Economia e juros em alta no Brasil

qua, 9 outubro 2024 15:37

Economia e juros em alta no Brasil

O PIB do Brasil registrou um crescimento de 1,4% no segundo trimestre de 2024, em relação ao trimestre anterior, superando as projeções do mercado (Imagem: Getty Images)
O PIB do Brasil registrou um crescimento de 1,4% no segundo trimestre de 2024, em relação ao trimestre anterior, superando as projeções do mercado (Imagem: Getty Images)

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.

Mercado de Capitais Internacional

A economia dos Estados Unidos continua a mostrar resiliência e sinais de desaceleração controlada para um pouso suave. O mercado de trabalho americano continua relativamente robusto, com pedidos de auxílio-desemprego caindo para 218 mil na semana encerrada em 21 de setembro, abaixo das expectativas. O banco central americano, Federal Reserve (Fed), decidiu iniciar a flexibilização monetária e iniciou corte das taxas de juros em 0,50 ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00%. Essa foi a primeira redução desde 2020, diante da confiança do Fed de que a inflação está se aproximando da meta de 2%. O presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou em 30 de setembro que provavelmente o Fed reduzirá a taxa em 0,25 p.p nas próximas reuniões de novembro e dezembro, mas que continuarão monitorando os dados econômicos e ajustando a política monetária conforme necessário para garantir um equilíbrio entre emprego e inflação. A decisão surpreendeu parte dos analistas, que esperavam cortes apenas em 2025.

A inflação ao consumidor subiu 0,2% em agosto, mantendo o ritmo de julho, enquanto a inflação anual desacelerou de 2,9% para 2,5%. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,3% no mês, com destaque para o aumento de 0,5% nos preços de habitação. O PIB dos EUA para o segundo trimestre de 2024 registrou crescimento anualizado de 3,0%, impulsionado por maiores gastos do consumidor, investimentos empresariais e estoques, apesar do aumento nas importações. Apesar do corte nas taxas americanas, o mercado reagiu de forma negativa: o S&P 500 recuou 2%, o Nasdaq caiu 3,2% e o índice de volatilidade VIX subiu expressivos 33,5%. 

A economia da zona do euro manteve as taxas de desemprego em 6,4% segundo o Eurostat. As maiores taxas de desocupação estão entre os jovens menores de 25 anos. O banco central europeu (BCE) cortou novamente os juros da zona do euro, reduzindo a taxa de 3,75% para 3,5%, sendo o segundo alívio consecutivo desde junho, em resposta à desaceleração da inflação de 2,2% em agosto. Apesar das expectativas de um novo corte em dezembro, Christine Lagarde, presidente do BCE, não garantiu mais reduções até o fim do ano. A inflação na zona do euro caiu para 2,2% em agosto e 1,8% em setembro, nos resultados acumulados de 12 meses. O mês de setembro foi o primeiro em três anos em que a inflação ficou abaixo da meta de 2%. No mesmo mês, o índice de gerentes de compras (PMI) registrou 48,9, o menor nível em oito meses, sinalizando contração econômica. O índice DAX da bolsa alemã recuou 0,8%, refletindo a incerteza no mercado. 

Na economia Chinesa o nível de desemprego aumentou de 5,2% em agosto para 5,3% em setembro. O Politburo, principal órgão de decisão do Partido Comunista da China, anunciou cortes nas taxas de juros e uma injeção de 1 trilhão de iuanes, equivalente a aproximadamente US$ 137 bilhões, no sistema financeiro, além de emitir 2 trilhões em títulos soberanos para subsidiar o consumo e apoiar famílias, buscando atingir a meta de 5% de crescimento do PIB em 2024. O índice de preços ao consumidor (CPI) chinês cresceu de 0,5% registrados em agosto para 0,6% em setembro. O índice de gerentes de compras (PMI) industrial oficial da China subiu de 49,1 em agosto para 49,8 em setembro, seu maior nível desde abril, mas ainda permanece abaixo de 50, sinalizando contração. O PMI de serviços caiu de 50,3 para 50, indicando estabilidade no setor. Líderes do partido chinês prometeram adicionar novos impulsos fiscais com foco em atingirem a meta de crescimento de 5% do PIB deste ano, reconhecendo os desafios econômicos, exacerbados pela crise no setor imobiliário.

Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Setembro/2024)

Índice / Ativo

País / Mercado

Variação (%)

Mês

Ano

12 meses

DJI

EUA

1,85

12,31

26,33

S&P 500

EUA

2,02

20,81

34,38

Nasdaq 

EUA

2,68

21,17

37,60

Dólar

Forex

-2,89

12,29

8,27

Bitcoin

Investing.com

7,40

49,80

134,90

Fonte: Valor Data; Investing.com

Mercado de Capitais Nacional

A taxa de desemprego no Brasil atingiu 6,6% entre junho e agosto de 2024, o menor nível já registrado para o mesmo período desde o início da série histórica em 2012. Segundo dados do Ministério do Trabalho, a economia brasileira gerou 1,7 milhão de novas vagas de emprego formais entre o período de janeiro a agosto deste ano, sendo 232 mil contratações somente em agosto e um aumento de quase 6% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Segundo economistas, esse cenário indica que a economia esteja caminhando para o "pleno emprego", em que praticamente todos que desejam trabalhar encontram oportunidades, principalmente no setor de serviços, que está em transição do trabalho informal para o formal. 

O Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o ciclo de aumento de juros, elevando a taxa Selic para 10,75% ao ano. A decisão, tomada de forma unânime, refletiu principalmente as pressões inflacionárias e cumprimento da meta, como também a alta do dólar. A resiliência da atividade econômica e o aquecimento do mercado de trabalho também foram fatores apontados. O BACEN projeta uma inflação de 4% para 2024, enquanto analistas preveem que o PIB poderá crescer até 2,96% no próximo ano, apesar das dificuldades econômicas. 

Embora o IPCA tenha registrado uma leve queda de -0,02% em agosto, o cenário inflacionário continua desafiador, com previsões de alta nos preços de energia e alimentos devido à crise hídrica. A prévia da inflação para setembro, medida pelo IPCA-15, indicou uma desaceleração, com alta de 0,19%, abaixo da expectativa do mercado de 0,28%. No acumulado de 12 meses, a inflação alcançou 4,12%, uma redução em relação aos 4,35% anteriores. Apesar da leve desaceleração nos preços, a expectativa é de que a inflação aumente nos próximos meses, impulsionada pela recente decisão da ANEEL de acionar a bandeira tarifária vermelha no patamar 2, elevando os custos da energia elétrica. 
O PIB do Brasil registrou um crescimento de 1,4% no segundo trimestre de 2024, em relação ao trimestre anterior, superando as projeções do mercado. Esse resultado foi impulsionado principalmente pela indústria, que avançou 1,8%, e pelo setor de serviços, com alta de 1%, conforme dados divulgados pelo IBGE. 

No mercado financeiro, o Ibovespa registrou uma queda de 3,0%, enquanto o dólar apresentou queda de 2,89%, mas mantendo a tendência de valorização em relação ao real durante todos os meses do ano.

Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Setembro/2024)

Índice

Variação (%)

Mês Ano 12 meses

IBOV

-3,06

-1,25

13,11

IFIX

-2,58

-0,16

2,69

IEE

-3,31

-5,41

5,12

SMLL

-4,41

-13,67

-3,75

ISE

-2,62

-4,63

8,67

Fonte: Valor Data; Investing.com

Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Setembro/2024)

Ação

Ticker

Variação

Preço

CSN Mineração

CMIN3

21,48%

R$ 6,90

Azul

AZUL4

15,77%

R$ 6,24

Santos Brasil

STBP3

13,54%

R$ 14,76

Braskem

BRKM5

10,48%

R$ 19,93

CSN

CSNA3

8,68%

R$ 12,89

Fonte: Infomoney.com


Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Setembro/2024)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Brava Energia

BRAV3

-33,14%

R$ 17,63

Assaí

ASAI3

-21,94%

R$ 7,47

Magazine Luiza

MGLU3

-20,23%

R$ 9,70

Minerva

BEEF3

-15,35%

R$ 6,34

B3 ON

B3SA3

-14,88%

R$ 10,71

Fonte: Infomoney.com

Ação estudada do mês: AERIS (AERI3)

a) Análise fundamentalista

Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas

Indicador

Resultado

Índice P/L

-2,56

Índice P/VP

0,35

DY - Dividend Yield

0,00%

Fonte: TradeMap 
Posição: 04.10.2024

Índice P/L é calculado a partir do preço da ação dividido pelo lucro por ação anual do ativo. Ele representa o quanto o mercado está disposto a pagar pelos ganhos de uma empresa. No caso de AERI3, o P/L é igual a -2,56, indicando prejuízo nos últimos doze meses.
O índice P/VP é obtido após a divisão entre o preço do ativo e o valor patrimonial da empresa. No caso de AERI3, o valor do P/VP de 0,35 indica que o preço de negociação do ativo está muito abaixo do seu valor patrimonial.

Para se obter o cálculo percentual do Dividend Yield de uma empresa deve-se dividir o valor de dividendos pagos durante um determinado período pelo preço da ação, antes da distribuição de dividendos e multiplicar por 100. Através do DY é possível entender a relação entre os dividendos que a empresa distribuiu e o preço atual da ação da companhia. O DY de AERI3 é 0,00%, indicando que não houve distribuição de dividendos nos últimos doze meses.

Vale ressaltar que a empresa abriu o capital em 2020 no segmento do Novo Mercado (o que sugere boas práticas de governança corporativa). A falta de sinais favoráveis à instalação de novos parques e a queda nos preços de energia de longo prazo, seguem retirando a atratividade do segmento eólico. A empresa vem sofrendo com a desaceleração, que vem causando demissões de funcionários e pausa da expansão, estando focada apenas na manutenção da operação atual e na desalavancagem financeira.

b) Análise técnica

Gráfico 1 – Gráfico semanal AERI3


Posição: 30.09.2024

No gráfico semanal de AERI3, observa-se uma tendência de baixa prolongada, acompanhada por o Índice de Força Relativa (IFR) em zona de sobrevenda e o HMACD em território negativo, indicando uma pressão vendedora predominante até junho de 2024, quando o ativo encontrou suporte na região dos R$ 5,10 (linha pontilhada verde). 

Em agosto, ocorreu uma reversão temporária dessa tendência, com o ativo registrando uma alta expressiva de 126,59% em valor de mercado, atingindo uma resistência em torno dos R$ 12,00 (linha pontilhada vermelha). 

No mês de setembro de 2024, o ativo devolve os ganhos obtidos e está se aproximando novamente do suporte em R$ 5,10. Contudo, vale destacar que o IFR se encontra em viés neutro, enquanto o HMACD está em território positivo, sinalizando uma possível divergência de movimento. Isso sugere que, embora o preço esteja em declínio, a força vendedora pode não ser suficientemente robusta para romper o suporte com facilidade.

c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis 

A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.

Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de “busca exaustiva” para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações. 

Especificamente para o ativo AERI3, os resultados apontaram que a combinação mais eficiente foi a de uma média móvel curta de 47 períodos com uma média móvel longa de 49 períodos, utilizando dados diários. A estratégia obteve uma taxa de acerto de 62,79%, com um ganho médio por operação de R$ 925,32 e uma perda média de R$ 304,37, para negociações com um lote padrão de 100 ações. Assim, ao replicar essa metodologia, um investidor teria alcançado um lucro bruto de R$21.038,99 no período de 31/08/2019 a 31/08/2024. 

Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia AERI3 

Exemplo de aplicação: No dia 21 de agosto de 2024 a média rápida (linha branca), cruzou a média longa (linha vermelha), indicando uma venda, a estratégia prega que essa operação vendida deve ser encerrada quando as médias se cruzarem novamente. 

Gráfico 3 – Gráfico Diário AERI3 


Posição: 30.09.2024

Disclaimer 

O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A Universidade de Fortaleza – Unifor, não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado. 

  • Este material não deve ser interpretado como recomendação, oferta ou solicitação de compra ou venda de quaisquer títulos, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. 
  • Investimentos nos mercados financeiros e de capitais envolvem riscos, incluindo a possibilidade de perdas superiores ao capital investido. 
  • Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros. 
  • As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente. 
  • A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos.

Equipe de elaboração

Professores

  • Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
    Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
    CNPI-P – n. 8409
     
  • Prof. Allisson David de Oliveira Martins
    Economista - Corecon-Ce n. 3221
    CNPI – n. 9113
     
  • Prof. Ricardo Aquino Coimbra
    Economista - Corecon-Ce n. 2575
    CNPI – n. 9579

Alunos

  • Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
  • Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
  • José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
  • José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
  • Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas 
  • Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas