ano é essencial, mesmo para quem não tem diagnóstico de hipertensão. Pequenos cuidados podem prevenir complicações graves, como AVC e infarto.

Impacto na formação médica

Na formação médica, a mudança já repercute. Como docente da Unifor e preceptora no Hospital Universitário Walter Cantídio, Isabela conta que o tema é amplamente discutido com os alunos. “A hipertensão arterial é uma doença silenciosa que aumenta consideravelmente o risco de morte das pessoas que não a tratam de forma adequada”, explica.

No ambulatório de Cardiologia do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), onde atua com estudantes do 8º semestre, a professora observa o engajamento dos futuros médicos, que se mostram dedicados aos estudos e às atualizações sobre hipertensão arterial, participando ativamente das discussões e propondo melhorias contínuas nos tratamentos e nas orientações aos pacientes.

O curso de Medicina da Unifor, segundo ela, se adapta constantemente às novas evidências científicas. “Temos aulas práticas no Laboratório de Habilidades Médicas sobre técnicas de aferição da pressão arterial, de como abordar o paciente e orientá-lo. Essa prática é revisada várias vezes ao longo do curso”, afirma.

Por atuarem em todos os níveis de atenção à saúde (primária, secundária e terciária), os alunos percebem na prática a importância da prevenção contra hipertensão. “Quando os desfechos acontecem, os pacientes vão para a atenção secundária e terciária, e os alunos presenciam o aumento da mortalidade, as sequelas e o impacto na qualidade de vida que os pacientes vivenciam”, destaca a docente. 

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