seg, 4 abril 2022 15:54
Possibilidades em dobro: o sonho da segunda graduação
Estudantes partilham as experiências de cursar uma segunda graduação na Universidade de Fortaleza

Um diploma só não basta. Quem pega gosto pelo conhecimento - ou já entendeu que estudo e trabalho caminham cada vez mais de mãos dadas, buscando responder aos inúmeros e complexos problemas da contemporaneidade - colocar a mão no canudo duas vezes - ou até mais - deixou de ser atestado de gente indecisa para se tornar o mais natural e profícuo dos caminhos trilhados por quem cultiva múltiplos interesses e não resiste ao desejo de preparação contínua para enfrentar o novo. Na Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, os curiosos e insaciáveis “caçadores de diplomas” têm diferentes idades, vocações, planos e procedências, mas um mesmo ar de contentamento quando o assunto é segunda graduação.
“Eu já estou é na minha terceira graduação”, gaba-se o hoje estudante do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) da Unifor, Caio Leão, 37. Ele elenca: primeiro graduou-se em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Ceará; depois, decidiu cursar a então graduação em Audiovisual e Novas Mídias, iniciando o curso na Unifor em 2009 para finalizá-lo em São Paulo, onde morou temporariamente. De volta a Fortaleza, já com dois diplomas, completou um ciclo de nada menos do que 11 anos de trabalho com televisão para se render a uma nova paixão, surgida na esteira de um mercado igualmente convidativo.
“A área da tecnologia sempre me atraiu enquanto trabalhei com audiovisual, tendo como escola a TV Verdes Mares, em Fortaleza e a Rede Globo, em São Paulo. E foi nesse ambiente que acabei sentindo necessidade de agregar conhecimento em TI e ADS, atraído por uma perspectiva de futuro colada às novas tecnologias, já que também via nascer novas profissões bem melhor remuneradas”, Caio Leão, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e egresso do antigo curso de Audiovisual e Novas Mídias da Unifor.
Cursos livres online não lhe bastaram. E, diante do abrandamento da pandemia da Covid-19 em todo o mundo, Caio encorajou-se: “achei importante poder voltar ao presencial quando escolhi cursar uma nova graduação. Foi um fator que pesou muito pelas vantagens de se poder fazer um bom network e estar lado a lado com professores especialistas para tirar dúvidas em tempo real. Acho que assim vou criar uma base mais sólida e tenho maiores chances de conseguir logo um estágio ou oportunidades de trabalho na área. O ambiente acadêmico da Unifor proporciona isso ao aluno, já que conta também com a infraestrutura de um super Parque Tecnológico com empresas incubadas no campus e parcerias com instituições públicas e privadas, para quem desenvolve projetos com o envolvimento de docentes e discentes”.
O primeiro intuito, no entanto, é mesmo voltar a estudar. Com afinco. “Abri mão inclusive de contratações para ter mais tempo de dedicação a essa segunda graduação, por ser a área onde de fato pretendo avançar profissionalmente. Então, vou trabalhar somente como autônomo para focar numa formação de excelência. O fato de ter descontos na mensalidade porque é minha segunda graduação na Unifor e por cursá-la à noite também contou nessa decisão, claro. Então, agora é levar a sério e fazer valer o investimento. E vai valer a pena! Já estou certo disso”, aferra o estudante do 1º semestre que retorna ao campus em 2022 por opção e já se diz readaptado.
Do divã aos tribunais
Duas vezes Unifor. Foi a Psicologia que primeiro atraiu a atual estudante de Direito, Ana Eulália Páscoa, 31, para o campus. E nada de arrependimento quanto à primeira graduação, já que, no seu caso, uma levou à outra:
“Foi como graduanda em Psicologia que conheci e me engajei no programa Cidadania Ativa do curso de Direito da Unifor, um projeto de extensão onde pude trabalhar com conciliação e mediação de conflitos e me fez descobrir a Psicologia Jurídica, unindo exatamente duas áreas que sempre me interessaram. E ao ter contato com professores e profissionais do Direito, assim como com os recém-formados na área, é que decidi entrar para essa turma também, aproveitando inclusive o desconto de 40% que tenho na mensalidade por ser minha segunda graduação na Unifor”, Eulália Páscoa, estudante de Direito e egressa do curso de Psicologia da Unifor.
E se a conquista do primeiro diploma já foi um divisor de águas na vida de Ana Eulália, levando em conta seu ingresso numa universidade particular através do FIES, vestir a beca pela segunda vez será motivo de orgulho renovado para toda uma linhagem familiar. “Sou a primeira da minha família a conseguir acessar uma universidade. E isso só foi possível graças ao programa de financiamento do Governo Federal. De minha parte, agarrei todas as oportunidades que a Unifor me deu para crescer como estudante e profissional. Inclusive foi como aluna-estagiária de Psicologia que conheci a Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (CISPE) onde, após me graduar, consegui me efetivar como psicóloga jurídica. E é graças a esse emprego que hoje posso pagar minha segunda graduação”, festeja.
A ex-aluna de Psicologia que passava o dia na universidade envolvida em grupos de estudos e projetos como o Jovem Voluntário é a mesma que hoje se dedica ao máximo para realizar o sonho de lecionar no curso de graduação em Direito da Unifor. “Parece coisa de louco: já tenho registro e trabalho como psicóloga, mas me apaixono cada vez mais pela docência e pela teoria jurídica. Por isso quero me especializar e seguir com mestrado e doutorado nessa área, se possível, até um dia poder entrar na sala de aula como docente. Virou prioridade e devagar sei que posso chegar lá”, encoraja-se a estudante de Direito recém-chegada ao curso que tem nota máxima na avaliação do Ministério da Educação.
Elas querem mais!
“A Psicologia me escolheu”. É o que declara e percebe, sem titubear, a professora universitária Juliana Costa, 35, cuja primeira graduação foi em Terapia Ocupacional, na Unifor. A descoberta de uma nova vocação veio enquanto cursava mestrado em Saúde Coletiva na Universidade Estadual do Ceará. “Me deparei com a Psicologia Social e daí em diante já estava certa de que minha carreira profissional seria na área. Em 2015, fui agraciada com uma bolsa 100% em uma universidade particular e não pensei duas vezes em cursar. Só que me arrependi, porque o ensino não era de qualidade. Daí tranquei, sem desistir do sonho, mas chateada em ter perdido tempo”, recorda.
“Hoje, tenho 25% de desconto na mensalidade por ter transferido o curso e estou totalmente satisfeita, a ponto de já planejar um doutorado lá na frente e me enxergar lecionando na Unifor”, Juliana Costa, estudante de Psicologia da Unifor e egressa do curso de Terapia Ocupacional.
Finda a pandemia, Juliana não teve dúvidas em refazer o caminho já trilhado na primeira graduação. “Resolvi pagar para retornar à Unifor e cursar Psicologia na melhor, justamente porque havia sido aluna e percebido que não há parâmetro de comparação com outras universidades nem em termos de infraestrutura nem quanto à excelência do corpo docente”, ressalta.
Ao contrário da futura psicóloga Juliana, que tem pressa e quer correr atrás do tempo perdido, inclusive solicitando desde o 1º semestre o reaproveitamento de disciplinas cursadas anteriormente, a graduada em Letras pela Universidade Federal do Ceará, Alice Ferreira Gomes, prefere desacelerar e aproveitar cada dia e hora de sua segunda graduação, iniciada em 2022.1. Aos 58 anos, ela é, visivelmente, a mais entusiasta das alunas do curso de bacharelado em Moda da Unifor.
“Por 25 anos, fui professora titular de espanhol da Casa de Cultura Hispânica da UFC. Me aposentei com 55 anos porque já tinha chegado à doutora, ou seja, ao topo da carreira acadêmica, inclusive tendo estudado e morado na Espanha. Então me veio de súbito o desejo de uma segunda graduação. Sempre gostei de moda, desde muito jovem, e um belo dia, conversando com uma amiga, convidei: ‘Aninha, vamos cursar juntas a nova graduação em Moda da Unifor?’. Ela respondeu, de pronto: ‘Vamos!’. E partimos no mesmo dia para conhecer o campus e o curso de perto. Fomos tão bem recebidas que já queria começar ali, na hora”, ri-se.
O gosto reavivado pelo conhecimento e pela sala de aula Alice quer sorver aos poucos, inclusive sem saber ao certo se quer seguir ou não uma carreira profissional. Por isso, só está cursando três disciplinas no 1º semestre, enquanto o restante da turma mais jovem encara até sete delas.
“Eu estou cursando Moda por prazer, então quero todo o tempo do mundo para me dedicar às leituras, aos desenhos das coleções, às oficinas, aos eventos, aos projetos de extensão. Sabe aquela aluna Nota 10? É o que quero ser. Tudo porque voltei a ter brilho no olho, aquele mesmo que tinha aos 18 anos quando cursei a primeira graduação. Acontece que nessa época tinha que trabalhar e estudar, vivia aquele ritmo acelerado de conquista que é próprio do jovem. Por isso não aproveitei a UFC como venho aproveitando agora a Unifor. E esse é um dos principais motivos pelo qual não quero atropelar esta que já é uma das melhores experiências da minha vida”, Alice Ferreira, graduada em Letras e hoje estudante de Moda.
Em tempo: Aninha, a amiga de Alice, é Ana Lúcia Nogueira, quiçá a segunda aluna mais realizada do Bacharelado em Moda da Unifor. “Certamente eu sou a mais realizada da classe, mas parte dessa realização pessoal vem também da alegria de, depois de aposentada, poder voltar a estudar com uma das minhas melhores amigas. Fomos madrinhas de casamento uma da outra. E agora caímos no meio de uma turma de jovens com quem trocamos ideias de igual para igual e com total empatia, sem qualquer tipo de barreira ou preconceito. Em sala de aula somos todas aprendizes com a mesma idade. Esse acolhimento, que também vem do corpo docente afinadíssimo, não tem preço e reforça a escolha acertada que fiz pela Unifor. Ainda bem que guardei na memória os elogios que minha irmã fazia quando foi estudante de Direito dessa mesma universidade. Peguei o bastão e não largo mais”, celebra.