Entrevista Nota 10 | Andréia Ramos e a importância de eventos científicos para a odontologia

seg, 1 setembro 2025 11:08

Entrevista Nota 10 | Andréia Ramos e a importância de eventos científicos para a odontologia

Presidente científica da XXVIII Jornada Acadêmica de Odontologia fala sobre a importância do evento para o desenvolvimento profissional e da pesquisa em odontologia, assim como a conexão da JAO com a Unifor


Mestre e doutora em Odontologia, Andréia é professora de graduação e pós-graduação na Unifor (Foto: Arquivo pessoal)
Mestre e doutora em Odontologia, Andréia é professora de graduação e pós-graduação na Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

Para a dentista Andréia Ramos, professora do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, a pesquisa científica ocupa um papel fundamental na conexão entre a teoria e a prática odontológica. 

“Através dela, tanto o acadêmico quanto o profissional desenvolvem um pensamento crítico a respeito daquilo que está sendo apresentado no mercado e têm a possibilidade de criar soluções para alguns problemas apresentados, tanto na vida acadêmica quanto na profissional”, pontua a mestre e doutora em Odontologia pela Universidade Federal de São Paulo (USP).

E o papel da pesquisa em eventos científicos, diz ela, é exatamente esse: trazer para o aluno e para o profissional a importância de estar constantemente se reciclando, descobrindo novos conhecimentos e fazendo conexões com a comunidade profissional e acadêmica.

Foi exatamente para isso que a Jornada Acadêmica de Odontologia (JAO) foi criada, em 1998, pelo curso de Odontologia da Unifor. Em 2025, o evento acadêmico chega em seu 28º ano fomentando o desenvolvimento do conhecimento científico na área da odontologia. 

Considerada um dos mais importantes do ramo no Norte e Nordeste do Brasil, a Jornada reúne palestras, mesas-redondas, simpósios e workshops, além de proporcionar a apresentação de trabalhos científicos. A edição deste ano acontecerá de 4 a 6 de setembro, no campus da Unifor.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, a professora Andréia, que é presidente científica da XXVIII JAO, fala sobre a importância do evento para o desenvolvimento profissional e da pesquisa odontológica, assim como a conexão da Jornada com a graduação em Odontologia da Unifor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — A produção científica faz parte não só da formação acadêmica de novos profissionais de odontologia, mas também de quem já está no mercado há mais tempo. Qual o papel da pesquisa e dos eventos acadêmicos na atualização permanente de competências, das tecnologias e do cotidiano clínico?

Andréia Ramos — A pesquisa ocupa um papel fundamental na conexão entre a teoria e a prática. Através dela, tanto o acadêmico quanto o profissional desenvolvem um pensamento crítico a respeito daquilo que está sendo apresentado no mercado e têm a possibilidade de criar soluções para alguns problemas apresentados, tanto na vida acadêmica quanto na vida profissional.

E o papel da pesquisa nesses eventos acadêmicos é exatamente esse: trazer para o aluno e para o profissional a importância de estar constantemente se reciclando, de estar constantemente prestando atenção naquilo que está aparecendo no mercado, os novos materiais, se esses materiais têm uma pesquisa científica consolidada, os materiais que ainda permanecem no mercado. Por meio desses eventos, você tem conexão com profissionais, professores e pessoas que estão nesse ramo. Então, essas ocasiões se transformam em eventos muito importantes.

Entrevista Nota 10 — Em 2025, a Jornada Acadêmica de Odontologia (JAO) da Unifor chega a sua 28ª edição. Como o evento se consolidou como um dos mais relevantes da área no Norte e Nordeste? Qual tem sido a importância da JAO para o desenvolvimento científico e tecnológico da odontologia a nível regional e nacional?

Andréia Ramos — Eu acredito que a JAO se consolidou como uma das jornadas mais relevantes do Norte e Nordeste, porque, desde o início, sempre se preocupou em trazer profissionais de renome, pessoas que viessem realmente agregar ao acadêmico e ao profissional conhecimentos de valor. A JAO sempre prezou isso, o conhecimento científico, a parte embasada na ciência para que não fosse uma coisa [apenas] empírica.

E ao longo desses anos, ela tem trazido muitas experiências, além de conexões com profissionais de outros estados, profissionais de outros países, trazendo essa possibilidade do aluno avaliar a grandeza da profissão através das várias ramificações que a odontologia pode fazer. Então, eu acredito que hoje a JAO fornece, tanto para o acadêmico quanto para o aluno, uma possibilidade de atualização na área teórica e clínica de uma forma muito grandiosa.

Entrevista Nota 10 — O tema da XXVIII JAO tem como foco o futuro do mercado de odontologia, contando com a participação de profissionais de renome nacional e internacional. Quais são as principais tendências que vêm se desenhando nesse cenário? Como a JAO busca trazer esses debates e trocas de experiências durante o evento?

Andréia Ramos — Nos últimos anos, a odontologia cresceu muito em termos de tecnologia, de amplitude, em áreas de atuação. Mas, em consequência, as redes sociais também entraram de uma forma muito forte nesse ramo e, com isso, se perdeu um pouco, muitas vezes, do discernimento do que são realmente procedimentos baseados em ciência, em pesquisa e o que é empírico, o que é criado a partir de vivências próprias.

Então, o foco da JAO esse ano foi trazer profissionais de renome. Nós estamos trazendo professores que têm 400 artigos científicos publicados, que são considerados os maiores pesquisadores do mundo na área, para realmente discutir a clínica baseada em ciência, aquilo que deve ser feito de forma correta e aquilo que é mito, aquilo que está sendo ensinado, mas que por trás tem uma pesquisa bem embasada do que é aquilo que está sendo apenas falado.

E, hoje, o foco da JAO foi exatamente esse, de que o profissional e o acadêmico possam ter contato com tudo que há de novo na odontologia — em relação a fluxo digital, em relação a laser nas áreas clínicas e hospitalares, em relação aos procedimentos estéticos —, tudo que está sendo feito e falado nos últimos tempos e que realmente tem alcançado a população, mas de uma forma bem estudada.

Essa é a nossa preocupação: através desses profissionais e dessa possibilidade de conexão com a Unifor e com profissionais de outras instituições renomadas, a gente poder discutir uma odontologia feita com qualidade, e que isso faça diferença na vida daqueles que estão ainda dentro da universidade, que são os nossos acadêmicos, os acadêmicos das outras instituições e também na vida dos profissionais. Essa, para mim, é a maior importância hoje de um evento desse tipo.

Entrevista Nota 10 — O que significa para sua trajetória profissional e pessoal ser a presidente científica docente da XXVIII JAO?

Andréia Ramos — Em primeiro lugar, para mim, é uma honra ser presidente científica da 28ª JAO. Eu já estou há 24 anos na Universidade de Fortaleza, sempre procurei trabalhar dentro de princípios científicos bem fortalecidos e acredito que a ciência precisa estar aliada à nossa prática para que a gente venha a dar para o nosso paciente o melhor tratamento possível.

Para mim, organizar o evento é algo que traz uma responsabilidade muito grande, mas, ao mesmo tempo, traz uma leveza porque ele é feito por pessoas. Não é só o presidente científico, presidente docente, presidente discente. Ele é feito por pessoas que se juntam em prol de uma odontologia de qualidade. Então, para mim, quando pensamos na JAO, pensamos em conexões muito maiores.

Quando eu pensei em profissionais, eu pensei no que eles poderiam agregar para a instituição, para os nossos alunos, e eu acho isso muito importante. Por quê? Porque eu já vi, através da JAO, nossos alunos conhecerem profissionais, professores e pesquisadores de fora, criarem conexões com eles e, através disso, saírem daqui, fazer pós-graduação fora, depois voltarem para a instituição até mesmo como professor ou para o Estado.

Para mim, tem uma importância muito grande, porque eu sou fruto de uma conexão durante um evento acadêmico. Eu lembro que quando fazia graduação, o meu professor me apresentou para um docente da Universidade de São Paulo (USP), ele me deu o cartão e disse que o sucesso do profissional era a sua competência, mas também eram as conexões que ele conseguia fazer com o mundo. E eu tive a oportunidade de fazer minha pós-graduação na USP por meio de um evento semelhante a esse.

E é um prazer muito grande que, nesta Jornada, venha uma professora falar a respeito de laser, que foi a área que eu pesquisei. Ela trabalha com o meu antigo chefe, o meu antigo orientador, que vai fazer uma participação filmada na JAO. Para mim, essa união de pessoas para fazer um evento desse é só a realização de, realmente, um sonho. E isso pode criar para os alunos algo muito maior que, às vezes, nem imaginamos.

É um diferencial imenso você poder fazer pesquisa, discutir com esses profissionais a possibilidade de criar conexões entre universidades, entre a Universidade de Fortaleza e a universidade desse profissional. Levar um aluno desse para a universidade desses pesquisadores, para conhecer um outro universo. Então, para mim, está sendo muito importante a participação de alunos, de outros professores durante todo esse gerenciamento da jornada.

Entrevista Nota 10 — Desde 2024, a JAO voltou a ser realizada no campus da Unifor, como acontecia nos primórdios do evento. Quais novidades essa mudança traz para a realização da Jornada? Como isso beneficia tanto os alunos de Odontologia da Universidade quanto os demais profissionais e pesquisadores que participam da JAO?

Andréia Ramos — É uma felicidade que a JAO tenha voltado para o nosso campus, até mesmo porque o campus da Unifor é um campus extremamente bonito. Todas as vezes que eu trago um professor de fora, a primeira coisa que eu ouço é o elogio ao nosso campus. É uma possibilidade das pessoas enxergarem a Universidade de Fortaleza como um todo.

Temos condição de entregar para as pessoas que estão participando da JAO um local bonito, alegre e confortável. Tudo isso sendo aliado a um evento bem estruturado, com profissionais renomados, com ciência agregada à clínica. E isso traz uma alegria muito grande para mim. Isso faz com que também os outros alunos de outras instituições, os profissionais que também vêm para o evento, conheçam um pouco da nossa instituição, conheçam essa Unifor que é tão preocupada com uma formação bem feita, bem sólida do profissional.

Quando eu recebi o convite da JAO, a primeira coisa que eu falei foi "apesar de ser uma jornada acadêmica, eu não quero que essa jornada tenha um foco apenas no aluno que está aqui dentro do campus, que tenha a possibilidade de conviver com aquilo que a Universidade oferece, mas eu quero também que os profissionais de fora conheçam aquilo que a Unifor pode oferecer para eles, que os alunos de outras instituições também conheçam aquilo que a Universidade pode oferecer". Até mesmo porque nós temos os nossos cursos de pós-graduação, que são cursos bem elaborados que podem oferecer para essas pessoas que não conhecem ainda a instituição uma oportunidade.

Então, eu acho que esse evento não está limitado apenas a esses dias. Eu acho que é a oportunidade de se abrir para a população, a Universidade como um todo, o curso de odontologia, a pós-graduação em odontologia, e também mostrar para esses profissionais que vêm de fora, que a nossa Universidade, ela é uma das melhores do Brasil. E isso eu tenho visto a cada ano. Todas as vezes que trazemos alguém de fora, eles ficam encantados com aquilo que a Universidade de Fortaleza oferece para os nossos alunos, para os pacientes e para a população do Estado. É um prazer muito grande para mim.

Entrevista Nota 10 — O curso de Odontologia da Unifor é responsável pela realização da JAO, com diversos professores e alunos tendo participado da organização do evento. Na sua visão, qual a relevância de iniciativas como essa para o ensino e aprendizagem? Poderia citar diferenciais que isso traz para formação acadêmica, humana e profissional desses futuros cirurgiões-dentistas?

Andréia Ramos — A iniciativa do curso de Odontologia de criar um evento voltado para os seus alunos e para os profissionais da área é de uma relevância muito grande porque faz com que haja uma conexão direta entre os discentes, entre os alunos e os professores na construção desse evento. Ensina, ao mesmo tempo, a esses alunos a abrirem a sua mente em relação à pesquisa, à clínica, à própria produção de um evento científico. Faz com que haja conexões desses alunos e professores com docentes e pesquisadores de outras instituições.

Para esse binômio ensino-aprendizagem, a construção de um evento dentro do curso — que não se restringe ao curso, mas abre para a população em geral, para os profissionais de fora da instituição, para alunos de outra instituição — proporciona, tanto para o aluno como para o professor, um movimento grandioso, no sentido de engrandecer a ciência da instituição, o curso de Odontologia, que neste ano está completando 30 anos. Temos aí uma Jornada que praticamente foi construída dois anos após a construção do curso de Odontologia da Unifor.

Então, para mim, é muito importante esse evento ser construído pelo curso, pelos alunos e professores do curso, mas com um pensamento muito amplo de construir uma odontologia diferenciada através dessas parcerias e conexões com profissionais de outros lugares.