História e a importância dos sebos como fonte de memória da sociedade
Uma “casa” de livros. Todo mundo já deve ter visto nas ruas de comércio popular, entre lojas de eletrodomésticos, aviamentos, consertos de eletroeletrônicos, uma casa de livros. Um lugar com livros que se amontoam da calçada ao quintal. Livros por toda parte, de todas as formas: livros novos, semi-novos, livros bem antigos. Didáticos, paradidáticos, livros de receita e de literatura. Livros com marcas de uso, com dedicatórias, assinaturas e datas. Livros cujas histórias transcendem suas existências. Assim são conhecidos os tradicionais sebos, pontos de encontro de amantes da leitura e colecionadores, e tema do episódio #29 do Libricast, o podcast da Biblioteca Central da Unifor, que contou com a participação de Aryanna Amorim, bibliotecária, historiadora e escritora. O tema abordado do episódio foi “História e a importância dos sebos como fonte de memória da sociedade”, baseado na pesquisa que a convidada desenvolveu no seu mestrado em História e Cultura pela Universidade Estadual do Ceará.
Aryanna conta toda a sua trajetória acadêmica, bem como os motivos pelos quais escolheu trabalhar com esse objeto tão peculiar, os sebos. O seu interesse e a sua afinidade com os livros permeou cada escolha de pesquisa e moldou o seu caminho, levando-a a escolher trabalhar especificamente com livrarias de livros usados, uma decisão baseada na sua própria experiência pessoal com esses locais.
Chegando ao mestrado, a convidada se dedicou a estudar as experiências dos sebistas da cidade de Fortaleza que atuaram no mercado de livros usados do ano de 1960 a 2000, a fim de investigar em que medida as experiências desses sujeitos eram importantes para a construção de uma história dos sebos de Fortaleza (Amorim, 2015). A partir dos dados, coletados através das entrevistas, Aryanna constatou que as experiências dos sebistas são, não somente importantes para contar essa história, mas fundamentais, uma vez que foram eles mesmos construtores dessa história e não meros expectadores (Amorim, 2015).
Sobre os sebos
O Dicionário Aurélio da língua portuguesa define “sebo” como uma livraria onde se vendem livros usados (Ferreira, 2010). Conta-se que o nome “sebo” vem do tempo em que não havia energia elétrica e as pessoas liam a luz de velas, sujando e engordurando os livros, surgindo assim os termos “ensebado” e “sebento” (Delgado, 1999). O nome “sebo”, bem como, o nome “sebista”, não é consenso dentro do mercado de livros usados, pois, devido à alusão pejorativa do termo, que nos remete também ao termo “seboso” que, por sua vez, transmite uma ideia negativa, “muitos são os livreiros que não gostam de ser chamados de sebistas” (Delgado, 1999, p. 51), preferindo que os chamem de “livreiros”.
Segundo Delgado (1999, p. 30) “a presença de livros no Brasil
remonta ao século XVI”. De teor predominantemente religioso, os livros
foram trazidos pelos jesuítas para subsidiar os estudos nos colégios,
construindo, no decorrer do tempo, bibliotecas como a de Salvador, Rio
de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Então, com a expulsão dos
jesuítas do Brasil, o acervo bibliográfico dessas bibliotecas se
perdeu.
Conforme Delgado (1999), no século XVIII no Brasil talvez
fosse mais apropriado falar em “casas de comércio” do que em
livrarias, pois as livrarias existentes vendiam livros juntamente com
outras mercadorias, não sendo especializadas unicamente na venda de livros.
Esses espaços, que muitas vezes exalam o aroma inconfundível de páginas antigas, são mais do que simples lojas; são verdadeiros refúgios para aqueles que buscam preciosidades literárias ou apenas desejam se perder em meio a tantas palavras e histórias.
Confira a entrevista com a bibliotecária Aryanna Amorim
na íntegra, no episódio 29º do LibriCast e se delicie com as
histórias apresentadas, assim como poder conhecer o encanto dos
sebos que são locais repletos de histórias, cultura e
representatividade. Clique aqui.
Referências:
AMORIM, A. da C. Os livros eram vendidos “no grito mermo”: experiências dos sebistas da cidade de Fortaleza (1960 – 2000). Dissertação (Mestrado em História e Culturas) – Universidade Estadual do Ceará, UECE, Fortaleza, 2015. Disponível em: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=84681. Acesso em: 30 abr. 2024.
DELGADO, M. C. Cartografia sentimental de sebos e livros. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
FERREIRA, A. B. de H. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.
Aryanna Amorim - Bibliotecária do Setor de Apoio ao Ensino e a Cultura