seg, 11 outubro 2021 14:56
Entrevista Nota 10: Fabi Alvim e o poder transformador do esporte
A ex-atleta de voleibol e comentarista da Rede Globo destaca como a prática esportiva pode contribuir para a formação integral das pessoas
“Quando eu comecei a ter contato com o esporte, eu não tinha a menor ideia de quem eu me tornaria”. É assim que Fabi Alvim, bicampeã olímpica (Pequim, 2008 / Londres, 2012) pela seleção brasileira de voleibol feminino reflete sobre a função transformadora da prática esportiva.
Atualmente fora das quadras, Fabi é comentarista esportiva da Rede Globo. A transição de carreira, após 20 anos como atleta, foi feita com leveza, paciência e uma rede de apoio fundamental para vencer os desafios presentes na nova etapa.
No último dia 1º de outubro, ela participou do lançamento do Desafio Unifor de Escolas 2021, ocasião na qual compartilhou suas vivências. Já na “Etapa Radical”, a primeira fase do Desafio, que aconteceu no dia 2 de outubro, a comentarista realizou um bate-papo com o público sobre variados temas: alimentação na vida de atleta, as possibilidades do vôlei no Ceará e a preparação para encarar as quadras.
Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, Fabi fala sobre a importância do esporte na formação pessoal e sobre a vinda à Fortaleza. Leia na íntegra:
Entrevista Nota 10 - Fabi, o Desafio Unifor de Escolas é um evento que reúne escolas públicas e privadas de Fortaleza para um momento de integração, esporte e diversão. Como foi para você participar do lançamento?
Fabi Alvim - Estava em grande expectativa para voltar a Fortaleza, que é um lugar que eu adoro! Tive ótimas experiências, então estou muito animada, seguindo todos os protocolos. Estar presente dentro de um evento desta proporção certamente traz uma responsabilidade, mas tô muito feliz de estar fazendo parte desse projeto tão grandioso.
Entrevista Nota 10 - Que importância você dá a esse evento, levando em consideração que devido a pandemia, esses jovens ficaram tanto tempo em casa, sem poder interagir?
Fabi Alvim - Bom, a gente ainda vive na pandemia, então as crianças acabaram tendo que ter as aulas suspensas, perderam um pouco dessa sociabilidade, dessa troca com o professor, de estar ali no dia a dia e sem poder interagir. A gente sabe que nem todo mundo tem acesso a internet, então está sendo um período bastante difícil. Essa possibilidade de rever os amigos e ter alguma troca mesmo que momentânea, é super importante. Sabemos que a gente ainda vai pagar uma conta do ponto de vista educacional e a própria sociabilidade em relação a tudo que a gente viveu, mas estamos tentando, nos esforçando para seguir de alguma maneira mesmo diante dessa tragédia que nos assolou e nos assola mundo afora. Então é muito bom poder rever algumas pessoas, essa conexão vai ser importante nesse momento.
Entrevista Nota 10 - Atualmente, faz parte do seu trabalho conceder palestras contando sobre a sua história. Como é essa interação para você?
Fabi Alvim - Quando as pessoas falam em palestra, em bate papo, contar história de vida, dividir a nossa vivência, temos a tendência a achar que vamos ensinar alguma coisa, mas é sempre uma troca, sempre gosto de falar disso. A minha ideia é trazer o que o esporte proporcionou na minha vida, de que forma ele mudou a Fabiana tanto no campo esportivo, como no campo humano. É sempre uma troca muito importante e eu espero que a gente consiga abordar temas que os alunos levem pra vida, independentemente de se tornarem atletas ou não. Esse contato com o esporte é importante, remete a saúde, a conviver em grupo, a trocas, a pensar no outro, ter um olhar para as coisas, assim como é na nossa vida. Então a minha ideia é realmente trazer um pouco disso e trocar de fato com os alunos ali.
Entrevista Nota 10 - Levando em consideração a sua experiência, como a prática esportiva pode contribuir na formação integral das pessoas?
Fabi Alvim - Falando um pouquinho sobre a prática: quando eu comecei a ter contato com o esporte, eu não tinha a menor ideia de quem eu me tornaria, de que eu viveria do esporte, de que eu teria oportunidade de viver uma olimpíada. Eu fiz porque eu gostava, porque era bacana, e o esporte organicamente vai te trazendo ensinamentos pra vida. Como por exemplo a convivência em grupo, o respeito às regras e entender que as coisas só estão boas quando são pra todo mundo. Acredito que são aprendizados que vão ficando. Parei de jogar há três anos e até hoje, se eu paro pra pensar, a personalidade que eu tenho fora da quadra é a que eu tinha dentro, porque a minha formação foi dentro do esporte e isso de fato ficou para a vida.
Entrevista Nota 10 - Fabi, falando um pouco de você: como foi a transição de atleta para comentarista? Quais os principais desafios que você enfrentou?
Fabi Alvim - Começar a pensar nessa transição de carreira é um momento que para o atleta é muito difícil. Passei 20 anos jogando profissionalmente, além das categorias de base, em uma rotina muito intensa, de muita entrega. Hoje até temos boas possibilidades de ensino à distância, as alternativas para seguir a parte acadêmica junto com a parte esportiva hoje são muito maiores. Mas na minha época a gente abria mão. E o fato de abrir mão também traz algumas consequências, inseguranças e você fica pensando “poxa, o que eu vou fazer lá na frente, quando parar de jogar?”. Tentei planejar isso de forma um pouco mais tranquila, tentando entender como funcionava a rotina fora das quadras. Primeiro eu parei com a seleção lá em 2014, e em 2018 chegou a hora de dar adeus às quadras definitivamente. E aí, eu fui me preparando, fui vivendo algumas experiências nas férias, tive um convite para comentar alguns jogos do Brasil, depois os jogos olímpicos de 2016 e vi que tinham algumas chances. Tem um outro incômodo para mim que é a ausência de mulheres em cargos de comando e isso tudo mexia comigo. Logo que eu parei de jogar recebi o convite para me tornar oficialmente comentarista, e esse também é um lugar que temos poucas mulheres e eu me senti seduzida com esse desafio e logo agarrei.
Mas não é simples, a gente sabe que entender os finais dos ciclos requer paciência, lucidez, nem sempre 100% de certeza, mas eu tentei fazer as coisas de forma bem leve, sem aquela cobrança, tentando entender onde eu me encaixaria depois do esporte e também entender que existe vida depois do vôlei. Então foi muito importante o apoio dos meus amigos, da família, e de fazer isso de forma gradativa para quando chegar o dia de parar de jogar aquele vazio fosse só nostalgia, só saudade boa e não aquela ausência onde a gente se sente um pouco perdida. Nem sempre é assim que acontece, eu tentei fazer de forma leve e acho que consegui. Hoje tenho uma saudade muito boa, mas sinto que vivi intensamente esses 20 anos do vôlei e fui muito feliz ali dentro.