Sabe o que é autismo? Abril Azul conscientiza sobre a pauta
Apesar dos avanços sociais, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda é uma temática envolta em tabus e preconceitos. Milhões de indivíduos com a condição sofrem pela falta de compreensão por parte das pessoas de seu convívio, incluindo familiares e amigos.
Segundo estimativa do Center of Desease Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, hoje existe um caso de autismo para cada 110 pessoas. Ou seja, considerando a população de mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil possui cerca de dois milhões de autistas.
Visando fortalecer a luta por empatia e inclusão na sociedade, foi criado o Abril Azul. A campanha, que visa conscientizar sobre o autismo, surgiu a partir da definição pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007, do dia 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo.
O que é o TEA?
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição atípica do neurodesenvolvimento e consiste em um grupo geneticamente heterogêneo de manifestações e intensidades diferentes, caracterizados necessariamente por comprometimento, em maior ou menor grau, em três domínios comportamentais:
- Comunicação (verbal ou não-verbal);
- Interação social;
- Presença de comportamentos restritos, repetitivos ou estereotipados.
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-11), o autismo é classificado em três níveis (grau 1, grau 2 e grau 3), que variam de acordo com as necessidades de acompanhamento que cada criança precisa para se desenvolver.
André Manganelli, mestre em Neurologia e Neurociências Clínicas e docente do curso de Especialização em TEA da Universidade de Fortaleza — da Fundação Edson Queiroz — explica que o diagnóstico deve ser realizado por um profissional médico qualificado, geralmente neurologista ou psiquiatra.
O docente também destaca a importância de um acompanhamento adequado às pessoas diagnosticadas com TEA, que deve ser multiprofissional, envolvendo tanto especialistas da saúde e da educação quanto os familiares.
“Obviamente cada paciente tem suas particularidades, como intensidade e frequência dos sintomas, necessidades específicas e qualidades inatas e desenvolvidas. Desta forma, o seguimento ocorre baseado nas demandas de cada momento, que podem variar conforme a evolução de cada indivíduo”, declara.
Incluir e cuidar
A inclusão é um dos principais pilares do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Unifor. Por isso, o setor desenvolve diversos projetos que visam abranger serviços de qualidade na área da saúde para todos os públicos.
Nesse contexto, existe o Programa de Inclusão Sócio-Educacional (PROISE), que está em funcionamento há mais de dez anos. A iniciativa é voltada para o atendimento de crianças (de dois a seis anos) com TEA e disponibiliza uma equipe interdisciplinar, composta por psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogas e educador físico.
Segundo Isis Falcão, terapeuta ocupacional e responsável técnica no Serviço de Reabilitação do NAMI — setor que abriga o projeto — a proposta do PROISE é possibilitar que a criança autista desenvolva suas habilidades a partir de uma visão integral, por meio de uma abordagem “Centrada na Família”.
Crianças com TEA recebem atenção integral no PROISE, do NAMI (Foto: Arquivo pessoal)
“Nossas estratégias de tratamento são pautadas em atividades terapêuticas lúdicas, para que cada criança consiga superar as dificuldades e barreiras que dificultem seu desenvolvimento, bem como em oficinas parentais, para que a família seja parceira e facilitadora de todo processo de tratamento”, explica.
Além disso, o Projeto também promove atividades que estimulam o desempenho de habilidades sociais, como visitas ao zoológico, piquenique, práticas esportivas, sessão de cinema e banho de piscina. “Aproveitamos toda a dinâmica e espaço que o campus da Unifor tem a oferecer”, destaca Isis.
No dia 10 de abril, o setor vai expandir os atendimentos para este segmento, a partir do lançamento do “Preparando para a Vida”, que será uma linha de cuidado para adolescentes de 12 a 16 anos com TEA. A iniciativa nasce com o objetivo de abrir oportunidades de serviço com competência e qualidade voltadas especialmente para esse público que tem demandas diferenciadas.
Fique atento
Além do acompanhamento especializado, pessoas com essa condição também necessitam de uma atenção especial por parte de seu ciclo social. Tendo ciência disso, o professor André Manganelli listou quatro dicas para quem tem amigos ou familiares diagnosticados com TEA, visando fortalecer a empatia e a inclusão:
- Procure entender mais, buscando ler sobre o tema, conversando com pessoas com TEA ou seus familiares.
- Saber que mesmo com dificuldade para socializar ou comunicar-se, o indivíduo com TEA merece ser respeitado e não devemos supor que ele seja indiferente a receber afeto e cuidados, mesmo que seja difícil para ele indicar isso.
- Entender que cada indivíduo com TEA tem suas particularidades, preferências, qualidades e desafios, não podendo ser enquadrados numa mesma condição generalizada.
- Na presença de uma pessoa com TEA, entenda que alguns estímulos podem ser incômodos para ele. Evita tocá-lo fisicamente se ele não permitir ou expô-lo ao ambiente com muito ruído, caso ele não tolere. Isso por desorganizá-lo.
Especialização em TEA
Compreendendo a importância da formação de especialistas na área, a Universidade de Fortaleza deu início, em 2023, à Especialização em TEA. O curso terá um ano de duração e está com inscrições abertas para sua primeira turma.
A pós-graduação visa capacitar e habilitar profissionais da área da saúde na avaliação diagnóstica específica, no planejamento terapêutico e no monitoramento da evolução dos casos de autismo, assim como na orientação dos familiares.
Entre os módulos do curso estão: introdução ao transtorno do espectro autista, avaliação multiprofissional e protocolos de intervenção e reabilitação. Além de outros conteúdos relevantes para o processo de aprendizagem e desenvolvimento de pessoas com TEA.