seg, 13 outubro 2025 15:43
Docente da Unifor orienta estudos que embasam nova definição de lesão renal em neonatos
Pesquisas desenvolvidas nos Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e em Ciências Médicas contribuíram para atualização internacional dos critérios diagnósticos

Entre os principais estudos que embasaram a nova definição de lesão renal aguda neonatal — a AKI neonatal —, dois foram realizados no Ceará sob orientação do professor Alexandre Libório, docente do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz.
Citados oficialmente no artigo internacional que consolida a nova diretriz, os trabalhos se dividem em:
Torres de Melo et al., 2024 (Clin J Am Soc Nephrol) – desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Unifor. Trata-se de um estudo prospectivo com crianças e neonatos submetidos à cirurgia cardíaca, que comprovou que alterações no volume urinário também predizem, de forma precoce, a ocorrência de lesão renal.
Bezerra et al., 2013 (Nephrol Dial Transpl) – resultado de uma dissertação do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Unifor. O estudo foi pioneiro ao demonstrar que valores específicos de débito urinário estão fortemente associados à mortalidade e ao diagnóstico de AKI em recém-nascidos internados em UTIs neonatais.
Ambos os trabalhos foram conduzidos com coleta de dados em unidades neonatais e de cirurgia cardíaca pediátrica, incluindo o Hospital de Messejana e outras instituições de referência. A análise científica e a redação dos artigos foram realizadas no Núcleo de Pesquisa Translacional da Unifor, vinculado ao PPGCM, que atua como um laboratório de pesquisa clínica aplicada.
Nova definição de AKI neonatal
De acordo com o professor Alexandre Libório, a nova definição representa uma atualização dos critérios utilizados para diagnosticar o comprometimento da função renal em recém-nascidos internados.
“Ela mantém como base o consenso neonatal modificado KDIGO, que combina o aumento da creatinina sérica e a redução do volume urinário para identificar a lesão renal, mas avança ao incorporar novos achados científicos sobre o que realmente indica risco e gravidade da disfunção renal nos primeiros dias de vida”, explica o docente.
O professor detalha que o processo para a consolidação dessa definição foi construído ao longo de mais de uma década de pesquisa. “Primeiro, demonstramos que a diminuição do volume urinário em recém-nascidos é um marcador precoce de gravidade e risco de morte. Isso levou à revisão dos critérios usados mundialmente para definir AKI neonatal”, afirma.
Esses dados foram posteriormente comparados e integrados a estudos multicêntricos internacionais, culminando na Primeira Conferência Internacional de Nefrologia Neonatal, realizada nos Estados Unidos em 2024. O evento consolidou a proposta da nova definição global, incorporando os achados cearenses como evidência científica de alto impacto.
Entre os principais objetivos da atualização estão:
- Padronizar globalmente a definição de AKI neonatal;
- Incorporar fatores específicos da fisiologia do recém-nascido;
- Melhorar o reconhecimento e a prevenção da lesão renal em neonatos de risco;
- Guiar futuras intervenções terapêuticas e estudos multicêntricos.
Alexandre Libório, professor do curso de Medicina da Unifor (Foto: Ares Soares)
Impactos e benefícios
Segundo o professor Alexandre Libório, a adoção da nova definição traz impactos significativos para o diagnóstico e o tratamento da lesão renal em recém-nascidos.
A atualização torna o diagnóstico mais precoce, preciso e aplicável à realidade neonatal. Também facilita a identificação de bebês em risco de insuficiência renal aguda, permitindo intervenções antes de danos irreversíveis, além de uniformizar critérios de pesquisa e assistência.
Com isso, o Ceará e a Universidade de Fortaleza passam a figurar entre os centros de referência que influenciam o consenso mundial em nefrologia neonatal.
Entre os benefícios da nova diretriz estão:
- Detecção mais precoce e precisa da lesão renal;
- Redução das complicações e da mortalidade neonatal associadas à disfunção renal;
- Base sólida para o uso de biomarcadores e tecnologias não invasivas nas UTIs neonatais;
- Melhor padronização internacional dos estudos e protocolos clínicos.
“Em última análise, mais bebês sobrevivem e se recuperam com menos sequelas”, resume o professor.
Estrutura e suporte à pesquisa
Alexandre ressalta que a Unifor oferece toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento de estudos de impacto global. O PPGCM integra pesquisadores, alunos e orientadores em um ambiente de pesquisa colaborativo, com apoio institucional à produção científica, incentivo à formação de pesquisadores locais e parcerias com hospitais públicos e unidades neonatais.