A mulher bibliotecária, a paixão pela escrita e a oportunidade de ajudar outras mulheres: conheça a bibliotecária Luziana Lourenço

Em março, celebramos tanto o Dia Internacional da Mulher (08), quanto o Dia do Bibliotecário (12). Coincidentemente, o mês de comemoração é o mesmo, embora a relação entre a profissão e o gênero feminino seja uma realidade histórica, principalmente no que tange às desigualdades sociais e econômicas enfrentadas por mulheres ao longo dos anos. Em média, 82% dos profissionais de biblioteconomia são mulheres, segundo os registros dos Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB). Entretanto, quando se trata de mulheres bibliotecárias em cargos de liderança, essa porcentagem cai consideravelmente (Müller, 2019). Isto sem contar nos problemas generalizados enfrentados por mulheres no mercado de trabalho, como a disparidade salarial entre homens e mulheres exercendo o mesmo cargo/função, apesar de maior nível de escolaridade em relação aos colegas do sexo oposto; maternidade, e; sexualidade (Müller, 2019).

Os bibliotecários são profissionais que desempenham um papel fundamental na sociedade ao atuarem como mediadores entre as pessoas e a informação. Esses profissionais não apenas organizam e preservam acervos, mas também facilitam o acesso à informação de qualidade, instrumento fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O trabalho do bibliotecário contribui para o fortalecimento da democracia e da cidadania, uma vez que fornece às pessoas as ferramentas necessárias para exercer seus direitos e deveres de maneira informada e consciente.

É nesse cenário que conheceremos o trabalho da bibliotecária Luziana Lourenço, que faz parte da equipe de bibliotecários da Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza, e que uniu o orgulho de ser bibliotecária e a paixão pela escrita para somar na luta contra a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher.

Bibliotecária, escritora e, antes de tudo, mulher

Para Luziana, a função do bibliotecário vai além de organizar a informação: envolve também mediá-la de maneira eficaz. Reconhecendo a responsabilidade social de sua profissão e sua preocupação com o alarmante aumento dos casos de violência doméstica e feminicídio, Luziana, enquanto mulher, mãe solo e feminista, sentiu a necessidade de apoiar outras mulheres na luta contra qualquer forma de violência de gênero. Dessa necessidade nasceu a obra “Como enxergar a luz”, um romance que explora narrativas reais de casos de violência doméstica e autodescoberta em meio a relacionamentos abusivos e afetos tóxicos.

A publicação é direcionada às pessoas que vivenciaram e/ou vivenciam algum tipo de sofrimento, angústia e medo nas suas relações afetivas. O livro incentiva a autonomia de gênero, além de convidar a participação dos homens para a criação de uma consciência coletiva de redução de desigualdades que atingem as mulheres. “Escrever esse livro foi de suma importância em minha vida, pois utilizei a escrita como uma forma de terapia”, confidencia a autora. Foram cinco anos de escrita pautada na pesquisa bibliográfica e na escuta de relatos de pessoas nos mais variados gêneros que vivenciaram ou presenciaram casos de relacionamento doméstico. “É importante destacar que em torno de 90% dos depoimentos foram de mulheres que sofreram violência doméstica”, pontua.

Um fato interessante é que, foi durante uma conversa com um grupo de mulheres sobre o desafio da guarda compartilhada dos filhos em casos de violência doméstica que surgiu um projeto de lei, que mais tarde se transformou na Lei 14.713/2023, que estabelece o risco de violência doméstica ou familiar como causa impeditiva ao exercício da guarda compartilhada. Esta lei prevê o risco de violência como critério para limitar a guarda compartilhada, uma das grandes conquistas alcançadas após o lançamento do livro.

Se quiser saber mais sobre a história, a atuação profissional e engajamento social da bibliotecária Luziana, não deixe de conferir o Libricast, episódio #28: A mulher bibliotecária, a paixão pela escrita e a oportunidade de ajudar outras mulheres, clicando aqui.

Você também pode fazer o download do livro gratuitamente aqui, ou adquirir fisicamente aqui. Para empréstimo do livro na Biblioteca Central da Unifor clique aqui, mas lembre-se de estar autenticado no seu Unifor Online.
Informações Úteis: Falar sobre essas temáticas é necessário para empoderar a vítima, uma vez que ela não é culpada pelas agressões e não deve se manter num relacionamento abusivo. É preciso dar um basta em qualquer tipo de violência, seja ela física, psicológica, moral, patrimonial ou sexual. Ligue e denuncie: 180 - Central de Atendimento à Mulher. Também é possível realizar denúncias pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério dos Direitos Humanos (MDH).

Referências

COSTA, A. A.; SARDENBERG, C. M. B. Feminismos, feministas e movimentos sociais: mulher e relações de gênero. São Paulo: Loyola, 1994.

MOREIRA, L. L. Como enxergar a luz. Fortaleza: Cultura & Informação, 2023. 192 p. ISBN 9786585498012. Disponível em: https://uol.unifor.br/auth-sophia/exibicao/34366. Acesso em: 13 mar. 2024.

MULLER, L. K. P. Uma Profissão Feminina, Mas Não Feminista? Representatividade De Gênero Na Gestão Dos Conselhos Regionais De Biblioteconomia No Brasil. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, [S.l.] v. 15, n. esp. p. 92 - 111, 2019. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1363. Acesso em: 19 abr. 2024.


Luziana Lourenço Moreira - Bibliotecária do Setor de Desenvolvimento de Coleções - SDC
Thailana Tavares - Bibliotecária da Videoteca e editora do Blog