Dia dos Namorados: conheça histórias de casais que aliam amor e ciência

qui, 12 junho 2025 11:13

Dia dos Namorados: conheça histórias de casais que aliam amor e ciência

Pesquisadores da Unifor provam que a paixão pelo conhecimento pode ir além da sala de aula e do laboratório, tornando-se também alicerce de relações inspiradoras


Docentes da Pós-Unifor, Luciana Maia e Fernando Viana encontraram no campo científico um ponto de convergência na relação a dois (Foto: Ares Soares)
Docentes da Pós-Unifor, Luciana Maia e Fernando Viana encontraram no campo científico um ponto de convergência na relação a dois (Foto: Ares Soares)

A razão e a emoção costumam ser vistas como extremos opostos, mas para cientistas apaixonados, esses elementos são lados diferentes de uma mesma moeda: o amor pela ciência. Regado pelo estudo científico, esse afeto é ingrediente base nas vidas, carreiras e relações dos “pombinhos” pesquisadores. Mais do que paixões individuais, ciência e amor se entrelaçam, criando elos de carinho, compreensão e crescimento mútuo.

Neste Dia dos Namorados (12 de junho), a Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, celebra a conexão entre mentes e corações apresentando dois casais de docentes pesquisadores da casa. Conheça as histórias a seguir.

Luciana e Fernando: da folia à pesquisa

Luciana Maia, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP), e Fernando Viana, docente do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA), começaram seu romance em 1998, na cidade de João Pessoa, durante uma festa de carnaval fora de época. O que poderia ter sido um encontro comum, se tornou o ponto de partida de uma longa trajetória juntos.

“Uma coisa muito interessante do nosso encontro é que, de certa forma, ele deixou de ser [apenas] um encontro entre pessoas interessantes e teve a chance de se concretizar como namoro — o que aconteceu no dia seguinte, porque, segundo a Luciana, ela só se interessou por mim porque eu fazia mestrado”, revela Fernando, entre risos ao lembrar da fala de sua esposa, mostrando como a ciência foi, desde o início, uma ponte afetiva entre eles.

Luciana conta que havia acabado de sair de um longo e difícil relacionamento e, por isso, estava focada na seleção para seu mestrado. “Ele começou a conversar, e eu não dei muita atenção. Mas quando ele disse que era de Fortaleza e estava fazendo mestrado, foram palavras mágicas”, confidencia a professora, pontuando que seu interesse começou após saber que Fernando também era pesquisador.

Sem telefone celular na época, ela teve que decorar o número do pretendente para ligar no dia seguinte, quando a relação entre os dois começou oficialmente. “Já são 27 anos entre namoro e casamento. Sempre digo: se ele não tivesse dito que fazia mestrado, eu nem teria prestado atenção”, compartilha.


“A ciência influencia nossa forma de ver o mundo, e isso nos mantém quase sempre alinhados em nossos pontos de vista, o que fortalece nosso relacionamento – a ciência e o compromisso com o conhecimento sempre foram uma base forte entre nós dois. Pesquisadores têm esse desejo de entender o mundo, e isso nos une. Além disso, temos um olhar ético sobre como fazemos ciência e acreditamos nela como uma forma de mudar o mundo”Luciana Maia, coordenadora e professora do PPGP da Unifor e esposa de Fernando

Graduado em Engenharia Civil, com mestrado em Engenharia de Produção e doutorado em Administração, Fernando sempre teve afinidade pelas ciências exatas como matemática e física. Já a psicóloga Luciana, imersa nas ciências humanas pelo mestrado e doutorado em Psicologia Social, trouxe para a relação um olhar voltado para o comportamento humano.

Apesar das diferenças disciplinares, eles encontraram no campo científico um ponto de convergência. Fernando conta que a carreira acadêmica dele só se consolidou após ingressar no PPGA da Unifor, onde a pesquisa em temas sociais da sustentabilidade passou a fazer parte de sua rotina — um ponto que dialoga com os estudos de Luciana sobre preconceito e minorias.

A admiração mútua sempre fez parte da relação, que contava com trocas de ideias e leitura dos trabalhos um do outro no início. Com o tempo, criaram outras parcerias profissionais, mas sempre aprendendo juntos. “Ele me ajudou a pensar em organização e planejamento, e sei que contribuo para que ele reflita sobre diversidade e respeito às diferenças, temas que estudo e defendo”, afirma a professora.

Essa sinergia vai além do conteúdo científico. O casal compartilha o ritmo intenso da vida acadêmica, entre aulas, projetos, submissão de artigos e participação em congressos. “Nós entendemos as ‘dores’ e os desafios da profissão um do outro, o que cria uma compreensão profunda”, explica Fernando.


O casal já está há 27 anos juntos, desde o dia seguinte ao que se conheceram até hoje (Foto: Ares Soares)

Em 2024, um marco importante na trajetória do casal foi a realização conjunta do estágio de pós-doutorado na cidade de Lisboa, em Portugal. A experiência, além de profissionalmente enriquecedora, fortaleceu o relacionamento. “Foi uma rotina diferente, cheia de aprendizados, que reforçou a certeza de estar com a pessoa certa para a vida toda”, diz Fernando.

Mesmo trabalhando em áreas diferentes, Luciana e Fernando mantêm uma troca constante de ideias e metodologias. “A inspiração para a definição dos projetos ou para analisar resultados muitas vezes surge nas conversas que tenho com ela”, afirma o professor.

Ele destaca ainda que conhecer métodos aplicados na Psicologia o levou a ideias novas para suas pesquisas em sustentabilidade, especialmente na dimensão social, tema que tem ganhado ainda mais relevância nos últimos anos.

Por sua vez, a vivência familiar também moldou a forma como veem a ciência. Para ambos, a busca por impacto social e transformação positiva é uma motivação que nasce da vontade de contribuir para um mundo melhor para as futuras gerações, incluindo seus filhos, Luísa e João Pedro.

“Nossa vivência como casal e família, com nossos filhos, trouxe um olhar mais empático e humano para o nosso trabalho. A experiência como pais, companheiros e amigos nos faz ver que, por trás de cada dado ou artigo, existem pessoas. Isso torna a pesquisa mais comprometida e concreta, mais conectada com a realidade e com a transformação social”, declara Luciana.


“A ciência nos ajuda a construir relações mais harmônicas e empáticas, dentro e fora da família”Fernando Viana, professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Unifor e esposo de Luciana

Ao longo dos anos, Luciana e Fernando passaram a ser mais do que professores e pesquisadores respeitados dentro da Unifor,  tornaram-se também uma referência de parceria e equilíbrio para muitos alunos. “Acredito que a nossa realidade, que eu faço questão de compartilhar com eles, e a forma como temos conseguido superar esse desafio pode servir de inspiração para os alunos”, ressalta Fernando. 

Dentro dos programas de mestrado e doutorado, é comum que estudantes se sintam pressionados diante do desafio de conciliar a vida acadêmica com os compromissos pessoais. Para esses jovens pesquisadores, o casal representa uma inspiração. Eles não escondem as dificuldades que enfrentaram, pelo contrário, fazem questão de compartilhar suas experiências e estratégias para lidar com os altos e baixos da jornada científica em conjunto. 

Keny e Danielle: um amor e uma área de pesquisa em comum

Para o professor e a coordenadora do programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM), Keny Colares e Danielle Malta, o percurso construído dentro da Unifor é feito de pequenas conquistas que, somadas ao longo do tempo, refletem a profundidade de um compromisso com a ciência e com o outro.

O casal, inclusive, foi responsável pela criação e implementação do PPGCM na Unifor, em 2014. Keny conta que conseguiu montar um laboratório, fazer o primeiro estudo científico, aprovar um programa de pós-graduação e defender o primeiro aluno — tudo em parceria com a esposa. “São pequenas vitórias. Degraus pequenininhos que vamos subindo aos poucos”, comenta.

“Temos projetos em que coletamos amostras em unidades de saúde, fazemos diagnóstico e estudamos a genética dos vírus. Cada um contribui com uma parte. E quando um está na coordenação do PPGCM, o outro está junto, colaborando. Já fui coordenador e Dani me ajudava. Hoje é o contrário”, relembra o docente.


Danielle e Keny se conheceram na Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, dentro do mesmo programa de pós-graduação (Foto: Arquivo pessoal)

A relação entre eles começou justamente dentro do ambiente científico. Foi na Universidade de São Paulo, no campus Ribeirão Preto, que se conheceram durante a pós-graduação em Ciências Médicas, em um laboratório de virologia. O trabalho conjunto, que começou como uma coincidência, virou um modo de vida.

Atuando em projetos de virologia e doenças infecciosas, o casal consegue unir habilidades complementares: ele, médico com foco clínico; ela, biomédica dedicada aos aspectos laboratoriais. Eles compartilham, no entanto, a mesma formação stricto sensu, sendo mestres e doutores em Ciências Médicas. Tudo isso fortalece uma visão ampla sobre a mesma área de atuação.

“Teoricamente, era para ser um problema sermos casados, trabalharmos no mesmo local e, eventualmente, algum conflito que tenha no trabalho trazer para dentro de casa. Mas, na prática, acho que existe um respeito muito grande um pelo outro, procuramos não abusar”, revela Danielle.


“Dividir a vida com alguém da mesma área facilita muito, porque entendemos a dedicação e a paixão pela pesquisa, mesmo quando não tem um retorno imediato. Isso acaba evitando muitos conflitos que costumam acontecer em casais que têm rotinas e visões profissionais bem diferentes”Danielle Malta, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Unifor e esposa de Keny

No cotidiano, a vivência conjunta traz mais pontos positivos do que conflitos. O respeito mútuo é chave para manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, relata o casal. A convivência constante fez com que ambos desenvolvessem um cuidado especial para respeitar os limites do outro, evitando atitudes que possam comprometer tanto a parceria profissional quanto a harmonia no ambiente familiar.

Por compartilharem uma vida semelhante, um entende muito bem o que o outro está passando, com poucos conflitos e atritos por conta do trabalho, justamente porque os dois têm uma visão similar. A proximidade da área de atuação, no entanto, traz outras questões, como o desafio de criar uma fronteira definida entre a vida familiar e a profissional.

“Não existe um limite preciso. Normalmente, temos as nossas horas de lazer, mas o trabalho acaba centralizando muito nossas atividades, porque fazemos em parte por trabalho, em parte por paixão. É muito envolvente desenvolver esses projetos, os grupos de alunos que tentamos formar e tudo mais. Temos que trabalhar em horas determinadas, limitamos ‘para de falar de trabalho agora’, mas às vezes é difícil fazer essa divisão na prática”, brinca Keny.


“Dividir a vida com alguém que tem a mesma paixão pelo conhecimento é algo muito bom e realizador. O trabalho ocupa grande parte da nossa rotina, e embora tentemos estabelecer limites entre vida pessoal e profissional, nem sempre é fácil”Keny Colares, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Unifor e esposo de Danielle

O casal Keny e Danielle mostra que a união entre ciência e afeto é possível e poderosa. Mesmo sem buscar inspirar diretamente, eles acabam deixando um legado que vai além dos artigos e laboratórios: o de que parcerias sólidas, baseadas em respeito, colaboração e paixão pelo que se faz, podendo transformar a vida de quem está ao redor.