Pesquisa Unifor: Estudo analisa fatores associados aos sinais de sífilis congênita em recém-nascidos

seg, 26 agosto 2024 12:15

Pesquisa Unifor: Estudo analisa fatores associados aos sinais de sífilis congênita em recém-nascidos

A sífilis congênita é uma infecção transmitida principalmente por via transplacentária da mãe para o feto


O estudo foi realizado em dez maternidades públicas municipais de Fortaleza, responsáveis por mais de 99% dos casos de notificação na cidade (Foto: Getty Images)
O estudo foi realizado em dez maternidades públicas municipais de Fortaleza, responsáveis por mais de 99% dos casos de notificação na cidade (Foto: Getty Images)

Realizar estudos sobre enfermidades visando entender fatores associados ao seu desenvolvimento é fundamental para uma melhor compreensão dessas doenças. À medida que novas informações são descobertas, a comunidade da saúde pode avançar no combate às patologias que afetam a população.

Dentro desse contexto, as pesquisadoras Ana Fátima Rocha, Alix Araújo e Ana Patrícia Alves, vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, produziram o artigo “Factors associated with signs of congenital syphilis in newborns”.

O trabalho, intitulado “Fatores associados aos sinais de sífilis congênita em recém-nascidos” (tradução livre), tem como objetivo analisar os fatores de risco maternos, obstétricos e demográficos associados à Sífilis Congênita (SC), bem como as características clínicas dos recém-nascidos.

A SC é uma infecção transmitida da mãe para o feto durante a gestação ou parto, causada pela bactéria Treponema pallidum, a mesma responsável pela sífilis adquirida. Essa condição é considerada grave e pode trazer complicações para o recém-nascido.


“Este estudo surgiu da necessidade de identificar os fatores associados à presença de sinais e sintomas em crianças cujas mães apresentaram sífilis durante a gestação, especialmente em um período de escassez de penicilina no Brasil, quando muitas não receberam o tratamento adequado ou foram tratadas de forma inadequada”Alix Araújo, professora do PPGSC e autora do artigo

Além da equipe da Unifor, também contribuíram para a produção do estudo Aisha K. Yousafzai, pesquisadora da Escola Chan de Saúde Pública da Universidade de Harvard, e Rebeca Gomes, da Faculdade Terra Nordeste (Fatene). 

Métodos 

O estudo foi realizado em dez maternidades públicas municipais de Fortaleza, responsáveis por mais de 99% dos casos de notificação de Sífilis Congênita na cidade. Durante a realização dos procedimentos para coletar informações, os pesquisadores analisaram complicações, manifestações clínicas e acompanhamento dos casos notificados em 2015, período em que houve escassez de penicilina em 41 países. 

Todos os nascidos vivos notificados com SC naquele ano foram incluídos na pesquisa, com exceção daqueles que apresentaram qualquer coinfecção por HIV, hepatite B e C, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, infecção congênita pelo vírus herpes simplex e infecção pelo vírus Zika. Também foram excluídos casos em que os prontuários médicos não estavam disponíveis na maternidade. 

Os dados foram coletados entre 2017 e 2018. As informações foram obtidas até o momento da alta hospitalar, que geralmente ocorre por volta dos dez dias de vida, período em que a maioria dos recém-nascidos permanecem internados para tratamento de Sífilis Congênita.

Essa abordagem detalhada permitiu uma análise aprofundada das condições de saúde materno-infantil, destacando a importância do monitoramento contínuo e das intervenções precoces durante os primeiros dias de vida.

Conclusões e desafios 

A investigação demonstrou que a presença de sinais de Sífilis Congênita precoce está relacionada a oportunidades perdidas, principalmente em relação à testagem para sífilis e ao tratamento da gestante durante o pré-natal.

Um fator importante apontado pelo estudo indica que mães com sífilis vivem em situação de maior vulnerabilidade social, sendo elas em sua maioria jovens em idade reprodutiva, com baixa escolaridade e sem renda. Esse fator social torna o combate da doença mais desafiador, pois afeta a realização de um pré-natal adequado — essencial para a identificação de complicações durante a gravidez ou parto, garantindo uma gestação saudável e segura, tanto para a mãe quanto para o bebê.


O tratamento da gestante com sífilis durante o pré-natal é essencial para a prevenção da sífilis congênita (Foto: Getty Images)

De acordo com Alix Araújo, a prevenção da sífilis congênita depende de um pré-natal de qualidade. “A gestante deve ser testada para sífilis na primeira consulta, e, caso o resultado seja reagente, o tratamento com penicilina, a única droga que atravessa a barreira transplacentária e trata o bebê, deve ser iniciado imediatamente. É essencial que os profissionais de saúde acompanhem de perto o tratamento, garantindo sua eficácia e protegendo a saúde do bebê”, pontua. 

A pesquisadora ainda destaca que a realização efetiva da testagem em gestantes e o tratamento adequado acabam sendo influenciados pelas dificuldades que os profissionais possuem em interpretar o exame VDRL (Venereal Disease Research Laboratory). Ele é comumente usado como um exame de triagem para sífilis, especialmente em gestantes, devido à sua importância na prevenção da SC.

Publicação

Em razão do impacto social do artigo ao abordar um tema que afeta um grupo vulnerável socialmente e a sua contribuição para a comunidade científica, o trabalho foi publicado no Jornal de Pediatria. O periódico científico visa melhorar os padrões da assistência à saúde de crianças e adolescentes em geral.