Cinema do Dragão recebe a 11ª Mostra Unifor de Cinema

Cinema do Dragão recebe a 11ª Mostra Unifor de Cinema

Evento reúne, nos dias 21 e 22 de novembro, filmes realizados por estudantes do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza.


Cena do curta-metragem
Cena do curta-metragem "Laço Pixelado", dirigido por Thomaz Cavalcante. (Foto: Divulgação)

Reflexões sobre o sujeito, as relações, a arte e a política na contemporaneidade. Estas provocações temáticas circundam os filmes que compõem a 11ª Mostra Unifor de Cinema. O evento, gratuito e aberto ao público, reúne a produção audiovisual dos alunos do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza durante os dias 21 e 22 de novembro no Cinema do Dragão. As sessões iniciam às 19h30, seguidas de debate com os diretores sobre os seus percursos criativos.

Com o tema “Poéticas da criação”, a mostra bianual se consolida como um lugar de encontro entre os alunos da primeira graduação em Cinema do Ceará e o público externo interessado no campo do cinema e do audiovisual cearense. Em sua 11ª edição, conta com a parceria do Cinema do Dragão.

Bete Jaguaribe, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, destaca a importância da 11ª Mostra Unifor de Cinema como um gesto de fruição coletiva. “Entendemos que publicizar a produção audiovisual de nossos alunos, exibindo nossos filmes no Cinema do Dragão, o mais importante cinema da cidade, é uma forma de potencializarmos a experiência do conhecimento, através de um importante diálogo com a comunidade de nosso estado. Os filmes que compõem a Mostra abordam questões relacionadas com a cidade, as artes da memória e da política, falam sobre identidades e subjetividades, em narrativas ficcionais e documentais. São as primeiras histórias de jovens cineastas, ainda encontrando suas poéticas autorais, descobrindo as sensibilidades dos enquadramentos, os significados dos gestos e das intenções”, enfatiza.

De acordo com a professora, a Mostra acontece num momento de consolidação de um projeto pedagógico contemporâneo, ancorado no sentido de favorecer a plenitude do ato criativo. “Nestes onze anos, a primeira graduação em Cinema do Ceará enfrentou os inúmeros desafios próprios do pioneirismo, transformando as dificuldades em matéria-prima de criação”, explica.

Dez filmes integram a 11ª Mostra Unifor de Cinema. Para muitas dessas produções, essa será a primeira vez numa grande tela. Uma experiência para desenvolver e estimular o que os diretores sentirão ao longo de suas carreiras. Os filmes passaram por um processo de mixagem e de edição de som, sob a tutoria do profissional Lucas Coelho, com o intuito de promover uma maior imersão nas narrativas e uma experiência própria da sala de cinema.

Para Danielle Coimbra, diretora do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão, a Mostra socializa as produções dos alunos, mostrando a qualidade das obras e ampliando os laços da universidade com a sociedade. A professora enfatiza a importância da democratização da arte, expondo-a a percepções e reações dos mais diversos públicos. “Esse é o verdadeiro sentido sobretudo do cinema, que afeta diretamente a sensibilidade e a capacidade perceptiva do indivíduo hipermoderno, que necessita da experiência estética como catarse, mas também como possibilidade de pensar o mundo em que vive”, salienta.

Realização e processos criativos

“Tommy Brilho, curta-metragem dirigido por Sávio Fernandes, já passou por diversos festivais pelo Brasil, tendo sido agraciado com mais de 25 prêmios. Um deles o de Melhor Roteiro pelo Júri Popular no VII FRAPA -  Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre, um dos mais reconhecidos festivais da América Latina. “O filme tem um teor muito cômico, muito irônico. Eu quero que as pessoas se divirtam e aproveitem ao máximo. Ao mesmo tempo, quero que elas se sintam representadas, seja por meio do Tommy ou por meio dos personagens que o cercam. Ele tem uma carga social muito forte. Existe esse jogo sobre o que a invisibilidade significa. Muitas pessoas já se sentiram invisíveis diante da sociedade”, conta Sávio Fernandes.

“Icarus”, curta-metragem de Vitor Rennan e Vitória Régia, já passou pelo 42º Festival Guarnicê de Cinema - o quarto mais antigo festival de cinema do Brasil - e, recentemente, integrou a Mostra Olhar do Ceará do 29º Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema. Para Vitor Rennan, “criar o Icarus foi um processo de cura. Um reencontro com minhas dores, minhas memórias, com esse lugar que me criou, que me fez o que sou hoje. Revisitar esse passado me fez perceber, entender e amar. Esse filme me veio como um sonho, uma tradução das minhas fantasias, uma representação de minhas dores e alegrias e da minha necessidade de falar sobre o que há muito tempo estava guardado. E falei”.

Julia Rabay, diretora do curta-metragem “NVTA - Não Vai Te Atrapalhar”, achava que o filme estaria “na lista de primeiros roteiros que nunca saem do papel”, mas a experiência de realização é motivo de alegria até hoje. “Ele tem uma história um tanto boba e com furos que qualquer pessoa percebe. Mas, apesar disso, também foi a primeira vez que assumi a responsabilidade de dirigir algo, então, pra mim, toda a experiência de produzir esse filme supera os pontos negativos da história em si. A produção geral do NVTA foi a mais organizada, divertida e marcante que participei. Foi um trabalho em equipe maravilhoso, e eu tenho muito orgulho dele”, observa.

Para Lara Frota, diretora de “Desaguar”, o filme veio de sua necessidade de, literalmente, cair. “Me coloco de frente de uma mulher que, assim como eu, sempre demonstrou muita sensibilidade e dividimos memórias, memórias de quando nos julgaram fracas por sentir e nos fizeram esquecer que, pra sentir é preciso coragem. Desaguar é permitir-se perder o chão e mergulhar de olhos fechados”, reflete. Recentemente, a produção participou da segunda edição do Curva do Rio - Festival de Cinema Universitário.

“Laço Pixelado”, dirigido por Thomaz Cavalcante, conta a história de um relacionamento que, apesar de ter sido prazeroso por algum tempo, passa por um momento desgastante. Segundo Thomaz, “relações são frágeis, mas não tão frágeis ao ponto de quebrarem na primeira queda. O curta surgiu por sermos instigados a falar sobre moderninha líquida, e dentro disso escolhemos falar sobre amor, relacionamentos e até onde eles duram”.

“Maria Maculada”, curta-metragem de Bruno Bressam e Leão Neto, estreou em 2018 no 28º Cine Ceará e foi agraciado no 17º Festival NOIA com a premiação de Melhor Filme pelo Júri Oficial na Mostra Cearense de Cinema Universitário. Bruno Bressam conta que “a Maria do filme é a Maria que sempre esteve presente em minha vida, desde criança, mas nunca havia sentido e parado para entender o seu passado”. De acordo com Leão Neto, “as vivências marcadas na pele, e como convivemos com essas máculas, é a ideia governante do filme. A nossa personagem, Maria do Socorro, não poderia ter aparecido em melhor hora. São os acasos afortunados de se fazer documentário”.

Sávio Fernandes também dirige “Oração ao Cadáver Desconhecido”, curta-metragem de ficção científica exibido na Mostra Competitiva Brasileira de Curtas do 29º Cine Ceará. Para o diretor, “produzir o curta foi bem ousado, porque a gente saiu da nossa zona de conforto. Fizemos coisas que a gente nem sabia que era possível. E foi incrível. A gente simulou um interior, no meio do mato, dentro do próprio campus da universidade, com enquadramentos específicos, para fazer esse filme possível”.

“A Mulher da Pele Azul”, produção de Esther Arruda e Pedro Ulee que explora a história da bailarina fantasma do Theatro José de Alencar, também integrou a Mostra Olhar do Ceará do 29º Cine Ceará e, recentemente, foi selecionado no First-Time Filmmaker Sessions. “Fazer o documentário foi um grande redescobrimento para nós, estudantes e realizadores de cinema com a cultura e a memória do nosso estado. Aprendemos a construir um afeto à nossa origem e cultura que nos permeia, pois foi mais do que fazer um filme, foi nos encontrar como parte do Ceará. Um sentimento não só regional, mas universal”, explica Esther Arruda.

Segundo Rodger Lucas, diretor de “O Som da Tua Voz”, o processo de produção do curta-metragem foi estabelecido de uma maneira bastante estruturada. “Fizemos a pré produção com bastante antecedência e foi algo que quase tudo fluiu como esperado. Porém, a melhor parte do processo, ou ao menos a mais diferenciada, foi a montagem, pois através dela o filme mudou completamente e ganhou outro sentido do roteiro original”, observa.

“Entre Fronteiras”, de Alan Sousa, documenta as manifestações realizadas durante a campanha eleitoral do ano de 2018. Para o diretor, por mais que o filme seja um recorte do período no Ceará, ele pode ser imaginado em qualquer lugar do Brasil. “Seja acompanhando pessoas que olham apenas por seus próprios ideais ou aqueles que lutam pelo bem comum coletivo, desde o início buscamos entender as razões do levante de tamanha polarização em meio às emoções instauradas no Brasil. Dentro deste processo, ao imergir nas ruas, foi observado que, na verdade, a política era uma máscara para incitar outras discussões: o branco contra o preto, o heteronormativo contra os LGBTQ+, a direita ultra conservadora contra os indígenas, as mulheres e os mais desfavorecidos economicamente. E, assim, descobrimos que não estávamos entre debates de pautas mais básicas e coletivistas, mas sim entre fronteiras do ego”, relata.

Programação

21/11 - Sala 01  do Cinema do Dragão - 19h30

  • Tommy Brilho - Ficção - 17'44'' min - Dir: Sávio Fernandes
  • Icarus - Documentário - 11'57'' - Dir: Vítor Rennan e Vitória Régia
  • NVTA: Não Vai Te Atrapalhar  - Ficção - 18'05'' - Dir: Julia Rabay
  • Desaguar -  Documentário - 11'09'' - Dir: Lara Frota
  • Laço Pixelado  - Ficção - 11'50''- Dir: Thomaz Cavalcante

22/11 - Sala 01 do Cinema do Dragão - 19h30

  • Maria Maculada - Documentário - 18'50'' - Dir: Bruno Bressam e Leão Neto
  • Oração ao Cadáver Desconhecido - Ficção - 10'08'' - Dir: Sávio Fernandes 
  • A Mulher da Pele Azul - Documentário - 12'18'' - Dir: Pedro Ulee e Esther Arruda
  • O Som da Tua Voz - Ficção - 08'48'' - Dir: Rodger Lucas
  • Entre Fronteiras - Documentário - 25'57'' - Dir: Alan Sousa

Serviço

XI Mostra Unifor de Cinema
Dias 21 e 22 de novembro, às 19h30
Cinema do Dragão
Endereço: R. Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema, Fortaleza - CE