Entrevista Nota 10 | Alexandre Lima e os cuidados com a demência para garantir dignidade e qualidade de vida

seg, 15 setembro 2025 17:30

Entrevista Nota 10 | Alexandre Lima e os cuidados com a demência para garantir dignidade e qualidade de vida

Médico psiquiatra e psicogeriatra fala sobre demência, geriatria e gerontologia, além de pontuar a importância do Curso de Imersão em Doença de Alzheimer e da formação médica pela Unifor


Preceptor do internato pelo curso de Medicina da Unifor, Alexandre é supervisor do programa de Residência Médica em Psicogeriatria do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (Foto: Arquivo pessoal)
Preceptor do internato pelo curso de Medicina da Unifor, Alexandre é supervisor do programa de Residência Médica em Psicogeriatria do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (Foto: Arquivo pessoal)

Pela primeira vez, o Brasil tem mais idosos do que jovens. É o que mostram os dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que contabilizou mais de 33 milhões de pessoas idosas, ou seja, 15,6% da população. Hoje sendo a sexta nação com mais idosos no mundo, o país espera ter 75,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos em menos de meio século.

Segundo o médico psiquiatra e psicogeriatra Alexandre Bastos Lima, esse envelhecimento populacional vai mudar as prioridades do sistema de saúde e da sociedade. Áreas como a geriatria e gerontologia são vistas como fundamentais no cuidado às pessoas idosas, principalmente no diagnóstico, tratamento e prevenção de casos de demência, condições comuns à faixa etária.

“[...] A geriatria e a gerontologia não lidam apenas com doenças, mas lidam com a promoção de saúde, com a autonomia, com a qualidade de vida. Não queremos só que as pessoas consigam envelhecer, queremos que elas envelheçam bem e ativas”, explica Alexandre, que é preceptor e supervisor do programa de Residência Médica em Psicogeriatria do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM).

A capacitação de quem trabalha com idosos, em especial com casos de demência, e o desenvolvimento científico dessa área da saúde se fazem, então, essenciais. Por isso, formações como o Curso de Imersão em Doença de Alzheimer são não apenas oportunidades profissionais, mas também de transformação social.

O evento acontece de 24 a 27 de setembro e conta com o apoio da Universidade de Fortaleza — mantida pela Fundação Edson Queiroz — e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), que emitirá certificação oficial aos participantes.

Além de Alexandre, a ocasião conta com a participação de diversos profissionais renomados em Fortaleza e no Ceará, como alguns docentes da Unifor: Norberto Anízio Ferreira Frota, Elcyana Bezerra Carvalho, Esther de Alencar Araripe Falcão Feitosa, Artur Victor Menezes Sousa e Andrea Stopiglia Guedes Braide.

Graduado médico pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Alexandre realizou residência em Psiquiatria e em Psiquiatria Geriátrica no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). É especialista em Psiquiatria e Psiquiatria Geriátrica pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e preceptor de Internato pelo curso de Medicina da Unifor.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele fala sobre quadros de demência e o papel da geriatria e da gerontologia na sociedade, além de pontuar a importância do Curso de Imersão em Doença de Alzheimer e da formação médica na Unifor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Com a sexta maior população idosa do mundo, o Brasil vem presenciando um crescente envelhecimento populacional. Qual a sua visão sobre a importância de investir e apoiar o desenvolvimento e a expansão da geriatria e da gerontologia, especialmente no âmbito científico? Que oportunidades surgem para os profissionais dessa área?

Alexandre Lima — O envelhecimento do Brasil é algo que chama a atenção. Somos um país que está envelhecendo rapidamente. Em poucas décadas, passamos de um país jovem, bem jovem, para um país que figura entre os que têm mais idosos do mundo. Isso vai mudar, de forma óbvia, as prioridades do sistema de saúde e da sociedade. E aí entra a importância da geriatria e da gerontologia, porque essas áreas vão nos oferecer respostas qualificadas para os novos desafios. Quais são esses desafios? Doenças crônicas, síndromes geriátricas, demência, fragilidade, depressão etc. E lembrar que a geriatria e a gerontologia não lidam apenas com doenças, mas lidam com a promoção de saúde, com a autonomia, com a qualidade de vida. Não queremos só que as pessoas consigam envelhecer, queremos que elas envelheçam bem e ativas.

Investir nessas áreas é importantíssimo. Em relação à expansão científica, ela é uma prioridade. Existem muitos dados sobre idosos, mas esses dados não são, em sua maior parte, gerados aqui no Brasil. Precisamos de uma pesquisa nacional que represente a nossa população idosa em suas especificidades culturais, sociais e biológicas. Então, a ciência brasileira pode e deve contribuir para novas descobertas.

Nós estamos trabalhando, por exemplo, com biomarcadores. Existem trabalhos no Brasil com reabilitação, com prevenção e políticas públicas, mas precisamos intensificar isso. As parcerias entre universidades, hospitais, centros de pesquisa são cruciais para esse novo momento que nós estamos vivendo. E o Curso de Imersão em Doença de Alzheimer que nós estamos fazendo é um dos passos para ampliar o aprendizado e o conhecimento, e nesse caso especificamente da doença de Alzheimer.

Quais são as oportunidades profissionais? A geriatria é um campo de atuação médica e a gerontologia é um campo de atuação multiprofissional, que pode ter psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, assistentes sociais. Cada uma dessas áreas pode ainda se especializar em outras coisas relacionadas ao idoso. Por exemplo, um psicólogo pode virar um neuropsicólogo. Você pode ter especializações ortodentárias, você pode ter uma formação específica, como a que a Unifor oferece, em gerontologia, o que torna o profissional mais capacitado para lidar com isso.

Então, a mensagem principal aqui dessa resposta é que envelhecer, e envelhecer bem, é uma meta coletiva, é uma meta do sistema de saúde, da sociedade. Apoiar o desenvolvimento científico nessas áreas é garantir que a geração que nos antecedeu, que a nossa geração e que as gerações do futuro tenham dignidade, cuidado e respeito. A oportunidade não é apenas para o profissional, apesar de que profissionais de todas as áreas estão cada vez mais voltados para esse campo, mas de uma transformação social.

Entrevista Nota 10 — De acordo com um relatório do Ministério da Saúde, aproximadamente 8,5% da população brasileira com mais de 60 anos convive com a demência, o que contabiliza cerca de 1,8 milhão de pessoas. Como se caracteriza essa condição e de que maneira ela influencia na qualidade de vida dos idosos, assim como no cotidiano familiar e social desse paciente?

Alexandre Lima — Precisamos falar de demência. Isso é uma coisa importante que todas as pessoas precisam entender. Demência, como síndrome clínica, não é apenas, como as pessoas pensam, a perda de memória, mas é uma perda progressiva de várias outras funções cognitivas. 

Em geral - e no Alzheimer vemos bastante com memória -, a pessoa vai ter dificuldade também, no Alzheimer e em outras demências, como perda de linguagem, dificuldade de manter a atenção, dificuldade do julgamento de situações do dia a dia, dificuldade em planejar. E aí, cada demência vai ter uma dificuldade mais específica. Alzheimer tem muito sobre memória, mas evolui com outras perdas. Já outras demências, por exemplo, como a Demência Frontotemporal (DFT), evolui com alteração de comportamento, a princípio, e depois vem as perda de outras funções cognitivas.

É muito importante, no entanto, diferenciar o envelhecimento normal do patológico. O que acontece? Quando a pessoa envelhece normalmente, a perda dessas funções é apenas de velocidade. Então, eu não perco a memória, eu fico mais lento para recuperar uma memória. Já no processo patológico, você vê uma clara perda da pessoa idosa em relação a essas funções cognitivas.

Os números no Brasil reforçam, de fato, que esse problema não é individual, é um grande desafio de saúde coletiva, com um impacto muito grande na vida do idoso. Qual é esse impacto? O que acontece? Seja com a falta de demência, o idoso vai ter uma perda progressiva de autonomia e independência. Atividades simples, como cozinhar, administrar o dinheiro, tomar medicação, vão se perdendo. Além disso, as alterações emocionais e comportamentais, trazem grande sofrimento para a família e para o paciente. Pacientes mudam o comportamento, ficam mais desinibidos, fazem coisas que não faziam antes, o que assusta bastante as pessoas.

Lembrar que, ao contrário do que imaginamos, de que é uma doença do esquecimento, é uma doença que também mexe com o comportamento, com a identidade da pessoa, a capacidade de se relacionar. E todas essas alterações vão causar um impacto enorme na família, com uma sobrecarga física e emocional para os cuidadores. Então, vai alterar, por exemplo, a dinâmica familiar. Os filhos e netos que foram, muitas vezes, cuidados por essa pessoa antes dela adoecer, se tornam cuidadores ou passam a assumir papéis de cuidado. E, no Brasil, ainda tem muito estigma. Então, muitas vezes, se isolam os idosos, acelerando o processo da demência.

O impacto não é só familiar, tem um impacto social e no sistema de saúde. O sistema de saúde, com um paciente com demência, tem custos bem mais elevados. Há necessidade, algumas vezes, de hospitalização dos pacientes, uma dependência muito grande desses pacientes. E daí, surge a necessidade de políticas públicas de educação da sociedade para enfrentar o problema e de pesquisa, para que conheçamos o problema de perto.

Mas todos nós que trabalhamos com Alzheimer partimos de um caminho de esperança. Embora seja uma doença progressiva, e hoje ainda não temos como parar essa progressão, é possível oferecer a qualidade de vida com diagnóstico precoce, com suporte multidisciplinar, com intervenções farmacológicas. É importante ressaltar o reconhecimento que a capacitação dos profissionais tem nessa questão do caminho da demência.

Essa capacitação, por exemplo, é o objetivo principal do nosso Curso de Imersão em Doença de Alzheimer, mas também é o objetivo do curso de Especialização em Gerontologia da Unifor. E a nossa ideia é essa: precisamos conhecer como sociedade, como profissionais, as demências. Porque a demência não atinge só o paciente, ela atinge o paciente, a família, a sociedade, atinge todos ao nosso redor, e precisamos trabalhar isso como sociedade.

Entrevista Nota 10 — A doença de Alzheimer integra o grupo de doenças neurodegenerativas que lidam com sintomas de demência. O que diferencia esse diagnóstico das demais condições enquadradas nesta categoria? Qual o papel do profissional de psicogeriatria para o tratamento e a possível prevenção desse cenário?

Alexandre Lima — A doença de Alzheimer é uma forma muito comum de demência, a mais comum, mas ela não é a única. O que diferencia o Alzheimer de outras doenças neurodegenerativas é o padrão de sintomas e as alterações no cérebro. No Alzheimer, a perda de memória geralmente é o primeiro sinal, seguido de dificuldades progressivas em outras áreas como linguagem, orientação espacial, capacidade de julgamento. Outras condições, como a demência frontotemporal (DFT) ou a demência por corpúsculos de Lewy, têm início com sintomas diferentes e com alterações mais comportamentais ou alucinações visuais. Por isso, o diagnóstico correto é essencial, pois cada uma dessas doenças têm trajetórias e manejos específicos.

O papel do geriatra, do psicogeriatra, do neurologista, de quem atende esse paciente, é justamente fazer essa leitura integrada. Ele tem que atuar nessa interseção entre a psiquiatria, a neurologia e a geriatria, compreendendo não apenas o funcionamento da cognição do paciente, mas também os aspectos emocionais, comportamentais e sociais daquele idoso em específico.

Essa visão permite não só um tratamento mais completo, mas também prevenção de pioras, de agravos, já que muitos fatores de risco com a demência - como depressão, isolamento social, sedentarismo - podem ser identificados, tratados precocemente, e isso vai fazer com que a evolução desse quadro demencial seja mais lenta e mais benigna. No acompanhamento, o profissional ajuda a construir um plano de cuidado individualizado, que envolve tanto estratégias farmacológicas quanto intervenções não medicamentosas. Eu posso citar algumas das intervenções medicamentosas, porque é importante.

Hoje, sabemos que atividade física, estimulação cognitiva, suporte familiar e suporte social são muito importantes. Cada profissional, das diversas áreas que fazem a gerontologia, pode e deve interferir nisso. É um pouco difícil de você estimular o paciente cognitivamente,  precisamos de profissionais capacitados. Muitas vezes, nos quadros demenciais, é difícil você pedir para o paciente fazer atividade física. Ele já está apático, ele já não lembra a orientação. Então, precisamos de um conjunto de pessoas para trabalhar essa outra parte, que é a parte mais importante, a parte não medicamentosa das estratégias.

Em resumo, é um trabalho que combina ciência, combina clínica, combina humanidade, com o objetivo de oferecer dignidade e qualidade de vida, mesmo diante de uma doença progressiva. E essa dignidade e qualidade de vida é tanto para o paciente como para os seus familiares e as pessoas que o amam.

Entrevista Nota 10 — Uma formação aprofundada e atualizada em geriatria faz toda a diferença na atuação dos médicos que se dedicam ao público idoso, principalmente quando falamos de quadros de demência. O que é necessário para um profissional entrar nessa área e se destacar no mercado de trabalho? O acompanhamento de pacientes de Alzheimer requer atenção especial ou protocolos diferenciados?

Alexandre Lima — Para atuar com o idoso, o profissional precisa de uma formação específica em geriatria ou gerontologia. O profissional médico que trabalha com o idoso muitas vezes é geriatra, mas algumas outras especialidades vão também, sem ser uma geriatria, trabalhar com o idoso. Cardiologistas trabalham com idosos, neurologistas, principalmente na parte de demência, psiquiatras também.

Outra formação específica, e essa que está crescendo bastante, é a gerontologia, que é uma formação voltada para profissionais não médicos, mas profissionais de saúde, na busca de conhecimento e entendimento de como usar o aprendizado deles de base com o idoso. Além dessa formação, precisamos de atualização contínua, novas evidências, porque a ciência avança muito rápido nessa área relacionada ao idoso. O mercado de hoje valoriza demais o conhecimento técnico e ainda a visão humanizada, ambas as coisas trabalhadas nos bons cursos de formação de geriatria e gerontologia.

Quais são as habilidades necessárias para se destacar? Tem que ter a capacidade de trabalhar em equipe multiprofissional. Um profissional só não resolve, temos que trabalhar juntos. Tem que ter boa comunicação com o paciente e, principalmente, com a família. É muito importante a comunicação. E sensibilidade para lidar com as questões éticas, questões de autonomia e qualidade de vida do idoso. Essas questões são delicadas. Às vezes, aquilo que traz mais segurança, muitas vezes, também impede o idoso de se desenvolver ou de melhorar. Então, tem que ter muita sensibilidade.

No caso do Alzheimer em especial, precisamos ter várias coisas: uma avaliação multidisciplinar, um plano terapêutico individualizado para cada paciente, atenção aos sintomas cognitivos, de comportamento, funcionais. É essencial ter um diagnóstico o mais cedo possível, que chamamos de diagnóstico precoce, e planejar os cuidados, trabalhar para retardar a progressão, que é o que podemos oferecer de melhor, e oferecer suporte às famílias. É importante conhecermos e utilizarmos protocolos estruturados de cuidado, que são aprendidos nos nossos cursos de formação. Desde o protocolo da investigação diagnóstica até as intervenções farmacológicas e, principalmente, não farmacológicas - por exemplo, atividade física, estimulação, suporte social.

Qual é o papel do profissional no futuro dessa área? O profissional que investe em geriatria hoje se coloca na vanguarda de uma área que só pode crescer, dado o que já falamos de envelhecimento. Cuidar dos pacientes com Alzheimer é uma missão que exige muita ciência, mas também empatia e resiliência, que é um aprendizado que o profissional vai tendo a partir do idoso. Então, o profissional que trabalha com o idoso também tem muito aprendizado vindo dessa conexão com outras gerações. O nosso Curso de Imersão em Doença de Alzheimer surge exatamente como um espaço para capacitar médicos e outros profissionais a enfrentar esses desafios com conhecimento mais atualizado.

Entrevista Nota 10 — De 24 a 27 de setembro, você participará do Curso de Imersão em Doença de Alzheimer, evento apoiado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e pela Universidade de Fortaleza. De que maneira você vê o papel de ocasiões como esta para a evolução da área de saúde? Qual a importância deste curso tanto para profissionais formados quanto para estudantes?

Alexandre Lima — Eventos como o nosso curso de imersão são fundamentais porque eles vão criar um espaço de integração entre ciência, prática clínica e ensino. É também um espaço onde podem circular profissionais de várias áreas, se conhecer, integrar o trabalho, cada um mostrar o que está fazendo.

O curso será em quatro dias intensos. Nós vamos reunir especialistas de diferentes áreas, como a geriatria, a neurologia, a psiquiatria, a psicologia, a fisioterapia, a terapia ocupacional, entre outros, todos com um objetivo comum: vamos atualizar o conhecimento e compartilhar experiências práticas que realmente transformam a forma de cuidar o idoso com demência. Os profissionais foram cuidadosamente escolhidos e são conhecidos em Fortaleza e no Ceará com capacidade e pesquisas nessas áreas.

Nós vivemos um momento em que a ciência avança rapidamente, trazendo novos critérios diagnósticos, a possibilidade de uso de biomarcadores, terapias em desenvolvimentos. Mas, ao mesmo tempo, a realidade do atendimento do SUS e na prática clínica diária exige criatividade, sensibilidade, protocolos adaptados ao nosso contexto. O nosso curso funciona como uma ponte entre a vanguarda científica e a realidade do consultório e do SUS. Essa ponte é feita por profissionais que geralmente trabalham exatamente nessa dualidade entre a vanguarda científica da universidade e o dia-a-dia do atendimento no consultório pessoal e no SUS.

Para os profissionais já formados, então, é uma oportunidade de atualização profunda e de networking, que fortalece parcerias, tanto na área clínica como na área de pesquisa, abre portas para projetos colaborativos e melhora a qualidade de assistência. Para estudantes, é uma chance de uma imersão precoce em um tema que será cada vez mais presente, não só de aprender a reconhecer e até manejar os sintomas clínicos, mas também de entrar em contato com a visão mais ampla da geriatria, da neurologia, da psicogeriatria, voltado para o cuidado humanizado, o olhar para a família, a importância da reabilitação e da prevenção. Também para profissionais não médicos, é um evento marcante onde podemos juntar toda uma equipe e ampliar a visão que cada um tem da sua área de atuação. É também um local para networking e é um local onde as pessoas podem se atualizar.

Eu diria que a grande importância de um evento como esse é formar uma geração de profissionais preparados, críticos e comprometidos com um envelhecimento digno na nossa cidade, no nosso estado e no Brasil em geral. Quando capacitamos profissionais, médicos, profissionais não médicos e estudantes dessa área, não estamos apenas transmitindo conhecimento, estamos plantando sementes de transformação social porque vai impactar cada paciente atendido, que impacta a sua família e que impacta a comunidade onde ele vive.

Vale destacar que esse curso nasce com muito amor e carinho. Ele é feito pelo Ambulatório de Pesquisa em Doenças Neurodegenerativas do Hospital de Saúde Mental, em parceria com a SBGG, com o Instituto de Neuropsiquiatria e com a Unifor. Ele é voltado para angariar fundos para pesquisa médica: todos os professores doaram seu salário, sua hora de aula, ninguém vai ganhar nada para estar ali, e todo esse dinheiro vai ser voltado para que os pacientes que estão em pesquisa possam ter seus exames realizados da melhor forma possível. Além de ser um curso maravilhoso, ele também nasce de um objetivo bastante nobre.

Entrevista Nota 10 — Como preceptor do internato médico pelo curso de Medicina da Unifor, qual a sua visão sobre a formação médica, especialmente a geriátrica e a gerontológica, promovida pela instituição? Quais diferenciais você acredita serem essenciais para a excelência profissional e científica desses futuros médicos?

Alexandre Lima — Na minha experiência como preceptor do internato pela Unifor e como preceptor de residência médica pelo Hospital de Saúde Mental, fica muito claro que a formação médica hoje precisa ir muito além do domínio técnico. Na Unifor, é muito claro, percebemos um esforço consistente em oferecer ao estudante não apenas o conteúdo de excelência, mas também vivências práticas e humanizadas e reflexão nessas vivências. E isso faz toda a diferença na formação do futuro profissional.

Na geriatria e na gerontologia, isso é ainda mais evidente. Nós estamos diante de uma geração que vai conviver cada vez mais com o envelhecimento da população, com doenças crônicas e com doenças neurodegenerativas. O diferencial, então, não está somente em saber diagnosticar ou prescrever, mas saber desenvolver uma visão ampla, crítica, multidimensional, que envolva uma ampla quantidade de disciplinas do cuidado. O estudante precisa aprender a enxergar o idoso como ser integral, que tem história, afetos, rede social, direitos, famílias, sonhos.

A Unifor tem investido em cenas clínicas diversificadas, na integração com a comunidade, no contato direto com os desafios do SUS. Isso cria médicos, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas, entre outros profissionais, preparados para lidar com situações complexas, para dialogar com equipes multiprofissionais e inovar em soluções. Para mim, os diferenciais essenciais da excelência profissional e científica vão ser esses três. Isso acredito que não mude. É uma base teórica sólida que envolve a atualização constante, capacidade crítica e investigativa.

O profissional tem que ser também um produtor de conhecimento, participando de pesquisas, discutindo ciência, em uma formação ética e humanizada. Porque cuidar dos idosos exige empatia, exige paciência, exige respeito. E há tanto a se aprender, porque aquela pessoa tem uma experiência de vida que só conseguimos acessar quando nos permitimos chegar perto. Se nós conseguirmos, então, formar profissionais que unem a ciência de ponta e o compromisso humano, vamos estar contribuindo não só para o futuro da medicina, mas também para um país mais justo e mais preparado para o envelhecimento da sua população.