Entrevista Nota 10: Pesquisadoras francesas Christine Guesdon Caltero e Nadia Cherchem falam sobre parceria com a Unifor

ter, 16 novembro 2021 18:28

Entrevista Nota 10: Pesquisadoras francesas Christine Guesdon Caltero e Nadia Cherchem falam sobre parceria com a Unifor

Atuantes da área de enfermagem, ambas lecionam na Universidade de Rouen e participarão este mês de evento internacional


Christine Guesdon Caltero e Nadia Cherchem visitarão a Unifor neste mês de novembro (Fotos: Arquivo Pessoal)
Christine Guesdon Caltero e Nadia Cherchem visitarão a Unifor neste mês de novembro (Fotos: Arquivo Pessoal)

De 19 a 26 de novembro de 2021, a Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, receberá a visita das pesquisadoras em Enfermagem Christine Guesdon Caltero e Nadia Cherchem, ambas professoras da Universidade de Rouen, na França. Convidadas do II Encontro Internacional de Cuidados em Enfermagem da Unifor, que terá como tema “Tecnologia e Inovação Centrada na Pessoa”, elas também participarão de uma série de atividades organizadas pelo Mestrado Profissional em Tecnologia e Inovação em Enfermagem (MPTIE), pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) e pela coordenação do curso de Graduação em Enfermagem da instituição.

Mestre em Anestesia na Enfermagem, Christine Guesdon-Caltero é diretora da Escola de Formação de Profissionais de Saúde da Normandia (I’ERFPS - Universidade de Rouen), e também do setor de Cuidados de Enfermagem do Centro Hospitalar Universitário de Rouen (CHU-Rouen). Já Nádia Cherchem, também professora da Universidade de Rouen, é mestre em Ética Médica e doutoranda em Filosofia Prática pela Université Paris Est, França, e atua como coordenadora de Mobilidade Internacional do Programa Erasmus+ I’ERFPS + Centro Hospitalar Universitário de Rouen (CHU-ROUEN). Cherchem desempenha ainda a função de membro do Comitê de Ética de Apoio à Decisão Médica do CHU-ROUEN.

Em bate-papo com o Entrevista Nota 10, as pesquisadoras revelaram suas expectativas para a visita à Unifor, explicaram detalhes sobre a parceria com a instituição e comentaram sobre diferenças entre o exercício da enfermagem no Brasil e na França. Leia a seguir.

Entrevista Nota 10 - Como a parceria com a Universidade de Fortaleza teve início?

Profª. Christine Caltero - O Centro universitário de Rouen iniciou esta parceria com a Universidade de Fortaleza após a vinda de estudantes à Universidade de Medicina de Rouen. A colaboração foi inicialmente conduzida graças à delegação para os assuntos internacionais do estabelecimento. As formações para medicina foram integradas no projeto desde 2015, primeiro ano em que os estudantes de enfermagem foram para um estágio na Unifor e partilharam do cotidiano deles com os estudantes brasileiros.

Entrevista Nota 10 - Quais diferenças podem ser observadas entre o exercício da enfermagem no Brasil e em França?

Profª. Christine Caltero - As diferenças são sutis. Nosso exercício profissional francês tem muitas semelhanças com o exercício do enfermeiro brasileiro. Em uma visita que fizemos em fevereiro de 2017, nosso encontro com uma equipe neonatal da Maternidade Escola de Fortaleza convenceu-nos da qualidade dos cuidados prestados às crianças e pudemos observar ações iguais às que fazemos na França.

Entrevista Nota 10 - Como estão as expectativas para a visita ao nosso campus?

Profª. Nadia Louise Cherchem - [Desejamos] partilhar as nossas experiências e práticas e prosseguir com a nossa cooperação no âmbito dos intercâmbios e das mobilidades. Há muitos anos que o CHU de Rouen e o ERFPS colaboram com a Unifor e as suas instituições de saúde parceiras para a melhoria da qualidade dos cuidados e das competências dos profissionais de saúde e dos professores que contribuem para a sua formação. Da utilização de ferramentas digitais e virtuais ao desenvolvimento de pedagogias inovadoras, passando por uma visão mais humanizada dos cuidados, a nossa colaboração sempre foi estimulante e dinâmica e nos permite enriquecer mutuamente. 

A nossa visita tem por objetivo manter a nossa parceria nestes tempos tão complicados de crise sanitária. Porque hoje, e provavelmente mais do que ontem, precisamos continuar a partilhar as nossas experiências para podermos avançar. [...]

Hoje, temos novas perspectivas no âmbito do programa Erasmus+ [programa de apoio à educação, formação, juventude e esporte na Europa] para reforçar a nossa parceria, contribuindo para a mobilidade de estudantes e professores. O programa Erasmus+ nos dá a possibilidade de lançar novas formas de mobilidade, a fim de promover o desenvolvimento profissional contínuo dos profissionais de saúde e enriquecer a nossa colaboração multidimensional e multidisciplinar. Assim, por meio da nossa visita, estabeleceremos em conjunto as modalidades dos seus intercâmbios em mobilidade.

Entrevista Nota 10 - Qual é o interesse de unir pesquisas com uma instituição brasileira?

Profª. Christine Caltero - A dinâmica brasileira e a qualidade dos trabalhos de investigação paramédica que constatamos há vários anos reforçam a ideia de que temos muito a aprender com os nossos colegas inscritos numa vontade de cuidado. Compartilhar nossas experiências é para nós uma riqueza e, acima de tudo, uma motivação adicional para envolver nossos estudantes franceses em novos projetos.

Entrevista Nota 10 - O Brasil e a França vivem momentos diferentes da pandemia de Covid-19. Durante a sua visita, há algum interesse em observar as práticas de tratamento dos doentes da doença e a luta contra o novo coronavírus no nosso país?

Profª. Christine Caltero - Apesar de já termos partilhado muito à distância, durante estes longos meses, com os nossos colegas e amigos, parece-me muito importante que troquemos informações sobre os nossos respectivos cotidianos no meio desta crise internacional, vivida a vários milhares de quilômetros. Em todos os acontecimentos trágicos que a História com um “H” maiúsculo nos permitiu descobrir, a análise a posteriori dos fatos e das decisões tomadas é sempre muito rica de ensinamentos para o presente e também para o futuro. Isto permite compreender, mas também evita, por vezes, repetir os mesmos erros.

Entrevista Nota 10 - Poderia comentar seu trabalho que será apresentado no II Encontro Internacional de Enfermagem?

Profª. Nadia Louise Cherchem - O trabalho busca compartilhar reflexão e questionamento sobre a evolução das modalidades de cuidados em relação às novas técnicas digitais e virtuais.

A experiência mundial da crise sanitária da Covid-19 contribuiu para pôr em evidência numerosas problemáticas, sem dúvida já existentes, mas também novas interrogações, nomeadamente em matéria de saúde pública. Assim, a situação sanitária gerada pela Covid-19 nos ordenou que acelerássemos a viragem digital para investir os meios disponíveis que nem sempre eram pensados pelos cuidadores. 

Assim, tivemos de nos lançar na aventura, face à urgência da situação, sem sempre medir todos os seus desafios, quer para os doentes quer para os prestadores de cuidados. Assim, hoje, o cuidado é pensado sob o modo de saúde conectado e se realiza com, e a partir, da intrusão destas novas técnicas, desde a formação dos futuros profissionais de saúde à oferta de cuidados, etc. Por meio da partilha destas experiências, será necessário medir os desafios do desenvolvimento destas técnicas quando o cuidado se torna digital e virtual.