Economia e mercados em alerta: turbulências e incertezas marcam o início de 2025

qui, 13 março 2025 11:03

Economia e mercados em alerta: turbulências e incertezas marcam o início de 2025

(Imagem: Getty Images)
(Imagem: Getty Images)

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.

Mercado de Capitais Internacional

A economia dos EUA começou 2025 com sinais mistos. O mercado de trabalho, embora resiliente, desacelera, afetando as expectativas sobre a política monetária. O índice de confiança do consumidor caiu para 64,7 em fevereiro (71,7 em janeiro), refletindo preocupações com tarifas e políticas comerciais. O FED manteve os juros entre 4,25% e 4,50%, apesar da pressão por cortes, priorizando o controle inflacionário. Esse cenário de juros elevados nos EUA pode pressionar economias emergentes como o Brasil, dificultando uma possível redução na Selic e pressionando o câmbio. 

A inflação, por sua vez, avançou 0,5% em janeiro, acima dos 0,4% registrados no mês anterior e das expectativas de desaceleração para 0,3%, levando o CPI anual a 3%, superando a expectativa de 2,9%. O núcleo da inflação, que exclui itens voláteis, registrou 3,3% em 12 meses. Os preços de habitação, gasolina e veículos usados estão entre os maiores responsáveis pela pressão inflacionária. Isso provoca um deslocamento nas projeções de juros, com o mercado agora apostando em possíveis elevações nas taxas ao longo de 2025. O crescimento econômico também desacelerou, com o PIB dos EUA subindo 2,8% em 2024, abaixo das previsões do mercado, refletindo o impacto da política monetária mais restritiva.

Na Zona do Euro, a taxa de desemprego se manteve em 6,2% em janeiro, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) sinaliza um corte de 25 p.p. na reunião de março. Em fevereiro de 2025, a taxa de inflação anual na zona do euro foi de 2,4%, uma ligeira diminuição em relação aos 2,5% registrados em janeiro, com o núcleo do índice de preços também apresentando uma leve queda, passando de 2,7% em janeiro para 2,6% em fevereiro. Com a economia em um ritmo de crescimento modesto, o BCE segue atento aos riscos, enquanto a ameaça de tarifas comerciais dos EUA continua a gerar incertezas. O PIB da Zona do Euro cresceu apenas 0,1% no quarto trimestre de 2024, com uma expansão anual de 0,9%. Este desempenho abaixo das expectativas levanta questionamentos sobre a capacidade da região em sustentar a recuperação econômica diante de desafios como a desaceleração industrial e o baixo crescimento do consumo.

A economia da China superou as expectativas de crescimento, com uma expansão de 5% em 2024, impulsionada por medidas de estímulo adotadas desde setembro e atingindo a meta do governo. No entanto, a desaceleração na indústria, com o PMI industrial caindo para 50,1 em janeiro, sugere que o país ainda enfrenta desafios internos. Embora o setor manufatureiro continue em expansão, os setores de serviços e construção têm mostrado sinais de fraqueza. A possível imposição de tarifas comerciais adicionais pelo novo governo dos EUA, liderado por Donald Trump, adiciona incertezas ao futuro econômico da China. 

No campo dos mercados financeiros, o mês de fevereiro foi marcado por volatilidade, como observado no VIX, que subiu 19,48% em fevereiro de 2025. Entre os principais índices globais, o DAX subiu 3,77%, refletindo um otimismo relativo com as políticas da Zona do Euro. No entanto, os mercados dos EUA apresentaram resultados negativos: o S&P 500 caiu 1,42%, e o Nasdaq Composite sofreu uma queda ainda mais acentuada, de 3,97%. O Nikkei 225, por sua vez, viu uma queda de 6,11%, pressionado pelo cenário de desaceleração global e as tensões comerciais.

Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Fevereiro/2025)

Índice / Ativo

País / Mercado

Variação (%)

Mês

Ano

12 meses

DJI

EUA

3,05

-1,58

12,42

S&P 500

EUA

-1,42

1,24

16,84

Nasdaq 

EUA

-3,97

-2,40

17,12

Dólar

Forex

0,75

-4,73

18,37

Bitcoin

Investing.com

-17,60

-9,80

37,90

Fonte: Valor Data; Investing.com

Mercado de Capitais Nacional

O mercado de trabalho brasileiro apresentou um leve aumento na taxa de desemprego, que subiu para 6,5% no trimestre encerrado em janeiro, um acréscimo de 0,3 ponto percentual em relação ao período anterior. No entanto, a informalidade caiu para 38,3%, apontando uma melhora na formalização do emprego. O rendimento médio real cresceu 1,4% no trimestre e 3,7% no ano, chegando a R$ 3.343, enquanto a massa salarial aumentou 6,2%, totalizando R$ 339,5 bilhões.

Na seara da inflação, medida pelo IPCA-15, teve forte alta em fevereiro, saltando de 0,11% em janeiro para 1,23%, a maior variação para o mês desde 2016. Os setores de habitação e educação impulsionaram esse aumento, com a energia elétrica residencial subindo 16,33% e os cursos regulares registrando alta de 4,78%. No acumulado de 12 meses, a inflação atingiu 4,96%, superando o teto da meta de 4,5%. Esse cenário elevou as projeções para a taxa Selic, que pode chegar a 15% até o fim de 2025, um ajuste necessário para conter a inflação, mas que também gera incerteza no ambiente econômico.

Na política monetária, o Brasil segue enfrentando desafios com os juros elevados. A estratégia do Banco Central busca conter a inflação persistente, mas ao mesmo tempo encarece o crédito e desacelera o crescimento econômico. Esse aperto monetário ocorre em um contexto de instabilidade política e desafios fiscais, exigindo uma postura mais conservadora para manter a estabilidade econômica. O impacto desse cenário se reflete nos mercados: em fevereiro, o Ibovespa registrou queda de 2,6%, enquanto o dólar se manteve praticamente estável, com leve alta de 0,2%.

Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Fevereiro/2025)

Índice

Variação (%)

Mês Ano 12 meses

IBOV

-2,64

2,09

-4,82

IFIX

3,64

0,17

-7,10

IEE

2,62

8,00

-8,28

SMLL

-3,87

2,01

-18,55

ISE

-2,92

2,63

-13,33

Fonte: Valor Data; Investing.com

Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Fevereiro/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Carrefour Brasil

CRFB3

17,12%

R$ 7,25

Embraer

EMBR3

16,28%

R$ 69,72

Ambev

ABEV3

10,09%

R$ 12,22

Cogna Educação

COGN3

7,80%

R$ 1,52

Eletrobras

ELET3

5,70%

R$ 38,22

Fonte: Infomoney.com


Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Fevereiro/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Azzas

AZZA3

-23,87%

R$ 26,00

Grupo Vamos

VAMO3

-21,28%

R$ 3,81

Braskem

BRKM5

-20,56%

R$ 10,97

Vivara

VIVA3

-20,39%

R$ 17,06

MRV

MRVE3

-20,04%

R$ 4,51

Fonte: Infomoney.com

Ação estudada do mês: Enel Distribuição Ceará (COCE5)

a) Análise fundamentalista

Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas

Indicador

Resultado

Índice P/L

6,73

Índice P/VP

0,39

DY - Dividend Yield

3,92%

Fonte: Status Invest
Posição: 05.03.2025

Uma análise fundamentalista tem como objetivo avaliar o valor intrínseco de uma empresa, considerando seus fundamentos financeiros, operacionais e estratégicos. Essa abordagem busca determinar se uma ação está sub ou supervalorizada, auxiliando os investidores na tomada de decisão.

Dentre os diversos indicadores utilizados na análise fundamentalista, três foram escolhidos para avaliação da empresa.

O Índice Preço/Lucro (P/L) é calculado pela razão entre o preço de mercado da ação e o lucro líquido por ação nos últimos 12 meses. Esse indicador reflete o valor que os investidores estão dispostos a pagar por unidade de lucro da empresa. No caso de COCE5, o P/L atual é de 6,73.
O Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP), obtido pela divisão do preço da ação pelo valor patrimonial por ação, mede a relação entre o preço de mercado e o patrimônio líquido contábil da empresa. Para COCE5, o P/VP atual é de 0,39, indicando que o ativo está sendo negociado com um grande desconto em relação ao seu valor patrimonial.

O Dividend Yield (DY), por sua vez, mede a relação percentual entre os dividendos pagos pela empresa em determinado período e o preço da ação antes da distribuição. O DY atual é de 3,92%.

A Enel Distribuição Ceará, controlada pela Enel Brasil, é uma empresa de distribuição de energia elétrica que atende a aproximadamente 4 milhões de unidades consumidoras em mais de 180 municípios do estado do Ceará. A estratégia da empresa foca em três pilares principais: energias renováveis, modernização das redes de distribuição e o desenvolvimento de serviços e produtos de valor agregado para os clientes. A empresa está comprometida com a sustentabilidade e alinha suas ações com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente no que diz respeito à energia limpa e acessível, inovação em infraestrutura e ação contra a mudança climática. Além disso, investe continuamente na modernização de suas infraestruturas e na oferta de soluções integradas que promovam a eficiência energética e a sustentabilidade.

b) Análise técnica

Gráfico 1 – Gráfico semanal COCE5


Posição: 05.03.2025

O ativo COCE5 apresentou um longo período de lateralização dentro da faixa entre R$ 38,15 e R$ 56,33. No segundo semestre de 2024, iniciou um movimento de baixa, configurando um canal descendente (destacado em amarelo), até testar um suporte relevante na região de R$ 23,39 (linha vermelha). Caso mantenha esse suporte, o ativo tende a buscar a resistência imediata em R$ 29,33. O rompimento desse nível de suporte pode levar a cotação a valores próximos de R$ 21,40.

Os indicadores HMACD e IFR atingiram a região de sobrevenda ao testar o suporte de R$ 23,39, sugerindo um possível esgotamento da pressão vendedora e um potencial movimento de alta a partir desse nível.

c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis 

A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.

Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.

Para o ativo COCE5, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 11 períodos e uma média móvel longa de 12 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 48,86%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 107,12, enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 85,26, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 2.254,00 no período entre 16/06/2019 e 31/01/2025, com um tempo médio por operação de 5,44 dias, destacando-se como uma abordagem consistente dentro do horizonte temporal analisado. 

Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia COCE5

Exemplo de aplicação:

Em 17 de fevereiro de 2025, a média móvel curta de 11 períodos (linha branca) cruzou para cima da média móvel longa de 12 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra, identificado pelo último símbolo laranja no (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.

Gráfico 3 – Gráfico diário COCE5


Posição: 05.03.2025

Disclaimer 

O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A (Universidade de Fortaleza – Unifor), não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado.

  • Este material não deve ser interpretado como recomendação, oferta ou solicitação de compra ou venda de quaisquer títulos, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. 
  • Investimentos nos mercados financeiros e de capitais envolvem riscos, incluindo a possibilidade de perdas superiores ao capital investido. 
  • Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros. 
  • As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente. 
  • A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos.

Equipe de elaboração

Professores

  • Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
    Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
    CNPI-P – n. 8409
     
  • Prof. Allisson David de Oliveira Martins
    Economista - Corecon-Ce n. 3221
    CNPI – n. 9113
     
  • Prof. Ricardo Aquino Coimbra
    Economista - Corecon-Ce n. 2575
    CNPI – n. 9579

Alunos

  • Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
  • Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
  • José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
  • José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
  • Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas 
  • Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas