seg, 13 janeiro 2025 16:06
Pesquisa Unifor | Estudo investiga como a produção de urina pode indicar lesão nos rins
O trabalho foi motivado pela necessidade de identificar e tratar problemas renais graves de forma mais assertiva
Além da produção de urina, os rins são essenciais para o funcionamento do corpo humano, garantindo o equilíbrio químico e fisiológico do organismo, filtrando o sangue, regulando a pressão arterial e produzindo hormônios essenciais. A urina, porém, é um reflexo direto da atividade renal, servindo como um indicador-chave da saúde desses órgãos e do organismo como um todo.
Pensando nisso, os pesquisadores Alexandre Braga Libório, nefrologista e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) e do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, Guido Machado, mestrando do PPGCM, e Letícia Libório, aluna de Medicina, produziram o artigo “Resultados estruturais, fisiológicos ou clínicos para definir o limiar de débito urinário na lesão renal aguda”.
O trabalho teve como objetivo criar um novo sistema de classificação para diagnosticar e classificar a Lesão Renal Aguda baseado no ritmo de diurese, tornando-o o mais eficaz e confiável para prever os resultados dos pacientes. A diurese é um processo fisiológico pelo qual os rins produzem e excretam a urina. Esse mecanismo é influenciado pela hidratação, temperatura e clima, medicações e condições de saúde.
“A pesquisa foi motivada pela necessidade de melhorar a forma como identificamos e tratamos problemas renais graves como a lesão renal aguda em pacientes graves internados em UTI. Os métodos atuais, baseados na quantidade de urina produzida pelos pacientes, não são tão precisos quanto poderiam ser para prever o risco de morte ou complicações e os valores utilizados atualmente foram determinados de forma empírica sem um cuidado metodológico e validação adequados” — Alexandre Libório, nefrologista e professor do PPGCM e do curso de Medicina da Unifor
Métodos
As metodologias utilizadas na pesquisa consistiram na análise de dados de dois grandes bancos de informações médicas, que são responsáveis pelos registros de detalhes sobre pacientes internados em hospitais do Estados Unidos. Com isso, foi verificada a relação entre o ritmo de diurese a cada seis horas e as chances de os pacientes enfrentarem complicações que gerassem a necessidade de diálise ou evoluíssem para óbito.
Para garantir a precisão das conclusões, foram testados diferentes pontos de corte por meio de análises estatísticas avançadas. O objetivo foi identificar, com maior exatidão, os níveis críticos de diurese que podem indicar risco elevado, contribuindo para intervenções mais rápidas e eficazes no manejo de pacientes internados.
Resultados
Com a aplicação dos métodos, os pesquisadores encontraram três novos limites de ritmo de diurese, que são baseados na quantidade de mililitros por quilo de peso por hora. Esses novos achados funcionam melhor para prever o risco de morte em comparação com o método recomendado pelos consensos atuais. São eles:
- Estágio 1: 0,3 mL/kg/h
- Estágio 2: 0,2 mL/kg/h
- Estágio 3: 0,1 mL/kg/h
Em resumo, o estudo identificou que um ritmo de diurese de 0,3 mL/kg/h é um ponto de corte melhor para associar a produção de urina reduzida a desfechos clínicos ruins. O limite de 0,2 mL/kg/h apresentou a melhor sensibilidade e especificidade para prever mortalidade hospitalar em uma janela de 6 horas.
O limite de 0,1 mL/kg/h foi usado para representar a pior gravidade no novo sistema de classificação. Isso significa que os médicos podem ter uma ferramenta mais precisa para avaliar pacientes em situações críticas.
“Na prática, esse novo sistema pode ajudar médicos a tomar decisões mais rápidas e precisas sobre como tratar pacientes graves, priorizando aqueles em maior risco de lesão renal e ajustando tratamentos conforme necessário. Isso pode salvar vidas e melhorar a recuperação dos pacientes”, enfatiza Alexandre.
Além disso, a pesquisa destaca a importância de explorar outros fatores, além do ritmo de diurese, para uma avaliação mais abrangente e precisa das lesões renais. Isso inclui a possibilidade de identificar a lesão renal de maneira mais precoce e específica, permitindo intervenções direcionadas e melhorando os desfechos clínicos.
“Para pesquisadores, seria útil explorar como a elevação de creatinina, a outra forma de avaliar a lesão renal aguda, pode ser melhor utilizada além das definições atuais”, pontua o professor.
Publicação internacional
O impacto significativo da pesquisa, que propõe novas formas de diagnóstico e manejo para pacientes com lesão renal aguda, resultou na publicação do trabalho na renomada revista internacional Critical Care. Este periódico é especializado em cuidados intensivos e áreas relacionadas, sendo amplamente reconhecido por sua qualidade científica e influência global.
A Critical Care se destaca como uma das revistas de maior prestígio na área de medicina intensiva, com um fator de impacto elevado e uma ampla disseminação entre pesquisadores e profissionais de saúde. Isso consolida o trabalho dos pesquisadores da Unifor como uma contribuição inovadora e relevante para a comunidade médica, reforçando a importância de estudos baseados em dados robustos e metodologias avançadas para melhorar o cuidado de pacientes críticos em todo o mundo.