Pesquisa Unifor: estudos utilizam espectrometria de massa para revolucionar o diagnóstico de doenças críticas
seg, 6 outubro 2025 20:28
Pesquisa Unifor: estudos utilizam espectrometria de massa para revolucionar o diagnóstico de doenças críticas
Desenvolvidas no Nubex, as pesquisas têm o objetivo de detectar padrões únicos de proteínas ou a ausência delas, ou mesmo modificações, em pacientes com determinadas condições patológicas

A espectrometria de massas é uma técnica analítica poderosa que permite identificar e quantificar moléculas em uma amostra, medindo sua razão massa/carga. Em termos mais simples, ela “pesa” as moléculas e, a partir dessa pesagem, se torna possível identificar a sua composição e estrutura. É como ter uma balança molecular de altíssima precisão, melhorando os resultados na identificação de doenças críticas como câncer e diabetes.
Nesse contexto, a precisão e a agilidade no diagnóstico representam fatores cruciais para a gestão da saúde e o tratamento dessas patologias. Por isso, a Universidade de Fortaleza (Unifor), mantida pela Fundação Edson Queiroz, tem intensificado os investimentos no avanço científico por meio de pesquisa e inovação. Desde a instalação do primeiro espectrômetro de massas na instituição, em 2011, já foram produzidos mais de 100 trabalhos na área, como artigos científicos, dissertações, teses, supervisões, entre outros.
Nas instalações de pesquisa de alta tecnologia do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex), uma equipe de pesquisadores utiliza a análise proteômica — uma avaliação do conjunto de proteínas de uma amostra biológica — por espectrometria de massas para estudar padrões moleculares, com o objetivo central de identificar biomarcadores de doenças.
Esta abordagem contribui para um diagnóstico precoce e mais eficaz em condições de saúde como câncer e diabetes, com o potencial de desenvolver tratamentos mais personalizados e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A pesquisadora Ana Cristina de Oliveira, diretora do Nubex, está à frente dessas investigações e conta que, em seu campo de estudos — especialmente na bioquímica e na proteômica —, a espectrometria de massas é fundamental. Ela explica que a técnica permite analisar o conjunto de proteínas presentes em amostras biológicas, como plasma/soro sanguíneo, tecidos ou outros fluidos biológicos (como saliva, liquor, urina e sêmen).
Por meio desse método, também se pode compreender de que forma essas proteínas interagem e se modificam em diferentes condições, como na presença de uma enfermidade. Isso é essencial para a prospecção de biomarcadores de doenças.
Cristina conta que a prospecção de biomarcadores busca e identifica indicadores biológicos mensuráveis que podem sinalizar a presença de uma doença, seu estágio de progressão, a resposta a um tratamento ou até mesmo a predisposição a certas condições. Esses parâmetros podem ser diversas moléculas, como proteínas, carboidratos, metabólitos, entre outros.
“Nosso foco, utilizando a espectrometria de massas, é aprofundar essa busca, especialmente no que tange às proteínas e glicoproteínas. Ao identificar padrões únicos de proteínas ou a ausência delas, ou mesmo suas modificações, em pacientes com determinadas condições, conseguimos encontrar essas assinaturas moleculares da doença”, afirma a pesquisadora.
“A importância desses estudos é imensa e tem o potencial de realmente revolucionar o diagnóstico e o tratamento de doenças, especialmente câncer e diabetes. Atualmente, muitos diagnósticos são feitos em estágios avançados, o que limita as opções terapêuticas e reduz as chances de cura. A prospecção de biomarcadores visa mudar esse cenário com diagnóstico precoce, monitoramento da doença e tratamento, menor invasividade e diagnóstico mais preciso” — Ana Cristina de Oliveira, diretora do Núcleo de Biologia Experimental da Unifor
O desenvolvimento desses trabalhos realizados na Unifor tem contado com uma robusta rede de colaboração com docentes, pesquisadores e colaboradores da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (Uece), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-CE), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras instituições nacionais e internacionais.
As equipes de pesquisa contaram com a participação de egressos do Doutorado em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Unifor e do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFC.
As pesquisas são conduzidas com uma abordagem multidisciplinar, integrando diversas técnicas e áreas do conhecimento. Entre os aspectos que sustentam e enriquecem esses estudos, destacam-se:
- Metodologias e áreas de expertise;
- Bioquímica
- Química de proteínas
- Análise proteômica e espectrometria de massas;
- Biologia molecular e celular;
- Farmacologia e biofísica;
- Química e biotecnologia de carboidratos;
- Estudos in silico (Bioinformática).
- Colaborações interinstitucionais;
- Financiamento.
Revolucionando a medicina moderna
Também docente do curso de Farmácia, do PPGCM da Unifor e do Doutorado em Biotecnologia da Renorbio, Cristina explica que a prospecção de biomarcadores de doenças por espectrometria de massas representa uma fronteira avançada na medicina moderna.
A identificação de biomarcadores específicos, diz ela, tem um impacto profundo na medicina de precisão, oferecendo caminhos para diagnósticos mais precisos e personalizados. Com informações detalhadas sobre a condição molecular do paciente, os médicos podem:
- diagnosticar doenças precocemente,
- personalizar tratamentos,
- monitorar a progressão da doença e a resposta ao tratamento.
“À medida que a tecnologia de espectrometria de massas continua a evoluir e os bancos de dados proteômicos se expandem, a capacidade de identificar biomarcadores relevantes para doenças críticas se tornará cada vez mais refinada”, ressalta a diretora do Nubex.
Segundo Ana Cristina, os estudos conduzidos têm um impacto multifacetado na sociedade, se estendendo por diversas esferas. Na saúde pública, melhora o diagnóstico e permite a identificação precoce e precisa de enfermidades, o que também pavimenta o caminho para o desenvolvimento de novas terapias mais eficazes e personalizadas. A capacidade de identificar rapidamente biomarcadores ainda pode ser fundamental no combate a emergências sanitárias, agilizando a resposta a surtos e novas doenças.
Além do impacto na saúde, as pesquisas impulsionam o desenvolvimento tecnológico e econômico, estimulando a inovação e o desenvolvimento de novas soluções e produtos. Isso fomenta a formação de mão de obra qualificada, preparando profissionais altamente especializados para atuar em áreas de ponta. Já a transferência de conhecimento garante que as descobertas científicas não fiquem restritas ao ambiente acadêmico, se traduzindo em aplicações práticas para a população e fortalecendo o ecossistema de pesquisa e inovação.
Felipe Sousa, doutor em Biotecnologia e pesquisador no Nubex, opera um espectrômetro de massas de alta resolução na Unifor. O equipamento é empregado na análise e caracterização de biomarcadores presentes no proteoma, um conjunto de proteínas de um determinado organismo.
A importância desses estudos, diz ele, reside na capacidade de prospectar moléculas que atuam como indicadores de estágios específicos da doença, refletindo a condição patológica em investigação. Desse modo, possibilita a busca por potenciais alvos terapêuticos, sejam eles relacionados ao prognóstico ou destinados a aprimorar tanto o diagnóstico quanto o tratamento de enfermidades específicas.
O pesquisador conta que o principal impacto para a sociedade reside na concretização de estudos desenvolvidos a partir da pesquisa de base realizada, em sinergia com o suporte clínico oferecido pelos profissionais envolvidos e a infraestrutura disponível.
“Tais investigações visam fomentar o desenvolvimento de fármacos com atuação em alvos terapêuticos específicos, promovendo melhorias substanciais em diversos estágios das enfermidades enfrentadas pelos pacientes. Considerando os vultosos investimentos e o elevado custo inerente à pesquisa, é fundamental que esta gere um retorno significativo à sociedade, materializado em avanços terapêuticos e na otimização do tratamento dessas patologias” — Felipe Sousa, doutor em Biotecnologia e pesquisador do Nubex
Benefícios para a saúde pública
A professora Cristina comenta que, especificamente para a saúde pública e a sociedade em geral, os benefícios são profundos e abrangentes, sendo eles:
- Melhoria da qualidade de vida;
- Redução de custos para o sistema de saúde;
- Prevenção de doenças;
- Sustentabilidade.
Marina Lobo, professora de Biologia Celular na UFC, desenvolveu sua tese de doutorado em Bioquímica dentro do Laboratório de Espectrometria de Massas da Unifor entre 2012 e 2016. Com orientação da professora Ana Cristina de Oliveira, ela focou na busca de biomarcadores séricos do câncer de mama que auxiliassem no diagnóstico precoce e prognóstico da doença.
“Atualmente, em parceria com a professora Dra. Ana Cristina e o pesquisador Dr. Felipe Sousa, mantenho estudos utilizando a espectrometria de massas, principalmente com o objetivo de avaliar, compreender e desvendar respostas celulares em diferentes contextos biológicos”, declara. Para Marina, estudos como esse levam esperança para um tratamento melhor e mais rápido das doenças diagnosticadas.
“Já há algum tempo temos notícias de cirurgias guiadas por espectrometria de massas, por exemplo, para a detecção e análise de moléculas em tempo real durante o procedimento cirúrgico. Com isso, a diferenciação de tecidos saudáveis e doentes, a identificação de tumores e a melhor avaliação de margens cirúrgicas são obtidas com segurança e acurácia” — Marina Lobo, professora de Biologia Celular da Universidade Federal do Ceará
A docente ressalta que, com os avanços acelerados da técnica, cada vez mais novos dados estão disponíveis para a comunidade científica e a sociedade como um todo. Isso chega na forma de diagnósticos mais precoces, alternativas mais viáveis de monitorar tratamentos, possibilidades de rastreio e compreensão da fisiopatologia de diversas doenças.
Resultados e estrutura
Uma vasta gama de pesquisas foi desenvolvida ao longo dos anos, com quase uma centena publicações em periódicos científicos de alto impacto e depósitos de patentes. Desde a instalação do primeiro espectrômetro de massas na Unifor, em 2011, já foram produzidos:
- quase 70 artigos científicos em periódicos internacionais;
- 10 teses de doutorado;
- 8 dissertações de mestrado;
- 3 supervisões de pós-doutorado com bolsas do CNPq e CAPES;
- 10 trabalhos de conclusão de curso de graduação;
- 25 orientações de alunos de iniciação científica dos cursos de graduação em Farmácia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição e Enfermagem;
- colaborações com várias instituições do Norte e Nordeste.
A Universidade de Fortaleza oferece um suporte abrangente e contínuo para o desenvolvimento dessas pesquisas, o que é essencial para a qualidade e o sucesso dos projetos. Esse suporte pode ser visto em diversas frentes como infraestrutura de ponta, financiamento e bolsas, programas de pós-graduação, cultura de inovação e colaboração e reconhecimento institucional.