Imperativo é morar bem

seg, 8 novembro 2021 17:37

Imperativo é morar bem

Arquitetas e arquitetos egressos da Universidade de Fortaleza apresentam seus trabalhos na 22ª Casa Cor Ceará


Daniele Ellery e Diego Carneiro, ambos egressos do curso de Arquitetura da Unifor, participam da Casa Cor 2021 (Foto: Felipe Petrovsky)
Daniele Ellery e Diego Carneiro, ambos egressos do curso de Arquitetura da Unifor, participam da Casa Cor 2021 (Foto: Felipe Petrovsky)

Integração dos espaços. Automação das residências. Abertura para o fora. Sustentabilidade. Há bem mais do que refinamento estético a serviço da privacidade quando o desafio da arquitetura é responder às demandas de quem busca morar bem na contemporaneidade. Aptos a dar respostas no presente e para o futuro, arquitetas e arquitetos egressos da Universidade de Fortaleza projetam na 22ª edição da Casa Cor Ceará toda a complexidade do pensamento arquitetônico que hoje dá sentido à palavra acolhimento, multiplicando os modos de conjugação do verbo habitar.

E se no individualista século XXI a casa continua sendo nosso primeiro lugar no mundo, uma reserva de intimidade e proteção, ela também é, cada vez mais, sinal dos tempos, espelho de transformações individuais e coletivas. Assim pensa o arquiteto Afonso Tomoda, que, na Casa Cor 2021, assina a “Suíte Nagoya”: “meu espaço reverencia minhas raízes orientais, minhas origens de família, porque considero fundamental trazer a memória afetiva para dentro de casa, ao mesmo tempo em que tento aliar tradição e inovação. Por isso, aproveitei uma clarabóia que já fazia parte do desenho original do imóvel, construído na década de 1970, e redesenhei o layout do quarto inserindo uma cama tatame, o que trouxe para o ambiente uma iluminação natural e aquela sensação de aconchego e leveza. Trabalhar com as emoções e tudo o que remete à intimidade do usuário é o cerne da questão quando falamos em qualificação da habitação”. 

 “Suíte Nagoya”, de afonso Tomoda (Foto: Divulgação)

Subjetividades à parte, conceitos objetivos como usabilidade, funcionalidade, ergonomia, flexibilidade e praticidade continuam centrais. Mas a ordem do dia, segundo Tomoda, é privilegiar a interação social e familiar, integrando os espaços da casa sem comprometer individualidades e interesses pessoais. 

“Se há algum ponto positivo no triste contexto de uma pandemia é que estamos vivendo um retrocesso positivo: voltamos a habitar de novo a sala, a varanda, a cozinha, tornando-os espaços de convivência de fato. Hoje acredito que morar bem é viver em um espaço amplo, em diálogo com o verde e totalmente integrado para receber os amigos. Mas é tudo muito pessoal... Eu, por exemplo, gosto de cozinhar e hoje faço uso de uma cozinha gourmet com ilha, de modo que a interação aconteça mesmo quando estou cozinhando”, Afonso Tomoda, arquiteto. 

Tudo porque a casa-refúgio também pode e deve ser lugar de celebração da vida, segundo a arquiteta Daniele Ellery, que junto ao marido Diego Carneiro assina na Casa Cor 2021 a “Sala de jantar do Amante das Artes”. “O espaço foi dividido em dois ambientes: a sala de jantar, com mesa autoral; e o lounge bar, composto por poltronas de designers brasileiros e um aparador em tronco de raízes de madeira carbonizada. Destaque também para as referências à obra de Athos Bulcão no painel de azulejos e para o jardim vertical com espécies nativas e tropicais, trazendo leveza e humanização ao espaço. A palavra de ordem dos nossos projetos tem sido sustentabilidade, daí o uso predominante do design biofílico, onde conectamos as pessoas ao ambiente natural”, enfatiza a arquiteta.

 

“Sala de jantar do Amante das Artes”, de Daniele Ellery e Diego Carneiro (Foto: Felipe Petrovsky)

Para ela, a casa que integra memória e criatividade também precisa vir a ser cada vez mais ecologicamente correta. “Na Casa Cor, optamos por uma construção enxuta, com materiais certificados, iluminação de led, uso de madeira. A ventilação cruzada, o aproveitamento da iluminação natural e o sombreamento foram estratégias bioclimáticas utilizadas, proporcionando renovação de ar, resfriamento do ambiente e o melhor aproveitamento de energia disponível no espaço, para redução do uso de luz artificial”, afirma. 

“Se a cara da arquitetura contemporânea hoje é integração devemos pensar nessa conexão do dentro com o fora sem perder de vista a privacidade. As aberturas amplas e transparentes que possibilitam a visualização, assim como o uso de portas de correr que se recolhem ou de persianas que protegem e dividem já estão em alta, demonstrando inclusive que o design mais orgânico também pode ser um forte aliado nessa desejada equação”, Daniele Ellery, arquiteta. 

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Longevidade e acessibilidade. Para o arquiteto Afonso Tomoda não há como pensar na arquitetura do futuro sem levar em conta estimativas que projetam para até 2060 um crescimento da ordem de 25% entre a população brasileira com mais de 60 anos. Trocando em miúdos, serão 58,2 milhões de idosos com demandas específicas relacionadas à adequação de moradias ou criação de espaços e produtos afinados às suas necessidades e desejos. 

“Já estamos passando mais tempo em casa do que antes da pandemia e diante do envelhecimento populacional precisamos pensar desde já em ambientes domésticos não só esteticamente agradáveis, como também funcionais, facilmente adaptáveis e construídos com materiais duráveis e flexíveis. Além disso, será cada vez mais imprescindível o apoio da tecnologia diante de possíveis perdas funcionais e de capacidades dos idosos, dotando as casas de dispositivos capazes de facilitar as tarefas cotidianas e garantir qualidade de vida”, sublinha Tomoda.

Sem tempo a perder. A incorporação do avanço tecnológico e digital em projetos arquitetônicos já é realidade concreta e em franca expansão. É o que afirma e demonstra a arquiteta Juliana Hissa, que, na Casa Cor 202,1 assina com a sócia Zaira Mendes o “Bar do Cais”, espaço multimídia que homenageia a música e a estética do chamado Pessoal do Ceará. Para ela, além de esteticamente agradáveis, as casas contemporâneas primam por ser cada vez mais funcionais e voltadas ao conforto de quem vive nelas, tendo as novas tecnologias como aliadas. 

 “Bar do Cais”, de Juliana Hissa e Zaira Mendes  (Foto: Divulgação)

“O aspirador de pó embutido, por exemplo, virou tendência e todos os novos edifícios já investem no sistema ligado com tubulações de PVC que são distribuídos no interior de pisos, paredes e forros das casas ou apartamentos. Eles estão conectados a um aspirador central, geralmente colocado na garagem ou área de serviço, onde a poeira é filtrada. Ou seja, o pó coletado não entra mais em contato com o ar do ambiente que foi limpo e isso não só representa uma ação positiva em relação à saúde como facilita e otimiza o tempo da limpeza. A segurança é outra demanda que pode ser suprida com a automação das residências, assim como os mobiliários inteligentes podem trazer muito mais autonomia aos usuários de um espaço doméstico”, ilustra Juliana.     

O uso racional dos recursos tecnológicos também diz sobre uma ética nos modos de morar. Para a arquiteta, não é à toa que investir em materiais reutilizáveis, energia limpa ou alternativas de captação e reaproveitamento da água deixou de ser exceção para virar tendência na contemporaneidade.

 

“Aqueles que enxergam o planeta como casa e entendem que habitar o mundo também é uma construção social sabem o valor da inovação quando atrelada à humanização dos espaços domésticos e em prol da qualidade de vida. Então, se o home office é um caminho sem volta e a casa se tornou extensão do escritório, precisamos que as tecnologias estejam a serviço de uma arquitetura afetiva, carregada de valores e significados”, Juliana Hissa, arquiteta. 

E que os arquitetos e arquitetas do futuro possam ser os descobridores dos sete mares dos desejos de quem busca morar bem. “Foi preciso um confinamento forçado de uma pandemia para que os usuários começassem a entender melhor seus gostos e prioridades no uso dos espaços domésticos. Assim, a contrapelo, é que as varandas e cozinhas se valorizaram e as atividades laborais cansativas encontraram na casa algum colorido e alguma chance de também se tornarem prazerosas. O escritório era um espaço perdido e amorfo, servia para acumular. E hoje, recuperado pela cultura do home office, virou o queridinho da casa, lugar mais do que necessário para retirar peso do trabalho burocrático”, reforça a arquiteta Daniele Ellery. 

A Casa Cor Ceará, redesenhada anualmente por arquitetos, designers, decoradores, paisagistas, artistas e artesãos, cerrou as portas diante do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 mas em 2021 volta a ser vitrine viva dos mais arrojados projetos arquitetônicos de interiores. Em sua 22ª edição, segue aberta a visitações presenciais, obedecendo a todos os protocolos de biossegurança, até o dia 5 de dezembro, exibindo 28 ambientes assinados por 34 renomados profissionais.  

A casa experimental - e inspiradora de cenários diversos - pertence à família Boris e ocupa o número 901 da Avenida Rui Barbosa, no bairro Meireles, endereço icônico de Fortaleza. Projetada pelo arquiteto Reginaldo Rangel, foi construída entre 1973 e 1974, reafirmando o traço moderno da época. Base para a recriação de cada um dos ambientes internos, seu desenho original é pura inspiração para quem aceitou o desafio de revisitar passados e projetar futuros. Dos arquitetos participantes, cerca de 20 são egressos e egressas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, avaliada como a melhor instituição de ensino superior particular do Brasil, de acordo com o ranking THE. 

Segundo a coordenadora da graduação em Arquitetura e Urbanismo da Unifor, Milena Baratta, o curso também conta com um estande no evento, expondo trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Inovação e Prototipagem e do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (Nepe), que funciona como escritório modelo. Para ela, as participações de egressos e egressas na mostra são resultado de uma formação de excelência que se tornou referência no Ceará e no Brasil por apostar na prática aplicada e no uso de tecnologias avançadas que otimizam processos criativos.

O curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor é voltado para quem quer trabalhar com criação, projeto, planejamento e construção de espaços nas escalas da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo. De lá saem profissionais aptos a atuar nas áreas de arquitetura de interiores, projetos de edificações, projetos urbanos e paisagísticos, planejamento urbano e regional e junto ao patrimônio histórico e cultural.

Serviço 

CASACOR Ceará - 22ª Edição - 26 de outubro a 05 de dezembro de 2021
Av. Rui Barbosa – 901 – Fortaleza (CE)
Funcionamento:
Terça a Sábado das 16h às 22h
Domingos e feriados das 15h às 21h
Mais informações: https://casacor.abril.com.br/mostras/ceara/