seg, 7 outubro 2024 15:51
Pesquisa Unifor: Atividade física pode influenciar epigenoma de mulheres com ovários policísticos
Estudo mostra que a prática regular de atividade física pode aumentar a metilação do DNA, contribuindo para benefícios celulares e reprodutivos de pacientes com SOP
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma condição clínica na qual mulheres apresentam excesso de produção de hormônios masculinos, como a testosterona, e alterações metabólicas que levam à perda da capacidade reprodutiva. Uma das formas de tratamento, além da modificação da dieta e o uso de medicamentos, é a prescrição de atividades físicas, que podem ajudar a minimizar os sintomas e normalizar as concentrações hormonais.
Foi buscando contribuir cientificamente com o tema que Cristiana Libardi, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) e pesquisadora do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, participou da elaboração do estudo “Resistance and aerobic training increases genome-wide DNA methylation in women with polycystic ovary syndrome”.
A pesquisa (“Treinamento de resistência e aeróbico aumenta a metilação do DNA em todo o genoma de mulheres com síndrome do ovário policístico”, em tradução livre) avalia o impacto dos exercícios físicos resistidos, conhecidos como musculação, e aeróbicos sobre a metilação do DNA, uma modificação química que regula a função do genoma. Especificamente, o estudo investiga como essas alterações no metiloma, o conjunto completo de padrões de metilação do DNA, afetam a SOP.
“Esse fato é agravado quando elas desenvolvem obesidade ou sobrepeso, uma condição frequente nas mulheres com SOP, acometendo cerca de 38% a 88% das pacientes. A recomendação da OMS para tratamento da SOP é a prática de atividade física. Acreditamos que, além das mulheres com SOP, nosso estudo reforça os benefícios da atividade moderada e orientada como uma estratégia não-farmacológica para a promoção da saúde” — Cristiana Libardi, pesquisadora e professora do PPGCM da Unifor
O trabalho foi produzido com pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), sob a supervisão da professora Dra. Rosana Maria dos Reis. Também contou com a participação internacional dos docentes Timothy Jenkins e Kenneth Ivan Aston, da Brigham Young University e University of Utah School of Medicine, respectivamente.
Desenvolvimento do estudo
O projeto foi conduzido como parte de uma iniciativa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), focada em investigar os efeitos da atividade física em mulheres com síndrome do ovário policístico (SOP).
Para a coleta de participantes, foram recrutadas mulheres diagnosticadas com SOP no Ambulatório de Ginecologia Endócrina do Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Além disso, algumas das participantes eram alunas dos cursos de graduação em saúde na própria universidade, ampliando assim a base de voluntárias.
Ao longo da pesquisa, foram realizados diversos testes para avaliar os efeitos da atividade física acompanhada sobre a saúde das participantes. As avaliações incluíram a análise da composição corporal e metabólica, assim como a medição dos níveis hormonais das mulheres com SOP. Esses parâmetros foram medidos antes e depois do período de intervenção, que consistiu em 16 semanas de atividades físicas supervisionadas.
Durante o período, as participantes realizaram exercícios com a duração de 50 minutos por sessão, três vezes por semana. As sessões foram monitoradas de perto para garantir a regularidade e a intensidade adequadas dos exercícios, permitindo que os pesquisadores coletassem dados precisos sobre os impactos da atividade física na saúde metabólica e hormonal das participantes.
Resultados
Os pesquisadores concluíram que tanto a musculação quanto os exercícios aeróbicos reduziram os níveis de testosterona e colesterol, além de promoverem a diminuição da circunferência da cintura e o aumento da massa magra. Além disso, a musculação demonstrou benefícios específicos na regularização do ciclo menstrual durante o período de treinamento, reforçando seu papel no manejo da SOP.
“Tais mudanças ocorrem devido a reprogramação do epigenoma mediante um estímulo ambiental, no caso a atividade física. Mudanças na sequência de DNA precisam de um longo tempo de exposição para ocorrer e mudar o fenótipo. O epigenoma, por sua vez, pode ser reprogramado, influenciando o funcionamento do genoma, silenciando ou ativando vias em resposta à atividade física”, comenta a professora Cristiana.
O treinamento de musculação apresentou benefícios específicos na regularização do ciclo menstrual em mulheres com ovários policísticos (Foto: Getty Images)
Ambos os exercícios de musculação e aeróbica aumentaram a metilação global do DNA (metiloma), e corroborando com achados prévios, a musculação modificou uma maior proporção do metiloma em comparação com o exercício aeróbio. A metilação do DNA atua como uma proteção contra quebras que podem levar a mutações, incluindo aquelas relacionadas ao câncer, provocadas por fatores como dieta inadequada, tabagismo e alcoolismo.
Esse processo também é visto como um mecanismo de antienvelhecimento, melhorando a qualidade dos gametas femininos e ajudando a equilibrar as alterações hormonais e metabólicas da SOP. A prática regular de atividade física pode aumentar a metilação, contribuindo para esses benefícios celulares e reprodutivos.
Publicação internacional
O estudo foi publicado no primeiro semestre de 2024 na revista Epigenetics. O periódico é dedicado à epigenética e foca em processos como metilação do DNA, modificação do nucleossomo e silenciamento genético, e sua influência na regulação dos genes.
Com fator de impacto de 2.9 e CiteScore de 6.8 em 2023, a Epigenetics é uma publicação de destaque, reconhecida por explorar a relação entre epigenética e doenças como o câncer, além de promover pesquisas voltadas para terapias e diagnósticos inovadores.