Entrevista Nota 10: Zaman Ataie e os avanços nas pesquisas em medicina regenerativa para salvar vidas
seg, 3 novembro 2025 18:39
Entrevista Nota 10: Zaman Ataie e os avanços nas pesquisas em medicina regenerativa para salvar vidas
O especialista em engenharia de tecidos, medicina regenerativa e bioimpressão estará no campus da Unifor, em novembro, para uma troca de experiências com pesquisadores e estudantes da instituição

O futuro da medicina regenerativa se sustenta em três pilares: engenharia, inovação e biologia. Para que a integração desses campos impulsione o avanço científico das pesquisas na área, é essencial o intercâmbio de conhecimentos entre pesquisadores, especialmente por meio de parcerias internacionais. Esse movimento acompanha a crescente atuação da Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, na busca por colaborações com estudiosos de todo o mundo.
Como exemplo, a Unifor receberá em seu campus, entre os dias 17 e 21 de novembro, o Dr. Zaman Ataie, especialista em engenharia de tecidos, medicina regenerativa e bioimpressão. De origem iraniana, o cientista sênior da indústria farmacêutica Merck é pós-doutor em Engenharia Química pela Pennsylvania State University, nos Estados Unidos. “Trabalhar para o avanço da saúde humana sempre foi o meu maior objetivo”, revela.
A visita do profissional à instituição tem como objetivo contribuir para a especialização técnica em engenharia de tecidos, com foco em biomateriais, fabricação de scaffolds — estruturas tridimensionais projetadas para dar suporte ao crescimento celular e à formação de novos tecidos, como ossos, pele, cartilagem e vasos sanguíneos — e terapias baseadas em células e bioimpressão 3D.
As experiências de Zaman serão compartilhadas com pesquisadores do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) e do Laboratório de Pesquisa e Inovação em Cidades (LapinBio), além de alunos da graduação e da pós-graduação das áreas de enfermagem e tecnologia da informação. Com a iniciativa, a Unifor se posiciona na vanguarda da pesquisa no ramo.
Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele fala sobre os avanços da medicina regenerativa, sua trajetória nessa linha de estudos e o impacto de iniciativas como a da Unifor para a evolução das pesquisas e colaborações internacionais na área.
Confira a entrevista na íntegra a seguir.
Entrevista Nota 10 — O que o inspirou a seguir essa linha de estudo em sua carreira?
Zaman Ataie — Trabalhar para o avanço da saúde humana sempre foi o meu maior objetivo, e dediquei os últimos dez anos da minha vida a isso. Definitivamente, dedicarei também os anos futuros. A pandemia da Covid-19 nos ensinou o quão importante é contribuir para a saúde das pessoas. Comecei minha carreira em meu país de origem, o Irã, quando era estudante de graduação na Amirkabir University of Technology (Tehran Polytechnic), no programa de Engenharia Biomédica, com ênfase em biomateriais.
Em seguida, fiz meu mestrado na mesma instituição, no mesmo programa de Engenharia Biomédica, com ênfase em Engenharia de Tecidos. Mudei para os Estados Unidos para realizar meu doutorado em Engenharia Química na Pennsylvania State University, mas minha pesquisa continuou focada em nano e micro-biomateriais para aplicações em engenharia de tecidos.
Atualmente, sou cientista sênior na MSD — nossa empresa é conhecida como Merck & Co., Inc. nos Estados Unidos e Canadá, e como MSD em outros países — atuando no Laboratório de Pesquisa da Merck, no Departamento de Desenvolvimento de Vacinas e Produtos Farmacêuticos.
Entrevista Nota 10 — Como você avalia a iniciativa da Universidade de Fortaleza em promover esse intercâmbio de conhecimento, que tem o objetivo de fortalecer a pesquisa na área de engenharia de tecidos, medicina regenerativa e bioimpressão? De que forma isso impacta a área e coloca a Unifor na retaguarda desse tipo de pesquisa?
Zaman Ataie — A área de engenharia de tecidos está evoluindo rapidamente. É extremamente dinâmica e de ponta, com tecnologias de ponta como a bioimpressão 3D, avançando rapidamente para aplicações em medicina regenerativa, modelos de tecidos e outros. A iniciativa da Unifor é extremamente valiosa, não apenas para estudantes e pesquisadores da instituição e do Brasil, mas também para engenheiros de biomateriais e de tecidos ao redor do mundo, permitindo que compreendam, aprendam e discutam os verdadeiros desafios e avanços da área, além de criar ideias inovadoras que possam fazer diferença real. Esforços como este podem acelerar a colaboração, o treinamento e a transferência de tecnologia, o que, por sua vez, pode colocar a Unifor na vanguarda do campo.
Entrevista Nota 10 — Como você imagina a medicina daqui a 20 anos se esse tipo de pesquisa avançar?
Zaman Ataie — Como eu disse, a engenharia de tecidos está evoluindo muito rapidamente. É uma tecnologia de ponta e o futuro da medicina. Não apenas para tratamento, diagnóstico e saúde, mas também para a alimentação. Há muitas iniciativas ao redor do mundo sobre alimentos produzidos por engenharia de tecidos.
Os progressos nas últimas décadas em células-tronco pluripotentes induzidas, desenvolvimento de organóides e também em CRISPR (tecnologia de edição genética) abriram novos caminhos para a engenharia de tecidos.
O arco da pesquisa está voltado para terapias personalizadas para pacientes, enxertos de tecidos funcionais, modelos de doenças sob demanda para testes de medicamentos, e linhas de desenvolvimento mais seguras e rápidas que beneficiam tanto os pacientes quanto a saúde pública.
Entrevista Nota 10 — Você acredita que seja possível, um dia, ser criado órgãos humanos para transplante com essas técnicas e pôr um fim nas filas de transplantes ao redor do mundo?
Zaman Ataie — Este é o objetivo final da engenharia de tecidos. Cerca de 120 mil pessoas estão à espera de órgãos saudáveis nos Estados Unidos. A cada dez minutos, um novo nome é adicionado à lista, enquanto, em média, 20 pessoas morrem por dia aguardando a disponibilidade de um órgão (apenas nos Estados Unidos). Existem desafios nesse caminho, como a vascularização e a especificidade de cada paciente. Áreas, nas quais, os pesquisadores podem atuar para promover avanços.
Entrevista Nota 10 — Quais as suas expectativas para sua visita à Unifor?
Zaman Ataie — Estou entusiasmado para discutir sobre o nosso trabalho em engenharia de tecidos, hidrogéis e micropartículas de hidrogel, bioimpressão 3D, vascularização, além do design e da fabricação de dispositivos microfluídicos. Também estou ansioso para dialogar com os pesquisadores, buscando aprender e contribuir o máximo possível. Espero ainda construir colaborações duradouras e compartilhar conhecimentos práticos que ajudem a transformar projetos, que irão do conceito ao experimento e ao impacto real.
Entrevista Nota 10 — Pode deixar uma mensagem para todos os estudantes acadêmicos da Unifor e a todos que estejam interessados nesta área de estudo?
Zaman Ataie — Quero responder a essa pergunta de uma forma nada convencional. Pense em qualquer filme futurista de ficção científica que você já tenha visto. Meus favoritos são A Ilha (2005), O Homem Bicentenário (1999) e Westworld (2016–2022). Veja como os engenheiros de tecidos estão moldando o futuro. Vamos, juntos, ajudar a construir o futuro da medicina.