Inflação e juros, nos EUA e Brasil, são dos destaques do mês de outubro

sex, 8 novembro 2024 17:18

Inflação e juros, nos EUA e Brasil, são dos destaques do mês de outubro

(Imagem: Getty Images)
(Imagem: Getty Images)

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.

Mercado de Capitais Internacional

A economia americana, em outubro, registrou desaceleração no mercado de trabalho, com apenas 12 mil novas vagas, abaixo das expectativas de 108 mil. Dessa forma, a taxa de desemprego permaneceu em 4,1%. O rendimento médio por hora avançou 0,4% no mês e acumula alta anual de 4%, apontando para um crescimento salarial ainda significativo, mas em linha com a desaceleração esperada pelo banco central americano, Federal Reserve (Fed). As informações divulgadas sobre pedidos de seguro-desemprego mostraram-se abaixo das expectativas, totalizando 227 mil novos pedidos. Esses dados reforçam as previsões do mercado para a continuação do ciclo de cortes na taxa de juros pela autoridade monetária americana, à medida que ganha força com sinais de controle da inflação e manutenções com relação ao emprego.

A inflação americana, medida pelo índice CPI, registrou aumento de 0,18% em setembro, superando a expectativa de 0,1%, enquanto o núcleo CPI, que exclui alimentos e energia, teve alta de 0,31%, registrando 3,31% no acumulado de 12 meses. Apesar da pressão do índice, a composição dos dados se mostra favorável. O PIB americano respondeu aos impulsos da queda da inflação e aumento dos salários apresentando um crescimento de 2,8% no terceiro trimestre de 2024, levemente abaixo da previsão de 3% dos economistas. A resposta dos mercados foi marcada pelo aumento do índice de volatilidade VIX, que atingiu 38,4%, refletindo uma crescente cautela dos investidores sobre o futuro da política monetária e a capacidade do Fed de manter um pouso suave. O índice S&P 500 e o Nasdaq recuaram 1,0% e 0,5%, respectivamente, mostrando a sensibilidade do mercado às incertezas econômicas.

Na Zona do Euro, a taxa de desemprego permaneceu em 6,3% em setembro, marcando uma nova mínima recorde, segundo os dados do Eurostat. O gabinete de estatística da União Europeia estima que 10,8 milhões de pessoas estão desempregadas, sendo percebido um aumento de 13 mil em relação ao mês anterior. O Banco Central Europeu (BCE) optou por cortar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual para 3,25%, com o intuito de impulsionar o crescimento econômico da região, após a apresentação de dados de controle inflacionário. A inflação da região fechou outubro em 2,0% frente a 1,7% em setembro, uma alta de 0,3%. Já a inflação subjacente, que exclui itens voláteis, fechou em 2,7%. O avanço inflacionário era esperado devido efeito estatístico, em razão da queda nos preços de energia do ano anterior. Com relação a produção na zona do euro, o PMI industrial caiu para 45,0, refletindo expectativas econômicas mais pessimistas na região, apresentando o nível mais baixo desde dezembro. A queda do índice reflete um cenário desafiador devido à queda nos pedidos e no volume de produção. Na região sul da Zona do Euro, economias como Espanha (53,0) e Grécia (50,3) apresentaram crescimentos satisfatórios, enquanto o desempenho da economia alemã (40,6) trouxe o índice geral para baixo devido ao peso de sua participação na composição do índice. O índice DAX alemão recuou 1,3%, espelhando a incerteza quanto à recuperação econômica da zona do euro, especialmente em meio às pressões sobre o setor industrial.

Na economia chinesa, a taxa de desemprego está em 5,1%. O índice de gerentes de compras (PMI) industrial subiu para 50,1 em outubro, superando a linha de expansão (+50 pontos) pela primeira vez desde abril, e o setor de serviços marcou 50,2, sugerindo estabilidade. Os dados apresentados corroboram para uma leve recuperação da economia chinesa. O Banco Popular da China (PBOC) cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual com índice atingindo 3,10% e o de 5 anos 3,60%. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) chinês subiu apenas 0,4%, abaixo do esperado. A economia chinesa enfrenta o maior período de deflação desde os anos 1990, e para conter a desaceleração dos preços e da atividade econômica, Pequim cortou as taxas de juros, ampliou apoio aos mercados imobiliários e o auxílio na dívida de governos locais, além reforçar o capital em bancos estatais e ofertou subsídios a população de baixa renda. O PIB do terceiro trimestre registrou crescimento de 4,6% ao ano, um resultado acima das expectativas e reforçado pelas medidas de estímulo governamental. No Japão, o Nikkei avançou 3,6%, impulsionado pela recuperação econômica da Ásia, pela expectativa de crescimento no comércio regional e pela reversão do mercado após episódio de agosto, quando índice caiu mais de 12% em apenas um dia. Diante dos fatos, os resultados demonstram as diferenças nas trajetórias das principais economias: enquanto os EUA e a zona do euro ajustam suas políticas para estabilizar o crescimento e controlar a inflação, a China segue em ritmo de estímulos. A volatilidade nos mercados, medida pelo aumento do VIX, reforça a cautela global e o foco em dados econômicos para avaliar as políticas monetárias.

Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Outubro/2024)

Índice / Ativo

País / Mercado

Variação (%)

Mês

Ano

12 meses

DJI

EUA

-1,34

10,81

26,35

S&P 500

EUA

-0,99

19,62

36,04

Nasdaq 

EUA

-0,52

20,54

40,80

Dólar

Forex

6,21

19,26

19,93

Bitcoin

Investing.com

10,96

66,30

102,80

Fonte: Valor Data; Investing.com

Mercado de Capitais Nacional

No Brasil, a taxa de desemprego caiu de 6,9% para 6,4% no terceiro trimestre do ano, segundo dados do IBGE. Na comparação anual, houve um aumento de 3,2%, equivalente a 3,2 milhões de pessoas ocupadas na economia brasileira. O aumento se deve principalmente ao setor de indústria (3,2%) e comércio (1,5%), totalizando 709 mil trabalhadores, sendo 416 mil na indústria e 291 mil no comércio. 

No mercado de crédito, a condução da política monetária brasileira está passando por mudanças significativas, refletindo a pressão inflacionária e riscos fiscais, impactando no endividamento das famílias e empresas no Brasil. Em setembro, a taxa de juros do cartão de crédito rotativo para pessoas físicas subiu para 438,42% ao ano, após um aumento de 11,51 pontos percentuais em relação a agosto. Essa alta é um reflexo da tendência de reversão das taxas de juros, que têm sido impactadas pela persistência da inflação no país. Para as empresas, os números foram diferentes, uma que vez que a taxa de juros do crédito rotativo recuou para 134,12% ao ano, após estar em 163,08% no mês anterior. 

No campo inflacionário, o IPCA-15 de outubro acelerou para 0,54%, superando levemente as expectativas do mercado de 0,50%, acumulando 4,47% nos últimos 12 meses, segundo dados do IBGE. O aumento teve impulso principalmente pelos grupos de habitação (0,26 ponto percentual) e energia elétrica residencial (0,21 ponto percentual) devido a bandeira tarifa vermelha que está em vigor desde o início de outubro. 

Quanto às expectativas de crescimento econômico, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima sua projeção de crescimento do PIB do Brasil para 2024, estimando um avanço de 3%, embora o país tenha caído para a 10ª posição entre as maiores economias globais. A agência de classificação de riscos Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil Ba2 para Ba1, estando a um degrau de recuperação do chamado grau de investimento que fora perdido em setembro de 2015. A nota reflete a confiança na condução das políticas de desenvolvimento do país, embora a credibilidade fiscal ainda seja descrita pela agência como mediana. Para 2025, a expectativa é de um crescimento é moderada, de 2,2%. O FMI alerta para riscos de volatilidade, desaceleração chinesa e tensões geopolíticas, que podem impactar economias emergentes, enfatizando a necessidade de políticas fiscais mais prudentes para garantir a estabilidade financeira e não sobrecarregar as decisões na condução da política monetária. 

O Senado aprovou Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central com 66 votos favoráveis e 5 contrários, após uma sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde foi aprovado por unanimidade. Atual diretor de Política Monetária do BC, Galípolo substituirá Roberto Campos Neto a partir de 2025, com um mandato de quatro anos. Durante a sabatina, enfatizou seu compromisso com o combate à inflação e garantiu ter recebido do presidente Lula a promessa de independência na gestão do Banco Central, apesar das críticas de Lula à autonomia da instituição. 

No mercado financeiro, o Ibovespa caiu 1,6%, refletindo a cautela dos investidores diante das incertezas econômicas, enquanto o dólar subiu 6,4%, mantendo sua tendência de valorização em relação ao real.

Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Outubro/2024)

Índice

Variação (%)

Mês Ano 12 meses

IBOV

-1,60

-3,00

15,00

IFIX

-3,06

-3,22

1,56

IEE

-3,73

-8,94

7,38

SMLL

-1,37

-14,85

2,51

ISE

-2,48

-6,99

13,48

Fonte: Valor Data; Investing.com

Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Outubro/2024)

Ação

Ticker

Variação

Preço

IRB

IRBR3

65,06%

R$ 48,38

Petz

PETZ4

38,86%

R$ 4,86

Marfrig

MRFG3

28,74%

R$ 14,56

Lojas Renner

LREN3

28,28%

R$ 17,01

Bradesco ON

BBDC3

26,14%

R$ 14,14

Fonte: Infomoney.com


Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Outubro/2024)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Azul

AZUL4

-32,63%

R$ 5,39

Vamos

VAMO3

-11,94%

R$ 7,60

Alpargatas

ALPA4

-10,47%

R$ 7,70

Yduqs

YDUQ3

-9,96%

R$ 9,85

Coqna

COGN3

-9,87%

R$ 1,37

Fonte: Infomoney.com

Ação estudada do mês: BANCO DO NORDESTE (BNBR3)

a) Análise fundamentalista

Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas

Indicador

Resultado

Índice P/L

4,48

Índice P/VP

0,85

DY - Dividend Yield

5,98%

Fonte: TradeMap 
Posição: 06.11.2024

Índice P/L é calculado a partir do preço da ação dividido pelo lucro por ação anual do ativo. Ele representa o quanto o mercado está disposto a pagar pelos ganhos de uma empresa. No caso de BNBR3, o P/L é igual a 4,48.

O índice P/VP é obtido após a divisão entre o preço do ativo e o valor patrimonial da empresa. No caso de BNBR3, o valor do P/VP de 0,85 indica que o preço de negociação do ativo está abaixo do seu valor patrimonial.

Para se obter o cálculo percentual do Dividend Yield de uma empresa deve-se dividir o valor de dividendos pagos durante um determinado período pelo preço da ação, antes da distribuição de dividendos e multiplicar por 100. Através do DY é possível entender a relação entre os dividendos que a empresa distribuiu e o preço atual da ação da companhia. O DY de BNBR3 é 5,98%.

b) Análise técnica

Gráfico 1 – Gráfico semanal BNBR3


Posição: 01.11.2024

O ativo BNBR3, após sofrer forte desvalorização em 2020 devido às incertezas econômicas trazidas pela pandemia, iniciou uma consistente trajetória de recuperação. Essa tendência de alta permitiu que o ativo atingisse seu preço máximo anterior em julho de 2023 aos R$ 82,50, se tornando uma região de resistência relevante (linha branca). Contudo, o ativo conseguiu romper essa resistência, prosseguindo sua tendência de valorização até alcançar seu topo histórico de R$ 115,30 em janeiro de 2024 (linha horizontal amarela). Desde então, o ativo recuou, testando essa nova resistência por mais duas vezes, confirmando sua relevância como uma zona de forte oferta. 

Os recuos observados, no entanto, têm respeitado consistentemente uma linha de tendência de alta - LTA (linha inclinada amarela). A LTA tem servido como um suporte, sustentando os preços em suas correções. Combinando essa LTA com a resistência em R$ 115,30, nota-se a formação de um padrão gráfico conhecido como triângulo ascendente, que tipicamente sinaliza uma fase de acumulação antes de um rompimento e continuidade do movimento de alta. 

O HMACD está apresentando topos mais altos, indicando uma retomada da força compradora e voltando para o campo positivo, sugerindo uma renovação do ímpeto altista. O Índice de Força Relativa (IFR), por sua vez, está em uma zona neutra, o que reforça a possibilidade de que, com um aumento de volume e uma confirmação do rompimento, o ativo possa continuar seu movimento de alta.

c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis 

A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço. 

Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações. 

Para o ativo BNBR3, a análise revelou que a configuração mais eficaz envolveu uma média móvel curta de 23 períodos e uma média móvel longa de 24 períodos, aplicadas em dados diários. Essa combinação gerou uma taxa de acerto de 46,43%, com as operações vencedoras resultando em um ganho médio de R$ 496,08, enquanto as operações perdedoras registraram uma perda média de R$ 293,56, considerando negociações com um lote padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria obtido um lucro bruto de R$ 7.897,99 durante o período de 15/06/2019 a 03/11/2024. 

Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia BNBR3

Exemplo de aplicação:

Em 18 de outubro de 2014, a média móvel curta de 23 períodos (linha branca) cruzou acima da média móvel longa de 24 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra. De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação. 

Gráfico 3 – Gráfico Diário BNBR3


Posição: 01.11.2024

Disclaimer 

O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A Universidade de Fortaleza (Unifor), não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado. 

  • Este material não deve ser interpretado como recomendação, oferta ou solicitação de compra ou venda de quaisquer títulos, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. 
  • Investimentos nos mercados financeiros e de capitais envolvem riscos, incluindo a possibilidade de perdas superiores ao capital investido. 
  • Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros. 
  • As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente. 
  • A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos.

Equipe de elaboração

Professores

  • Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
    Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
    CNPI-P – n. 8409
     
  • Prof. Allisson David de Oliveira Martins
    Economista - Corecon-Ce n. 3221
    CNPI – n. 9113
     
  • Prof. Ricardo Aquino Coimbra
    Economista - Corecon-Ce n. 2575
    CNPI – n. 9579

Alunos

  • Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
  • Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
  • José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
  • José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
  • Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas 
  • Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas