Entrevista Nota 10: Gustavo Peter e a gamificação do ensino como ferramenta de aprendizagem

seg, 27 novembro 2023 17:52

Entrevista Nota 10: Gustavo Peter e a gamificação do ensino como ferramenta de aprendizagem

Especialista em Logística Empresarial, ele fala sobre a criação do Desafio Para o Futuro e os benefícios da gamificação do ensino


Professor dos cursos de Administração e Comércio Exterior da Unifor, Gustavo é idealizador da UpBusiness Game (Foto: Arquivo pessoal)
Professor dos cursos de Administração e Comércio Exterior da Unifor, Gustavo é idealizador da UpBusiness Game (Foto: Arquivo pessoal)

Muito além dos consoles de última geração e das atividades de lazer, os jogos também podem ser poderosos aliados tanto do ramo empresarial quanto da educação. Chamado de gamificação, esse processo aplica mecanismos e dinâmicas de jogos em contextos não relacionados a games para motivar e ensinar os usuários de maneira lúdica.

“Seu objetivo é promover mais engajamento e maximizar os resultados de um processo de qualificação profissional ou educacional”, explica Gustavo Peter Barbosa, professor dos cursos de Administração e Comércio Exterior da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz.

Ele é o idealizador da UpBusiness Game, uma ferramenta pedagógica com base na gamificação e com foco em simulação empresarial e de mercado. No simulador, os estudantes adquirem máquinas, contratam colaboradores e compram matérias-primas. O jogo gera a demanda de mercado e as equipes trabalham itens como marketing, lucro, quantidade vendida e endividamento.

“Um dos benefícios do jogo é permitir que os alunos simulem o funcionamento de suas empresas, tomem decisões gerenciais e verifiquem seus resultados por meio de relatórios financeiros e contábeis, com regras reais de mercado, sem correr riscos reais por estarem simulando. Os erros são permitidos e aprendemos com ele”, elucida Gustavo.

Além da aplicação no processo de ensino e aprendizagem, o professor vem utilizando a lógica da gamificação no desenvolvimento do “Desafio Para o Futuro”, uma parceria entre a Unifor e o Globo Esporte CE. Veiculado toda segunda-feira, o game é apresentado — e jogado — por Marcos Montenegro e Antero Neto e aborda o mundo do conhecimento ao explorar diversas áreas profissionais na Universidade.

O Desafio tem sido campeão de audiência na programação da TV Verdes Mares, segundo Gustavo. Ele lidera e coordena a equipe de produção do jogo, elaborando coletivamente cada “fase” da competição. “Ver o resultado do que planejamos sendo executado e gerando a audiência que está tendo, é muito legal!”, celebra.

Formado em Administração pela Unifor, o professor possui MBA em Logística Empresarial pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e tem experiência nas áreas de Administração e Logística empresarial, com ênfase em gestão de transporte e custos operacionais.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele compartilha o processo de criação do Desafio Para o Futuro e fala sobre a gamificação do ensino que aplica na Unifor e seus benefícios para a aprendizagem.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Como tem sido participar da produção do Desafio do Futuro?

Gustavo Peter — Participar do Desafio do Futuro tem sido muito interessante. Poder entender um pouco de outras áreas do conhecimento — como direito, fisioterapia e engenharia —, poder criar, com base em variáveis relacionadas aos respectivos campos, o que deve ser avaliado e definir pontuação e ranqueamento, é simplesmente fantástico. No final das contas, tenho aprendido muito sobre os conteúdos explorados pelos apresentadores.

Além disso, ver o resultado do que planejamos sendo executado e gerando a audiência que está tendo, é muito legal!

Entrevista Nota 10 — O que se leva em consideração na hora de criar os jogos do Desafio do Futuro?

Gustavo Peter — Levamos em consideração o conteúdo, as variáveis que serão avaliadas, tendo o cuidado de propor ao professor da área a necessidade de ter uma comunicação clara, para que tanto os apresentadores como os telespectadores entendam a proposta de avaliação.

Depois, nosso cuidado é definir como será avaliado o desempenho dos participantes e o sistema de pontos. Se isso ficar claro para os apresentadores, o público não vai ter dificuldade de compreender o processo e o que será avaliado. 

Entrevista Nota 10 — Como tem sido a discussão e elaboração dos episódios do Desafio do Futuro?

Gustavo Peter — As reuniões têm sido fluidas. Antes delas, eu me reúno com os professores das áreas que serão gravadas naquela semana e já definimos as principais variáveis, ficando alguns ajustes finais para serem definidos com a equipe do Sistema Verdes Mares. 

Quando chegamos para a reunião, já temos uma clara ideia do que será feito. Nosso objetivo ali é facilitar a comunicação com os apresentadores e com a gestão do programa, para que entendam claramente aquilo que imaginamos que vai gerar engajamento (audiência).

Entrevista Nota 10 — A que você credita o sucesso de audiência do Desafio do Futuro dentro do Globo Esporte CE?

Gustavo Peter — Além dos âncoras — que, diga-se de passagem, são excelentes —, destaco dois aspectos importantes. O primeiro é o fato de haver competição. O programa já se propõe ao tema fortemente, isso deve gerar muita audiência. O segundo é por estar relacionado a temas do cotidiano profissional de muitos telespectadores. A expectativa do conteúdo a ser apresentado e como eles vão encarar as disputas também podem ser fatores que estão tornando o desafio campeão de audiência.

Entrevista Nota 10 — Qual a sua experiência com games educacionais? E desde quando os utiliza na Unifor? Como foi a receptividade no início e qual a atual?

Gustavo Peter — Trabalho com gamificação há oito anos. A gamificação é o processo de aplicação de ferramentas de jogos em conteúdos sérios. Seu objetivo é promover mais engajamento e maximizar os resultados de um processo de qualificação profissional ou educacional. 

Por isso, essa metodologia pode ser aplicada, por exemplo, em um processo de consultoria, com o objetivo de maximizar ganhos; e como uma metodologia ativa do processo de ensino e aprendizagem. Em ambos os casos, tenho desenvolvido jogos que promovem muito engajamento e resultado.

Minha primeira experiência foi em 2015, criando uma competição em uma transportadora, visando redução de custos e eficiência logística. O resultado foi excelente. Em 2018, apresentamos ao mercado educacional o UpBusiness Game, um jogo que simula o funcionamento de empresas e que é aplicado em cursos de gestão. O sucesso do Up nos motiva sempre a promover melhorias e a desenvolver novas soluções.

A Unifor é uma das pioneiras na adesão de novas soluções educacionais, e com o Up não foi diferente. Desde o primeiro semestre de uso da plataforma, a adesão dos alunos foi um verdadeiro sucesso. Ir à universidade para aprender conteúdos de forma lúdica e divertida gera muito resultado. 

Atualmente o UpBusiness Game é usado como ferramenta de ensino em praticamente todos os cursos de gestão [da Unifor] e recentemente foi implementado no curso de Engenharia de Produção.

Entrevista Nota 10 — No caso específico da educação, o que essa ferramenta tem evoluído ao longo dos últimos anos?

Gustavo Peter — Simular o funcionamento do mercado não é uma tarefa fácil. Existem milhares de variáveis e outras infinitas combinações de decisões que podem influenciar no comportamento do mercado e do consumidor. A primeira versão do UP se limitava a simular as áreas de marketing, produção, finanças, RH e comercial. Em 2021, lançamos uma nova versão com a inclusão da logística rodoviária, explorando a necessidade de entrega de seus produtos, o que chamamos em logística de “última milha”. Nosso objetivo é proporcionar aos participantes uma imersão completa no ambiente de simulação, de forma que ele possa se sentir parte e que possa verificar na prática os resultados de suas decisões.

Entrevista Nota 10 — O que os alunos gostam mais? Há algum formato de jogo preferido?

Gustavo Peter — Três itens são fundamentais nos jogos. O primeiro deles é entender quais variáveis vão influenciar no resultado do jogo. A segunda é o que preciso fazer para obter o melhor resultado possível. O terceiro é o sistema de ranqueamento. 

Competir é algo intrinsecamente ligado ao ser humano. Apesar de saber que nem todos se sentem confortáveis em um ambiente muito competitivo, todos precisamos batalhar por algo. No ambiente de gamificação, a ideia é que todos ganhem, porém, o que vencer os desafios e ficar mais bem colocado no ranking ganha mais. Dessa forma, até os menos competitivos se dispõem a entrar na disputa. 

Entrevista Nota 10 — Quais os principais atrativos dos games educacionais mais populares?

Gustavo Peter — Um dos benefícios do jogo é permitir que os alunos simulem o funcionamento de suas empresas, tomem decisões gerenciais e verifiquem seus resultados por meio de relatórios financeiros e contábeis, com regras reais de mercado, sem correr riscos reais por estarem simulando. Os erros são permitidos e aprendemos com ele. 

No caso do UpBusiness Game, os alunos recebem um relatório mercadológico, com dados operacionais como estoques de matérias-primas, produtos e insumos relacionados à logística. Além do relatório mercadológico, os estudantes podem consultar a cada período simulado um fluxo de caixa, DRE e balanço patrimonial, todos com regras contábeis reais. 

Esse nível de entrega, possibilita ao aluno imergir sem restrições no ambiente de jogo, sabendo que vai poder verificar na prática o resultado de suas decisões estratégicas.