Entrevista Nota 10 | João Victor Lopes e o esporte eletrônico como ferramenta de inclusão social

qua, 10 dezembro 2025 11:28

Entrevista Nota 10 | João Victor Lopes e o esporte eletrônico como ferramenta de inclusão social

Aluno da Unifor e atleta de futebol digital lembra o início da carreira e comenta sobre a evolução da modalidade, além de destacar o projeto “E-futebol na Educação”, do qual é monitor


Com apenas 21 anos, atleta é um dos maiores nomes do futebol digital brasileiro, com trajetória de títulos nacionais e internacionais (Foto: Ares Soares)
Com apenas 21 anos, atleta é um dos maiores nomes do futebol digital brasileiro, com trajetória de títulos nacionais e internacionais (Foto: Ares Soares)

João Victor Lopes, conhecido no mundo gamer como JVictorPro, é aluno do curso de Ciência da Computação da Universidade de Fortaleza e também monitor do projeto “E-futebol na Educação”. Entre treinos, aulas e competições internacionais, ele vive o esporte eletrônico por dentro — como atleta da seleção brasileira de futebol digital e como formador de novos talentos em comunidades vulneráveis.

O esporte eletrônico deixou de ser nicho para se tornar rota de futuro. Em modalidades como o futebol digital, jovens encontram não só um jogo competitivo, mas um ambiente de aprendizagem tecnológica, convivência e reconhecimento. Quando a tela vira campo, surgem novas formas de pertencimento ao mundo conectado.

Em um país ainda marcado pela desigualdade de acesso à tecnologia, projetos de e-sports cumprem papel estratégico. As iniciativas oferecem equipamento, internet, orientação e rotina de treino a quem dificilmente teria isso em casa. Mais do que formar atletas, os programas promovem inclusão digital, ampliam repertório e abrem portas para estudo e trabalho.

Na Unifor, vinculada à Fundação Edson Queiroz, essa visão ganha corpo com o “E-futebol na Educação”. O projeto é uma iniciativa da Bem Star Treinamento, com patrocínio da Brisanet e Richester, e apoio da Unifor, por meio da Vice-Reitoria de Extensão e Comunidade Universitária (Virex). Gratuito e voltado a jovens de comunidades vulneráveis, o programa usa a modalidade de eFootball como porta de entrada para habilidades digitais, pensamento lógico e disciplina. É uma inclusão que começa no jogo, mas aponta para a vida.

Nesta Entrevista Nota 10, João Victor Lopes lembra o início no futebol digital, comenta a evolução do esporte eletrônico e explica como a sala gamer e o projeto funcionam como ferramenta de inclusão digital e social. 

Confira na íntegra a entrevista a seguir.

Entrevista Nota 10 — Como nasceu seu interesse pelo futebol digital e quando você percebeu que ele poderia virar profissão?

João Victor Lopes — Eu sempre tive talento no jogo desde muito novo. Ainda criança, enfrentava jogadores bem mais velhos, de 30 ou 40 anos, e ganhava partidas e torneios online. Também conseguia alcançar rankings altos no cenário global. Foi aí que o sonho começou a aparecer. 

Muita gente não sabe, mas meu primeiro sonho era ser jogador profissional de futebol de campo. Só que, na adolescência, eu treinava todos os dias no futebol digital e fui percebendo que aquilo era mais do que lazer. Quando eu vi que ganhava de gente muito mais experiente e tinha resultado consistente, pensei: ‘eu sou muito bom nisso, preciso virar profissional.’

Entrevista Nota 10 — Com que idade você começou a se profissionalizar na modalidade?

João Victor Lopes — Com sete anos eu já era muito bom, mas foi aos 12 que tomei a decisão de investir de verdade. Comecei disputando campeonato de bairro, estadual, e aos 15, já estava em competições internacionais. Então esse passo para o profissional começou por volta dos 12 anos, quando entendi que o futebol digital podia ser meu caminho.

Entrevista Nota 10 — A Unifor apoia o projeto “E-futebol na Educação”, do qual você é monitor. De que maneira a Universidade e a sala gamer ajudam a formar atletas e a promover inclusão digital para jovens que não teriam esse acesso?

João Victor Lopes — A Unifor foi a primeira universidade do Brasil a criar uma sala gamer voltada para formar atletas de futebol digital. Isso é enorme, porque o projeto atende muitos jovens que não têm videogame em casa, nem internet adequada, nem orientação para evoluir.

A Universidade oferece estrutura, suporte e profissionais preparados. Temos treinadores que entendem a realidade do atleta de periferia e sabem o que o jovem precisa para alcançar alto desempenho. E o efeito disso é direto: um aluno que não tinha perspectiva começa a enxergar a tecnologia e o esporte eletrônico como profissão possível.

Hoje já temos atletas que disputam campeonatos estaduais e regionais, chegando entre os melhores. É um projeto gratuito, que abre portas reais para quem não teria como acessar esse universo. Sem a Unifor, nada disso existiria.

Entrevista Nota 10 — Para além da evolução no game, quais mudanças você nota na vida dos jovens quando eles entram no projeto e passam a ter acesso à sala gamer e à mentoria?

João Victor Lopes — O que mais me marca é perceber que não se trata só de jogar melhor. Como destaquei anteriormente, muitos chegam aqui sem contato real com tecnologia, sem noção de rotina de treino e sem ninguém para orientar. No projeto, eles ganham acesso, aprendem a lidar com o digital, desenvolvem foco e disciplina e começam a se reconhecer nesse universo. A autoestima muda. Eles passam a ter objetivo, perspectiva e um caminho positivo para seguir.

Entrevista Nota 10 — Você inspira milhares de pessoas no Brasil e até em outros países. É desafiador lidar com a responsabilidade de ser referência para tantos jovens?

João Victor Lopes — Quando comecei, eu queria ser inspiração, mas não imaginava chegar a esse ponto. Meu primeiro contrato foi de 200 reais e eu já era feliz, porque era uma chance real de viver do jogo.

Com o tempo, eu entendi que inspirar não é só jogar bem. É disciplina, mentalidade forte, constância. Muita gente me acompanha porque vê esse lado também. Eu me sinto muito grato, porque hoje tenho seguidores e alunos em lugares que eu nunca imaginei. Isso traz alegria, mas também responsabilidade, porque preciso manter resultados e ser exemplo de foco para quem confia em mim.

Entrevista Nota 10 — O futebol digital cresceu rápido nos últimos anos, e quais são as perspectivas para o futuro?

João Victor Lopes — Quando eu comecei, a modalidade era limitada, especialmente para atletas de baixa renda. Era difícil conseguir oportunidade cedo. Isso mudou muito com a entrada da FIFA, a criação de uma Copa do Mundo anual e o aumento das premiações.

Hoje existem mundiais com prêmios de R$ 500 mil, R$ 600 mil, e até R$ 1 milhão . O mercado está crescendo e se consolidando. Eu acredito que vai continuar subindo, mas para isso o atleta precisa acreditar, ser disciplinado e persistente. O caminho é difícil, tem crítica, tem gente desacreditando. E o apoio da família faz diferença gigantesca, porque é o que sustenta o jogador quando ele pensa em desistir.

Entrevista Nota 10 — Você concilia rotina de atleta, professor do projeto e universitário. Como tem sido vivenciar tantas experiências?

João Victor Lopes — É muito intenso. Eu sempre fui exigente comigo mesmo e queria ser referência em tudo. Estudar na Unifor é um sonho meu e da minha família, porque eu não tinha condição de pagar.

Minha rotina é assim: de manhã eu estudo, à tarde dou aula no projeto, e à noite treino até meia-noite. Durmo cinco ou seis horas por noite para manter o nível competitivo. Nos fins de semana, eu ainda dou mentorias do projeto.

Tem sido uma fase bem puxada, mas de muitas conquistas, porque me tornei mais disciplinado Costumo ser aprovado em todas as cadeiras e, ano passado, fui vice-campeão da Copa do Mundo representando o Brasil. Quando era criança, eu nunca imaginei isso acontecendo ao mesmo tempo.


Esta notícia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, contribuindo para o alcance dos ODSs 4 – Educação de Qualidade, 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico, 10 – Redução das Desigualdades e 17 – Parcerias e Meios de Implementação.

A Universidade de Fortaleza reforça seu compromisso com uma formação inclusiva e de excelência (ODS 4), que amplia perspectivas profissionais em um mercado em expansão (ODS 8). A iniciativa também atua na inclusão social e digital de jovens em situação de vulnerabilidade (ODS 10) e mostra a força das parcerias entre universidade, empresas e organizações para gerar impacto duradouro (ODS 17).