29º Cine Ceará exibe filmes realizados por universitários cearenses

qua, 28 agosto 2019 10:04

29º Cine Ceará exibe filmes realizados por universitários cearenses

Curso de Cinema da Unifor integram a programação com três curtas-metragens. Festival acontece de 30 de agosto a 6 de setembro, em Fortaleza, Ceará.


"Oração ao Cadáver Desconhecido" (Dir. Sávio Fernandes), "Icarus" (Dir. Vitor Rennan e Vitória Régia) e "A mulher da pele azul" (Dir. Esther Arruda e Pedro Ulee) compõem a programação do Cine Ceará. Foto: Bruno Bressam.

O Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema se consolida como porta de entrada para diversos cineastas brasileiros. Em sua 29ª edição, o festival, que acontece de 30 de agosto a 6 de setembro na capital do Ceará, abre ainda mais espaço para a produção local. Neste ano, o festival recebeu, das 985 produções concorrentes de todas as regiões do Brasil, um recorde de longas-metragens cearenses, nove no total, e 102 curtas realizados no estado. Dentre as diversas produções cearenses selecionadas, algumas são ainda universitárias.

Sávio Fernandes, diretor do curta-metragem “Oração ao Cadáver Desconhecido”, é estudante do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza. Seu filme, uma ficção científica que narra a história de um pai e de um filho que trabalham numa marcenaria em um interior e se deparam com um corpo estranho, integra a Mostra Competitiva Brasileira de Curta-Metragem - composta por mais 11 filmes, sendo cinco do Ceará.

Para Sávio, a experiência de realizar o curta-metragem “foi incrível”. “Oração ao Cadáver Desconhecido” é uma ficção científica nada parecida com o que os estudantes já tenham feito, de acordo com o diretor. “Foi bem ousado, porque a gente saiu da nossa zona de conforto. Fizemos coisas que a gente nem sabia que era possível. E foi incrível. A gente simulou um interior, no meio do mato, dentro do próprio campus da universidade, com enquadramentos específicos, para fazer esse filme possível”, revela.

O curta-metragem teve a pré-produção e a produção realizadas durante a disciplina de Tutoria II, com pós-produção concebida durante a disciplina de Tutoria III, ministradas, respectivamente, pelo professor Valdo Siqueira e pela professora Lis Paim. As disciplinas de Tutoria (I, II e III), contempladas na matriz curricular anterior do curso de Cinema da Unifor, são espaços de aprofundamento dos processos de realização audiovisual. Na nova matriz, elas permanecem na grade com o mesmo conceito, mas com o nome de Cine Experiência V, VI e VII.

“A gente montou, viu questões de mixagem, de edição de som e de correção de cor. Tudo isso também com tutorias de profissionais que já trabalham no mercado, como o Lucas Coelho e o Guto Parente”, comenta Sávio Fernandes. A produção tem sua estreia nesta quarta-feira, 04 de setembro, às 19h30, no Cineteatro São Luiz, com debate na quinta-feira, 05 de setembro, às 10h, no Hotel Oásis Atlântico.

Estar no Cine Ceará

“O Cine Ceará é um dos festivais mais importantes do Brasil. E isso é muito massa, porque acontece aqui na capital, acontece no nosso estado [Ceará]”, comenta Esther Arruda, estudante de Cinema e Audiovisual da Unifor. Esther é diretora, juntamente com Pedro Ulee, do documentário “A mulher da pele azul”, selecionado para a Mostra Olhar do Ceará. O curta-metragem, que será exibido nesta segunda-feira, 02 de setembro, às 14h30, na sala 2 do Cinema do Dragão, aborda a história da bailarina fantasma do Theatro José de Alencar (TJA), a relação das pessoas que já a viram e que vivem no lugar - referência em arte e cultura no Ceará. A sessão seguirá com debate entre os realizadores.

O documentário, realizado durante a disciplina “Cine Experiência III” do curso de Cinema da Unifor, ministrada em 2019.1 pelo professor Márcio Câmara, utiliza elementos ficcionais para dar vida ao espírito da bailarina Maria Amélia. Esther comenta que a equipe vivenciou tanto o teatro e a história que acabaram imersos na essência de Maria Amélia. “Ela faleceu fora do teatro, mas o seu espírito retorna porque aquele lugar é, de fato, a sua casa. Ela passava mais tempo lá do que vivendo a sua vida rotineira. É interessante que nós sejamos mais como ela. Viver esses lugares, que contam as nossas histórias e a história da cidade. Ocupar esses lugares e deixar também a nossa essência neles” - declara.

Sobre a seleção para o 29º Cine Ceará, Esther destaca: “poder levar esse documentário para o festival foi algo que chacoalhou bastante toda a equipe”. “É como se fosse algo muito distante. Estava no terceiro semestre, estou no quarto agora” - conta Pedro Ulee, também diretor de “A mulher da pele azul”. “A abertura do festival para filmes feitos na universidade estimula e mostra para a gente que é uma realidade muito mais próxima do que a gente pensa. E isso motiva. Motiva a fazer outros trabalhos, a crescer.. São pequenas conquistas que a gente vai guardando, acumulando e vai se sentindo capaz”, ressalta Pedro Ulee.

Apesar de sempre ter tido vontade de dirigir um filme, Ulee ficou receoso com o convite para dividir a direção do curta-metragem. “Eu senti tudo ficar mais leve quando começaram as gravações. Eu acho que foi um desafio que eu consegui superar. Hoje eu sinto que estou mais preparado para fazer coisas maiores” - conta. Segundo o estudante, a experiência de realizar o documentário foi transformadora, orgânica e fluida.

Potência artística

Vitor Rennan e Vitória Régia, estudantes de Cinema da Unifor, exibem o documentário “Icarus” na Mostra Olhar do Ceará, nesta quarta-feira, 04 de setembro, às 14h30, na sala 2 do Cinema do Dragão. O curta-metragem é uma realização da disciplina de "Cine Experiência III", ministrada em 2018 pelo professor Tiago Therrien. Na trama, o retorno à cidade natal de um estudante de cinema gera conflitos íntimos. Seu passado afeta o presente e as reflexões o guiam para um caminho de redenção. Durante o decorrer da produção do curta-metragem, os estudantes tiveram a tutoria de Tiago Pedro, artista visual, poeta e realizador formado pela EICTV – Escola Internacional de Cine y TV – CUBA.

Para Vitor Rennan, o curta-metragem é um amontoado de imagens da sua fantasia, uma experiência imagética e sonora daquilo que ele há muito tempo guardava n’alma. “De repente eu senti a necessidade de falar de um luto. Na verdade, de um compilado de perdas que eu sofri na minha vida. Lembro que, na própria aula, eu simplesmente abri o caderno, fiz uma estrutura de uma forma muito rápida e o tópico principal era esse. A partir daí, eu percebi que estava pronto para falar sobre um período da minha vida que foi muito simbólico, que me mudou, me desconstruiu e me fez construir a pessoa que eu sou hoje” - frisa.

Após a ideia do filme ter sido delineada, Vitor Rennan e Vitória Régia, co-diretora de “Icarus”, viajaram até Icó (cidade natal do diretor). Um momento de ação conjunta, intimidade, redenção e abertura de almas entre os dois. O trabalho, que fala de algo tão complexo com sensibilidade e poesia, caminha por raízes para dar sentido às perdas marcadas no agora. Para os diretores, estar no Cine Ceará é sinônimo de felicidade, vivência, aprendizado e realização.

Uma nova perspectiva

Esse cenário reflete a potência da produção cearense, fortalecida por um cenário de formação bastante diverso, que inclui dois cursos de bacharelado e outras experiências de formação, como a do Porto Iracema das Artes e da Casa Amarela Eusélio Oliveira. “Nós temos um cenário muito dinâmico e os jovens realizadores do estado estão num ritmo de produção muito intenso e criativo, com filmes que permanentemente ganham prêmios no circuito de festivais no Brasil e no mundo", observa Bete Jaguaribe, coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, primeiro curso universitário de cinema do Ceará.

Bete Jaguaribe acentua a importância do Cine Ceará como lugar de exibição e reconhecimento da produção audiovisual do país e do Ceará. “É um lugar de encontro, de debate, de legitimação da nossa produção audiovisual. No próximo ano, o festival completa 30 anos. É um feito extraordinário” - complementa. 

A participação dos filmes dos alunos da Unifor nas duas mostras de curtas-metragens do festival também é acentuada pela professora. Destaque, ainda, para “Marie” (Dir. Léo Tabosa), que contou com a produção executiva de Arthur Leite, coordenador do Curso Básico de Audiovisual do Porto Iracema das Artes e egresso do curso de Cinema da Unifor. O curta-metragem compõe a Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem do Festival. A professora Bete Jaguaribe comemora: “é maravilhoso, é o reconhecimento do talento de nossos jovens alunos”.

O Festival

O 29º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema é uma promoção da Universidade Federal do Ceará, através da Casa Amarela Eusélio Oliveira, com apoio do Governo do Estado do Ceará por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (SIEC), Secretaria Estadual da Cultura, e da Prefeitura de Fortaleza através da Secultfor. Conta com patrocínio de empresas públicas e privadas, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, através da SP Combustíveis, M. Dias Branco, Café Santa Clara e Cegás. Agradecimentos: Enel. A realização é da Associação Cultural Cine Ceará, Bucanero Filmes e da Secretaria Especial da Cultura – Governo Federal.

Selecionados para a Competitiva Ibero-americana

  • El viaje extraordinario de Celeste García / A viagem extraordinária de Celeste García. Dir. Arturo Infante. Ficção. 2018. 92min. CUBA.

  • Canción Sin Nombre / Canção sem nome. Dir. Melina León. Ficção. 2019. 97min. PERU.
  • Greta. Dir. Armando Praça. Ficção. 2019. 96min. BRASIL. 
  • Luciérnagas. Dir. Bani Khoshnoudi. Ficção. 2018. 85min. MÉXICO.
  • Notícias do fim do mundo. Dir. Rosemberg Cariry. Ficção. 2019. 70min. BRASIL.
  • Ressaca. Dir. Patrizia Landi e Vincent Rimbaux. Documentário. 2018. 86min. BRASIL.
  • Vozes da Floresta. Dir. Betse de Paula. Documentário. 2019. 95min. BRASIL.

Selecionados para a Competitiva Brasileira

  • Além da jornada. Dir. Victor Furtado e Gabriel Silveira. Ficção. 2019. Ceará.

  • As Constituintes de 88. Dir. Gregory Baltz. Documentário. 2019. Rio de Janeiro.
  • Ilhas de calor. Dir. Ulisses Arthur. Ficção. 2019. Alagoas.
  • Livro e meio. Dir. Giu Nishiyama e Pedro Nishi. Animação. 2019. São Paulo.
  • Marco. Dir. Sara Benvenuto. Ficção. 2019. Ceará.
  • Marie. Dir. Leo Tabosa. Ficção. 2019. Pernambuco.
  • O grande amor de um lobo. Dir. Adrianderson Barbosa e Kennel Rógis. Documentário. 2018. Rio Grande do Norte.
  • Pop ritual. Dir. Mozart Freire. Ficção. 2019. Ceará.
  • Primeiro ato. Dir. Matheus Parizi. Ficção. 2018. São Paulo.
  • Rua Augusta, 1029. Dir. Mirrah Iañez. Documentário. 2019. São Paulo.
  • O tempo do olhar e o olhar no tempo. Dir. Samuel Brasileiro. Documentário. 2019. Ceará.
  • Oração ao cadáver desconhecido. Dir. Sávio Fernandes. Ficção. 2019. Ceará.

Filmes da Mostra Olhar do Ceará

  • Longas-metragens
  • Currais. Dir. David Aguiar e Sabina Colares. Documentário. 2019. 91min.
  • Se arrependimento matasse. Dir. Lília Moema Santana. Ficção. 2019. 109min.
  • Tremor iê. Dir. Elena Meirelles e Lívia de Paiva. Ficção. 2019. 89min.

Curtas-metragens

  • A família marrom. Dir. Natal Portela. Documentário. 2019.

  • A mulher da pele azul. Dir. Esther Arruda e Pedro Ulee. Documentário. 2019.
  • A primeira foto. Dir. Tiago Pedro. Documentário. 2019.
  • Aqueles dois. Dir. Émerson Maranhão. Documentário. 2018.
  • Caretas. Dir. Sara Parente. Documentário. 2019.
  • Deusa Olímpica. Dir. Emília Schramm, Jéssika Souza, Pedro Luís Viana e Rafael Brasileiro. Documentário. 2018.
  • Espavento. Dir. Ana Francelino. Ficção. 2019.
  • Grilhões. Dir. Lucas Inocêncio. Ficção. 2018.
  • Hoje teci imagens que me habitam há muito tempo. Dir. Nilo Rivas. Experimental. 2019.
  • Icarus. Dir. Vitor Rennan e Vitória Régia. Documentário. 2018.
  • Iracema mon amour. Dir. Cesar Teixeira. Ficção. 2018.
  • O bando sagrado. Dir. Breno Baptista. Ficção. 2019.
  • Oceano. Dir. Amanda Pontes e Michelline Helena. Ficção. 2018.
  • Onde a noite não adormece. Dir. Paolla Martins e Rodrigo Ferreira. Ficção. 2018.
  • Onde a cidade é comida, saudade é fome. Dir. Willian Ferreira. Experimental. 2019.
  • Revoada. Dir. Victor Costa Lopes. Ficção. 2019.
  • Veias de fogo. Dir. Carnaval no Inferno. Documentário. 2019.

Serviço

29º Cine Ceará
Data: 
30 de agosto a 6 de setembro de 2019
Fortaleza, Ceará, Brasil.

  • “A mulher da pele azul” (Dir. Esther Arruda e Pedro Ulee): segunda-feira (02/09), às 14h30, na sala 2 do Cinema do Dragão. Classificação Indicativa da Sessão: 18 anos.
  • “Icarus” (Dir. Vitor Rennan e Vitória Régia): quarta-feira (04/09), às 14h30, na sala 2 do Cinema do Dragão. Classificação Indicativa da Sessão: 14 anos.
  • “Oração Ao Cadáver Desconhecido” (Dir. Sávio Fernandes): quarta-feira (04/09), às 19h30, no Cineteatro São Luiz. Classificação Indicativa da Sessão: 12 anos. Debate na quinta-feira (05/09), às 10h, no Hotel Oásis Atlântico.