Farmácia Viva da Unifor é diferencial na formação de futuros farmacêuticos

seg, 18 dezembro 2023 11:23

Farmácia Viva da Unifor é diferencial na formação de futuros farmacêuticos

Fruto de parceria entre a Universidade de Fortaleza e a Prefeitura Municipal, a Farmácia Viva Lúcia Gurgel é uma das principais produtoras de fitoterápicos do Estado


No campo de estágio, o aluno participa de todas as etapas do processo de produção dos fitoterápicos fabricados pela Farmácia Viva (Foto: Ares Soares)
No campo de estágio, o aluno participa de todas as etapas do processo de produção dos fitoterápicos fabricados pela Farmácia Viva (Foto: Ares Soares)

Em consonância com o tripé ensino, pesquisa e extensão, a Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, mantém importante programa para os alunos do curso de Farmácia da instituição e milhares de cearenses. Colaboração da Unifor com a Prefeitura Municipal de Fortaleza, a Farmácia Viva Lúcia Gurgel é uma das principais produtoras de fitoterápicos do Estado.

Por meio da parceria público-privada, a iniciativa desenvolve um programa de assistência social farmacêutica, voltado para o emprego de plantas medicinais cientificamente validadas, pelo qual os fitoterápicos são dispensados nas Unidades Básicas de Saúde - UBS (postos de saúde) e no Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI)

Os medicamentos são produzidos por estudantes da graduação, com auxílio dos professores supervisores, e prescritos nos postos e dentro dos próprios consultórios do núcleo, por estagiários em cuidados farmacêuticos.

Professora do curso de Farmácia da instituição e do estágio realizado na Farmácia Viva, Wellyda Aguiar destaca que, enquanto estagiário, o aluno participa de todas as etapas do processo de produção dos fitoterápicos, desde o controle de qualidade da matéria-prima até a produção e controle de qualidade do produto final. Para a docente, o programa é um importante diferencial da formação da Unifor, elevando o nível do trabalho realizado pelos estudantes.

“O estágio na Farmácia Viva é muito rico para a formação profissional e humana dos alunos. Por meio da produção de medicamentos de qualidade, os estudantes têm a oportunidade de ajudar a comunidade, fazendo com que muitas pessoas tenham acesso a esses fitoterápicos. É um trabalho muito nobre que conduzimos com muito amor dentro da farmácia”, reforça a docente, ressaltando ainda que a atuação foca nas boas práticas de preparo e no controle dos processos.

Com a palavra, os alunos

O sonho de cursar farmácia sempre esteve presente na vida de Levi Fonseca, principalmente durante o ensino médio. Porém, a certeza só veio mesmo após concluir a graduação em Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Ceará (UFC).


Antes de decidir ingressar na Unifor, conheci os professores e a estrutura física do curso, bem como a matriz curricular. Aqui, os laboratórios são bem equipados e não faltam insumos, ou seja, os alunos têm todas as ferramentas necessárias para a aprendizagem teórica e prática” – Levi Fonseca, discente da graduação em Farmácia da Unifor.

A curto prazo, os planos do futuro farmacêutico envolvem fazer residência em oncologia e especialização em hematologia. Sua expectativa, corroborada pelos colegas de turma que o colocam como um dos melhores alunos do curso, é fazer mestrado com a Bolsa Yolanda Queiroz, concedida semestralmente aos melhores graduados de cada centro de ciências da Unifor. 

Prestes a colar grau e rumo à conquista da bolsa de pós-graduação, Levi leva consigo, além do bom desempenho em sala de aula, experiências como a que teve na prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), realizada em novembro deste ano. “A prova foi muito boa, pois não tive surpresas desagradáveis. Todos os conteúdos eram bem conhecidos”, diz, sem falsa modéstia.

Marta Mirella Castro, concludente do curso de Farmácia, endossa as avaliações positivas da graduação feitas por Fonseca. “Para mim, é uma realização pessoal e profissional estar na melhor universidade do Norte e Nordeste. Tudo o que aprendi na Unifor me dá a certeza de que estarei em condições de realizar novos desafios e alcançar o sucesso na minha profissão”, acrescenta.

Além dos laboratórios de ponta, Mirella destaca a qualidade dos professores da instituição. “Todos são maravilhosos e nos fazem crescer a cada semestre”, pontua. Sobre a Farmácia Viva, a graduanda é taxativa ao ressaltar o controle de qualidade rigoroso como um dos pontos positivos, tanto da iniciativa quanto da graduação da Unifor. 


Durante a pandemia de Covid-19, a Farmácia Viva teve atuação destacada ao imprimir produção em grande escala de álcool em gel e medicamentos fitoterápicos de combate à ansiedade, como o elixir de cidreira, além de xarope de guaco e chambá, excelentes broncodilatadores e expectorantes que foram distribuídos gratuitamente à população, por meio da rede pública de saúde” – Marta Mirella Castro, concludente do curso de Farmácia da Unifor

Parceria de sucesso

No Programa Farmácia Viva, a Unifor é responsável por todo o apoio técnico-científico, disponibilizando um grupo de professores para orientar os alunos nos estágios, dando suporte para o funcionamento das atividades da farmácia. A Universidade provê também equipamentos e insumos para a produção dos fitoterápicos. 

Wellyda Aguiar, docente da graduação, evidencia que isso faz com que a parceria funcione e que a Prefeitura tenha esse grande suporte. “Eu sempre digo que tudo isso beneficia muito a população cearense, que tem acesso à fitoterapia segura, de qualidade e eficaz”, afirma.

De acordo com o Decreto Estadual Nº 30016/2009, que trata do Regulamento Técnico da Fitoterapia no Serviço Público do Estado do Ceará, a partir dos tipos de atividades desenvolvidas, como cultivo de plantas medicinais, pré-processamento, preparação de remédios caseiros com plantas medicinais e preparação de fitoterápicos, são estabelecidos, pelos níveis de complexidade, três modelos de Farmácias Vivas

A Farmácia Viva Lúcia Gurgel está inserida no modelo 3, que, conforme definição da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), é aquele destinado à preparação de fitoterápicos para o provimento das unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), obedecidas às especificações do Formulário do Setor de Fitoterapia/COPAF/SESA. 

Além disso, a droga vegetal para a preparação desses fitoterápicos deve ser proveniente de hortas e/ou hortos oficiais ou credenciados, desde que processada de acordo com as Boas Práticas de Processamento (BPP). Os medicamentos precisam também ser preparados em áreas específicas para as operações farmacêuticas, de acordo com as Boas Práticas de Preparação de Fitoterápicos (BPPF), constantes no Regulamento.


Como nós temos um modelo de farmácia viva tipo 3, estruturado e operando de maneira eficiente, devido a parceria público-privada e ao apoio da Universidade, que é como realmente conseguimos atingir excelentes resultados, já fomos visitados algumas vezes por pesquisadores e estudantes de várias regiões do país, como Sergipe e também da região Sul” – Wellyda Aguiar, professora do curso de Farmácia da Unifor

Com horto localizado no zoológico Sargento Prata, a Farmácia Viva Lúcia Gurgel conta com área para beneficiamento primário (onde as plantas são trituradas e secadas para, posteriormente, serem fornecidas para a população como droga vegetal), e laboratório de produção de fitoterápicos, seguindo as boas práticas de produção. A instalação, que funciona como uma indústria-escola, produz lotes de fitoterápicos em escala industrial.

A docente pontua ainda que, além de produzir medicamentos para os cearenses e contribuir para a formação dos futuros farmacêuticos, o programa busca valorizar as plantas dos biomas brasileiros, sobretudo da Caatinga, bioma do Ceará. 

Como exemplo, cita o sabonete líquido de alecrim pimenta, cujo nome científico é Lippia origanoides, que está no formulário nacional, com compêndios oficiais produzidos no Brasil inteiro. A planta foi catalogada na Farmácia Viva, dentro da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF).


Na Farmácia Viva Lúcia Gurgel, são produzidos o xarope de chambá, o sabonete líquido e a tintura de alecrim pimenta, o xarope de guaco, a pomada de confrei e o elixir de cidreira (Foto: Ares Soares)

Ceará: berço da Farmácia Viva

O projeto da Farmácia Viva surgiu em 1983, idealizado pelo farmacêutico Francisco José de Abreu Matos (in memorian), conhecido como “Dr Matos”, professor de farmacognosia, área voltada para produtos naturais. Na época, ele teve acesso a um dado alarmante: cerca de 80% da população dos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, não tinha recursos para adquirir seus medicamentos (era pré-SUS). Essas pessoas, quando adoeciam, usavam plantas medicinais para a cura das suas enfermidades. 

Baseados nessa informação, o farmacêutico Dr. Matos e o botânico e agrônomo Afrânio Fernandes, seu inseparável companheiro, saíram em expedições pelo interior do nordeste brasileiro, indagando aos habitantes dos municípios visitados quais plantas medicinais eles utilizavam e para qual finalidade. De volta ao laboratório, a dupla se dedicou a estudar se as propriedades apontadas eram verídicas ou não, nascendo assim o Programa Farmácia Viva.  

Em virtude do êxito do projeto, a Farmácia Viva se expandiu do Ceará para o Brasil e, posteriormente, para o mundo, e o Dr. Matos foi amplamente reconhecido pela iniciativa. O programa foi base para a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, bem como para a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).

“O Dr. Matos é um grande baluarte da Farmácia Viva, ainda que falecido. Ele é reconhecido por ter implantado esse importante programa para a área da saúde, e o Ceará é modelo para o mundo inteiro”, finaliza Wellyda Aguiar.

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