Saiba como é feita uma vacina e como ela funciona no organismo

qui, 6 agosto 2020 17:40

Saiba como é feita uma vacina e como ela funciona no organismo

Pesquisadores da Universidade de Fortaleza esclarecem dúvidas sobre o processo de fabricação da vacina e explicam de que forma sua eficácia é comprovada


As vacinas são fundamentais para evitar problemas de saúde pública (Foto: Ares Soares)
As vacinas são fundamentais para evitar problemas de saúde pública (Foto: Ares Soares)

A crise de saúde global enfrentada com a chegada do novo coronavírus voltou os olhares da ciência para a descoberta da vacina que vem protegendo muitas populações e freando a curva de contaminação pela Covid-19, que já matou milhões ao redor do mundo inteiro. Mas afinal, como uma vacina é feita e como podemos saber se ela é realmente eficaz? 

Para entendermos melhor esse processo, a professora Cristina Moreira, docente do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas, da graduação em Farmácia e diretora do Núcleo de Biologia Experimental da Universidade de Fortaleza (NUBEX), junto ao professor do curso de Farmácia da Unifor, Ângelo Roncalli, esclarecem as principais dúvidas sobre o assunto. Confira: 

Professores Ângelo Roncalli e Cristina Moreira em registro fotográfico realizado antes da pandemia de Covid-19 (Foto: Ares Soares)

Historicamente, como surgiram as vacinas?

Historicamente a vacina surgiu no século XVIII quando um médico britânico Edward Jenner descobriu que ao injetar secreção de pessoas doentes em outra saudável ela desenvolvia a doença de forma mais leve e ficava imune à doença em si. 

Assim ele descobriu a vacina antivariólica, a primeira de que se tem registro. Edward Jenner desenvolveu a vacina contra a varíola a partir de outra doença, a cowpox (varíola que acometia os bovinos), ele observou que as pessoas que ordenhavam as vacas adquiriam imunidade contra a varíola humana. A origem da palavra vacina, usada para designar todo o inóculo que tem capacidade de produzir anticorpos, tem origem do adjetivo latino vaccinae (de vaca) que foi substantivado.

A varíola foi a primeira doença infecciosa erradicada por meio da vacinação. Em 8 de maio de 1980, a 33ª Assembleia Mundial da Saúde declarou oficialmente: “o mundo e todos os seus povos estão livres da varíola”. Essa declaração marcou o fim de uma doença que afligiu a humanidade por pelo menos 3 mil anos, matando 300 milhões de pessoas somente no século XX.

No Brasil, o uso da vacina contra varíola foi decretado obrigatório para crianças em 1837 e para adultos em 1846. Mas como a vacina foi produzida em escala industrial no Rio de Janeiro somente em 1884, essa resolução não era cumprida.

Como funciona o processo de desenvolvimento de uma vacina?

O processo de produção de vacinas é complexo e demanda um enorme conhecimento técnico e um controle de qualidade rigoroso. O processo inclui a pesquisa inicial, ensaios não clínicos (em animais), ensaios clínicos (seres humanos) e a avaliação final dos resultados pelas agências regulatórias. O desenvolvimento de uma vacina combina métodos biológicos e farmacêuticos, sendo por isso designados de produtos biofarmacêuticos. 

A fase biológica envolve a preparação dos antígenos. Por exemplo, nesta fase as culturas dos microrganismos (bactérias ou vírus) são identificadas e, posteriormente purificadas e atenuadas ou inativadas (mortos), conforme o tipo de vacina. A fase farmacêutica consiste na obtenção final do produto pronto para a administração na população e envolve quatro etapas fundamentais: produção do concentrado vacinal, desenvolvimento da formulação, produção e controle de qualidade do produto e avaliação do processo produtivo. Nesta fase se obtém uma formulação final com características ideais para o envase, embalagem e administração.

Os ciclos de produção de uma vacina são longos e podem variar 6 a 22 meses para que seja produzido um único lote. Os ciclos de produção são muito mais longos do que de outros medicamentos. Por exemplo, são necessários nove a 10 meses para fabricar a vacina contra o tétano e 11 meses para a vacina contra a difteria.

Quais são as etapas contempladas durante esse processo?

1. Fase laboratorial na qual são avaliadas diversas moléculas para se definir a composição mais apropriada da vacina.

2. Fase não clínica, após a definição da melhor composição da vacina obtida na etapa anterior, nessa fase são realizados testes em animais para comprovação dos resultados obtidos nos ensaios in vitro.

3. Fase Clínica, nessa fase o produto é testado em seres humanos e é dividida em 3 fases (I, II e III).

4. Aprovação da vacina pelos órgãos regulatórios.

5. Fase Farmacêutica, essa fase envolve todos os processos necessários para a produção e controle de qualidade do produto final pronto para uso.

Que testes são realizados para comprovar a eficácia?

São realizados testes não clínicos in vivo e in vitro com o objetivo de garantir segurança e testar se produz anticorpos. Em seguida tem os ensaios clínicos de Fase I que visam verificar a segurança em voluntários saudáveis (normalmente de 20 a 80 pessoas), Fase II com o objetivo de avaliar mais detalhadamente a segurança e também sua eficácia, nessa fase é usado um número maior de pessoas; Fase III que também objetiva a verificação da segurança e eficácia, utiliza milhares de pessoas. Mesmo após a aprovação, a nova vacina continua sendo monitorada para observar eventuais reações adversas. 

Qual a importância da vacinação para a assistência de saúde destinada à sociedade?

A importância da vacinação extrapola a prevenção individual. Quando uma pessoa toma uma vacina, além de se proteger, ela está contribuindo com toda a comunidade na diminuição dos casos de determinada doença. 

Muitas doenças no Brasil e no mundo deixaram de ser um problema de saúde pública por causa da vacinação em massa da população. Algumas doenças comuns no passado como a poliomielite, o tétano e a coqueluche se transformaram em histórias para a geração atual. 

Como já foi mencionado, todo o processo que envolve o desenvolvimento de uma vacina deve ser bastante criterioso para assegurar a eficácia e a segurança do produto obtido, portanto, a vacinação é um procedimento seguro. Toda vacina licenciada para uso é aprovada por órgãos regulatórios rígidos; no Brasil, esse órgão é a ANVISA. Desta forma, não podemos dar ouvidos às notícias falsas que são amplamente divulgadas em redes sociais e que fomentam o movimento antivacina. Vacine-se! A vacinação não se resume a evitar doenças. Vacinas salvam vidas. 

Em tempos de pandemia, muitos cientistas no mundo inteiro se debruçam nos estudos para encontrar a vacina contra a Covid-19. Como vocês avaliam essa demanda, que é mundial? Será que teremos uma resposta efetiva a curto prazo? E os desafios a serem superados nessa jornada?

Indústrias farmacêuticas no mundo inteiro e órgãos estatais têm se debruçado na descoberta de uma vacina para a Covid-19. Esse esforço conjunto permite uma redução no tempo para o desenvolvimento de uma vacina. Acreditamos que tenhamos uma vacina disponível para a população entre o final do ano e o início do próximo. Entretanto, sabe-se que não se pode pular etapas para seu desenvolvimento e isso dificulta o surgimento imediato.

“Enquanto o mundo confronta a pandemia de COVID-19, a vitória da humanidade sobre a varíola é um lembrete do que é possível quando as nações se reúnem para combater uma ameaça comum à saúde" - (OMS).

Falando sobre o NUBEX, atualmente são desenvolvidas pesquisas voltadas para o campo das vacinas?

No Nubex são desenvolvidas pesquisas numa perspectiva multidisciplinar, em parcerias com instituições nacionais e do exterior, com o objetivo de produzir novos conhecimentos que respondam aos desafios científicos, biotecnológicos e sociais do país. Embora não estejamos desenvolvendo projetos para a obtenção de uma vacina contra a Covid-19, temos vários projetos em andamento que visam o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos, mapeamento genômico do SARS-COV-2 (novo coronavírus), prospecção in silico de fármacos com potencial para o tratamento dessa doença. 

Saiba mais sobre o NUBEX 

O Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) possibilita aos alunos e professores de graduação e pós da Unifor a realização de projetos de pesquisas, desenvolvimento e de inovação nas áreas das Ciências da Saúde e Biológicas, numa perspectiva multidisciplinar. O objetivo é produzir novos conhecimentos que respondam aos desafios científicos, tecnológicos e sociais do país.

Inaugurado em 2013, o Nubex realiza também atividades de treinamento em técnicas cirúrgicas minimamente invasivas e formação de bioteristas, além de ensaios não clínicos de novas substâncias com ação terapêutica. Configura-se espaço importante para a prática acadêmica e o desenvolvimento de pesquisas avançadas.

O Núcleo atua como unidade de suporte aos Programas de Mestrados em Ciências Médicas e Odontologia e ao Doutorado em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia, além de programas de pós-graduação de ICTs parceiras.

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